terça-feira, 11 de setembro de 2012

O problema da educacao brasileira e' o... MEC

Não tenho nenhuma dúvida quanto a isso. Se dependesse de mim, eu fecharia o MEC e começaria tudo outra vez. Aliás, até começaria tudo de novo em tudo, desde o zero, começando por criar uma categoria de professores não contaminados pela ideologia perversa da "pedagogia do oprimido" -- essa verdadeira saúva freireana que está acabando com o Brasil -- sem estabilidade funcional, mas bem capacitados, muito bem pagos, com remuneração atrelada ao mérito (ou seja, aos resultados dos exames e testes dos alunos), e com processos contínuos de formação.
O que eu faria com os que já estão e com a máfia sindical? Nada, cobraria resultados, mas seria uma espécie condenada à extinção, como o MEC, justamente. O MEC eu acabaria em seguida, os professores ruizinhos se extinguiram ao longo do tempo, infelizmente, mas assim é que deve ser feito.
O que eu mudaria nos currículos e nas orientações disciplinares? Tudo, a começar pela extinção, imediata, de matérias perfeitamente inúteis como estudos afrobrasileiros e espanhol, no ciclo básico, e tornaria sociologia e filosofia no ciclo médio opcionais outra vez.
Enfim, teria um monte de coisa para fazer.
Mas sabem quando isso vai acontecer?
Não neste geração, nem na outra, talvez na terceira, ou seja, dentro de mais uns 40 anos, pelo menos. Ou seja, o Brasil vai continuar um país de baixo crescimento, mentalmente atrasado, incapaz de transformar realmente a vida das pessoas, ou de produzir mais riqueza com base em ganhos de produtividade.
O que eu posso fazer?
Pouco, mas pelo menos fico gritando neste pequeno canto de humanidade, que constitui este blog minúsculo, perdido na imensidão dos problemas brasileiros...
Podemos e devemos persistir.
Paulo Roberto de Almeida

Educação - tudo legal e tudo muito ruim

Alexandre Barros
O Estado de S.Paulo, 11 de setembro de 2012


O título é de Anísio Teixeira, na década de 1950. E continua na mesma.
A paixão da educação brasileira é a burocracia. Tudo é legalmente correto, mas os resultados são pífios. Os currículos são fixados e fiscalizados pelo Ministério da Educação (MEC) e terminam em exames que medem todos os alunos com a mesma régua. Não importam as suas preferências intelectuais e pretensões profissionais. Bem-sucedido é quem tira as melhores notas em todas as matérias, só que a vida e os progressos não são medidos assim. Uns serão capazes em umas coisas e outros, em outras. "Eu não posso fazer isso, mas posso fazer aquilo" e são as diversidades que alimentam o progresso, não as homogeneidades. Mal educamos a maioria dos alunos para as coisas que eles não gostam de fazer e fracassamos em ensinar-lhes o que eles gostam.
Todos sabemos, já no segundo grau, definir nossa direção básica: ciências humanas e sociais ou exatas. O gargalo são as exatas.
Perguntei a um professor de Matemática, defensor apaixonado da necessidade de todos saberem altas matemáticas, para que elas serviam. Sua pronta resposta: "Para calcular o tamanho dos planetas e a distância entre eles". Segunda pergunta: e quando foi a última vez que o senhor precisou calcular o tamanho de um planeta? Ele coçou a parte de trás da cabeça, sorriu e disse: "Só quando eu estava na escola". Isso não é uma diatribe para que não se ensinem ciências exatas na escola, mas a maneira de ensinar pode e deve variar, dependendo do propósito, das vocações e das intenções de cada aluno.
Hoje o acesso às informações está gigantescamente expandido. Fora da internet, há ciência no canais de TV do tipo Discovery e seus desdobramentos, como há nos seriados policiais CSI, Criminal Minds e Numbers. Isso basta para quem não vai ser cientista exato. Para quem vai há necessidade de saber mais sobre cálculos e experimentos. Fica, então, a pergunta: por que tentar enfiar paralelepípedos em buracos cilíndricos e esperar que eles coincidam exatamente?
Autoritarismo burocrático é a resposta. É assim "porque tem de ser assim". Os professores ensinam o que sabem, sem poder mudar currículos, e de olho nos testes estandardizados por meio dos quais o MEC insiste em que todos usem o mesmo tamanho de sapato, não importando o tamanho do pé.
Na década de 1990 a Universidade Estácio de Sá criou cursos com aulas das 11 da noite à 1 da madrugada. O MEC não autorizou. A razão alegada: ninguém pode estudar a sério nesse horário. Depois de idas e vindas burocráticas, acabaram autorizados e foram um grande sucesso. Havia público, que, pelas mais variadas razões, se sentia bem e rendia melhor nesse horário.
No ano passado, com a falta de mão de obra especializada, o Senai, que não é controlado pelo MEC, criou cursos na área de metalurgia, nas favelas do Complexo do Alemão, das 4 da madrugada às 7 da manhã. Estavam duros de gente e havia fila na porta (O Estado de S. Paulo, 31/7/2011). Na ausência do preciosismo autoritário-regulatório do MEC, os cursos foram criados para atender às necessidade do mercado e aos interesses dos candidatos.
Isso nos leva à conclusão de estudo recente de Simon Schwartzman: educação e crescimento econômico estão ligados, só que, ao contrário do que o senso comum pensava, é o crescimento econômico que empurra a educação, e não esta que puxa o crescimento.
As grandes universidades tecnológicas norte-americanas, criadas e financiadas pelos milionários do fim do século 19 e início do século 20, como John Rockefeller, Andrew Carnegie, Andrew Mellon e Leland Stanford, surgiram não porque a burocracia exigia ou gostava, mas porque a continuação do crescimento capitalista das fortunas dos robber barons dependia da formação de profissionais. No Brasil tudo fica na mão do governo, que pouco sabe do que o crescimento precisa e segue iludido achando que é a educação que puxa o desenvolvimento.
Sofro de discalculia (dificuldades em matemática, Estado, 9/4/2009). Pouco aprendi na escola nessa matéria, mas era fascinado pelos conceitos e princípios matemáticos descritos por Malba Tahan em O Homem que Calculava (Editora Record). Aprendi muito com o Laboratório Químico Juvenil - fornecia substâncias que, quando misturadas corretamente, produziam tinta de escrever invisível, cores ou fumaça - e com o Poliopticon, cheio de lentes e tubos que me permitiam fazer desde microscópios até lunetas para ver as vizinhas trocando de roupa.
Cedo aprendi o básico sobre perfuração de petróleo em O Poço do Visconde, de Monteiro Lobato, originalmente publicado em 1937. Mais recentemente, entendi muitos conceitos de estatística, que tentaram ensinar-me por meio de fórmulas e cálculos, lendo o Desafio aos Deuses: A Fantástica História do Risco, de Peter L. Bernstein (Campus, 1997).
Nunca iria ser cientista exato, mas tudo isso foi importante para entender o mundo. Com o Tesouro da Juventude (uma coleção de livros que era como que uma mescla das revistas Superinteressante e Galileu) aprendi a fazer uma porção de coisas que currículos e professores insistiam em não ensinar ou em fazê-lo de maneira errada.
Ou bem passamos a fornecer educação customizada, tal como vendemos sapatos dos tamanhos e modelos adequados aos pés dos clientes, ou vamos continuar a seguir a sina de Anísio Teixeira. Na educação tudo seguirá sendo legal, mas continuará sendo muito ruim e não funcionando.
Nisso desperdiçaremos dinheiro dos pagadores de impostos, que terão a ilusão de que a educação será melhor apenas porque o governo gasta mais dinheiro e insiste em formar todos para se tornarem cientistas e literatos, quando a grande demanda do crescimento vai em outra direção.

* PH.D. EM CIÊNCIA POLÍTICA (UNIVERSITY OF CHICAGO), É CONSULTOR EM RISCO POLÍTICO; E-MAIL: ALEX@EAW.COM.BR

2 comentários:

  1. Paulo tô contigo!

    Abs

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  2. Excelente texto, com exceção da ridícula anedota do professor de Matemática patético que fica "desconcertado" (pois coça a cabeça, uma pantomima que indica claramente que o autor acha o professor um palhaço).

    A Matemática está presente em praticamente toda a tecnologia moderna e no planejamento de empresas de alta produtividade (não é ela a base, a "causa última" da riqueza econômica?).

    A pergunta de "quando foi a última vez que o senhor teve que calcular o tamanho de um planeta" encarna com perfeição o espírito necessário para promover uma verdadeira hecatombe cultural.

    Na sociedade econômica em que vivemos hoje, a pessoa, basicamente, só "tem que" saber ganhar dinheiro. Todo o resto é "desnecessário". E não se engane, esse é exatamente o argumento da maioria das pessoas para permanecer na ignorância e, portanto, para a manutenção do perigoso estado de grande poder e pouca responsabilidade que vivemos na sociedade contemporânea.

    Humildade e respeito ao falar de assuntos sobre os quais não se possui amplo domínio são sinais de sobriedade e temperança. Não é o que se mostrou com a ridícula e danosa anedota do professor idiota.(que também contribui para desvalorizar a profissão)

    De resto o texto apresenta ideias coerentes e positivas.

    Um abraço,

    RAA.

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