Une Saison en Academie,
3
Paulo Roberto de Almeida
Em voo, São Paulo-Paris, 15/01/2012
O que me espera, na
França, e na Europa, de janeiro a maio? O que teria a fazer, como viagens,
atividades acadêmicas, observações interessantes? Resumindo, duas categorias de
atividades, eventos ou processos: as certezas e as surpresas.
Dentre as primeiras, duas
certezas mais destacadas; uma proverbial, recorrente, insistente e irritante:
as greves. Ah, as famosas greves de l’Hexagone.
Elas são tão francesas quanto o camembert,
o roquefort, as brioches, os vins de Bordeaux,
a baguette e milhares de outras
coisas mais, incluindo La Joconde, la Gioconda, a Mona Lisa, que os
italianos continuam a reivindicar ainda hoje, a despeito de Leonardo Da Vinci
também ter morado na França. Bem, como vocês podem constatar, eu me deixo levar
pelos estereótipos, mas não existe nada de mais francês do que o estereótipo,
sobretudo quando imortalizado em filmes de Hollywood.
Enfim, ficando nas minhas
preferências, vamos ver quantas greves eu consigo contabilizar – só as que
forem reportadas no Le Monde, claro
–, esperando que elas me afetem o mínimo possível. Só vou protestar se tocarem
o Le Monde, justamente, a baguette, o fromage de chèvre, o mercado de vinhos e as livrarias, mas creio que,
à part ça, eu consigo sobreviver a
várias greves francesas. Talvez elas me incomodem um pouco nos transportes, não
que eu pretenda depender deles, mas é que podem provocar embouteillages excepcionais tratando de escapar de Paris (já que na
cidade eles são tradicionais).
A outra certeza é,
obviamente, a campanha presidencial, uma regularidade na Quinta República, já
que na Quarta os presidentes eram escolhidos pela Assembleia (a Câmara dos
Deputados, pois os senadores têm poucos poderes no sistema constitucional
inventado por De Gaulle). Já assisti algumas campanhas presidenciais, inclusive
a que elegeu François Mitterrand, na coalizão de esquerda que venceu a direita
(Giscard D’Estaing) em 1981. Confesso que elas me atraem, tanto pelo debate
político que ocorre em todas as grandes cadeias, como pelo besteirol emitido
por alguns candidatos de esquerda (sempre grandiosos na sua luta contra o
capitalismo e a realidade). Esse confronto direto entre os candidatos, sem o
auxílio de assistentes ou tele-prompters, em torno dos grandes temas da
política doméstica e internacional, com ênfase nas questões econômicas é sempre
interessante, mesmo quando risíveis no provincianismo dos políticos franceses
(que se permitem criticar o império, como se eles tivessem poder para mudar
algo de realmente relevante no cenário internacional).
Desta vez, candidatos e
eleitores podem se municiar de dados fiáveis e de informações densas e
esclarecedoras, num blog que pretende desmontar, justamente, por vezes
desmentir, todas as promessas grandiosas dos políticos irrealistas. O blog Chiffrages et Déchiffrages, associado ao
site do Institut Montaigne (onde vou fazer uma palestra no capítulo dos países
emergentes logo mais em fevereiro), traz um exame tecnicamente responsável de
todas e cada uma das promessas mal pensadas dos políticos. Posso assegurar que
se trata de una análise fria, bem embasada – muito bem vinda, se algo desse
tipo existisse no Brasil – em torno do custo orçamentário (ou em termos de
indicadores econômicos como crescimento, juros e outros) e de suas vantagens e
desvantagens do ponto de vista da economia francesa e do bem estar de seus
cidadãos. C’est passionant et
dépassionant, en même temps.
Do lado das surpresas,
algumas são programáveis, outras menos programáveis. Já morei em Paris, e
conheço razoavelmente bem a cidade. Desta vez, sem maiores obrigações
profissionais (pelo menos que consumam a maior parte do tempo útil, de maneira
desproporcional), poderemos, Carmen Lícia e eu, desfrutar de Paris em tudo o
que a cidade tem de oferecer de melhor: museus (são dezenas, apenas os mais
importantes), bibliotecas, bistrôs, restaurantes, foires, cafés, monumentos, enfim, uma dedicação constante àquilo
que em francês, justamente, se chama de flanêrie,
se balader dans les rues de Paris, sans autre propos que d’être surpris par l’inattendu,
justement.
Das surpresas menos programáveis,
nada posso dizer, por enquanto. Elas virão, certamente, basta esperar...
Voilà, c’est l’heure de l’arrivée à Charles De Gaulle...
Voo
São Paulo-Paris, 15/01/2012
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