O regime militar e a oposição armada (5):
um retrospecto histórico, por um observador engajado
Paulo Roberto de Almeida
Sumário:
2. A reação dos perdedores: resistência política e luta armada
(ver neste link)
(ver neste link)
3. A passagem à luta armada: a insensatez em ação
(ver neste link)
(ver neste link)
4. A derrota da luta armada e suas consequências: uma história a ser escrita
(ver neste link)
(continua...)
(ver neste link)
5. O que foi
a luta armada no Brasil: uma interpretação pessoal
Ela foi um empreendimento
essencialmente artificial, conduzido por um reduzido número de militantes
radicais que, interpretando mal os sinais de descontentamento de certa fração
da comunidade politizada que tinha sido alijada do poder com a derrocada (quase
sem traumas) do incompetente governo do presidente Goulart, resolveu passar à
“ação”, não para se encaixar numa continuidade que poderia ser considerada
“natural” da luta política – ou seja, um exercício de “resistência”
incontornável em face de uma situação absolutamente opressiva – mas para
atender a estímulos vindos de fora, basicamente das lideranças cubanas. Não
havia, nem nunca houve sob o regime militar, um fechamento completo de todas as
possibilidades de resistência e de luta política contra o governo, como o
provam as inúmeras ações, processos e coalizões que se formaram para
combatê-lo, seja por parte de forças políticas temporariamente alijadas do
poder, seja ainda por frações da própria esquerda tradicional (o Partidão, por
exemplo, que sempre condenou as ações dos guerrilheiros, chamando-os de
“patriotas equivocados”).
Em outros termos, a luta
armada não correspondia ao desdobramento natural, e necessário, em face de uma
situação de bloqueio de todas as demais possibilidades de luta política para
que fossem atingidos os fins pretendidos, sejam estes a “volta à democracia” –
como alegam, hoje, mentirosamente, os derrotados vingativos –, sejam eles
qualquer forma de “democracia popular” (como, aliás, vem ocorrendo hoje em
diversos países da América Latina, pelo voto livre da população). O Brasil
certamente não era a Argélia dos anos 1950, quando todas as possibilidades de
autonomia tinham sido fechadas pelo colonizador; nem uma tirania despótica,
como certos regimes asiáticos, ou mesmo latino-americanos, cuja caricatura foi
feita em ampla literatura sobre os “supremos ditadores” da região. O Brasil dos
militares era um regime modernizador autoritário, à la Bismarck, como aliás
caracterizado em trabalhos de brasilianistas e como, justamente, consideravam
ser uma “via rápida” e aceitável de modernização “pelo alto” personalidades da
esquerda como Hélio Jaguaribe, por sinal exilado durante algum tempo por sua
identificação com o governo anterior.
A luta armada no Brasil
não se colocou, portanto, como a única via de luta política contra o regime
militar e ela só veio a existir pela análise fundamentalmente errada que
fizeram de sua dinâmica alguns líderes radicais da esquerda brasileira e pelo
estímulo oportunista – pela sua própria necessidade de sobrevivência, num
contexto relativamente hostil – que lhe deram os líderes comunistas cubanos.
Sem esses dois elementos, o do equívoco de análise e o dos meios materiais e o
incentivo político dos líderes cubanos – aliás muito admirados, e não só pelos
engajados na luta armada, como por largas frações da juventude e da opinião
pública mal informada, como até hoje, por sinal – a luta armada provavelmente
jamais teria existido no Brasil.
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