terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sobre idiotas e outros personagens pouco frequentáveis...

Frequentadores frequentes (se me permitem a quase redundância), aficionados, passantes ao acaso, visitantes ocasionais, navegadores erráticos ou até mesmo alguns habitués deste blog -- sem nenhuma dúvida, masoquistas --  costumam reclamar que eu chamo muita gente de idiota (não tanto quanto deveria, acho eu, sinceramente). Para eles eu seria arrogante, no mínimo, desrespeitoso, certamente, e talvez mesmo mais um desses idiotas criticados.
Pode ser, mas que culpa tenho eu se o número de idiotas anda aumentando muito no mundo, ou se o mundo das comunicações livres oferece oportunidades únicas para os idiotas se expressarem e aparecerem, até mesmo fazer algum sucesso momentâneo?
Reconheço que o mundo seria um lugar bem melhor com um pouco menos -- bastante menos -- de idiotas e outros assemelhados e equivalentes funcionais, mas em nome da democracia e dos direitos humanos temos de deixar os idiotas disputar o mesmo espaço público do que seres bem pensantes, ou até mesmo pessoas medianamente constituídas, bem informadas e suscetíveis de trazer algumas bondades adicionais ao mundo como ele é (cheio de idiotas).
No passado, inspirado no "minitratado" seminal -- a expressão é minha, não dele -- do genial historiador italiano Carlo Maria Cipolla (sim, cebola), Le leggi fondamentali della stupidità umana, eu cheguei a escrever um pequeno ensaio perguntando se, por acaso, estaria aumentando o número de idiotas no mundo: 
Está aumentando o número de idiotas no mundo?
Espaço Acadêmico (ano 6, nr. 72, maio de 2007; ISSN: 1519-6186) 
(procurem no meu site que deve estar por lá).
Eu argumentava que sim, e não, ou seja, ambas as tendências: sim, estava aumentando o número de idiotas, cada vez mais idiotas e disseminando suas idiotices fundamentais com a ajuda de todos os meios modernos de comunicação, mas que, no fundo, isso não era grave, pois o número reduzido de não idiotas conseguia administrar a situação, para o maior benefício de todos, inclusive dos idiotas.


Pois bem, não vou fazer nenhum novo minitratado sobre a idiotice humana, mas como eu contemplo idiotices todos os dias, em todos os lugares, como leio nos jornais, escuto na rádio e vejo diretamente idiotices perpetradas em todos os quadrantes -- e imagino que existam zilhões de outras mais espalhadas sem que eu possa ver pelos quatro cantos de nosso planetinha redondo -- fico imaginando se não seria possível dividir os idiotas em categorias bem determinadas, em classes, ou espécies, quem sabe até famílias?, enfim (enfins, como diria uma professorinha da UnB), em tipos diferentes de idiotas, de maneira a melhor poder enfrentar esse flagelo da humanidade.


Ainda não cheguei a alguma conclusão científica, e pretendo aprofundar minhas pesquisas, mas pelo que constatei até aqui, talvez se pudesse dividir os idiotas em duas categorias fundamentais: 


1) Os "idiotas idiotas", ou seja, os apenas ingênuos, que acreditam que estão fazendo o bem, ou o melhor que podem, e que acreditam sinceramente nas idiotices que defendem e que disseminam. Eu diria que eles estão entre os 99% da humanidade que simplesmente existe, com aspirações diversas, e que pede para que suas concepções seja também aceita pelo resto da humanidade, sobretudo o resto dos 1% que exibem outras concepções do mundo. Conheço muitos, mas prefiro não indicar agora nenhum nome em especial para não receber um convite para algum duelo fatal... Ou talvez, sim, eu possa dar um nome: por exemplo, esse primeiro ministro grego que depois de mais de um ano de negociações difíceis com seus colegas europeus, conseguiu chegar a um compromisso aceitável para aplicar um calote bem dado em banqueiros e outros credores, e que agora pretende submeter esse acordo a um referendo nacional, que provavelmente vai rejeitar o acordo, tendo em vista os milhares de idiotas que manifestaram durante todo esse tempo contra as medidas de ajustes e outros remédios ao problema grego. Esse primeiro-ministro só pode ser um idiota completo, mas da primeira categoria, ou seja, dos ingênuos.
Idiotas ingênuos são também esses que marcham contra a especulação, a austeridade, o capitalismo, os mercados, e que pedem um outro mundo possível e slogans do tipo "o povo primeiro, as finanças depois", e que não sabem bem o que propor. São idiotas ingênuos, pois querem sinceramente o bem da humanidade.


2) Os "idiotas sem caráter", ou seja, aqueles que mesmo sabendo que seus argumentos, posições e propostas são inexequíveis, ineficientes e até contraproducentes, ainda assim pontificam nesses mesmos meios pregando as mesmas bobagens que encantam os idiotas da primeira categoria. Os primeiros eu até respeito, por achar que eles têm direito de defender, sinceramente, ideias idiotas, mas os segundos não contam com minha condescendência, pois eles são profundamente desonestos e fraudadores. Conheço vários nessa categoria, embora não conviva com esse tipo de gente, claro, mas sei que na academia, na vida pública, no jornalismo, no mundo em geral, eles existem e até tripudiam sobre a idiotice dos primeiros para prevalecerem sobre todos os demais.


Enfim, ainda tenho de escrever um minitratado sobre a idiotice e os idiotas.
Virá, um dia...
Paulo Roberto de Almeida 

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