quinta-feira, 18 de julho de 2013

Brasil sofre na companhia de Argentina e Venezuela

A matéria é de 12 de junho de 2013, mas a situação não melhorou desde então. Ao contrário, só piorou. PRA

Comércio exterior

Argentina e Venezuela 'queimam' imagem do Brasil, diz professor

Para Arturo Porzecanski , da American University, foco do Brasil no Mercosul dificulta desenvolvimento do comércio exterior do país e afasta investidores

Talita Fernandes
Veja.com, 12/06/2013
Dilma e Cristina Kirchner durante encontro do Mercosul, em Brasília
Relações entre as presidentes Cristina Kirchner e Dilma Rousseff enfrenta problemas (Ueslei Marcelino/Reuters)
Em tempos de mercados cada vez mais fechados e turbulências econômicas que não cessam, chegou a hora de o Brasil se afastar da Argentina e da Venezuela para evitar mais problemas, diz o economista e professor da American University (Washington, EUA), Arturo Porzecanski. De acordo com o estudioso da economia da América Latina, os dois países não têm os mesmos valores democráticos que o Brasil e a insistência do governo na proximidade com ambos arranha a imagem do país na percepção dos investidores internacionais. Para explicar seu raciocínio, o professor, que é uruguaio, mas radicado nos Estados Unidos, usa o ditado popular "Diga-me com quem andas que direi quem és". 
Em evento realizado nesta terça-feira em São Paulo, Porzecanski disse que, enquanto o Brasil resiste em participar de alianças de livre comércio, movimento que vem sendo adotado por outros países, e insiste no Mercosul - bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e, mais recentemente, pela Venezuela - ele passa uma imagem aos possíveis investidores de que compartilha do mesmo pensamento econômico desses países.
Argentina e Venezuela se destacam por políticas econômicas desastrosas. Os dois países têm forte controle cambial e maquiam dados sobre inflação, que atinge patamares muito elevados nos dois casos. Na Argentina, por exemplo, o dado oficial é de inflação na casa dos 10% ao ano, mas cálculos extraoficiais apontam para um patamar inflacionário entre 20% e 30%. Na Venezuela, a inflação ultrapassa a casa dos 20%, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O Mercosul foi criado em 1991, com o tratado de Assunção, com o objetivo de criar uma união tarifária, ou seja, a isenção de tarifas de importação entre os países membros e a uniformização das tarifas cobradas sobre produtos importados dos demais países. Mais de 20 anos se passaram e, até agora, o Mercosul está muito longe de ser um bloco livre de tarifas de importação. Brasil e Argentina, que são as maiores economias que compõem o bloco, têm cada vez mais dificuldades nas relações comerciais. O episódio mais recente foi a estatização de ferrovias que estavam sobre concessão da gigante brasileira América Latina Logística (ALL), decisão que pegou a empresa de surpresa.
Outros problemas envolvem duas importantes companhias brasileiras: Vale e Petrobras. Em março, o Conselho Administrativo da Vale decidiu suspender o projeto de potássio Rio Colorado, na Argentina. A suspensão originou uma série de embates e o país chegou a ameaçar a tirar a concessão da mineradora. A Casa Rosada considerou a medida como falta de apoio do Palácio do Planalto. A mesma avaliação foi feita em relação à decisão da Petrobras de não vender seus ativos no país. Há duas semanas, a Petrobras recuou de uma negociação com o grupo Indalo, de Cristóbal López.
Apesar do cenário, o ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria Gustavo Loyola afirmou, no mesmo evento, que o país não vai se afastar de seus vizinhos latino-americanos e que a relação econômica com eles é importante. Contudo, Loyola compartilha do pensamento de Porzecanski de que o Brasil não deve deixar o Mercosul restringir sua política de comércio exterior. Ele reforça que o cenário atual para as relações econômicas bilaterais entre Brasil e Argentina é negativo. "Mas isso não quer dizer que o Brasil tenha de desistir." 
O ex-dirigente do BC explica que o Mercosul passa por momentos difíceis - e que se pode falar até em crise. "Tem várias questões que pioraram o Mercosul nos últimos anos. Politicamente, o erro grosseiro foi a suspensão do Paraguai e o ingresso da Venezuela", comenta. Para Loyola, o bloco não deveria fechar as portas a novos membros, mas acha crítico que os países tenham permitido o ingresso da Venezuela que, na prática, não é um país democrático, e "não tem economia de mercado".
O Paraguai foi suspenso do bloco em junho do ano passado por questões políticas, quando o Congresso decidiu pelo impeachment do presidente Fernando Lugo. No momento da suspensão, os países membros usaram como justificativa a saída de Lugo e aproveitaram a oportunidade para chancelar a inclusão da Venezuela. O Paraguai era o único membro contrário à entrada do país então comandado por Hugo Chávez - e que hoje está sob o comando de seu sucessor, Nicolás Maduro. A decisão sobre a volta ou não do Paraguai ao Mercosul só será tomada após a posse do novo presidente eleito, Horacio Cartes, marcada para 15 de agosto.
Para os economistas, o cenário faz com que o empresariado tenha pouca confiança nos países do Mercosul e o sentimento de insegurança jurídica cresça. "Isso está provocando um distanciamento. Afasta o investimento e provoca o desinvestimento", comenta Loyola. 
Alianças — Em meio às críticas ao Mercosul, Porzecanski usa o exemplo que vem sendo adotado por outros países latino-americanos. Ele cita a Aliança do Pacífico, firmada no ano passado por México, Colômbia, Peru, Chile, que recentemente anunciaram a retirada de 90% das tarifas de importação. Devem aderir ao bloco também Costa Rica e Panamá. O professor destaca que esses países têm também firmado uma série de acordos com os Estados Unidos, União Europeia e com algumas economias asiáticas.
Outro exemplo é a Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), que envolve 11 países no total, entre eles Japão e Estados Unidos. Porzecanski diz que não vislumbra nenhum caminho para o Mercosul nesse cenário. "O Brasil corre o risco de ficar isolado", comenta. “Não acho estratégia inteligente, pois esse foi o caminho seguido por países que viraram líderes”.
Multilateralismo falho - A estratégia de multilateralismo e poucos acordos bilaterais por parte do Brasil também é alvo de críticas. Segundo o professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), as alianças comerciais bilaterais de países latino-americanos ajudaram na expansão de suas economias, como o México, por exemplo. "Enquanto isso, o Brasil ficou só nos acordos multilaterais. Por isso nós ficamos com uma economia mais fechada."
Nesta terça, a Câmara Internacional de Comércio (ICC, na sigla em inglês), divulgou um rankingfeito com base no nível de abertura econômica dos países. O Brasil aparece na 67ª posição em uma lista de 75 economias. É o que ostenta a pior posição entre as 20 maiores economias mundiais, o G-20, e entre os Brics, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. "Com a perda da competitividade, sobretudo da indústria, nós ficamos apelando para coisas como a salvaguarda. Nesse ponto, há um risco muito grande para a competitividade no curto e no médio prazo. Mantemos um distanciamento dos polos mais avançados, onde são desenvolvidas as tecnologias mais de ponta e nós ficamos com as produções mais básicas apenas", comenta Grisi.
Ele avalia que o país tem perdido a oportunidade de negociar alianças comerciais com a Europa, por exemplo, e lembra que os EUA e a zona do euro discutem acordos enquanto isso. "Precisamos fazer acordos e liberalizá-los. E, assim, buscar por ganhos de competitividade", comenta. 

As empresas brasileiras que penam na Argentina

1 de 7

ALL Logística


Na última terça-feira, o governo de Cristina Kirchner anunciou mais uma ação intervencionista na Argentina: a estatização de trecho de oito mil quilômetros de linhas férreas concedidos à gigante brasileira América Latina Logística (ALL). Para rescindir o contrato de concessão, o governo alegou que a ALL havia parado de pagar multas e direitos de exploração e não realizou os investimentos e obras necessárias para melhorar a infraestrutura das ferrovias.
1) ALL Logística
Na última terça-feira, o governo de Cristina Kirchner anunciou mais uma ação intervencionista na Argentina: a estatização de trecho de oito mil quilômetros de linhas férreas concedidos à gigante brasileira América Latina Logística (ALL). Para rescindir o contrato de concessão, o governo alegou que a ALL havia parado de pagar multas e direitos de exploração e não realizou os investimentos e obras necessárias para melhorar a infraestrutura das ferrovias.
2) Petrobras
A Petrobras trabalha com margens de lucro muito apertadas na Argentina, razão que, por si só, motiva a retirada de empresas de um país. Mas além disso, o governo da Argentina passou a determinar o fechamento de instalações da petrolífera no país. Em março, a justiça argentina mandou fechar uma refinaria na província de Buenos Aires. A Petrobras cogitou vender toda a sua subsidiária no país, mas, pelo menos por enquanto, não ficou satisfeita com as propostas de compra.
3) Vale
A mineradora tinha planos para um projeto de extração de potássio em uma mina no Rio Colorado, na província de Mendoza. A Vale pleiteava uma maior flexibilidade tributária e cambial para tocar o projeto, mas não houve acordo com o governo. Mesmo sem ser atendida, a Vale foi obrigada pelo governo a manter o empreendimento. Após ordens judiciais de ambos os lados, a mineradora brasileira fechou em abril um acordo para deixar a mina. Em contrato, a Vale se comprometeu a pagar dois meses e meio de salários a 4,9 mil trabalhadores. A mineradora brasileira gastou 2,2 bilhões de dólares no projeto e agora planeja vender a mina para recuperar o dinheiro aplicado.
4) Construtoras
As empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa foram prejudicadas pela desistência da Vale em terminar o empreendimento no Rio Colorado. A primeira era responsável pela construção da mina; a segunda ficou encarregada da construção de um porto, que seria erguido para escoar a produção de potássio; já a Camargo Corrêa era a operadora de uma ferrovia, que ligaria o porto e a mina, seria revitalizada e ganharia um novo ramal.
5) Deca
Também em abril, a fabricante de louças e metais sanitários Deca fechou sua fábrica em Buenos Aires. A empresa, que estava na Argentina desde 1995, afirmou que não conseguiu reverter sucessivos prejuízos financeiros. Cerca de 140 pessoas ficaram desempregadas com a desativação da fábrica.
6) JBS
Cristina Kirchner criou regras intervencionistas - e bizarras - até para frigoríficos de carne. Uma de suas medidas foi determinar que os frigoríficos vendam, para cada 2,5 quilos exportados, um quilo de carne abaixo do custo para o mercado argentino. Com a imposição, em vigor até hoje, a JBS acabou fechando a maior parte das operações que tinha no país.
7) Alpargatas
A dona das marcas Havaianas e Topper também passa por apuros na Argentina. Como o governo Kirchner impõe uma série de imposições para a troca de pesos por dólares, com o objetivo de segurar as divisas do país em moeda norte-americana, a Alpargatas estaria sofrendo para enviar suas remessas ao Brasil.

Um comentário:

  1. Sobre esta relação, em entrevista à Veja.com, o ex-presidente FHC referiu-se à Argentina qual a "Sereia" que leva, através da cantoria, o Brasil a situações difíceis...

    http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/fhc-conversa-com-ricardo-setti-e-augusto-nunes-o-congresso-passou-a-ser-apenas-um-homologador-do-poder-executivo/

    ResponderExcluir

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.