Eu achava que o Brasil, com uma taxa de investimento inferior a 20% do PIB podia crescer no máximo a 2 ou 3% ao ano, esticando muito (com investimento estrangeiro) a 3,5%, e só. E dizia porque (mas não me lembro muito dos meus argumentos agora, pois não reli ainda o trabalho).
Pois bem, como é que eu podia imaginar, que os companheiros, assim tão voluntariamente e alegremente desenvolvimentistas, tão entusiasmados com a sua nova matriz econômica, iriam nos brindar com um SETE a ZERO na área econômica? Parabéns, eles conseguiram...
Bem, não quero tripudiar.
Submeto aqui, para a análise dos mais entendidos, esse meu artigo de 2010, feito inteiramente com base em pesquisas de internet -- com toda a dificuldade que isso representava na China, o Estado mais orwelliano que vocês poderiam encontrar na face da Terra; e não confundam com a Coreia do Norte, pois esse país é dadaísta-surrealista-kafkiano -- e com o único incômodo que ele se refere o tempo todo ao artigo do nobre colega, que está linkado no meu, e se não estiver disponível, creio que posso fornecer aos interessados.
“Como (Não) crescer a 7%”
Shanghai-Beijing, 20-27 junho 2010, 14 p.
Comentários a texto de Samuel Pinheiro Guimarães sobre o crescimento do Brasil, evidenciado lacunas de seus argumentos (mais políticos do que econômicos) e indicando os requisitos do crescimento e as reformas indispensáveis a tal efeito.
Publicado Espaço Acadêmico (ano 10, n. 110, julho 2010, p. 73-83; link: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/10517/5795).
Republicada em Espaço da Sophia (ano 4, n. 39, agosto-setembro 2010; ISSN: 1981-318X).
Postado no blog Diplomatizzando (23/12/2013; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2013/12/crescer-com-politica-economica-dos.html).
Relação de Originais n. 2155; Publicados n. 979.
Alguns trechos:
(...)
Os argumentos de SPG para “esperar” uma taxa de crescimento de 7% no Brasil dos próximos dez ou doze anos pertencem, numa avaliação generosa, a um terreno voluntarista ou puramente impressionista, já que em nenhum momento tratando dos condicionantes materiais, de natureza propriamente econômica, que deveriam sustentar esse tipo de esforço produtivo. Exemplo disso é sua conclusão, que merece ser citada para evidenciar a natureza puramente subjetiva de sua análise do crescimento brasileiro, um ato de vontade como outro qualquer: “caso se deseje manter o Brasil como país pobre e subdesenvolvido, basta crescer a taxas modestas, obedecendo a todas as metas e a supostos potenciais máximos de crescimento, e, assim, lograr manter a economia estável porém miserável. Este baixo crescimento corresponderá a um custo humano e social elevadíssimo para a imensa maioria da população, exceto para os super-ricos, que se transformarão, cada vez mais, em proprietários rentistas e absenteístas, distantes e alheios aos conflitos que se agravarão cada vez mais na sociedade brasileira”.
(...)
Em nenhuma passagem do trabalho citado de SPG se consegue saber como, exatamente, o Brasil poderá alcançar a taxa milagrosa de 7% ao ano para superar a barreira do subdesenvolvimento como pretende seu autor.
(...)
A Comissão do Crescimento, formada por vinte especialistas convidados pelo Banco Mundial, publicou, em 2008, um relatório sobre estratégias de desenvolvimento que preconiza um conjunto de cinco “fatos estilizados” que comporiam uma boa “receita de desenvolvimento sustentado, curiosamente também fixado num patamar de 7% ao ano: (a) integração à economia mundial; (b) manutenção da estabilidade macroeconômica; (c) manter altas taxas de poupança e investimento; (d) alocar recursos mediante mecanismos de mercado, e (e) dispor de instituições sólidas e de governos capazes e comprometidos com o desenvolvimento. [ Growth Commission, The Growth Report: Strategies for Sustained Growth and Inclusive Development (Washington: The World Bank, 2008; disponível no link: http://cgd.s3.amazonaws.com/GrowthReportComplete.pdf). ]
Poucos desses “fatos estilizados” são estudados ou discutidos seriamente por SPG em conexão com o caso brasileiro, ou quando o são a perspectiva adotada é, justamente, diametralmente inversa às recomendações da Comissão do Crescimento, como no caso da leniência com a inflação ou a opção preferencial por mecanismos alocativos dominados pelo Estado, sem qualquer menção à abertura externa ou integração à economia mundial.
De minha parte prefiro enfatizar um conjunto similar de tarefas, talvez numa outra ordem de prioridade, mas que consolidam o aprendizado que se pode obter a partir da experiência brasileira de crescimento errático e de desenvolvimento não sustentado. Essas tarefas guardam relação com as propostas da Comissão do Banco Mundial, mas foram elaboradas previamente à sua divulgação, ainda em 2006. [ “Uma verdade inconveniente “(ou: por que o Brasil não cresce 5% ao ano...)”, Espaço Acadêmico (ano 6, n. 67, dezembro 2006; link: http://www.espacoacademico.com.br/067/67pra.htm). ]
Elas estão sintetizadas nos seguintes requisitos para um processo de crescimento sustentado: 1) Estabilidade macroeconômica; 2) Microeconomia competitiva; 3) Capacidade institucional; 4) Qualidade dos recursos humanos; 5) Abertura ao comércio internacional e aos investimentos diretos estrangeiros.
(...)
Estas são as tarefas, certamente complexas, que compõem
uma agenda mínima de reformas macro e microestruturais, sem as quais o Brasil
dificilmente terá condições de crescer mais de 5% ao ano. Cabe ver como os
próximos dirigentes do Brasil – ou seja, o presidente e sua equipe econômica e
política – enfrentarão esses desafios a partir de 2011, uma vez que essas
reformas ficaram congeladas até aqui. Se o Brasil quiser crescer a taxas mais
vigorosas do que aquelas conhecidas nas duas últimas décadas – que ficaram bem
abaixo de suas médias históricas anteriores e bem abaixo da média mundial, com
exceção do período recente, que foram anos de crise econômica mundial –,
quaisquer que sejam essas taxas, não poderá contornar essas reformas. Talvez
não todas ao mesmo tempo, nem todas elas, mas algumas são absolutamente
indispensáveis para aumentar suas taxas de poupança e de investimento produtivo
e, portanto, seu ritmo de desenvolvimento.