OPERAÇÃO MORDAÇA - CAPÍTULO I
Quidnovi, 09/03/2012 - 20:17
Ainda estava escuro, quando às 6 horas da
manhã, do dia 29 de fevereiro de 2012, a mansão de luxo, na Rua Cedroarana,
Quadra G-3, Lote 11, no Residencial Alphaville Ipês, em Goiânia, de propriedade
do governador de Goiás Marconi Pirillo até 2010, foi invadida pela “swat” da
Polícia Federal. Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi
preso numa ação cinematográfica. O arrombamento da porta da sala e a chegada
dos agentes federais ao quarto de Carlos Cachoeira coroava a Operação Monte
Carlo.
Cachoeira, como é chamado, acordou
assustado. No corredor, a sua prisão era assistida pela fresta da porta por uma
criança de 12 anos, sua enteada, e pela esposa, Andressa. O delegado que
comandava a operação pediu que o contraventor abrisse o cofre, mas Cachoeira
argumentou que não sabia o segredo. Só Andressa tinha a senha. A polícia entrou
no quarto e exigiu que o cofre fosse aberto. Imediatamente a esposa de
Cachoeira mostrou o que havia guardado em segredo: joias, inclusive de família,
uma quantia em dinheiro de um imóvel vendido por Andressa, documentos e alguns
DVDs de conteúdo ainda não revelado.
Governador de Goiás Marconi Perillo
O delegado espalhou sobre a cama todas as
joias, a maioria herança de família, principalmente dos avós e do ex-marido de
Andressa Wilder Morais, atual suplente do senador Demóstenes Torres (DEM-GO). A
esposa do contraventor pediu ao delegado que deixasse as jóias e que não
invadisse o quarto que sua filha dormia. O pedido foi atendido. Cachoeira foi
levado pela polícia, enquanto a criança atônita tentou ir ao seu encontro, sem entender
o que se passava. Até este momento, Andressa estava forte. Mas ao ver a filha,
a esposa de Cachoeira desmontou.
A Polícia Federal acreditou ter fechado a
Operação Monte Carlo naquele momento, mas não sabia que ali começava um dos
maiores escândalos da política brasileira. Cachoeira foi para a carceragem da
PF em Brasília e preferiu o silêncio.
Em fevereiro de 2004, Carlinhos foi
protagonista do escândalo Waldomiro Diniz, onde o assessor do ministro chefe da
Casa Civil José Dirceu, foi denunciado por receber propina do esquema de jogo
clandestino no país. Naquele momento, Cachoeira recebeu total apoio do PT
comandado por Zé Dirceu, que rotulava o contraventor como “empresário do jogo”,
e o Ministério Público como “aparelho repressor e conspiratório.”
José Dirceu
O ministro da Justiça era Márcio Tomaz
Bastos. O advogado, era Antônio Carlos de Almeida e Castro, o Kakay. Quem
acusava era o mesmo Ministério Público, que agora também comanda a operação só
que a serviço do PT .
As digitais do PT foram constatadas
quando a Polícia Federal começou as investigações sob o comando da sede em
Brasília. O Palácio do Planalto acompanhava tudo e aguardava o momento certo
para contrapor o escândalo do Mensalão que será votado nos próximos meses pelo
Supremo Tribunal Federal.
Cachoeira tinha um forte esquema de
proteção na Polícia Federal de Goiás, onde contava com seu fiel escudeiro o
chefe da inteligência da Polícia Federal. Cachoeira sempre foi um homem muito
bem relacionado. Colaborador de todas as horas nas campanhas políticas,
principalmente do PT. As investigações aconteciam e surpreendiam o comando da
PF. Políticos de alto escalão se misturavam com empresários e contraventores.
Cachoeira foi transferido como preso
comum para a Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Mossoró, no Rio
Grande do Norte. Desembarcou na cidade sob um sol escaldante, de 42 graus, e
foi levado para a cela 17 do presídio. Parecia que a situação tinha chegado ao
fim, quando o contraventor foi chamado para raspar a cabeça e receber o
tratamento de preso de alta periculosidade. Enquanto a máquina deixava à vista
o couro cabeludo de Cachoeira, lágrimas de ódio rolavam pelo seu rosto. Naquele
momento, revendo o filme da prisão de Fernandinho Beira Mar, o silêncio de
Carlos Cachoeira se transformava em ira contra o PT. Somente no dia seguinte
teve o direito de encontrar seu advogado Ricardo Sayeg.
Aí começava o desabafo de alguém que sabe
muito e não vai evitar a vingança. Os responsáveis pela Operação Monte Carlo
foram os petistas, o alvo; o líder de oposição Demóstenes Torres (DEM-GO) e a
isca; o mesmo Cachoeira que no passado foi tão amigo do PT, e agora tão usado.
Aécio Neves
Com a chegada do senador Aécio Neves
(PSDB-MG) no Congresso, era esperado que naturalmente o neto de Tancredo Neves
fosse o líder da oposição ao Governo Dilma. Aécio recebeu algum recado e se
mantem apagado no cenário político. Com isso, o líder do Democratas se destacou
nacionalmente como o homem que lidera a oposição. Com o destaque, o senador
passou a ser o inimigo número um do Partido dos Trabalhadores, que começou a
caçada. Aécio Neves, taxado por ter telhado de vidro, trabalhou como bom
mineiro, no silêncio, e assiste o colega de oposição servindo de boi de
piranha. Nos bastidores se comenta que Aécio só irá assumir a liderança da
Oposição no último ano do Governo Dilma evitando o desgaste prematuro.
Apesar do PT ter pesado a mão sobre
Demóstenes Torres não foram encontradas provas que possam calar a voz da
oposição. A relação do senador com Carlos Cachoeira é meramente social, como as
mantidas com outros empresários do estado de Goiás. É menos íntima, por
exemplo, do que a mantida entre o ex-presidente Lula e o seu churrasqueiro
Jorge Lorenzetti, envolvido num escândalo de repasse de R$ 18,5 milhões em
verba pública para sua ONG. Tanto barulho por conta de um fogão e uma
geladeira, presente de casamento da esposa de Carlinhos para a esposa de
Desmóstenes, amigas de longa data? Com certeza, há mais fartura à mesa do PT.
O exército de Cachoeira também foi
desestabilizado. Funcionários públicos, empresários, políticos, policiais,
familiares e pessoas que emprestavam o próprio nome para manter a força e o
poder de quem hoje detém um arsenal capaz de mudar a história política do país
foram presos ou desarticulados com a Operação Monte Carlo.
Cachoeira sempre foi um homem prevenido.
Na era dos escândalos detonados dentro e fora dos Governos, o contraventor
documentava todos os encontros com seus “parceiros”, em vídeo, áudio, contratos
de gaveta, e as transações bancárias no Brasil e no exterior. Monitorava seus
“sócios” através de agentes de informações. Durante todos esses anos que
transitou nas altas rodas políticas e sociais do país, Carlinhos Cachoeira
produziu vários documentários, capazes de mudar o curso da vida, principalmente
de quem será julgado ainda este ano pelo Supremo, com a chance de ter o
ministro algoz do Mensalão do PT, Joaquim Barbosa, na presidência da maior
instância jurídica do País.
No encontro com o seu advogado Ricardo
Sayeg, em Mossoró, Cachoeira avisou que a família e amigos tem nas mãos “esse”
material que será despejado na imprensa nos próximos dias. Nesta sexta-feira, o
contraventor começou a cumprir sua promessa. A Revista Veja, divulgou on line,
vídeo no qual Carlinhos tem uma conversa com o deputado federal Rubens Otoni
(PT-GO), na qual oferece R$ 100 mil para ajudar o petista e insinua já ter
contribuído com a mesma quantia para o candidato em outra campanha.
Só um detalhe: Otoni nunca declarou a
quantia ao Tribunal Regional Eleitoral e não consegue explicar o porquê disso.
A TRAJETÓRIA DE CACHOEIRA
Carlinhos Cachoeira cresceu no meio da
jogatina. Seu pai fez parte do grupo de Castor de Andrade e levou para Goiás o
conhecido jogo do Bicho. Seus irmãos difundiram pelo Estado o jogo e a chegada
das máquinas caça-níqueis. Cachoeira, no entanto, se aperfeiçoou com projetos
oferecidos em vários Estados batizado de On Line Real Time. Trata-se de um
software que permite ligar as caça-níqueis diretamente à Caixa Econômica,
buscando, aos moldes das Loterias, a legalização do jogo.
Carlinhos montou várias empresas para
gerenciar o jogo nos Estados. E começou sua fortuna. Procurava grupos coreanos,
italianos, espanhóis e vendia à vista, a exploração do jogo pelo país. Assim
passou a recrutar políticos que viabilizavam a exploração dos jogos de azar
pelos Governos estaduais. Cachoeira sofisticou seus negócios a partir da
implantação de seu novo sistema com o apoio do então governador de Goiás
Maguito Vilella, padrinho do seu primeiro casamento. Carlinhos criou a empresa
Gerplan no governo de Vilella.
Marconi Perillo
Com a entrada do governador tucano
Marconi Pirillo, o empresário do jogo expandiu seus negócios para vários
Estados, até bater de frente com os interesses do então ministro chefe da Casa
Civil, o petista Zé Dirceu.
Waldomiro Diniz, assessor de Zé Dirceu na
Casa Civil, trabalhava para a família Ortiz, forte concorrente de Carlinhos
Cachoeira. Os Ortiz lutavam pela permanência do jogo clandestino, pois
reconheciam que o negócio era mais rentável. Carlos Cachoeira queria a
legalização porque detinha toda uma estrutura profissional com tecnologia de
hardware e software para a arrecadação do jogo pelo governo em tempo real e com
a garantia de desconto dos impostos.
Waldomiro Diniz
Cachoeira então gravou Waldomiro pedindo
propina para a campanha do PT em 2002. Com isso, o empresário do jogo usava o
flagrante para combater a propina paga pela família Ortiz ao assessor da Casa
Civil Waldomiro Diniz, responsável também pelo pagamento do mensalão do PT
dentro do Congresso Nacional.
Waldomiro era tido como uma águia, mas
foi abatido pelo Ministério Público em pleno voo. O escândalo fragilizou José
Dirceu permitindo o ataque de Roberto Jefferson, que culminou com a cassação do
mandato de deputado e a demissão da Casa Civil.
Cachoeira foi cercado de atenções pelo PT
durante todos esses anos para
evitar um escândalo maior em torno do
financiamento de campanhas em vários Estados. Este roteiro, com conteúdo
explosivo, desta vez virá à tona, pois Carlinhos planeja em sua solidão na cela
17 do Presidio de Segurança Máxima de Mossoró, como se vingar do PT que o
abandonou e o colocou nesta situação.
Nesse arsenal explosivo tem várias
empresas: Construtoras, Laboratórios, Bancos no Brasil e no Exterior. Na
próxima edição, o Quidnovi vai mostrar, com documentos, como a máfia do jogo
atua com o braço político nos cofres públicos.
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Complemento informativo:
Todo mundo menos eu, Coluna Carlos Brickmann
(*) Coluna exclusiva para a edição dos jornais de Quarta-feira, 2 de maio
Anthony Garotinho, principal adversário político do governador fluminense Sérgio Cabral, divulgou fotos devastadoras (www.gabeira.com.br): Cabral e o dono da Delta, Fernando Cavendish, até agora personagem principal da CPI do Cachoeira, dançando juntos em Paris, enquanto suas companheiras exibiam ao fotógrafo as solas vermelhas dos caríssimos sapatos Louboutin. Num lugar chiquérrimo, a mais cafona das celebrações - sabe-se lá o que celebravam.
Mas Garotinho não está a salvo: quem pagou a postagem de cartas pedindo votos a seus candidatos, nas eleições de 2004, foi, em grande parte, a Delta, de Cavendish. Nas cartas, Garotinho, evangélico, dizia estar orando pelos eleitores. Sua fatia da Delta, parece, não foi tão apetitosa; mas também comeu por lá.
Neste caso Delta-Cachoeira, não há quem escape: amigos, inimigos, antigos amigos hoje inimigos, antigos inimigos hoje amigos, ferozes defensores da moralidade dos outros, gente mais tolerante com a moralidade dos outros (e também com a própria). Há o tucano Perillo, governador de Goiás, há Demóstenes Torres, do DEM goiano, há Agnelo Queiroz, do PT de Brasília, há o peemedebista Sérgio Cabral, há Garotinho do PR (o mesmo do ex-ministro Alfredo Nascimento, aquele que caiu do Ministério mas manda muito no Senado e no partido). A CPI teme ligar a metralhadora, porque a arma pode girar.
Tanta gente! Daqui a pouco teremos de lembrar um velho sucesso de Carlos Galhardo (e também de Silvio Caldas): "Todo mundo, menos eu".
Velhos versos
Certos antigos poemas são irretocáveis. Desta mesma composição, uma única quadrinha: "Entre as luzes fatais da cidade/ A orgia cruel te envolveu/ Todo mundo chorou de piedade/ Todo mundo, menos eu".
Outros comentários já estão ficando fora de moda. O jornalista Ennio Pesce, sempre brilhante, costumava dizer que o mal do mar de lama é que as praias não davam para todo mundo. Pois não é que, neste caso, as praias cresceram muito?
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