sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Petrobras: gestao companheira acarreta inadimplencia...

Pois é, abusaram tanto da coitada (nem tão coitada assim, convenhamos), que ela ameaça ir para o brejo, não da insolvência, mas dos atrasos de pagamentos. Calote em uma empresa monopolista como a queridinha dos estatizantes e dirigistas contumazes sempre ameaça uma série de outras a ela associadas na doce exploração do monopólio.
Ainda bem que eu não comprei ações da Petrobras. Aliás de nenhuma outra companhia, estatal ou privada. No capitalismo companheiro, as surpresas não faltam...
Mas existem ainda coisas mais graves da gestão companheira não só na Petrobras, como na economia como um todo, como evidencia o editorial do Estadao transcrito um pouco mais abaixo.
Paulo Roberto de Almeida

Problemas de caixa da Petrobrás começam a contaminar parceiros
 Reuters, 31 de janeiro de 2013

 Há também o atraso de pagamento para fundos de recebíveis criados para financiar esses prestadores de bens e serviços, disseram fontes à , observando que a estatal alterou sua política de pagamentos recentemente e vem olhando com mais rigor os contratos.

Com isso, tem demorado mais tempo para liberar os recursos. Em uma espécie de efeito dominó, os prestadores de serviços também atrasam seus compromissos financeiros. ”Não vou dizer que a Petrobrás é inadimplente, mas que está em atraso. Enquanto algumas companhias estão sofrendo, estou confiante que os pagamentos serão feitos”, disse à Reuters Fernando Werneck, gestor de um portfólio de fundos creditórios na BI Invest, exclusivos de fornecedores da Petrobras.

Alguns dos fundos de investimento dedicados exclusivamente aos fornecedores da Petrobrás registraram aumento da inadimplência. Reuters junto à Comissão de Valores Mobiliários. Ao longo dos últimos dois anos a Petrobrás aportou cerca de R$ 7 bilhões para ajudar os fornecedores.

Problemas financeiros já empurraram algumas empresas menores fornecedoras da estatal, como a GDK, a um processo de recuperação judicial. Grandes empresas, tais como a Lupatech, tiveram que vender ativos e levantar capital novo para evitar o pior. Preocupações sobre como fazer negócios no Brasil, onde a Petrobrás é responsável por mais de 90% da produção de petróleo, levaram a uma queda de 34% nas ações da italiana Saipem na quarta-feira.
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Combustíveis para crise

31 de janeiro de 2013
Editorial O Estado de S.Paulo
 
Com os aumentos de 6,6% para a gasolina e de 5,4% para o diesel, o governo piorou as perspectivas de inflação sem resolver o problema de caixa da Petrobrás. Ontem de manhã, as ações ordinárias da estatal caíram 4,5% na Bolsa de Valores de São Paulo, porque os investidores logo perceberam a insuficiência do aumento. As perdas da empresa passarão de cerca de R$ 2 bilhões por mês para cerca de R$ 1,2 bilhão, porque os valores serão insuficientes para eliminar o desajuste acumulado.
Ao mesmo tempo, especialistas começaram a calcular o impacto inflacionário dos novos preços e a confrontá-lo com o provável benefício da redução das contas de eletricidade. Para o consumidor, o resultado será um empate, segundo o economista Salomão Quadros, um dos responsáveis pela área de índices da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A resultante dos dois efeitos, positivo e negativo, será de aproximadamente 0,2 ponto porcentual e sua influência combinada nos índices de preços ao consumidor será praticamente nula.
A tentativa de atenuar o impacto do aumento dos combustíveis afetará as contas públicas. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, confirmou ontem o compromisso, acertado há semanas com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, de manter as tarifas de ônibus sem reajuste até junho. O governador de São Paulo havia prometido adiar a elevação dos bilhetes de metrô. Autoridades federais haviam pedido ajuda também aos governos carioca e fluminense. Além disso, a própria administração federal será duplamente afetada pela manutenção dos subsídios ao consumo de combustíveis - pelo custo da operação e pelo atraso da agenda energética, por causa da perda de capacidade financeira da Petrobrás.
Mais uma vez, portanto, a presidente Dilma Rousseff e seus ministros da área econômica embolam objetivos e instrumentos de política e agravam os problemas do próprio governo. Ao insistir nesse caminho, as autoridades negam o próprio discurso, prolongando e agravando a disparidade entre ações e palavras.
Ainda ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou o uso do câmbio no combate à inflação. Só a política monetária é adequada para conter a alta de preços, disse o ministro, mencionando como exemplo os juros e referindo-se genericamente a outros mecanismos do Banco Central (como alteração dos depósitos compulsórios e outras medidas para regulação da oferta de dinheiro). Poderia ter acrescentado a austeridade fiscal como fator favorável à estabilidade de preços. A afirmação sobre o papel da política monetária é sensata, mas as palavras sobre a atuação efetiva das autoridades são obviamente falsas.
Em vez de combater a inflação pelos meios adequados, a presidente e seus ministros tentam administrar os índices, adiando politicamente os aumentos de preços dos combustíveis, pedindo ajuda a governos estaduais e municipais para adiar o ajuste de tarifas e reduzindo de forma voluntarista a conta de luz, sem levar em conta as necessidades financeiras da Petrobrás, da Eletrobrás e de outras empresas do setor energético.
Não se trata de defender a lucratividade dessas empresas, mas de levar em conta os custos efetivos e as necessidades de investimento para destravar uma economia emperrada. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prejudicou a saúde financeira da Petrobrás e sua capacidade de elaboração e de execução de projetos ao usá-la em benefício de sua imagem popular e de seu prestígio internacional. Também comprometeu a gestão do setor elétrico loteando seus postos mais importantes e liquidando os restos de sua capacidade de planejamento. Os apagões e miniapagões frequentes são parte da herança maldita deixada na área da infraestrutura.
A presidente Dilma Rousseff mostrou-se consciente dos danos causados à Petrobrás por seu antecessor. Mas é incapaz de renegar essa herança e de mudar de rumo, porque ela mesma carrega o vírus do populismo voluntarista. São características evidenciadas quando ela controla os preços dos combustíveis, barateia bens duráveis pela redução temporária de impostos e, ao mesmo tempo, força a baixa dos juros.

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