A Ata do Copom parece ter sido escrita pelo governo
Editorial O Estado de São Paulo, 27 de janeiro de 2012
A leitura da Ata da 164.ª reunião do Comitê e Política Monetária (Copom) deixa a estranha impressão de ter sido escrita pelo ministro da Fazenda - dado seu estilo otimista -, e não por autoridades monetárias independentes.
No passado recente, o Copom preocupava-se com atingir o centro da meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (de 4,5%). Já não há sequer referência à meta, mas se assinala que a taxa poderá ser de 5,50% neste ano e de 5% em 2013, como se o foco agora fosse o intervalo de inflação.
Parece, pois, que a responsabilidade pelo controle da inflação deixou de ser da política monetária e passou para a evolução da situação internacional. Esta, com razão, preocupa as autoridades monetárias, que, no entanto, deveriam dar alguma informação sobre medidas que poderiam adotar para reduzir ao mínimo os efeitos, no Brasil, da crise que os países ricos atravessam.
Assim, é importante verificar, no texto do documento, a substituição da política monetária - que depende do Banco Central - como meio de combater a inflação pela política fiscal, que depende do governo. Sempre achamos que o Banco Central deveria alertar o governo sobre os efeitos inflacionários de uma política fiscal frouxa. Isso, todavia, não dispensa o Copom de firmeza na política monetária. Por outro lado, ao elogiar o governo pela obtenção de um superávit primário, as autoridades monetárias não parecem atentar para como ele foi obtido: se com aumento de receitas ou corte de despesas de custeio e de investimentos, esquecendo de que, dependendo do recurso usado, os efeitos sobre a inflação são muito diferentes.
Timidamente, todavia, ao recomendar ao governo que leve em consideração a necessidade de expansão moderada do crédito, os membros do Comitê advertem sobre o inconveniente das concessões exageradas de subsídios por intermédio de operações de crédito.
Embora reconheça que o descompasso entre as taxas de oferta e de demanda na economia é decrescente, o documento lembra, com toda razão, que a concessão de aumentos de salários deve ser compatível com aumento da produtividade, sob pena de favorecer as pressões inflacionárias.
O Copom acha que se deve reconhecer a contribuição que tiveram na redução das taxas de juros o aumento de oferta de poupança externa e a redução do seu custo de captação. Por isso enfatiza "a elevada probabilidade de concretização de um cenário que contemple a taxa Selic se deslocando para o patamar de um dígito".
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