Talvez se possa até concordar com o grande cronista, e de fato, o Brasil é subdesenvolvido desde o nascimento, talvez até antes, e continuou assim, nas diversas "derrotas" nacionais que tivemos, algumas ainda antes da criação de um Estado nacional e da independência da nação: a expulsão dos jesuitas, os únicos que ministravam aulas a brasileiros livres, escravos, índios, pelo "despotismo esclarecido" de Pombal (só se era para as negras dele, como se dizia antigamente, mas hoje ficou politicamente incorreto de falar essas coisas); a manutenção do tráfico e da escravidão na primeira Constituinte, contra as recomendações de José Bonifácio (este sim, um esclarecido, ainda que levemente désposta); a derrota de Mauá industrialista, contra os agraristas e metalistas do Segundo Império; a terrível derrota de Nabuco, várias vezes, contra os escravistas e reacionários do mesmo regime, descartando seus projetos de libertação incondicional com reforma agrária e educação para os negros e os pobres em geral; a derrota de Lobato e dos "educacionistas" dos anos 1920 e 30, que a custo conseguiram implantar uma escola pública, ainda que limitada à classe média urbana; a derrota prática dos aberturistas e liberais na definição das grandes linhas das políticas econômicas do pós-guerra (industrial e comercial, por exemplo), ainda quando tivessem ganho a batalha teórica contra os protecionistas e estatizantes (no debate Simonsen-Gudin, por exemplo), e a derrota de todos os democratas, contra os extremistas de esquerda e de direita, nos anos 1960 e, aparentemente, até hoje. Enfim, são muitas as derrotas dos progressistas verdadeiros num Brasil infestado pelos representantes do que se poderia chamar de atraso mental institucionalizado, ainda mais reforçado nos últimos anos.
Com efeito, o Brasil não só não avançou, no plano educacional (se tanto apenas quantitativamente), como recuou, e muito, sobretudo qualitativamente; energúmenos passaram a dirigir a educação brasileira, fazendo-a retroceder à demagogia deletéria de um Paulo Freire, e seu bando de pedagogos amestrados.
Vai ser difícil reconstruir todo o atraso (sobretudo mental, repito) em que incorremos na última década, toda a decadência universitária, que é universal, pois vai do pré-primário ao pós-doc.
O artigo abaixo é apenas um pequeno reflexo do desastre.
A situação, acreditem, é muito pior do que qualquer descrição em artigo de jornal...
Paulo Roberto de Almeida
'Derrepentemente', mais engenheiros
Pela primeira vez, o número de calouros em Engenharia superou o de Direito. Em 2006, segundo o Ministério da Educação (MEC), 95 mil estudantes ingressaram na área (5% do total de calouros das faculdades). Em 2011 já eram 227 mil (10% do total) e a quantidade de calouros em Direito caiu 4%. Esse crescimento na procura por Engenharia reflete a demanda aquecida por profissionais da área, necessários para superarmos os graves gargalos na infraestrutura, que atravancam nosso crescimento e desenvolvimento.
Os números mostram que os estudantes estão atentos ao mercado e às oportunidades geradas pelo crescimento, que estimula projetos na construção civil, siderurgia, metalurgia, automação, telecomunicações, petroquímica, etc. Mas é preciso cautela na avaliação desse avanço. O próprio ministro da Educação, Aloizio Mercadante, foi realista: os ingressantes em Engenharia são insuficientes para resolver a carência da área.
O déficit é expressivo: foram 45 mil graduados, em 2011, para uma necessidade de 70 mil a 95 mil engenheiros todos os anos, até 2020. A Coreia do Sul, com 49 milhões de habitantes (aqui somos cerca de 190 milhões), forma 80 mil engenheiros ao ano. Não há solução milagrosa: para garantir o crescimento e obter o mínimo de competitividade no cenário internacional, é fundamental reverter nosso cenário de 2,48 engenheiros para cada 100 mil habitantes. No Japão são 17, e na China e nos EUA são 13,8 e 9,5, respectivamente.
Mas o mais preocupante é constatar que menos da metade dos estudantes de Engenharia consegue se formar, em razão de um velho problema de nossa educação: o despreparo e a falta de domínio dos conteúdos exigidos para um desempenho adequado na educação superior. Os estudantes chegam às universidades sem conhecimentos essenciais para a qualificação profissional. Recentemente, o presidente do Instituto de Engenharia, Aluízio de Barros Fagundes, reconheceu que as escolas de Engenharia gastam o primeiro ano para ensinar fundamentos de Matemática, Física e Química.
Não por acaso, dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2009, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apontam que é muito baixo o porcentual de nossos estudantes com habilidades mínimas em Matemática. O exame, que avalia o desempenho em leitura, Matemática e Ciências, foi feito por cerca de 470 mil estudantes de 15 anos em todo o mundo.
Os resultados mostram, de forma contundente, o enorme déficit de habilidade em matemática entre nossos estudantes: coube-nos um triste 57.º lugar. O teste avalia os alunos em seis categorias, com níveis progressivos de dificuldade, e a grande maioria de nossos jovens (88%) situou-se até o nível 2. Só 3,8% conseguiram nível 4 para cima (no 6, o mais alto, nosso resultado foi de 0,1%), e este, sem dúvida, é um dos requisitos capazes de garantir sucesso a alunos das áreas de exatas e tecnológicas.
Os países da OCDE, que reúne as economias mais avançadas, tiveram desempenho bem superior: enquanto somamos 386 pontos, a média dos países foi de 495. Na Coreia do Sul, 51,8% dos alunos estão acima do nível 4 na avaliação de Matemática do Pisa. No Canadá são 43,3% e na China, 71,2%. Isto é: proporcionalmente, esses países têm pelo menos dez vezes mais alunos aptos para as áreas de exatas e tecnológicas que o Brasil.
Mais grave é que nossas autoridades parecem ainda não se dar conta da urgência e da gravidade de nossos problemas na educação. É evidente a necessidade de investimento eficiente, consistente e focado nos anos iniciais de aprendizagem, pois o problema começa nesta etapa. Precisamos melhorar a base, os anos iniciais do ensino fundamental, pois a insuficiente aprendizagem ao longo da educação básica impede que se adquiram as habilidades esperadas, em cada série, em disciplinas básicas como Português e Matemática.
Voltando aos dados do início, é importante repetir que a quantidade de calouros em Direito caiu 4% - uma boa notícia, pois já temos uma reserva de profissionais mais que suficiente para atender à demanda na área. Com uma agravante: há problemas recorrentes de qualificação, como demonstram os resultados do 9.º Exame da OAB, divulgados em março. A reprovação foi de 89,7%: dos 114.763 candidatos, só 11.820 foram aprovados, ou só 1 em cada 10 inscritos conquistou o direito de advogar.
Os números da área são superlativos. Temos 754.685 advogados (1 profissional para 256 habitantes), segundo a OAB, a mesma proporção dos EUA (1 para 253). Ainda segundo a OAB, 100 mil pessoas se formam em Direito anualmente. Levantamento do Inep mostra que, entre 1999 e 2011, a quantidade de matriculados foi de 328,7 mil para 722,8 mil, crescimento de 120%.
Nos últimos 20 anos, o número de faculdades de Direito passou de cerca de 200 para 1.260, ante 1,1 mil em todo o mundo (!). Além disso, mais de cem instituições esperam por autorização do MEC para entrar no mercado - e tudo indica que esperarão por muito tempo, pois o próprio Ministério diz que não autorizará novos cursos de Direito. A medida, correta, chega tarde.
Entre os profissionais de Direito, o excesso de oferta, somado à falta de qualificação, resulta, no mínimo, em ataques brutais à língua portuguesa, como o que surpreendeu um amigo dia destes, em correspondência de seu advogado: o profissional garantiu que "derrepentemente" o juiz poderia encerrar a causa.
* JORNALISTA, FOI MINISTRO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA, COMÉRCIO EXTERIOR NO GOVERNO LULA (2007-2010)
Concordo com tudo que foi exposto tanto no comentário quanto na matéria assinada pelo Sr.Miguel Jorge.
ResponderExcluirCreio eu, que a disciplina do Direito, foi totalmente vulgarizada no Brasil. Realmente cerca de 90% dos postulantes ao curso são inaptos na área técnica. No pensar socialmente, filosoficamente, economicamente, hermeneuticamente, nem preciso comentar a abrupta incapacidade. Todos sonham apenas em um carguinho público com aposentadoria vitalícia.
Eu mesmo, creio ter um mínimo de capacidade acima da média para cursar Direito. Porém, devido a vulgarização da matéria, nem penso mais no assunto.
Penso eu que devo reforçar meus escassos conhecimentos de Matemática, Química e Física e realmente tentar fazer carreira na área de Engenharia. Vejo exemplos claros da diferença que um curso na área pode trazer no desenvolvimento econômico pessoal de pessoas minimamente capacitadas.
Penso além: Engenheiros bem formados tecnicamente, mas com boa fluência verbal, o mínimo de conhecimento humanista, boa capacidade de apresentação de idéias em palestras e apresentações de projetos, sólidos conhecimentos econômicos - diferentemente dos keynesianos de botequim - e de gestão, boa capacidade de criar rede de relacionamentos, etc, serão os líderes do futuro não só no Brasil, mas no Mundo.
E o senhor o que acha Dr.Paulo Roberto?
Saudações, Leandro.
O que eu acho disso, Leandro?
ResponderExcluirBem, algum cético poderia dizer:
Engenheiros produzem patentes e riqueza para o país.
Advogados produzem.... déficit público.
Hummm, talvez seja...
Paulo Roberto de Almeida
Talvez! Nem perco mais meu tempo discutindo com meus amigos que "fizeram, formaram-se" em Direito.
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