terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A Revolucao Industrial, por seu mais famoso historiador: David Landes - resenha Paulo R Almeida


16. “Um Prometeu Industrial Desengonçado”, Brasília, 17 abril 2005, 2 p. Resenha de David S. Landes: Prometeu Desacorrentado: transformação tecnológica e desenvolvimento industrial na Europa ocidental, de 1750 até os dias de hoje (2ª ed.; Rio de Janeiro: Campus, 2005, 628 p.). Publicado na revista Desafios do Desenvolvimento (Brasília: IPEA-PNUD, ano 2, nº 10, maio 2005, p. 76; link: http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1772:catid=28&Itemid=23). Relação de Trabalhos nº 1420. Relação de Publicados nº 561.

Um Prometeu industrial desengonçadoImprimirE-mail
por Paulo Roberto de Almeida
A tradução do título para o português é imprecisa: trata-se de um Prometeu unbound, isto é, liberado, não unchained. Mas isso não tira o valor da segunda edição deste clássico, agora com novo prefácio e epílogo - no mais o texto permanece igual ao de 1969, originalmente um ensaio da Cambridge Economic History. David Landes, professor emérito de Harvard, já tinha feito um complemento a Adam Smith, em A Riqueza e a Pobreza das Nações (Campus, 1998), soberbo nos desenvolvimentos globais, mas falho no que toca à América Latina e ao Brasil, analisados pela ótica enviesada da ("esqueçam-o-que-escrevi") teoria da dependência de FHC.

O titã liberado é o sistema fabril: seu aparecimento na Inglaterra chocou Marx, que condenou a vil exploração do proletariado. Ele ainda não tinha visto nada, pois a China modorrava na imobilidade industrial. Hoje as fábricas chinesas não se distinguem, pelas condições de trabalho, das manufaturas de Manchester do século 19. A história é européia, mas esse Prometeu desajeitado que é a grande indústria leva seus grilhões ao mundo, o que desespera os antiglobalizadores, mas encantaria Marx, que confiava no papel revolucionário do capitalismo para destruir as "muralhas da China", o despotismo asiático e os reinos bárbaros do Oriente.

A China, a Índia e as nações islâmicas fracassadas do Oriente Médio constituem, precisamente, o objeto do epílogo, a parte verdadeiramente nova do livro. Landes argumenta que a globalização "não é uma causa, nem uma ideologia. É simplesmente a procura de riqueza". A civilização industrial do Ocidente foi a mais formidável máquina de criação de riquezas da história, ao associar possibilidades tecnológicas com o faro pelos negócios de homens liberados das restrições do mercantilismo. Por que esse processo revolucionário ainda não conseguiu romper os grilhões do subdesenvolvimento? É que empréstimos, ensinamentos e presentes podem até ajudar, mas de nada adiantam se o movimento não for conduzido a partir de dentro.

Landes demonstra como as condições tecnológicas e institucionais foram reunidas na Europa Ocidental e continuam a distinguir o Ocidente desenvolvido, ainda que países do Oriente - como o Japão, a Coréia e, agora, a China - lhe tenham seguido os passos. Esses bons alunos da escola européia, a começar pelos Estados Unidos, copiaram as técnicas, não necessariamente as instituições e as políticas econômicas. Landes diz que não é relevante que os "orientais" não tenham seguido a via do liberalismo, e sim que tenham integrado suas economias aos mercados globais, algo que os pregadores de uma industrialização à la List dificilmente reconhecem.

O cerne do livro não é uma discussão das economic policies dos "copiadores" e sim um fascinante racconto storico do desenvolvimento tecnológico da industrialização européia. São seis capítulos, com poucas seções internas e relativamente poucas estatísticas, mas muitos dados qualitativos e análises sobre cada fase. Uma introdução metodológica explica por que a revolução industrial ocorreu na Europa e não em outros lugares. Coloca a questão - que será seguida ao longo do livro - das razões pelas quais as mudanças ocorreram em épocas e locais determinados da Europa, isto é, como o padrão de desenvolvimento diferiu de um país para outro. Nesse sentido, a Europa é um grande laboratório, por ter nações ricas e pobres, grandes e pequenas, todas as formas de governo e um rico mosaico de tradições culturais.

Desde a Revolução Industrial inglesa, disseminada pelo continente, até o período entre guerras e a reconstrução subseqüente, Landes descreve as indústrias mais relevantes do ponto de vista tecnológico: têxtil, metalúrgica, química e de maquinaria, além da mineração de carvão por seu papel energético. Todas elas são situadas no contexto da organização industrial, isto é, da coordenação dos fatores de produção e do manejo dos produtos manufaturados. O resultado é um painel fascinante das raízes da "hegemonia" ocidental, não em virtude de uma história colonialista e opressora, e sim da capacidade de mobilizar e transformar as forças da natureza, liberando o Prometeu desengonçado do capitalismo industrial dos velhos grilhões da miséria educacional e da secular opressão da pobreza material.
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Confesso que não conferi para ver se foi publicado in totum, por isso reproduzo aqui. Aliás, cansado dos cortes dos meus editores, comecei, finalmente, a fazer resenhas mais curtas...

Um Prometeu Industrial Desengonçado

David S. Landes: Prometeu Desacorrentado: transformação tecnológica e desenvolvimento industrial na Europa ocidental, de 1750 até os dias de hoje (2ª ed.; Rio de Janeiro: Campus, 2005, 628 p.)

O título do livro, em português, é impreciso: trata-se de um Prometeu unbound, isto é liberado, não unchained. Isso não muda o valor da segunda edição deste clássico, agora com novo prefácio e epílogo; no resto, o livro permanece igual ao texto de 1969, originalmente um ensaio da Cambridge Economic History (1965). David Landes, emérito de Harvard, já tinha feito um complemento a Adam Smith, em A Riqueza e a Pobreza das Nações (Campus, 1998), superbo nos desenvolvimentos globais, mas falho no que toca a América Latina e o Brasil, vistos pela ótica enviesada da (“esqueçam-o-que-escrevi”) teoria da dependência de FHC.
O titã liberado refere-se ao sistema fabril: seu aparecimento, na Inglaterra, chocou Marx, que condenou a vil exploração do proletariado. Ele ainda não tinha visto nada, pois a China, até ali a maior economia, modorrava na imobilidade industrial, só voltando a praticar a abjeta exploração mais de dois séculos depois. Hoje, as fábricas chinesas não se distinguem, pelas condições de trabalho, das manufaturas de Manchester do século XIX, mas as marcas são ocidentais. A história é européia, mas esse Prometeu desajeitado que é a grande indústria leva seus grilhões ao mundo, o que desespera os anti-globalizadores, mas encantaria Marx, que confiava no papel revolucionário do capitalismo para destruir as “muralhas da China”, o despotismo asiático e os reinos bárbaros do Oriente.
A China, a Índia e as nações islâmicas fracassadas do Oriente Médio constituem, precisamente, o objeto do epílogo, a única parte verdadeiramente nova do livro. Landes argumenta que a globalização “não é uma causa, nem uma ideologia. É simplesmente a procura de riqueza” (p. 600). A civilização industrial do Ocidente foi a mais formidável máquina de criação de riquezas da história, ao associar possibilidades tecnológicas com o faro pelos negócios de homens liberados das restrições do mercantilismo. Por que esse processo revolucionário não conseguiu ainda romper os grilhões do subdesenvolvimento no resto do planeta? É que empréstimos, ensinamentos, presentes podem até ajudar, mas de nada adianta se o movimento não for conduzido a partir de dentro.
Landes demonstra como as condições tecnológicas e institucionais foram reunidas na Europa ocidental e continuam a distinguir o Ocidente desenvolvido, ainda que países do Oriente – como o Japão a Coréia e, agora, a China – lhe tenham seguido os passos. Esses bons alunos da escola européia, a começar pelos Estados Unidos, copiaram as boas técnicas européias, não necessariamente as instituições e as políticas econômicas. Landes diz que não é relevante que os “orientais” não tenham seguido a via do liberalismo e sim que eles tenham integrado suas economias aos mercados globais, algo que os pregadores de uma industrialização à la List dificilmente reconhecem.
O cerne do livro não é uma discussão das economic policies dos “copiadores” e sim um fascinante racconto storico dos desenvolvimentos tecnológicos que permearam a industrialização européia. São seis capítulos, com poucas seções internas e relativamente poucas estatísticas, mas muitos dados qualitativos e análises sobre o estado das técnicas em cada fase. Uma introdução metodológica visa explicar por que a revolução industrial ocorreu na Europa, e não em outros lugares, e coloca a questão – que será seguida ao longo do livro – de por que as mudanças ocorreram em épocas e locais determinados da Europa, isto é, como o padrão de desenvolvimento diferiu de uma nação para outra (nesse sentido, a Europa é um grande laboratório, por ter nações ricas e pobres, países grandes e pequenos, todas as formas de governo e um rico mosaico de tradições culturais).
Desde a revolução industrial inglesa, seguida de sua disseminação no resto do continente, até o período do entre-guerras e a reconstrução subseqüente, Landes retraça as indústrias mais relevantes do ponto de vista tecnológico: têxteis, metalurgia, química e maquinaria, com a mineração de carvão apenas pelo seu papel energético. Todas elas são situadas no contexto da organização industrial, isto é, a coordenação dos fatores de produção e o manejo dos produtos manufaturados. O resultado é um painel fascinante das raízes da “hegemonia” ocidental, não em virtude de uma história colonialista e opressora, e sim pela sua capacidade de mobilizar e transformar as forças da natureza, liberando o Prometeu desengonçado do capitalismo industrial dos velhos grilhões da miséria educacional e da secular opressão da pobreza material.

Paulo Roberto de Almeida (www.pralmeida.org)



Um comentário:

  1. Eduardo Rodrigues, Rio01/02/2012, 00:17

    Paulo, obrigado por mais esse artigo.

    Ofereço-lhe um texto sobre o mesmo assunto escrito por um gigante.

    -- Fatos e mitos sobre a "Revolução Industrial" --, por Ludwig von Mises
    http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1056

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