Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Brasil: politica comercial autista (O Globo)
Editorial O Globo, 26/02/2013
Consta que a política externa de viés terceiro-mundista seguida pelo governo Lula teria sido uma contrapartida à militância petista pela acertada adoção de uma terapia clássica, monetária e fiscal, para manter a estabilização da economia. No campo comercial, o terceiro-mundismo se materializou na rejeição radical à proposta americana da Alca (Aliança de Livre Comércio das Américas) e aposta cega na Rodada de Doha, de liberalização do comércio mundial.
O Brasil perdeu a aposta - com a contribuição dos "aliados estratégicos" Argentina, China e Índia -, e precisaria compensar o tempo perdido, pelo fato de o mundo ter acelerado a assinatura de acordos comerciais bilaterais.
Mas tampouco fez isso. Ficou paralisado pelo vírus do terceiro-mundismo, refém da crise política e institucional da Argentina, cada vez mais protecionista contra as exportações brasileiras, e deixou-se levar pela onda de chavinização do Mercosul. Tudo conspira a favor da paralisia da diplomacia comercial, engessada pelo viés ideológico anacrônico do "diálogo Sul-Sul", algo que, no início do governo Dilma, parecia ser exorcizado. Ilusão, pois esta política externa se mostra tão forte quanto nos primeiros tempos de Lula.
É emblemático que a presidente Dilma tenha voado para Malabo, capital da Guiné Equatorial, típica ditadura africana, onde transcorreu a 3ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da América do Sul-África (ASA). Se Lula conviveu sem problemas com o "irmão" Kadafi e Mobuto, literalmente dono do Zaire, Dilma aparece ao lado de Teodoro Obiang, cujo filho, Teodorin, abandonou às pressas o carnaval baiano, depois de ter a prisão decretada pela Justiça francesa, devido à lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos de outros países.
Enquanto isso, Estados Unidos e União Europeia (UE), responsáveis por um terço das trocas comerciais no planeta, decidem acelerar as negociações para a assinatura de um acordo transatlântico. A produção somada das duas partes representa 47% do PIB mundial.
Dilma, na viagem, ressaltou que o comércio entre a América do Sul e a África, em 2011, de US$ 39 bilhões, representou um crescimento de 447% em dez anos. Mas por que não explorar também os maiores mercados do mundo, como o americano? Se o acordo dos EUA com a UE for assinado, será um razoável baque para o Brasil, que tem uma pauta de exportação agropecuária concorrente da americana. Fechado o acordo, o Brasil perderá muito espaço na UE. E nenhum dólar africano compensará o prejuízo.
Ao lado disso, outro bloco recém-formado no continente, a Aliança do Pacífico (Chile, México, Peru, Colômbia) tende a se fortalecer por ter uma postura nada ideológica, flexível. Sendo que o México já faz parte do Nafta, com americanos e canadenses. Impressiona a passividade da diplomacia comercial brasileira. Deve enxergar uma realidade própria, só vista por ela.
Brasil Econômico - Brasil sem bloco: falta empenho nos acordos comerciais / Artigo /Marcos Troyjo
Diretor do BricLab da Columbia University e professor do Ibmec
No momento em que dezenas de chefes de Estado da União Europeia e da CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) se reuniam em Santiago em janeiro último, também voltávamos olhos para a capital chilena os estrategistas de Washington. Dali a poucas semanas o Presidente Barack Obama revelaria, em seu discurso ‘State of the Union’, que os EUA e a Europa estão em conversações para constituírem uma área de livre comércio até 2015. Para os EUA, interessa a consolidação da UE como bloco. Washington atribui grande importância à manutenção da configuração comunitária — incluindo o Reino Unido. Um eventual desmantelamento precipitado pela crise de dívidas soberanas nos países na franja mediterrânea como Grécia e Portugal atrapalha seus objetivos geoestratégicos, sobretudo neste instante em que sua economia parece recuperar-se e a área de livre comércio em que estão inseridos, a NAFTA, é dos poucos arranjos regionais que opera sem problemas. Os EUA acompanham de perto a movimentação da América Latina como “Comunidade”, já que seus membros encontram-se em diferentes velocidades — Colômbia, Peru, Chile e México decolam e se reorganizam em nova área de livre comércio entre si, com diálogo aberto com os EUA. Argentina, Brasil e Venezuela se isolam e patinam. O Brasil tem dedicado pouco empenho a acordos comerciais bilaterais, e na geometria bloco-a-bloco, é igualmente difícil ressuscitar o diálogo concreto UE-Mercosul.
De um lado, temos a União Europeia ainda atolada em sua própria areia movediça fiscal e o crescimento estagnado. De outro, hoje o Mercosul está mais mais para um “clube de empatias ideológicas” do que um bloco que se movimenta de acordo com objetivos pragmáticos de comércio e investimento. É claro também que no comércio agrícola, onde os europeus continuam campeões mundiais de protecionismo, mais acesso a mercados seria bem-vindo. No entanto, com a voracidade da demanda chinesa por exportações latino-americanas de commodities agrícolas e minerais, este tema não tem a mesma premência de 10 anos atrás. Hoje, num nível mais amplo há uma “deseuropeização” dos focos prioritários da América Latina. A boa saúde recente dos fundamentos econômicos latino-americanos e o magnetismo exercido pela China têm contribuído a essa fase mais deseuropeizada. Da ótica específica do Brasil, temos a maior economia da região, mas isso não se deve por sermos um paradigma de competitividade. Praticamos elevadas barreiras tarifárias a importações, fortalecimento das megacorporações de economia mista que atuam em commodities agrícolas e minerais, política industrial defensiva. Temos recebido fluxos volumosos de IEDs sobretudo porque o mercado brasileiro, bastante protegido, acena a empresas globais com margens de retorno muito superiores à média dos mercados da OCDE. Se o Brasil flexibilizasse suas exigências de conteúdo local, sobretudo em áreas relacionadas a infraestrutura, transportes e logística, inauguraria uma fase “qualitativamente nova” como destino de investimentos europeus — e esta poderia ser a plataforma para um novo diálogo comercial com Europa e também EUA.
Um comentário:
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.
...cheerrrss...!
ResponderExcluirhttp://www.estadao.com.br/noticias/impresso,eua-reconhecem--cachaca-como--bebida-brasileira-,1002113,0.htm
http://www.ttb.gov/announcements/press-releasefy1305-cache-td.pdf
Vale!