sábado, 21 de janeiro de 2012

Une Saison en Academie, 3 - chegando...


Une Saison en Academie, 3

Paulo Roberto de Almeida
Em voo, São Paulo-Paris, 15/01/2012

O que me espera, na França, e na Europa, de janeiro a maio? O que teria a fazer, como viagens, atividades acadêmicas, observações interessantes? Resumindo, duas categorias de atividades, eventos ou processos: as certezas e as surpresas.
Dentre as primeiras, duas certezas mais destacadas; uma proverbial, recorrente, insistente e irritante: as greves. Ah, as famosas greves de l’Hexagone. Elas são tão francesas quanto o camembert, o roquefort, as brioches, os vins de Bordeaux, a baguette e milhares de outras coisas mais, incluindo La Joconde, la Gioconda, a Mona Lisa, que os italianos continuam a reivindicar ainda hoje, a despeito de Leonardo Da Vinci também ter morado na França. Bem, como vocês podem constatar, eu me deixo levar pelos estereótipos, mas não existe nada de mais francês do que o estereótipo, sobretudo quando imortalizado em filmes de Hollywood.
Enfim, ficando nas minhas preferências, vamos ver quantas greves eu consigo contabilizar – só as que forem reportadas no Le Monde, claro –, esperando que elas me afetem o mínimo possível. Só vou protestar se tocarem o Le Monde, justamente, a baguette, o fromage de chèvre, o mercado de vinhos e as livrarias, mas creio que, à part ça, eu consigo sobreviver a várias greves francesas. Talvez elas me incomodem um pouco nos transportes, não que eu pretenda depender deles, mas é que podem provocar embouteillages excepcionais tratando de escapar de Paris (já que na cidade eles são tradicionais).
A outra certeza é, obviamente, a campanha presidencial, uma regularidade na Quinta República, já que na Quarta os presidentes eram escolhidos pela Assembleia (a Câmara dos Deputados, pois os senadores têm poucos poderes no sistema constitucional inventado por De Gaulle). Já assisti algumas campanhas presidenciais, inclusive a que elegeu François Mitterrand, na coalizão de esquerda que venceu a direita (Giscard D’Estaing) em 1981. Confesso que elas me atraem, tanto pelo debate político que ocorre em todas as grandes cadeias, como pelo besteirol emitido por alguns candidatos de esquerda (sempre grandiosos na sua luta contra o capitalismo e a realidade). Esse confronto direto entre os candidatos, sem o auxílio de assistentes ou tele-prompters, em torno dos grandes temas da política doméstica e internacional, com ênfase nas questões econômicas é sempre interessante, mesmo quando risíveis no provincianismo dos políticos franceses (que se permitem criticar o império, como se eles tivessem poder para mudar algo de realmente relevante no cenário internacional).
Desta vez, candidatos e eleitores podem se municiar de dados fiáveis e de informações densas e esclarecedoras, num blog que pretende desmontar, justamente, por vezes desmentir, todas as promessas grandiosas dos políticos irrealistas. O blog Chiffrages et Déchiffrages, associado ao site do Institut Montaigne (onde vou fazer uma palestra no capítulo dos países emergentes logo mais em fevereiro), traz um exame tecnicamente responsável de todas e cada uma das promessas mal pensadas dos políticos. Posso assegurar que se trata de una análise fria, bem embasada – muito bem vinda, se algo desse tipo existisse no Brasil – em torno do custo orçamentário (ou em termos de indicadores econômicos como crescimento, juros e outros) e de suas vantagens e desvantagens do ponto de vista da economia francesa e do bem estar de seus cidadãos. C’est passionant et dépassionant, en même temps.
Do lado das surpresas, algumas são programáveis, outras menos programáveis. Já morei em Paris, e conheço razoavelmente bem a cidade. Desta vez, sem maiores obrigações profissionais (pelo menos que consumam a maior parte do tempo útil, de maneira desproporcional), poderemos, Carmen Lícia e eu, desfrutar de Paris em tudo o que a cidade tem de oferecer de melhor: museus (são dezenas, apenas os mais importantes), bibliotecas, bistrôs, restaurantes, foires, cafés, monumentos, enfim, uma dedicação constante àquilo que em francês, justamente, se chama de flanêrie, se balader dans les rues de Paris, sans autre propos que d’être surpris par l’inattendu, justement.
Das surpresas menos programáveis, nada posso dizer, por enquanto. Elas virão, certamente, basta esperar...
Voilà, c’est l’heure de l’arrivée à Charles De Gaulle...

Voo São Paulo-Paris, 15/01/2012

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