Piorou o humor do mercado com o Brasil
Mansueto Almeida, 21/05/2013
Em recente almoço no início deste mês, em Brasília, com representantes de um dos maiores fundos de investimento do mundo, um deles resumiu bem a impressão que ficou da última visita ao Brasil: “Nessa nossa última visita ao Brasil fiquei com a impressão que o setor privado e governo estão em mundos diferentes. O setor privado continua com elevada incerteza e preocupado com o rumo da política econômica e o governo tem convicção que tem adotado as medidas corretas“.
Em outro almoço com um grupo de investidores de um fundo soberano escutei que: “todos os países do mundo têm problemas. Mas, no caso do Brasil, estamos com a sensação que as pessoas no governo se negam a ver os problemas e isso nos deixa decepcionados. Quando as coisas iam bem, éramos recebidos aqui em Brasília pelo primeiro escalão. Depois passamos a ser recebidos pelo segundo escalão. Agora, temos dificuldades de nos reunir com o terceiro escalão.”
Essa turma faz o circuito tradicional dos investidores: Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília e sempre conversam com o mesmo grupo de economistas. O que tem me assustado é a velocidade da piora do humor desses investidores em relação ao Brasil. Isso significa relatórios mais pessimistas, diminuição da exposição das aplicações dos fundos que eles representam no Brasil e maior incerteza.
Infelizmente, além de eu não ter mandato para defender o governo, o máximo que consigo argumentar é que apesar de o cenário econômico ter piorado e não esperar nenhuma reforma substancial até as eleições, espero que o próximo governo retome a agenda de reformas. Sim, mesmo na hipótese de a presidente Dilma ser reeleita acho que haverá mudanças na equipe econômica e sempre recorro ao “pragmatismo da presidente” – “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. É claro que isso é uma aposta (e esperança), mas vale lembrar que o governo demonizava as privatizações e hoje jogou a toalha – começou a privatizar rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, etc., apesar das incertezas regulatórias.
Independentemente de o governo valorizar ou não a opinião de investidores externos sobre o Brasil, há hoje um déficit de confiança crescente em relação ao rumo da política econômica e os investidores começaram a apostar em um cenário muito pior para o Brasil; um cenário que estava completamente fora do radar há três anos.
Além do editorial desta semana do Financial Times (go-go to go-slow) que falou da falsa sensação de bem estar no Brasil, o relatório de hoje da consultoria de análise macroeconômica Capital Economics sobre o Brasil traz um cenário bastante morno e aponta corretamente o problema de nossa baixa taxa de poupança:
“Accordingly, without measures to raise domestic savings, it will be difficult to achieve a significant rise in investment. Among other things, this will require bold (and unpopular) welfare reforms, including to Brazil’s generous public pension system. And we doubt the government has the apetite for such measures, particularly with elections looming in 2014.
The upshot of all this is that Brazil’s savings – and investment – rate looks set to stay low by Emerging Markets standards. In macro-economic terms, this means that growth is likely to remain lacklustre and accompanied by relatively high rates of inflation. (from Why Brazil Must Save to Invest – Capital Economics May, 21st 2103).
Não há mais o que questionar, o humor do mercado em relação ao Brasil mudou e ainda não há sinais que o governo esteja conseguindo reverter as expetativas. Ao contrário, a cada visita desses investidores estrangeiros em Brasília eles saem mais pessimistas. Chegamos a um ponto, na minha modesta opinião, que o desafio agora não é apenas melhorar a comunicação com o mercado, mas sinalizar também mudanças concretas na política econômica, o que parece, por enquanto difícil.
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