segunda-feira, 14 de maio de 2012

O "futuro" do Mercosul em debate: resumindo os argumentos (PRA)

Já postei, alguns posts abaixo (e retomo os links aqui), meus comentário a artigo do Alto Representante do Mercosul sobre o futuro do bloco, que suscitou minha atenção pela recorrência de equívocos de todos os tipos sobre o cenário internacional, sobre a China e até sobre o bloco, vejam só. O "funcionário" propõe medidas que, na prática, vão fragmentar o bloco, desfigurá-lo com respeito a seus princípios básicos e apóia iniciativas -- como as salvaguardas argentinas -- que só podem representar prejuízo para o Brasil e o próprio processo.
Como acabei fazendo 26 páginas de comentários (das quais grande parte é ocupada pela transcrição do artigo em questão, talvez seja útil resumir aqui o sentido das minhas críticas à condução desse processo desde 2003.



1) Acredito que houve, de forma deliberada ou involuntária, perda do sentido de direção do significado do Tratado de Assunção e do Mercosul, que é para ser um processo de liberalização comercial, em primeiro lugar, levando para a integração econômica, numa segunda etapa. É evidente que se perdeu isso, com retrocessos nessas áreas e uma expansão inútil nas areas políticas e sociais, já que desprovidas de qualquer substrato mais sólido, que só poderia ser dado pela unificação econômica.
2) Por razões totalmente políticas, e eminentemente ideológicas, foi mantida uma visão errada do Mercosul, como sendo oposto a acordos hemisféricos, o que fez o Mercosul ficar isolado na região, quando lideranças de pelo menos três países se opuseram, POLITICAMENTE, à Alca, levando todos os demais países, a começar pelos EUA, a concluírem acordos bilaterais de livre comércio; sé ficaram de fora os países do Mercosul e os bolivarianos, por razões óbvias; agora, todos eles estão sendo fragilizados pelo duplo avanço dos EUA e da China na região.
3) A própria relação com os EUA era vista de maneira negativa no plano comercial (a tal de "nova geografia", um equívoco tremendo), o que nos fez perder espaço no mercado americano e em todos os demais.
4) Ao operar esse maniqueísmo político -- que condenava a Alca, confiando ingenuamente em que a UE iria se dobrar aos encantos do Mercosul -- o que ocorreu, sobretudo, foi a perda de maiores investimentos que poderiam ser direcionados ao Brasil, passando este a atender os mercados do Cone Sul. Era evidente que o acordo da Alca não era um acordo de comércio do ponto de vista do Brasil, ou o era apenas em parte, e sim um acordo de investimentos. A atitude negativa da administração anterior nos fez perder espaços preciosos de incremento tecnológico, e de penetração em novos mercados no hemisfério.
5) Registre-se, em várias áreas, uma visão completamente errada quanto ao papel da China, na região e no mundo (aliás, se se pretendia reforçar o Mercosul, segundo os objetivos declarados, a concepção esquizofrênica de propor um acordo de livre comércio ou fazer comércio, ou pagamentos, em moedas locais com a China, eram as melhores receitas para o desastre).
6) Ocorreu também extrema complacência com o protecionismo ilegal da Argentina, o que só serve para desmantelar, não para reforçar o Mercosul.
7) Mais importante, a principal personagem no desenho dessas políticas "não-assimétricas" de integração, tinha uma concepção totalmente equivocada do que sejam assimetrias, e uma noção ingênua quanto à responsabilidade do Brasil em "acabar" com elas.
8) Ao patrocinar o ingresso forçado da Venezuela, país importante, pelos recursos, mas escassamente comprometido com os valores democráticos (atualmente, embora isso mude),  pode-se estar favorecendo uma diluição ainda maior do Mercosul, uma vez que o país andino não cumpriu ainda nenhum dos requisitos formais do Mercosul em matéria de política comercial, a começar pela TEC. Nessa esteira, se está propondo, finalmente, é que todos os demais países entrem, sem passar pela TEC. Ora, isso representaria o desmantelamento institucional do Mercosul. Se existe tal intenção, melhor deixá-la de modo explícito.
9) Finalmente, observa-se uma atitude geral introvertida, de avestruz, refletida no novo protecionismo, reticente e relutante em face da globalização; enquanto a Ásia realiza uma formidável integração produtiva com todos os tipos de intercâmbio, a América Latina e o Brasil se fecham numa espécie de stalinismo industrial, digno dos anos 1950.



Agora, os links para meus comentários na íntegra, de baixo para cima:

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