Repetição e compromisso
Folha de S.
Paulo, 09/10/2013
Essa política pró-negócio pode até gerar grandes empresas, mas não é estratégia de desenvolvimento sustentável
Houve tempo
em que acreditei ser o único a me repetir nas colunas e bem que tentei me
convencer de que não era tão ruim quanto imaginava. Afinal, são textos de
opinião e há diversas formas de expressá-las, assim como pessoas que não leram
as versões anteriores e mais um tanto de argumentos para me livrar da sensação
de enganar os 18 leitores. Hoje percebo que não era assim, o que –a bem da
verdade–, mais que uma justificativa, torna a repetição de certos temas
praticamente uma obrigação.
Digo isso
porque, ao abrir o jornal de segunda (no caso, o “Valor Econômico”), deparo-me
com mais uma matéria reafirmando o interesse do governo em buscar novo canal
com o setor privado, praticamente reprise da coluna publicada no mesmo jornal
no dia 21.nov.2012, a começar pelo título.
A coluna
original (se cabe aqui a expressão) já havia me motivado a escrever sobre a
diferença crucial entre a posição favorável aos negócios e a favorável ao
mercado.
Vejo, com
tristeza, mas sem surpresa alguma, que o tema continua absolutamente atual.
Aparentemente
o governo se mostra pasmado que sua estratégia de aproximação com o setor
privado, expressa na redução da taxa de juros, desvalorização da moeda e
concessão seletiva de incentivos fiscais, não tenha implicado aumento do
investimento. Em particular as desonerações tributárias teriam resultado em
mera elevação das margens de lucro, sem resposta da inversão.
Esse
desencanto, acredito, não se aplica aos 18 fiéis.
Quem leu
meus comentários a respeito desse assunto à época deve (espero) ainda se
lembrar da diferença conceitual (e prática!) entre políticas pró-negócio e
política pró-mercado.
As
primeiras visam favorecer interesses específicos de setores empresariais e
englobam favorecimentos diversos a segmentos que, de uma forma ou de outra, são
eleitos para comandar a expansão da economia. Sem esgotar o assunto, incentivos
fiscais, crédito em condições extremamente favoráveis, proteção contra
competição externa (e mesmo interna) são alguns dos instrumentos mais
conhecidos e não é difícil achar exemplos de sua aplicação mesmo antes do
anúncio oficial da mudança da postura “a favor do setor privado”.
Também não
é difícil perceber os incentivos que decorrem dessa abordagem.
Do ponto de
vista de qualquer empresa, passa a ser mais interessante convencer o governo
acerca de seu papel “essencial” ao desenvolvimento do país do que se preocupar
em melhorar seu produto, ou aumentar a produtividade, ou buscar novos mercados.
Tudo aquilo que faz da competição capitalista o motor último de crescimento torna-se
secundário se os lucros podem crescer (como admitido pelo próprio governo) a
partir de decisões tomadas em gabinetes.
Não por
acaso, portanto, esse tipo de política pode até gerar grandes empresas e lucros
idem (favorecendo uns tantos amigos do rei), mas não configura uma estratégia
de desenvolvimento sustentável.
Menos mal
se alguma lição tivesse sido aprendida, mas a insistência na mesma matéria
apenas sugere que, na falta de resultados positivos, a proposta governamental
seja tão somente aumentar a dose do remédio, na vã esperança que o fracasso
observado se origine da insuficiência da dose, e não na natureza das políticas.
Em
contraste, as reformas pró-mercado que poderiam favorecer a competitividade
(simplificação de tributos, liberalização do comércio exterior, maior
flexibilidade trabalhista etc.) continuam onde estiveram nos últimos sete anos:
expostas ao mais cruel abandono.
O
prognóstico é simples e direto: nosso investimento continuará anêmico, com
níveis muito aquém do necessário para acelerar de forma decisiva o ritmo de
expansão sustentável do país. E, muito provavelmente, aparecerão novas
reportagens acerca das outras tentativas de engajar o setor privado com o mesmo
sucesso das até agora experimentadas.
Denunciar
esse enfoque não é desculpa para me repetir; é mesmo obrigação.
Olá Professor,
ResponderExcluirSou um leitor diário de seu blog e não vi nenhuma menção à esta reportagem feita pela business week. Com certeza o senhor já teve ter visto, mas seria interessante mostrar a sua qualificada audiência o que ocorre na prática o exposto acima pelo Alexandre.
http://www.businessweek.com/articles/2013-10-03/eike-batista-how-brazils-richest-man-lost-34-dot-5-billion#p1
Atenciosamente,
Fabricio de Souza
Olá Professor,
ResponderExcluirSou um leito diário deste blog e não vi nenhuma citação à esta reportagem da businessweek que lhe envio. Acredito que o senhor já tenha lido a mesma,mas acredito que valha a pena mostrar para a sua qualificada audiência o que ocorre na prática o que o Alexandre expôs acima.
http://www.businessweek.com/articles/2013-10-03/eike-batista-how-brazils-richest-man-lost-34-dot-5-billion#p1
Atenciosamente,
Fabricio de Souza
http://blogs.cfr.org/oneil/2013/10/10/brazils-pre-salt-oil-six-years-later/
ResponderExcluirVale!