Prata
da Casa - Boletim ADB: 3ro. trimestre 2014
Paulo Roberto
de Almeida
Boletim da
Associação dos Diplomatas Brasileiros
(ano 21, n. 86,
julho-agosto-setembro 2014, p. xx-xx; ISSN: 0104-8503)
(1) Paulo Roberto de Almeida:
Nunca
Antes na Diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não
convencionais
(Curitiba: Appris, 2014, 289 p.; ISBN: 978-85-8192-429-8)
Tudo o que
você sempre quis saber sobre a diplomacia companheira e nunca teve a quem
perguntar? Agora talvez já tenha, sobre quase tudo. Em todo caso, figura
aqui uma avaliação do que representaram, para a política externa, os anos do
lulo-petismo, com a independência de um acadêmico que também integra a
diplomacia. Existem episódios que ainda vão requerer pesquisa em arquivos para
saber como foram exatamente decididos, e provavelmente lacunas subsistirão,
tendo em vista justamente as características especiais de uma diplomacia que
não partiu essencialmente de sua casa de origem, mas andou combinada a outros
estímulos, não arquivados. Parece que ela foi ativa, altiva e soberana, como
nunca antes tinha acontecido. Outros traços emergirão num futuro balanço, ainda
sem data. A História a absolverá? A ver...
(2) José Ricardo da Costa Aguiar Alves:
O Conselho
Econômico e Social das Nações Unidas e suas propostas de reforma
(Brasília: Funag,
2014, 535 p.; ISBN 978-85-7631-504-9; Coleção CAE)
Prefaciada pelo ex-ministro Pedro
Malan, que já trabalhou na ONU, a tese representa a mais ambiciosa análise,
histórica e estrutural, do papel do Conselho desde sua origem até 2007, período
em que foram empreendidas 42 reformas. A revisão das Metas do Milênio, em 2015,
provavelmente exigirá novas reformas. O órgão consome mais de dois terços dos
recursos da ONU, comprometidos com o desenvolvimento, ao lado daqueles
destinados à paz e segurança, no âmbito do seu Conselho de Segurança. A obra é
minuciosa no exame dessas propostas de reforma, sem conter, porém, uma
avaliação sobre a eficácia dos recursos investidos nessa missão, o que requereria
um outro tipo de estudo, feito por economistas. É uma obra importante para o
Itamaraty, que está sempre demandando mais recursos para o desenvolvimento,
justamente.
(3) Erika Almeida Watanabe Patriota:
Bens
Ambientais, OMC e o Brasil
(Brasília: Funag,
2013, 452 p.; ISBN 978-85-7631-476-9; Coleção CAE)
Bens ambientais parecem estar no
centro das angústias comerciais das próximas décadas, já que o planeta agora,
para estar politicamente correto, precisa se guiar pelas regras do desenvolvimento
sustentável. O Brasil tem, justamente, uma grande interface com o assunto, pelo
seu potencial produtor e exportador desses bens (ainda que existam dúvidas
sobre sua competitividade e avanços tecnológicos em energia solar e eólica). A
tese mapeia as discussões multilaterais a respeito, a atuação da China e da
Índia, as posições assumidas pelo Brasil e as implicações da regulação no lado
doméstico da equação. A autora acha que as premissas da OCDE, entre elas a
liberalização comercial, tendem a prejudicar os países em desenvolvimento:
seria mais uma manifestação da velha teoria conspiratória que sempre coloca os
ricos contra os interesses dos pobres?
(4) Renato L. R. Marques:
Memorábilia
(Rio de Janeiro:
Edição do Autor, 2013, 378 p.; ISBN 978-85-914949-1-0)
Como
diplomata, Renato Marques é bom um escritor, com sua prosa elegante, frases em
latim, vasto conhecimento da cultura humanista, sobretudo da história, e grande
tino para a observação dos seres humanos, como Balzac, Dickens ou Flaubert. Como
escritor, ele não é um diplomata, já que escreve sem os trejeitos típicos dos
colegas, falando tudo com grande sinceridade. Nestas suas memórias
sentimentais, ele vai desde as origens familiares nos pagos gaúchos, até os
últimos postos, que eram, não muito tempo atrás, partes do império soviético.
Mais do que um recorrido pela sua vida em vários continentes, elas são
reflexões intelectuais sobre países, pessoas, processos e eventos a que
assistiu, de que participou, sobre os quais leu; a referência aos grandes
escritores é constante, e as fotos são um complemento agradável ao seu texto
cortante.
(5) José A. Lindgren Alves:
Os novos
Bálcãs
(Brasília: Funag,
2013, 161 p.; ISBN 978-85-7631-478-3; Coleção Em Poucas Palavras)
Os “novos
Bálcãs” talvez se pareçam um pouco com os “velhos”, no sentido em que os muitos
povos eslavos – católicos, ortodoxos, ou islamizados – voltaram a se dividir em
meio a conflitos por vezes sanguinários. Depois de algumas décadas de
socialismo, quando eles estavam “unidos” pela razão ou pela força, eles estão
prontos para receber novamente o Orient Express, que ia das terras cristãs ao
império dos otomanos justamente atravessando essas terras complicadas. Lindgren
Alves esclarece como o fracionamento étnico reconstruiu a balcanização, com
alguns massacres no caminho. Um alerta de como a Europa também pode recriar os
velhos demônios da guerra e da violência étnica. O chauvinismo está na origem
dessa utopia estilhaçada. Uma síntese que se apoia na melhor bibliografia e num
conhecimento direto da região.
(6) Francisco Doratioto:
O Brasil no
Rio da Prata (1822-1994)
(Brasília: Funag,
2014, 190 p.; ISBN 978-85-7631-489-9; Coleção Em Poucas Palavras)
Metade, ou
quase, de toda a política externa brasileira, das origens aos dias de hoje, se
fez e se faz no Rio da Prata. Daí a escolha deste “semi-diplomata” para
escrever uma história que começa na contenção de Buenos Aires, passa pela
guerra do Paraguai – sobre a qual o autor publicou o clássico Maldita Guerra –, avança do americanismo
ingênuo para o pragmatismo conciliador, nutre desconfiança e cautela (de 1930 a
1955), retoma o aprendizado da cooperação e da superação de divergências, para
finalmente chegar à integração no Mercosul (pelo menos até 1994, numa fase ainda
feliz). Mesmo “em poucas palavras”, o autor usou fontes primárias, mas várias
das secundárias são de autores hermanos:
eles são a nossa “circunstância”. A história trata mais de diplomacia do que de
comércio e desenvolvimento; parece que é a política que move a economia.
Paulo Roberto
de Almeida
[Hartford,
28/07/2014]
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