No setor externo, a deterioração é visível, e as causas imediatas estão apontadas neste primeiro artigo, que não toca, entretanto, nos tremendos erros de políticas setoriais, sobretudo comercial e industrial.
Que o governo seja incompetente, disso ninguém tem dúvidas. Que os brasileiros tenham de pagar por isso, aí já é mais complicado...
A segunda matéria, uma entrevista, exemplifica o tipo de manobra contábil, de maquiagem estatística a que um governo notoriamente ruim está recorrendo para não apresentar um cenário imediatamente ruim, que poderia se traduzir numa avaliação para baixo do Brasil pelas agência de rating, ou seja, de classificação de risco. Sem essa mistificação da "exportação" de plataformas de petróleo, que não saíram do Brasil, e foram "vendidas" para uma sucursal da Petrobrás no exterior e novamente "algugadas" pela companhia brasileira, ou seja, uma mentira.
A segunda matéria, uma entrevista, exemplifica o tipo de manobra contábil, de maquiagem estatística a que um governo notoriamente ruim está recorrendo para não apresentar um cenário imediatamente ruim, que poderia se traduzir numa avaliação para baixo do Brasil pelas agência de rating, ou seja, de classificação de risco. Sem essa mistificação da "exportação" de plataformas de petróleo, que não saíram do Brasil, e foram "vendidas" para uma sucursal da Petrobrás no exterior e novamente "algugadas" pela companhia brasileira, ou seja, uma mentira.
Está na hora de pensar em alternativas, mas com esse pessoal do poder fica difícil imaginar políticas mais consistentes.
Vamos ter de esperar pela crise de transações correntes...
Paulo Roberto de Almeida
Balança Real
Miriam Leitão
Coluna Panorama Econômico
O Globo, 3/01/2014
O saldo comercial em 2013 não foi apenas o pior resultado em 13 anos. Foi mais. Excluindo-se a parte da estatística que, na verdade, não aconteceu, o país teve déficit comercial. Quando a AEB alertou, em junho, que poderia haver déficit comercial, pareceu estranho, mas só não fechou no negativo pelas exportações de plataformas de petróleo que nunca saíram do país.
Essa possibilidade de manobra contábil com as plataformas existe há bastante tempo, e o governo deixou claro que estava usando essa brecha. Apesar disso, é mais um número que não é bem o que está escrito, é mais uma confusão nas estatísticas. Aliás, duas: importações de petróleo e derivados feitas em 2012 entraram em 2013; e US$ 7,7 bilhões de plataformas de petróleo que nunca saíram do Brasil viraram exportação.
O déficit com os EUA foi recorde e nossa balança com os europeus ficou negativa. As exportações caíram mesmo com a alta do dólar, que supostamente ajuda os exportadores.
As exportações em 2013 caíram 1%, pela média diária, enquanto as importações subiram 6%. Isso aconteceu mesmo com a valorização de 15% do dólar frente o real, que encarece o preço dos importados e deixa mais competitivos os produtos exportados pelo Brasil. O saldo comercial caiu 87%, de US$ 19,3 bilhões, em 2012, para US$ 2,5 bi em 2013. Em 2011, havia sido US$ 30 bilhões. A corrente de comércio subiu 2,7%, puxada pelas importações, mas não superou o recorde de 2011.
O que pesou mesmo na conta da balança comercial foi a compra de petróleo e derivados. Houve US$ 40 bilhões de importação desses produtos, que incluem, além do petróleo bruto, gasolina, diesel e outros combustíveis. Quase US$ 5 bilhões desse total deveriam ter entrado nas estatísticas de 2012, mas foram empurrados para este ano porque o governo acreditava que as exportações aumentariam e o número ficaria diluído. Mas não foi isso que aconteceu. As exportações de petróleo despencaram 37%, de US$ 20 bilhões, em 2012, para US$ 13 bilhões, em 2013.
Em junho, José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), revisou sua estimativa para o ano, de um superávit de US$ 14 bilhões para déficit de US$ 2 bi. Foi o primeiro a dar o alerta. Castro percebeu que as exportações de petróleo e derivados estavam em queda, ao mesmo tempo em que as importações continuavam em alta. Além disso, os preços das principais commodities exportadas pelo Brasil não estavam subindo como nos últimos anos.
- Se saíssem da conta as exportações de plataformas de petróleo e a contabilidade atrasada das importações de gasolina, o saldo teria fechado o ano negativo em US$ 500 milhões - disse José Augusto de Castro.
O déficit comercial do Brasil com os Estados Unidos foi o pior de todos os tempos: saltou de US$ 5,7 bilhões, em 2012, para US$ 11,4 bilhões, no ano passado. O superávit que tínhamos com os europeus virou déficit: saiu de US$ 1,3 bilhão positivo para US$ 3 bilhões negativos. Vender menos para americanos e europeus é um mau sinal porque mostra que o país está perdendo competitividade nos mercados mais cobiçados.
- O Brasil vendia muito petróleo para os americanos. Mas nós tivemos os problemas com a produção, ao mesmo tempo em que eles aumentaram a exploração do gás de xisto. Os europeus, por causa da crise, buscaram outros mercados e conseguiram mais espaço no Brasil - explicou Castro.
Com a China, o saldo cresceu de US$ 6,9 bilhões para US$ 8,7 bi, pela exportação de produtos básicos. A exportação total de minério de ferro do país chegou a US$ 32 bilhões, alta de 4%, e a de soja em grãos subiu 29% para US$ 22 bilhões. Vários produtos que o Brasil exporta tiveram queda de preço.
Castro estima que a balança comercial vai ter uma pequena recuperação este ano, para um saldo de US$ 7 bilhões. Mas isso só vai acontecer se o país conseguir exportar 50% a mais de petróleo.
- A exportação de petróleo precisa subir 50% este ano para chegarmos a esse saldo de US$ 7 bilhões. Além disso, não podemos ter problemas maiores com a Argentina, que é destino de 50% dos nossos produtos manufaturados e de 87% dos nossos automóveis. Eles estão em crise cambial e já anunciaram medidas de restrição de importação - disse.
Enquanto isso, no mundo, o comércio cresceu 2% em 2013.
Os pontos-chave
1 Exportação fictícia de plataformas de petróleo impediu déficit na balança comercial
2 O déficit do Brasil com os EUA foi recorde: US$ 11 bi. O déficit do petróleo foi de mais de US$ 20 bilhões
3 As projeções dos especialistas são de um 2014 melhor, com um superávit maior.
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'A venda de
plataformas de petróleo mudou o cenário', diz presidente da AEB
O resultado muito acima do previsto, na prática, é
um efeito contábil, pois as plataformas não chegam a sair do País
03 de janeiro de 2014 | 2h 04
RIO - Na avaliação do presidente da Associação do
Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, o superávit da
balança comercial brasileira em 2013 surpreendeu positivamente, mesmo tendo
sido influenciado pelas exportações de um produto bem específico - plataformas
de petróleo. Para este ano, a AEB está preocupada com o impacto da China sobre
as exportações, que podem sofrer uma piora.
Qual é a sua avaliação sobre o resultado da balança
comercial de 2013?
O resultado foi melhor do que era esperado. Para
quem passou o ano todo com déficit, ninguém poderia dizer, em sã consciência,
que haveria esse superávit. O próprio ministro da Fazenda (Guido Mantega) disse
que a balança comercial ficaria no zero a zero ou teria pequeno superávit.
Nossa previsão era de US$ 700 milhões, mas a última plataforma de petróleo não
estava nas contas de ninguém. É importante dizer ainda que, em 2013, a corrente
de comércio melhorou. Ficou em US$ 481,795 bilhões. Em 2012, havia sido de US$
465,758 bilhões. Só que esse aumento não é benéfico. O valor da diferença é
exatamente o aumento das importações. Houve substituição de produção local por
importados.
Qual foi o peso das exportações de plataformas de
petróleo?
Nós tivemos US$ 7,735 bilhões de exportações em
plataformas. Claro que elas mudaram o cenário. Até então, o recorde de
exportações de plataformas havia sido em 2008, quando o valor chegou a US$
1,485 bilhão com duas plataformas. Em 2013, foram sete. A operação é uma
exportação ficta (jargão para venda externa sem saída do produto), em que a
Petrobrás vende a plataforma a uma subsidiária no exterior e depois aluga. A
plataforma não sai do País. O artifício distorce um pouco porque o volume foi
muito alto, mas é legal.
Como o sr. avalia o crescimento das exportações
brasileiras para a China?
Preocupa muito. Apenas três produtos representam 90% do que é exportado para a China: minério de ferro, soja e petróleo. O valor médio da soja em 2013 foi de US$ 535. Para 2014, o projetado é US$ 490. É uma redução na receita. Existe também o risco de o preço do minério de ferro cair, pois há excesso de capacidade de produção de aço na China. Além disso, a atividade lá mostrou pequena desaceleração. Todas as demais commodities devem ter preços em queda este ano. Em linhas gerais, há uma perspectiva de queda tanto na receita quanto na quantidade exportada. Preocupa. É rezar, rezar e rezar em mandarim.
Preocupa muito. Apenas três produtos representam 90% do que é exportado para a China: minério de ferro, soja e petróleo. O valor médio da soja em 2013 foi de US$ 535. Para 2014, o projetado é US$ 490. É uma redução na receita. Existe também o risco de o preço do minério de ferro cair, pois há excesso de capacidade de produção de aço na China. Além disso, a atividade lá mostrou pequena desaceleração. Todas as demais commodities devem ter preços em queda este ano. Em linhas gerais, há uma perspectiva de queda tanto na receita quanto na quantidade exportada. Preocupa. É rezar, rezar e rezar em mandarim.
E a perspectiva para 2014?
O superávit tem de crescer. Temos de elevar as exportações de petróleo em 50%, ou teremos problemas. Nossa previsão é de que as exportações caiam 1% e as importações, 3%. A taxa de câmbio mais alta deve inibir algumas importações, mas não todas, e necessariamente não vai estimular as exportações. As commodities, por exemplo, não dependem do câmbio. Na Argentina, é possível que haja restrições, com risco de queda nas exportações. O mundo também não está comprando muito, e o Brasil ainda é caro.
O superávit tem de crescer. Temos de elevar as exportações de petróleo em 50%, ou teremos problemas. Nossa previsão é de que as exportações caiam 1% e as importações, 3%. A taxa de câmbio mais alta deve inibir algumas importações, mas não todas, e necessariamente não vai estimular as exportações. As commodities, por exemplo, não dependem do câmbio. Na Argentina, é possível que haja restrições, com risco de queda nas exportações. O mundo também não está comprando muito, e o Brasil ainda é caro.
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