terça-feira, 8 de abril de 2014

A miseria educacional brasileira, ao vivo, em cores

Em relação ao chamado "ensino básico" no Brasil, eu sempre achei que a realidade, no fundo, deveria ser muito pior, mas MUITO MAIS PIOR, como diria alguém, do que a imagem que temos dessa ruindade tal como simplesmente relatada por meio de exames, brasileiros ou internacionais, que são regularmente aplicados aos alunos. A gente sempre sabe que eles não sabem nada, mas não tínhamos ideia de como seria a "coisa" dentro da sala de aula.
Eu sempre acreditei que deveria ser pior do que esses simples resultados objetivos.
Agora temos a prova.
Por isso mesmo eu sou ABSOLUTAMENTE PESSIMISTA quanto ao itinerário da educação (o termo não se aplica) brasileira nos próximos anos. Não há nenhum risco de melhorar, e tenho certeza de que vai continuar piorando. Não é possível que melhore, com coisas como essas...
Paulo Roberto de Almeida 

G1, 8/04/2014

Um professor de filosofia da rede pública do Distrito Federal provocou polêmica depois de citar a funkeira Valesca Popozuda como "grande pensadora contemporânea" em uma prova aplicada a alunos do Centro de Ensino Médio 03 de Taguatinga. Por telefone, a Secretaria de Educação reconheceu que a questão foi elaborada pelo docente Antônio Kubitschek, mas disse que não vai se posicionar oficialmente a respeito.

Questão em prova aplicada a alunos de escola da rede pública do DF que faz referência à funkeira Valesca

 Popopuza (Foto: Reprodução)

No enunciado número 11 da prova, o professor pede que os estudantes completem o trecho "se bater de frente", do hit "Beijinho no ombro". A resposta correta é a letra A, que traz "é só tiro, porrada e bomba". O homem dá aulas para as turmas de 2° e 3º anos.

Em redes sociais, o professor foi duramente criticado e ironizado pela questão. Mas o professor defendeu a inclusão da questão na prova e comentou as postagens que a funkeira fez em redes sociais sobre o assunto. "Acho que a Valesca foi muito feliz ao levantar as críticas contra o preconceito em relação ao funk e à ela, assim como quanto aos problemas dos professores", disse ao G1.
A prova de múltipla escolha com 12 questões foi aplicada aos alunos do 3º ano na última sexta-feira. O tema da prova a “Construção dos valores e moral da sociedade”. A prova foi feita por 360 alunos.
O professor disse que o tema foi discutido com os alunos. "Partiu da discussão de sala de aula. Como se constrói um valor da sociedade?", indagou. Ele disse que já esperava que a questão fosse render reportagens e afirmou que gostaria de ver em que situações os jornalistas vão à escola.
"As discussões foram válidas. O objetivo não era se a Valesca era ou não uma grande pensadora. De acordo com alguns pensadores franceses, todo aquele que consegue produzir um conceito é um pensador. Dentro disso, sim, ela é."
Ele também afirmou que o objetivo foi mesmo provocar. "Se trouxesse Chico Buarque, a prova seria considerada mais intelectual do que provocativa. É preciso criar essa proximidade com os alunos."
Para a aluna do 3º ano Brenna Sanna, de 18 anos, a repercussão negativa em torno da questão é "sem sentido". Ela afirma concordar com a inclusão da música na avaliação.
"Antigamente era mais rígido [o processo de elaboração das provas], mas agora tem uma abertura para o que é a cultura popular. Não acho errado. O professor colocou algo que tinha a ver com o contexto da prova e a sociedade está vivendo", declarou.

'Bobagem'
Em um post feito em sua página oficial no Facebook, Valesca diz acreditar que a polêmica ocorreu por terem chamado uma funkeira de "pensadora contemporânea" e diz achar a situação "uma bobagem".
"[O que] me espanta mesmo é todo mundo se preocupar com uma única questão da prova sem analisar os termos por trás disso tudo. E se o professor colocou a questão dentro do contexto da matéria? E se o professor quis ser irônico com o sucesso das músicas de hoje em dia? E se o professor quis apenas distrair a turma e fez a questão apenas pra brincar?", declarou.
Valesca disse ainda que as pessoas deveriam na verdade protestar contra as condições de trabalho dos professores e pela falta de equipamentos e merendas nas escolas.
"Parabéns ao corajoso professor que, mesmo não ganhando muito bem, é batalhador e corajoso demais pra chegar em casa e elaborar uma questão de uma prova colocando um dito popular do momento e sambando na cara de todo mundo que está a julgando por isso!".

A funkeira também afirmou se sentir homenageada. "Mas isso eu vou ter que recusar, porque é um título [de grande pensadora contemporânea] muito forte e eu ainda não me sinto pronta pra isso", riu. "Prometo que vou trabalhar isso. [...] Vou ali ler um Machado de Assis e ir treinando pra quem sabe um dia conseguir ser uma pensadora de elite!".

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