terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Produto estrategico da economia nacional: o alho

Desde que eu me conheço por gente, e isso vem do século passado, o alho é um produto verdadeiramente estratégico para a economia nacional.
Deve representar, por baixo, algo como 10% do PIB e pelo menos metade das nossas mais dinâmicas exportações.
Não??!!
Incrível!
Pensei que o alho fosse um produto tão estratégico, tão indispensável na nossa cozinha, na nossa defesa contra os maus espíritos -- e eles abundam, reconheçamos, no Brasil -- na preservação do emprego e da renda nacionais, enfim, tão relevante que ele justificasse, realmente, que fosse acerbamente defendido, integrasse todas as listas de exceções do Mercosul e todo esse protecionismo comercial estratégico.
Suponho -- enfim, apenas imagino -- que os produtores de alho do Brasil conformem um lobby poderoso, formado por magnatas da economia nacional, integrado por ricaços que sempre vão a Brasília pedir, e obter, proteção contra essa insidiosa concorrência estrangeira, seja dos vizinhos do Mercosul, seja da mais distante China.
Se não é por isso, por que seria, por que as autoridades nos obrigam a pagar um alho mais caro, quando o poderíamos ter mais barato?
Por que esse recurso contínuo à proteção?
Ou os custos se ajustam, ou as pessoas vão plantar batatas, ou o que for mais competitivo...
Mas, não, isto é o Brasil...
Paulo Roberto de Almeida
O Globo, 22/02/2012

Setor quer prorrogação de medida antidumping
Nem o alho escapa da lista de produtos chineses que incomodam o Brasil. Desde 2007, os produtores brasileiros conseguiram garantir a sua fatia no mercado nacional com a aplicação de medida antidumping contra o similar chinês, que chega aqui por um preço menor do que aquele praticado no país de origem. Mas a medida perde a validade este ano e a Associação Nacional de Produtores de Alho (Anapa) está elaborando um pedido de prorrogação da restrição.
- Sem a medida antidumping, os produtores podem mudar de profissão. Não será possível mais produzir alho aqui. Trata-se de uma cultura muito artesanal, que demanda muita mão de obra, o que na China é bem mais barato do que aqui por razões conhecidas - afirma Rafael Corsino, presidente da Anapa e diretor da Wehrmann, uma das maiores empresas do Brasil no segmento.
Corsino lembra que na China existem 20 milhões de produtores, uma cidade de São Paulo, enquanto no Brasil o setor é bem menor:
- Aqui, não passamos de três mil. Por sorte, eles são grandes consumidores de alho e, por isso, só exportam 5% do que produzem. Se vendessem 10%, acabavam com a cultura no resto do mundo.
Desde os anos 90, com a abertura do mercado brasileiro ao comércio exterior, o país importa alho. Os produtores brasileiros, que forneciam 90% do que era consumido internamente à época, hoje só abastecem o mercado local com 30% do total. Em janeiro último, foram importadas no Brasil um total 941.414 caixas de alho da Argentina, enquanto da China vieram 271.176 caixas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.