sábado, 10 de maio de 2014

Balanca comercial no vermelho: as transacoes correntes acendem alerta de crise - Miriam Leitao

COLUNA NO GLOBO, 10/05/2014

Balança vermelha

Miriam Leitao
A balança comercial deve terminar o ano com US$ 3 bilhões a US$ 5 bilhões de déficit comercial, segundo o economista Fábio Silveira. Se acontecer, será uma mudança total em relação ao forte superávit de alguns anos atrás. O empresário de comércio exterior Joseph Tutundjian acha que tudo vai depender da conta petróleo, que ficou negativa nos últimos anos.
A balança comercial está no vermelho em US$ 5,5 bilhões. Em entrevistas concedidas a mim na Globonews, os dois especialistas mostram que os problemas se acumulam no setor. E o menor deles é o déficit que pode acontecer este ano.
— Estamos caindo na realidade no comércio externo. Tínhamos um patamar bastante elevado de preços de commodities agrícolas e metálicas. Esses preços começaram a baixar — explicou Fábio Silveira, do GO Associados.
Se a queda continuar, na opinião de Silveira, volta-se ao quadro de superávits pequenos que havia antes do boom das commodities.
Joseph Tutundjan, da Winner Desenvolvimento Industrial, diz que está menos preocupado com a balança e mais com o perfil do comércio:
— No passado, era importante ter um dado positivo na balança, por causa da dívida externa. Agora, é menos importante. Temos outros desafios. A qualidade do nosso comércio exterior deteriorou drasticamente. Nesse cenário, há uma joia lapidada que é o agronegócio. O Brasil deu certo como exportador no agronegócio e está dando errado na indústria, em termos globais. Os preços das commodities quadruplicaram nos últimos 10 anos. É verdade. Mas a produtividade por hectare também aumentou quatro vezes e isso mostra a importância do setor.
Ele disse que perde-se muito mais competitividade com a má qualidade da logística, quando se está movimentando milhões de toneladas de grãos, do que quando a exportação é de produtos industriais. Mesmo assim, a indústria não tem bom desempenho porque não está integrada às cadeias globais de suprimento:
— A indústria se acostumou com a proteção. No começo da política de substituição de importações, a ideia era que a indústria era um bebezinho nos braços da mãe, mimado, protegido, contra o lobo mau. No começo, fazia sentido. O problema é que o bebê cresceu, mas se acostumou a ficar mamando e não aprendeu a caçar sozinho. Quando o Collor abriu, foi um Deus nos acuda. Algumas empresas morreram, outras ficaram mais eficientes. No governo Lula, a tendência à proteção voltou. O empresário brasileiro precisa se integrar à cadeia global.
Fábio Silveira disse que o agronegócio representa de 35% a 40% das exportações, com soja, açúcar, carnes. Se for agrupado os produtos petroquímicos, minerais e siderúrgicos, sobe para 80% da exportação.
— No curto prazo, temos uma situação satisfatória. Mas, no longo prazo, os preços podem cair, não só os minérios, mas também os alimentos. Um dos fatores de alta é uma liquidez grande no mercado internacional. Ela tende a ser reduzida nos próximos anos, à medida que os EUA voltem a crescer e atraiam capitais. Isso derruba os preços das commodities. Eles subiram pela liquidez e pelas compras chinesas. Esse quadro está perdendo fôlego, e o Brasil não está preparado para lidar com déficits na balança.
O rombo em petróleo e derivados cresceu muito nos últimos anos. Foi de US$ 13,7 bilhões em 2012, US$ 24,3 bilhões no ano passado, e a projeção é de US$ 20 bilhões este ano. Os dois explicaram que o Brasil chegou a US$ 40 bilhões de superávit quando a conta petróleo estava baixa e as cotações das commodities agrícolas e metálicas estavam no auge. O aumento da dependência de petróleo e derivados e uma pequena queda nas commodities agrícolas e do minério de ferro alteraram toda a situação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.