quinta-feira, 17 de maio de 2012

Thiago de Melo: ja que estamos na literatura...

Meu amigo Mauricio David me envia este belíssimo poema do laureado poeta.
Aliás, não é bem um poema, e sim um manifesto pessoal, uma declaração ao mundo do significado da sua produção, do sentido do seu trabalho, dos seus objetivos de vida.
Com toda dignidade, como incumbe aos que falam a verdade...
Paulo Roberto de Almeida 

Canto do meu canto
Thiago de Mello

Escrevi no chão do outrora 
e agora me reconheço: 
pelas minhas cercanias 
passeio, mal me freqüento.

Mas pelo pouco que sei 
de mim, de tudo que fiz, 
posso me ter por contente, 
cheguei a servir à vida, 
me valendo das palavras. 

Mas dito seja, de uma vez por todas, 
que nada faço por literatura, 
que nada tenho a ver com a história, 
mesmo concisa, das letras brasileiras. 

Meu compromisso é com a vida do homem, 
a quem trato de servir 
com a arte do poema. Sei que a poesia 
é um dom, nasceu comigo. 

Assim trabalho o meu verso, 
com buril, plaina, sintaxe. 
Não basta ser bom de ofício. 
Sem amor não se faz arte. 

Trabalho que nem um mouro, 
estou sempre começando. 
Tudo dou, de ombros e braços, 
e muito de coração, 
na sombra da antemanhã, 
empurrando o batelão 
para o destino das águas. 

(O barco vai no banzeiro, 
meu destino no porão.) 

Nada criei de novo. 
Nada acrescentei às forma 
tradicionais do verso. 
Quem sou eu para criar coisas novas, 
pôr no meu verso, Deus me livre, 
uma invenção.

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