Ainda não pude ter acesso ao livro de Olavo de Carvalho, sequer como Kindle (que no Brasil é absurdamente caro, não se distinguindo em nada, no quesito preço, do equivalente impresso, o que é totalmente estapafúrdio, como várias outras jabuticabas de Pindorama), e tampouco encontro novidade no argumento abaixo, do Olavo, do Tambosi, e meu próprio, aliás desde muitos anos, desde que me curei -- graças a muitas leituras e a visitas aos capitalismos e socialismos realmente existentes -- das gravidades graves (com perdão da redundância) da ideologia marxista, que coloca o capitalismo com um "modo de produção", ou seja, algo que possa ser determinado pela ação consciente dos homens, como é pré-determinado o socialismo, saído inteiro de um pensador genial e totalmente equivocado, conceitualmente, praticamente, filosoficamente, Marx of course.
Apenas tomo de empréstimo o texto abaixo, porque sintetiza, para uso de estudantes e outros curiosos, a argumentação correta quando algum beócio companheiro vem argumentar que o socialismo pode não ser perfeito, mas que o capitalismo também tem muitos defeitos (que precisam ser corrigidos, claro, por geniais construtores de miséria e injustiças como os companheiros).
Voltarei ao assunto, várias vezes, e também me permitirei transcrever trechos de minha tese de doutorado (de 1984) que trata justamente dessas distinções, e que aprendi com Braudel, com Hirschman (entre outros) e em incontáveis visitas às misérias do socialismo real, algo que os companheiros jamais conheceram.
Paulo Roberto de Almeida
Orlando Tambosi, 10/09/2013
Lendo o novo livro de Olavo de Carvalho -
O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota (ver ao lado
, edição Kindle) -, que reúne boa parte de seus escritos na última década, constato com satisfação que defendi sempre o mesmo ponto de vista em relação à pseudo-dicotomia capitalismo/socialismo (ver breve texto
aqui). Pseudo porque capitalismo, ao contrário do socialismo, não é ideologia, apenas um conjunto de ideias - quase sempre fechadas -, mas um processo objetivo, que se desenvolve na realidade e não no campo das ideias. Só os idealistas e os marxistas, aliás, confundem ideia e realidade. Apenas acrescento, em relação ao texto, que o capitalismo é muito mais que um sistema econômico: é também, como sempre sustentou Joyce Appleby (jamais traduzida no Brasil), um sistema de valores e princípios que foram cristalizados na democracia, isto é, que tem uma forte dimensão cultural ignorada pelas esquerdas. Bene, dizer que capitalismo não é ideologia me valeu mais uma leva de inimigos na universidade. Pesquei o texto no próprio site do
Olavo. Recomendo a leitura:
Se você quer avaliar a extensão do domínio hipnótico que os cacoetes marxistas ainda exercem sobre o sistema neuronal de pessoas que se supõem imunes a qualquer contaminação de marxismo, basta ver que estas, quando argumentam em favor do capitalismo, admitem colar na própria testa o rótulo de defensores de uma determinada "ideologia".
Uma ideologia é, por definição, um simulacro de teoria científica. É, segundo a correta expressão do próprio Marx, um "vestido de idéias" que encobre interesses ou desejos. Ao aceitar definir-se na linguagem de seu adversário, o liberal moderno assume o papel que ele lhe impõe: confessa-se porta-voz dos interesses dos ricos. Que a confissão seja falsa não a torna menos eficaz. Transferida do confronto objetivo das doutrinas para o terreno da concorrência de interesses, a luta parece opor agora o explorado ao explorador. Por elegante que seja a argumentação deste último, ele estará condenado a personificar sempre o malvado da história.
Descrever o confronto entre capitalismo e socialismo como "luta de ideologias" é aceitar um jogo viciado, no qual um dos lados dita as regras, dá as cartas e predetermina o desenlace.
O capitalismo não é uma ideologia. É um sistema econômico que existiu e provou suas virtudes desde dois séculos antes que alguém se lembrasse de formulá-lo em palavras. E o primeiro que esboça essa formulação, Adam Smith, não é de maneira alguma um ideólogo, um inventor de símbolos retóricos para construir futuros no ar em favor de tais ou quais ambições de classe. É um homem de ciência em toda a extensão do termo, esboçando hipóteses para descrever e explicar uma realidade existente. O socialismo, em contrapartida, milênios antes de existir sequer como estratégia política concreta já tinha seus ideólogos, seus embelezadores de enganos, seus estilistas de interesses de grupos ressentidos e ambiciosos. Por isso, o confronto de socialistas e liberais não opõe ideologia a ideologia: a defesa do socialismo é sempre a auto-atribuição ideológica dos méritos imaginários de um futuro possível, a do capitalismo é sempre a análise científica de processos econômicos existentes e dos meios objetivos de aumentar sua eficiência.
Malgrado tudo quanto se possa alegar contra ele sob outros aspectos (e eu mesmo não tenho deixado de alegá-lo), o capitalismo não somente gerou riquezas incalculáveis, mas pôs em ação os meios práticos de distribuí-las ao povo e criou instituições como a democracia parlamentar, a liberdade de imprensa, os direitos humanos, ao passo que o socialismo só o que fez até hoje foi prometer um futuro melhor ao mesmo tempo que reintroduzia o trabalho escravo banido pelo capitalismo, suprimia todos os direitos civis e políticos conhecidos, reduzia mais de 1 bilhão de pessoas a uma angustiante miséria e, para se sustentar no poder, recorria a meios de uma crueldade quase impensável, como por exemplo a empalação e o esfolamento de prisioneiros – um recurso muito usado durante o governo de Lênin.
O capitalismo não é uma ideologia – é uma realidade continuamente aperfeiçoada pela ciência. Ideologia é o socialismo – o vestido de idéias que encobre as ambições sociopáticas de semi-intelectuais ávidos de poder.
E uma prova a mais de que isso é assim poderá ser dada por eventuais reações socialistas a este artigo, as quais, como todas as contestações a meus artigos anteriores, não conseguirão e aliás nem tentarão impugnar a veracidade de nenhuma de suas afirmações, mas se limitarão a expressar descontentamento e revolta contra sua publicação.
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A curta e precisa definição de Orlando Tambosi linkada acima:
Quem é contra o capitalismo confunde esse processo objetivo, gerado pelo mercado - que não tem criador nem dono -, com ideologia, cada uma delas com seus gurus. Ideologias têm dono, a exemplo do socialismo, com suas retrógradas ideias ainda professadas por quem despreza a história, que não deixa dúvidas quanto às experiências socialistas: geraram apenas ditadura, fome e morte.
Os exemplos ainda estão aí, presos a um mundo que já terminou e que mentes pérfidas, nas escolas e academias da América Latina, ainda tentam manter vivo, para seu próprio e exclusivo benefício.
Isto não quer dizer que o capitalismo não mereça críticas e reparos. Mas negá-lo, simplesmente, significa negar a realidade. E rejeitá-la a troco de quê?
Ora, trocar um processo objetivo que funciona - bem ou mal - por algo indefinido e utópico, ou retornar a experiências fracassadas, é estupidez. Eis o cartão de visitas das "esquerdas".
Orlando Tambosi está simplesmente errado.
ResponderExcluirO Capitalismo, como fato histórico, não é ideologia.
O debate entre liberais e socialistas, em sua maior parte, é, sim um debate ideológico, porque trata-se, de uma forma geral, em discutir o que é "melhor" para a sociedade e para os seres humanos. Isso é subjetivo, pois não há métrica universal para "bem-estar".
Você pode argumentar dizendo que alguém é um imbecil de acreditar que socialismo é "melhor" que o capitalismo, mas isso não tira o caráter ideológico do debate.
Definida uma métrica objetiva (renda per capta, expectativa de vida, ou nível de instrução médio, etc) é possível tornar o debate mais objetivo. Note que a escolha de uma métrica também é subjetiva.
Não vou nem perder tempo com quem diz que estou "absolutamente errado". Abreu, certamente, está "absolutamente certo". Viva a ideologia, abaixo a filosofia.
ResponderExcluirNão vejo subjetividade nenhuma ao constatar que as nações mais prósperas do mundo se ergueram sobre os fundamentos capitalistas e fome, miséria e gulags, paredões etc, se erqueram nas fronteiras socialistas.
ResponderExcluirEstou apontando o óbvio: quando você compara, escolhe métricas.
ResponderExcluirQuerer pretender que a escolha da métrica é livre de qualquer ideologia é "simplesmente errado".
Alguém poderia escolher como métrica "diversidade ecológica".
Não há subjetividade alguma em constatar que o meio ambiente e a diversidade ecológica são mais preservados aonde não houve desenvolvimento econômico e foram mantidos os modos de vida primitivos.
Vou repetir só mais uma vez: você pode argumentar que alguém é um imbecil de acreditar que esse ou aquele modo de vida é "melhor" ou "pior". Mas querer colocar sua escolha acima de qualquer subjetividade é simplesmente errado.
Minha escolha ideológica entre os sistemas capitalista e socialista, pesando os fatos da realidade, é o capitalismo, com larga margem de vantagem.
A postura de ficar rotulando de imbecis aqueles que discordam só faz crescer a causa alheia.
Nada mais a acrescentar, um abraço a todos.
Raul,
ResponderExcluirCom todo respeito, vc parte de premissas completamenre erradas. Capitalismo é um processo social, sem nenhum planejamento previo ou centealizado. Socialismo é uma invenção humana. Não são em nada comparáveis, não podem ser comparados.
Estimado professor,
ResponderExcluirVocê poderia indicar referências nas quais esse ponto de vista é extensivamente discutido?
Gostaria de ler e verificar se minha posição se mantém.
Discutir respeitosamente pontos de vista nunca fez mal a ninguém.
Não se trata de uma questão que remeta a autores com provas empíricas. É uma simples questão de lógica primária. O capitalismo é uma formação complexa que emerge naturalmente ao longo de um processo secular não comandado centralmente. O socialismo é uma proposta política de um ideólogo que pretende guiar um procesdo de transformação social. São dois animais compleramente distintos: um é parto natural, outro é Frankenstein.
ExcluirUma questão passa a ser meramente um objeto da lógica quando aceitam-se os axiomas apresentados e trabalha-se dedutivamente a partir dos mesmos.
ResponderExcluirA validade ou não dos axiomas não é uma questão de lógica e deve ser fundamentada.
A estrutura do argumento de vocês é esta (supondo aceita a hipótese/axioma):
"Existem enormes diferenças qualitativas, de objetividade e de resultados entre o capitalismo e o socialismo" PORTANTO "o debate entre liberais e socialistas NÃO É um debate ideológico".
É possível argumentar que os socialistas estão em um nível inferior aos capitalistas no debate, mas afirmar, categoricamente, que o debate está isento de ideologia é simplesmente errado.
Mas já percebemos que essa discordância não vai levar a lugar nenhum.
Não voltaremos mais a este ponto.
"Embuste ideológico", por Denis Lerrer Rosenfield.
ResponderExcluirhttp://www.estadao.com.br/noticias/impresso,embuste--ideologico-,1113459,0.htm