A imprensa vai descobrir, mais cedo ou mais tarde.
Melhor confessar antes que eu seja pego.
Confesso: sou um assassino, cruel e vingativo.
Eu mato livros e autores, que eu considero particularmente idiotas, e especialmente nefastos à inteligência nacional.
Sou um assassino intelectual. Eu mato idiotas e energúmenos. Mas apenas no papel, claro.
E isso, apenas na vida privada.
Não tem nada a ver com minha vida pública.
Na vida pública, esclareço, sou um anjo, fiel ao governo, ao Estado, aos poderes constituídos, sobretudo ao capital.
Não posso ser cassado, caçado, demitido, sequer convocado pelo Congresso (que aliás é composto de gente mais porca que eu, na vida pública e, sobretudo, na privada, na privada).
Mas, não vai ser pela vida privada que eu vou cair, me demitir, me humilhar.
Minha vida privada, esclareço, não tem nada a ver com minha vida pública.
Sou um anjo, mas só das 8hs as 18hs.
Tenho dito.
Já dei todas as explicações. Não tenho mais nada a dizer.
Paulo Roberto de Almeida
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