O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 8 de outubro de 2024

La diplomatie au temps de Machiavel - M. de Maulde-La-Clavière

La diplomatie est vieille comme le monde et ne périra qu’avec lui. La Bible, les Egyptiens, les Grecs ont un droit international et diplomatique. Il suffit que deux sociétés coexistent pour qu’elles aient des intérêt à régler; elles font la guerre, par conséquent elles font la paix, et même les institutions internationales représentent, malgré leurs fragilités apparentes, ce qu’il y a de moins variable et de plus indélébile. Les diplomates, comme les notaires, ne changent guère. (p. 1-2) M. de Maulde-La-Clavière La diplomatie au temps de Machiavel Paris: Ernest Leroux, 1892

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

A esquerda fanática - Denis Lerrer Rosenfield (O Estado de S. Paulo)

Apenas uma reserva a este artigo do conhecido acadêmico gaúcho: Lula não é antissemita. suas motivações são claramente politicas, mas da pior espécie: um anacrônico antiamericanismo e uma fidelidade aos antiamericanos, de qualquer tipo: supostamente de esquerda - como são tidos Cuba e Venezuela -, da direita mais reacionária (Putin) e dos fundamentalistas teocráticos opressores das mulheres (Irã), não importa muito a natureza, basta ser antiamericano e antiocidental. Deve ser alguma tara. Paulo Roberto de Almeida A esquerda fanática Denis Lerrer Rosenfield O Estado de S. Paulo, 7/10/2024 O alinhamento não se faz mais segundo valores universais, apregoados por Marx e Engels, mas segue a linha do autoritarismo mais explícito A diplomacia presidencial de Lula da Silva, com apoio entusiasta do PT e o auxílio inestimável de seus assessores esquerdistas, é um exemplo eloquente do que esse setor da esquerda brasileira se tornou. Se antes alguns comedimentos eram ainda resguardados, agora a máscara caiu. O alinhamento não se faz mais segundo valores universais, apregoados por Karl Marx e Friedrich Engels, mas segue, atualmente, a linha do autoritarismo mais explícito, no apoio inabalável a Vladimir Putin e Nicolás Maduro, além dos companheiros de sempre, como os sucessores dos irmãos Castro, e, mais aterrador, na aliança com o totalitarismo islâmico, a exemplo do Hamas, Hezbollah e Irã. As escolhas foram feitas! O Irã acaba de bombardear Israel com 181 mísseis balísticos, alvejando populações civis e bases militares, em uma evidente declaração de guerra, sem que Israel tenha invadido o seu território. Resposta do Itamaraty: silêncio. Manifestou dias depois “preocupação”. Revelador, não? Contudo, quando Israel exerce o seu direito de autodefesa, Lula não cessa de falar, em uma compulsão incontrolável, na qual se revela todo o seu antissemitismo. Se fôssemos seguir a sua lógica, na verdade ilógica, Israel deveria se submeter aos seus assassinos. Os ideólogos do PT poderiam, então, se regozijar em seu “humanismo”. O ataque iraniano não tem nada a ver com a causa palestina. O regime dos aiatolás tem um único e só objetivo: aniquilar o Estado de Israel e, subsequentemente, os judeus pelo mundo afora. Preliminar disso já observamos nos atentados perpetrados na Argentina. Aliás, lá também com a complacência da esquerda peronista. Os palestinos são nada mais do que o pretexto utilizado para atrair a esquerda mundial, sobretudo de corte identitário. Se amanhã houvesse um acordo entre Israel e os palestinos, com a criação de um novo Estado, os ataques iranianos não iriam simplesmente cessar. Em nada ele contribuiria para o objetivo totalitário: a destruição do Estado judeu. Essa esquerda nem mais se preocupa com as aparências: aprecia a violência pela violência, em nome da causa “decolonial”. Poderia, pelo menos, ser coerente: se prega a emancipação total das mulheres, deveria condenar o que ocorre com elas sob o regime totalitário iraniano. São submetidas a controles rigorosos de vestimentas, de exercício da sexualidade, como se fossem servas. Se não o fazem, são reprimidas, censuradas, torturadas e assassinadas às centenas, se não aos milhares. E o que têm a dizer as feministas esquerdistas: nada. Simplesmente se calam e são, dessa maneira, cúmplices. Os valores feministas não valeriam para as mulheres iranianas e para as submetidas aos regimes islâmicos. Tampouco valeriam para as mulheres estupradas e assassinadas nos ataques do 7 de Outubro e para as que são até hoje reféns do Hamas. Provavelmente por ignorância, se não por má-fé, de onde Lula e seus assessores ideologizados tiraram a ideia de que o Hamas luta pela criação de um Estado palestino ao lado do judeu? Nem leram a carta de fundação dessa organização terrorista nem escutaram o que dizem os seus líderes. Eles visam unicamente à aniquilação do Estado de Israel. E a esquerda mundial, sobretudo universitária (lugar de despensamento), se encanta: “From the river to the sea, Palestine will be free” – do rio (Jordão) ao mar (Mediterrâneo), a Palestina será livre. Como assim? Onde fica a criação de dois Estados se Israel deve ser aniquilado? O apreço dessa esquerda pela violência é seu traço definidor. Irã, Hamas e Hezbollah apregoam o culto da morte e do martírio. Festejam massacres, atentados terroristas e tudo aquilo que contribua para a supressão dos valores ocidentais, de liberdade, igualdade, tolerância e bem-estar de suas populações. Cometem crimes de guerra ao utilizarem os seus habitantes como escudos humanos. Lançadores de foguetes, armas e munições estão entrelaçados aos civis que se tornam os seus reféns. Procuram assim fazer com que Israel apareça como o agressor quando ataca os alvos militares. Para o Hamas e o Hezbollah, os palestinos são buchas de canhão. Os túneis servem somente aos terroristas, que ficam em abrigos, enquanto os civis entram no fogo cruzado. Israel, por sua vez, protege a população civil em abrigos construídos com essa finalidade, enquanto os seus soldados lutam a céu aberto. As organizações terroristas cultuam a morte, Israel, a vida. Por último, o Hezbollah é um Estado dentro de um Estado, seu exército sendo superior ao libanês. E não responde às autoridades desse país, mas ao Irã, do qual é um satélite. Ou seja, o Líbano, que já foi considerado a Suíça do Oriente Médio, exemplo de liberdade, tolerância e convivência multiétnica e religiosa, convivendo pacificamente cristãos de diferentes confissões, muçulmanos xiitas e sunitas, drusos e árabes, é hoje um Estado escravo. Perdeu a sua soberania. Triste fim dessa esquerda que, outrora, se apresentava como democrática.

Permanências imperiais e nova ordem global no teste da história - Paulo Roberto de Almeida (Academia.edu)

Permanências imperiais e nova ordem global no teste da história

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor.

Resumo: Considerações de caráter metodológico e de fundamentação histórica sobre a questão de uma “nova ordem global”, como eventual possibilidade a partir de um declínio considerado irremediável da atual “ordem mundial ocidental”, cuja validade conceitual e a sua própria adequação histórica à situação atual são colocadas em discussão. O ensaio adota uma abordagem histórica das características econômicas e políticas da ordem mundial contemporânea (não global), concluindo pela resiliência dos sistemas imperiais, que são os que presidem à ordem oligárquica ainda em vigor.

Palavras-chave: nova ordem mundial; economia global; governança; sistemas imperiais.

Abstract: Methodological and historical reappraisal about the issue of a presumptive “global new order”, as an outcome of an irresistible decline of the current “Western world order”, whose conceptual validity and historical relevance are put into question. The essay adopts an analytical and historical approach about the contemporary features of the economic and political world order (which is not global), concluding by the resilience of the imperial systems, at the top of the oligarchic governance in the current world system.

Key words: new world order; global economy; governance; imperial systems.

Resumen: Consideraciones de carácter metodológico y de fundamentación histórica sobre la cuestión de un “nuevo orden global”, como posible consecuencia del declino supuestamente inevitable del actual “orden mundial occidental”, poniendo en duda la validad conceptual y adecuación histórica de su situación actual. El ensayo adopta un examen histórico sobre las características económicas y políticas del orden mundial contemporáneo (no global), concluyendo por la persistencia de los sistemas imperiales, que aún presiden a la gobernanza del presente orden oligárquico.

Palabras llave: nuevo orden mundial; economía global; gobernanza; sistemas imperiales.

Sumário:

1. Estamos no limiar de uma nova ordem global?

2. A resiliência das estruturas imperiais a despeito de sucessivas crises

3. O sistema onusiano corresponde, de fato, a uma ordem global efetiva?

4. As atuais estruturas econômicas esgotaram suas possibilidades de ajuste?

5. A fratura geopolítica aponta para a substituição da atual ordem mundial?

Referências bibliográficas

 (...)

[Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4676, 27 maio 2024, 25 p.]

Disponível: https://www.academia.edu/124519295/4676_Permanencias_imperiais_e_nova_ordem_global_no_teste_da_historia_2024_

Lula, o amigo do Irã - Editorial (Gazeta do Povo)

Lula, o amigo do Irã Editorial Gazeta do Povo 06/10/2024 18:00 Na atual escala de valores do Itamaraty, comandado nominalmente por Mauro Vieira, mas que de fato segue as diretrizes de Celso Amorim, quando uma ação militar deve ser “deplorada” ou condenada “nos mais fortes termos”, e quando deve ser “acompanhada com preocupação”? Será pelo número de vítimas que deixa? Se mira apenas alvos militares, ou se pretende atingir deliberadamente a população civil? Se é um ataque gratuito, ou uma ação de defesa contra um agressor? A resposta, no governo Lula, é bem mais simples: o grau de veemência das notas do Itamaraty depende apenas de quem é o agressor: se um “dos nossos” ou um “dos deles”. Em 1.º de outubro, enquanto o mundo condenava inequivocamente o lançamento de quase 200 mísseis iranianos contra território israelense, a diplomacia brasileira se pronunciava “deplorando” os ataques aéreos de Israel contra alvos do Hezbollah no Líbano. Apenas no dia seguinte a ação do regime iraniano foi assunto de comunicado da chancelaria brasileira, que disse “acompanhar com preocupação” o episódio, limitando-se a “condenar a escalada do conflito”, sem nenhum palavreado mais duro sobre a ação iraniana em si. Em abril, quando do primeiro ataque direto ao Irã contra Israel, o texto do Itamaraty recorreu ao eufemismo, falando em “relatos de envio de drones e mísseis do Irã em direção a Israel”. Lula escolheu ficar ao lado de um regime assassino, que prega abertamente o fim de Israel, financia terroristas, e oprime mulheres, a população LGBT e outras minorias. O duplo padrão nos termos usados pelo Ministério das Relações Exteriores já se observa desde a barbárie terrorista do Hamas, que completa um ano nesta segunda-feira. A primeira nota do Itamaraty sobre o 7 de outubro nem sequer mencionava o Hamas (que já havia reivindicado a autoria do ato), nem usava a palavra “terrorismo”. Só após muita repercussão negativa é que ambos os termos entraram no vocabulário da chancelaria, e mesmo assim havia recaídas constantes, como nas notas publicadas por ocasião da confirmação de mortes de brasileiros, ocorridas ou durante o próprio ataque terrorista, ou posteriormente, no caso de reféns capturados pelo Hamas. Este é um caso em que nem se pode considerar propriamente que Lula esteja tentando exibir ao mundo uma postura de neutralidade enquanto, na prática, adota um lado. No Oriente Médio, o petista escolheu um lado e não faz a menor questão de disfarçar. Enquanto o Brasil está sem embaixador em Israel, o vice-presidente Geraldo Alckmin prestigiava a posse do novo presidente iraniano ao lado de chefões do terrorismo mundial. Contra a única democracia da região, que luta para se defender de ameaças à sua própria sobrevivência (embora não esteja livre de cometer excessos neste esforço de autodefesa), Lula escolheu ficar ao lado de um regime assassino, que prega abertamente o fim de Israel e financia os terroristas que levam o medo aos israelenses; e que, em seu território, oprime mulheres, a população LGBT e outras minorias, e reprime violentamente manifestações populares por liberdade. Esta aliança entre Lula e a teocracia islâmica iraniana vem de antes do 7 de outubro; no início do terceiro mandato do petista, em fevereiro de 2023, a permissão para navios de guerra iranianos atracarem no Rio de Janeiro causou mal-estar entre Brasil e Estados Unidos, cuja embaixadora em Brasília afirmara que “esses navios, no passado, facilitaram o comércio ilícito e atividades terroristas”. Lula também contribuiu para a adesão do Irã ao bloco dos Brics, durante reunião no ano passado. Mas a camaradagem é bem mais antiga, datando da primeira passagem do petista pelo Planalto, entre 2003 e 2010. O episódio mais notável foi o empenho de Lula em costurar um acordo que permitisse aos aiatolás seguir adiante com seu programa nuclear, que o mundo inteiro sabe ter como objetivo a obtenção de uma bomba atômica, o que por sua vez teria o potencial de lançar a região em uma espiral de instabilidade muito maior que a atual. Em nome de um antiamericanismo de DCE e da união de um suposto “Sul Global” – do qual o Brasil, a rigor, nem seria um dos líderes, bastando ver o papel de coadjuvante que o país assumiu na última cúpula dos Brics –, Lula afasta a diplomacia brasileira de todos os princípios da atuação internacional brasileira elencados no artigo 4.º da Constituição, especialmente a “prevalência dos direitos humanos”, a “defesa da paz” e o “repúdio ao terrorismo e ao racismo”. O Irã é um regime que nega explicitamente tais princípios. Um ano após a barbárie de 7 de outubro de 2023, perpetrada por um grupo apoiado por Teerã, e neste momento em que o regime islâmico assume diretamente o trabalho de fustigar Israel, dados os recentes sucessos israelenses na eliminação de líderes de Hamas e Hezbollah, este alinhamento promovido por Lula e Amorim apequena ainda mais o Brasil diante do mundo. Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/lula-amigo-ira/ Copyright © 2024, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

Uma visão sobre o atual cenário internacional - Paulo Roberto de Almeida

Uma visão sobre o atual cenário internacional

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre as ameaças pendentes ao sistema internacional vindas de ditadores.

 

Fatores estruturais favorecendo o desenvolvimento pacífico das relações internacionais, como o multilateralismo baseado em regras de convivência reciproca, podem ser ameaçados por fatores contingentes, baseado nas paixões e interesses de líderes políticos dotados de poderes excessivos.

A humanidade possui duas graves ameaças à continuidade das relações normais entre povos e nações, uma já em ação, a outra potencial. A primeira se chama Putin, e já é mortífera, sobretudo nas suas relações com Estados terroristas, como Irã e Coreia do Norte; a segunda, é o candidato Trump, que já se provou disruptivo para o sistema multilateral baseado no Direito Internacional, inclusive em sua amizade com, e em sua submissão ao primeiro personagem, verdadeiro Hitler do século 21.

Infelizmente, não estamos muito distantes da guerra de Troia, um conflito justamente motivado por paixões e interesses de autocratas poderosos. A Ucrânia está no centro do conflito mais grave e mais disruptivo nas relações internacionais atuais: ditadores precisam ser contidos; aqueles que querem sacrificar suas vítimas também.

Em situações limites como as que vivemos atualmente, as regras do Direito, ou da simples humanidade, precisam ser impostas por uma força superior às dos ditadores e candidatos a tal, cujo único desejo é o de impor a outros as suas paixões e interesses. 

A defesa do Direito, da Justiça, da simples humanidade vale para a Europa central, para o Oriente Médio, para a África e até para a Venezuela, cujo ditador oprime o seu próprio povo e ainda pretende agredir uma nação vizinha.

Como se posiciona o Brasil e a sua diplomacia em face das atuais ameaças existentes à convivência normal entre povos e nações? Estamos de verdade do lado do Direito Internacional, ou por acaso cultivamos amizades e relações normais com ditadores efetivos ou potenciais?

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4752, 7 outubro 2024, 1 p.


 

 

domingo, 6 de outubro de 2024

O autoritarismo custará caro ao México Editorial O Estado de S. Paulo

O autoritarismo custará caro ao México

O Estado de S. Paulo | Notas & Informações
06 de outubro de 2024

Ambições autocráticas de Obrador e seus acólitos, incluindo a nova presidente, estão destruindo não só as liberdades políticas dos mexicanos, mas suas oportunidades econômicas

P or 70 anos o México viveu sob o regime de um partido único, sem os contrapesos do Legislativo e do Judiciário. Nos anos 90, as pressões de uma sociedade civil complexa, educada e sedenta de pluralismo forçaram o Partido Revolucionário Institucional (PRI) a fazer concessões e reformas estabelecendo instituições eleitorais e judiciais independentes. Agora, o país caminha a passos largos para hipertrofiar o Executivo e concentrar poder no partido incumbente, o Movimento Regeneração Nacional (Morena), fundado por Andrés Manuel López Obrador (AMLO), que no dia 1.º encerrou seu mandato presidencial de seis anos, passando a faixa para sua pupila, Claudia Sheinbaum. Um partido único está sendo reinstaurado ? só que desta vez pode ser pior.

O PRI mutilou as liberdades políticas dos mexicanos e controlava as eleições, mas era disciplinado e construiu instituições e burocracias profissionais. A agenda do Morena vai na direção oposta.

AMLO sufocou o Instituto Nacional Eleitoral (INE) e manipulou as regras para favorecer seu partido. Nas eleições de junho, elegeu Sheinbaum com ampla margem. A coalizão de esquerda liderada pelo Morena obteve 54% das cadeiras na Câmara dos Deputados, mas um INE já aparelhado distorceu as regras de representação, concedendolhe 74% das cadeiras e uma supermaioria no Senado.

Em setembro, quando AMLO ainda era presidente e a nova legislatura assumiu, ele tentou aprovar 18 emendas constitucionais para, entre outras coisas, eliminar agências independentes, banir parcerias de estatais com a iniciativa privada, ampliar a ingerência das Forças Armadas na segurança pública, erguer barreiras a investimentos e ao comércio internacional e reduzir prerrogativas de partidos minoritários. O tempo não foi suficiente para aprovar o pacote, mas Sheinbaum promete encaminhá-lo, e a mais perniciosa das reformas, a do Judiciário, foi aprovada.

Em três anos, todos os magistrados e ministros da Suprema Corte serão removidos, e passarão a ser eleitos por voto popular. Os candidatos serão préselecionados pelo Executivo e o Legislativo, as exigências profissionais serão mínimas e um ?tribunal disciplinar? terá poderes para punir os indóceis. Além do poder oficial, o poder paralelo do narcotráfico terá amplas oportunidades de influenciar as escolhas através do dinheiro e da violência.

AMLO e seus acólitos replicam o manual de outros candidatos a déspotas, como Viktor Orbán, na Hungria. Nesses casos, a democracia não é derrubada à força de golpes e tanques na rua, mas por erosão intestina. O México mostra que essa destruição da democracia por meios democráticos não é prerrogativa de alguma região ou ideologia.

Pode acontecer na Europa ou América Latina, à esquerda ou à direita. Mas nenhum país é uma ilha, muito menos um país grande, mas em desenvolvimento, como o México, ou um país desenvolvido, mas pequeno, como a Hungria. O autoritarismo tem custos, e já se fazem sentir.

A União Europeia tem encontrado meios de neutralizar e isolar Orbán. As políticas de AMLO estão sangrando a economia mexicana. Seu governo teve as piores taxas de crescimento neste século: o Banco Central prevê 1,5% neste ano e 1,2% no próximo. O peso está em queda e o déficit está acima de 5%, o maior desde os anos 80. Agências de risco advertem para um aumento do prêmio, e a mídia e o governo dos EUA, país que tem US$ 144 bilhões investidos no México e recebe 80% de suas exportações, alertam que a reforma judicial não só mina a proteção de direitos humanos e o acesso imparcial à justiça, como inviabiliza os negócios. Outras reformas no pacote do Morena violam o acordo de livre comércio com EUA e Canadá, que expira em 2026 e precisa ser renegociado.

Uma parcela da população mexicana está revoltada. Se não for capaz de mobilizar seus conterrâneos e reverter a destruição do Estado Democrático de Direito em curso, seu país provará uma das mais amargas lições da História: que a combinação da concentração do poder político com a penúria econômica leva inexoravelmente ao recrudescimento da tirania ou à ruptura pela anarquia.

 

 

Brasil está embarcando na destruição do seu sistema político-partidário: a mentira se tornou personagem - texto não identificado, Christian Lynch e Paulo Roberto de Almeida

Brasil está embarcando na destruição do seu sistema político-partidário: a mentira se tornou personagem - texto não identificado, Christian Lynch e Paulo Roberto de Almeida 

Li a postagem abaixo como uma confirmação do que de pior pode ocorrer no atual sistema político brasileiro, sendo praticamente DESTROÇADO pelo oportunismo mais vil de certos personagens obscuros.

O cenário politico tradicional que conhecemos — centro (e os oligarcas do Centrão), esquerda, direita, radicais de esquerda, extrema-direita, evangélicos em ascensão — já pode deixar de existir em 2026, quando esse tipo de confusão deliberada pode desmantelar o quadro “normal” do sistema político brasileiro. 

Deixo de indicar a fonte dos argumentos que seguem entre aspas, pois que tudo também pode já fazer parte dessa gigantesca operação de manipulação política que está em curso a partir de grupos obscuros. Seu autor pode me contatar, se achar que estou colocando em dúvida sua “análise” aqui exposta, mas eu me permito ser muito cético no tocante à validade dessas afirmações.

Este blog Diplomatizzando se dedica à discussão responsável de temas relevantes para o Brasil, e não pode ser utilizado ou instrumentalizado em favor de quaisquer forças políticas. 

Minha postura atual é a de que estamos ingressando, na política brasileira, numa fase de alteração significativa dos meios, métodos, instrumentos e objetivos de diferentes forças e movimentos, e que essa evolução é para pior, da pior forma possivel. 

Esclareço: essa ruptura dos padrões tradicionais da política brasileira começou lá atrás, com o PT fraturando a política e dividindo a sociedade entre “nós” e “elites”, ou seja, o povo, supostamente de esquerda, ou progressista, e as elites, mesquinhas, anti-povo, concentradoras de riqueza.

Agora, é a direita extrema, a mais raivosa, reacionária e odiosa e odienta, que está fragmentando a política do Brasil.

Não sou nada otimista quanto ao futuro da política nacional.

Ao final transcrevo uma nota do cientista politico e editor da revista Insight Inteligência Christian Lynch.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 6/10/2024

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 “Marçal já ganhou a eleição no 1º turno.

Enquanto todos estão focados na disputa pela prefeitura de São Paulo, Marçal está dois passos à frente—e não é para ocupar a cadeira de prefeito.

Pablo Marçal transformou a campanha eleitoral em um trampolim para amplificar sua marca pessoal, seguindo estratégias de marketing do mestre do digital Russell Brunson.

Inclusive, ele faturou milhões primeiro aplicando ("Expert Secrets") e depois vendendo ("Dotcom Secrets") o conhecimento de Brunson como sua metodologia próprietária.

Ele não busca votos para governar São Paulo agora; busca atenção para converter em faturamento e construir seu caminho rumo ao Planalto.

- Criou polêmicas calculadas para gerar engajamento nas redes sociais.

- Incentivou a criação de cortes de seus vídeos, ampliando exponencialmente seu alcance.

- Transformou debates e sabatinas em oportunidades de marketing, não em discussões políticas construtivas.

Sua verdadeira vitória está em construir uma legião de seguidores fiéis, possivelmente representando 10-20% do eleitorado. Com essa base, ele pode lançar produtos digitais, cursos e mentorias que podem render cifras astronômicas.

Preparem-se para testemunhar talvez o maior lançamento digital já visto no Brasil—quem sabe, do mundo—além de preparar terreno para sua futura candidatura presidencial.

No fim das contas, Marçal nos mostra que, a atenção é a moeda mais valiosa, ganhar uma eleição pode significar algo muito além de ocupar um cargo público.

Este é o primeiro passo de uma estratégia maior para faturar muito e simultaneamente buscar alcançar o mais alto posto político do país.

Fama, dinheiro e poder ao mesmo tempo.”

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Christian Lynch:

MARÇAL É AMEAÇA POTENCIAL À DEMOCRACIA 

Então Marçal AINDA nao é ameaça à democracia, porque não tem poder. Mas sua forma de fazer política o TORNARÁ uma ameaça se adquirir poder. 

Eu pergunto como a democracia pode funcionar entregando poder a um candidato que se recusa a debater com adversários, reduzindo todos à condição de criminosos - comunistas, drogados e ladroes - , e que incita o público todo o tempo pelo seu próprio exemplo a produzir violência contra eles.“


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Acabou a prontidão: volto à página original do Facebook: paulobooks; encerrando o PauloAlmeidaDiplomata

Fechamento por "desnecessidade": 

Como diria o papa Francisco, uma proclamação at urbe et orbi, ou, modernamente, a todos, a todas, e, sendo redundante, a todes. 

A todos os meus seguidores nesta página improvisada – PauloAlmeidaDiplomata – e que não deveria existir. Ela foi criada depois de seis meses tentando ressucitar, sem sucesso, minha página original, esta aqui: https://www.facebook.com/paulobooks

 Ela tinha ficado inacessível, por motivos incertos e não sabidos – provavelmente minha própria incompetência - mas acabou aparecendo, depois que eu iinaugurei esta aqui: https://www.facebook.com/PauloAlmeidaDiplomata 

Como aparentemente tudo segue normal com a original, e para evitar acusações de duplicação ou duplipensar, vou liquidar, eliminar, apagar esta segunda, de vida breve, mas ao que parece atraente, pois ccapturou um público razoável. 

Com mil desculpas a todos, vou terminar com esta em breve. 

Paulo Roberto de Almeida 6/10/2024

Pessoas cometem erros, países cometem erros: uma análise histórica - Paulo Roberto de Almeida

Pessoas cometem erros, países cometem erros: uma análise histórica Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor. Sobre como se aprende melhor com erros do que com acertos, a partir de exemplos nacionais. Nenhuma trajetória, individual ou coletiva, é isenta de desvios, de percalços, de erros ou de desastres. Erros individuais são, aparentemente, mais fáceis de corrigir, dado que eles podem ser objeto de recriminações, de alertas, de recomendações de terceiros, geralmente os mais próximos, ou seja, familiares ou amigos, o que pode (nem sempre o faz) induzir o sujeito equivocado – por ignorância, ingenuidade, ambição ou alienação temporária – a tentar retificar suas ações e retomar um caminho, senão virtuoso, pelo menos mais adequado às circunstâncias e limitações da vida prática. (...) Brasil e Argentina talvez estejam ainda sob o domínio excessivo dos “instintos primitivos” de seus animais políticos. Provavelmente já é mais do que tempo de se livrar das oligarquias regressivas e abrir espaços para a energia dos empreendedores individuais. O senso comum considera que a China é uma ditadura comunista, o que é apenas meia verdade. Se consultarmos os indicadores setoriais de liberdade econômica, constataríamos que a China é mais livre, economicamente, do que Brasil, Argentina e a maioria dos países. Paulo Roberto de Almeida Brasília, 4751, 6 outubro 2024, 8 p. Disponível na plataforma Academia.edu; link: https://www.academia.edu/124475398/4751_Pessoas_cometem_erros_paises_cometem_erros_uma_analise_historica_2024_

sábado, 5 de outubro de 2024

As 10 Melhores Lições de "A Arte da Guerra" - Marco Rocha

 As 10 Melhores Lições de "A Arte da Guerra" 

Marco Rocha

"A Arte da Guerra" de Sun Tzu, é um dos livros mais influentes de estratégia já escritos. Apesar de ter sido criado para o campo de batalha, suas lições se aplicam em todas as áreas da vida: negócios, liderança, e até no desenvolvimento pessoal.

Vamos mergulhar nas 10 principais lições desta obra-prima atemporal. 

1️⃣ A Preparação é Tudo: "Toda guerra é ganha antes de ser travada".

A primeira lição fundamental de Sun Tzu é a importância da preparação estratégica. Grandes vitórias começam muito antes de qualquer ação. Seja em uma negociação ou competição, o segredo está em antecipar e planejar.

💬 Citação: "Aquele que planeja e se prepara vencerá antes mesmo de lutar."

💡 Aplicação prática: Sempre esteja preparado. Estude seu campo, seus concorrentes e todas as variáveis antes de agir.

2️⃣ Conheça a Si Mesmo e Seu Inimigo 👥

Uma das lições mais famosas do livro: autoconhecimento e conhecimento do oponente são os pilares de qualquer vitória. Saber suas próprias forças e fraquezas, e conhecer o que move o "inimigo", seja ele uma pessoa ou um desafio, garante sua vantagem.

💬 Citação: "Se você conhece o inimigo e a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas."

💡 Aplicação moderna: No mundo dos negócios, conheça seus pontos fortes e fracos, e estude seus concorrentes profundamente para ganhar vantagem.

3️⃣ A Importância da Flexibilidade: "A estratégia sem táticas é o caminho mais lento para a vitória" 

Sun Tzu destaca que a adaptação é essencial em qualquer conflito ou desafio. Estratégias rígidas levam à derrota, enquanto táticas adaptáveis garantem o sucesso.

💬 Citação: "Na guerra, os planos são inúteis, mas o planejamento é essencial."

💡 Aplicação prática: Seja flexível. Não tenha medo de mudar sua abordagem conforme as circunstâncias mudam.

4️⃣ Engane Para Ganhar: "Toda guerra é baseada no engano" 

Na estratégia de Sun Tzu, o uso do engano não é imoral, mas sim um recurso importante para vencer. Ele sugere que, ao confundir o oponente, você pode forçá-lo a cometer erros críticos.

💬 Citação: "Quando estiver perto, faça o inimigo acreditar que está longe; quando estiver longe, faça-o acreditar que está perto."

💡 Dica prática: Em negociações ou competições, mantenha seus planos privados e surpreenda seus adversários.

5️⃣ Velocidade é a Chave: "A rapidez é a essência da guerra" 

Sun Tzu ensina que agir rapidamente e com precisão é um diferencial em qualquer batalha. A hesitação muitas vezes leva à derrota, enquanto a ação rápida pega o inimigo desprevenido.

💬 Citação: "A vitória rápida e decisiva é o melhor tipo de guerra."

💡 Aplicação: No mundo dos negócios ou decisões pessoais, agir de forma decisiva pode ser o diferencial entre o sucesso e o fracasso.

6️⃣ Escolha Suas Batalhas: "Evite o que é forte e ataque o que é fraco" 🛡️

Nem toda batalha vale a pena ser travada. Sun Tzu ensina a importância de escolher bem seus combates. Às vezes, a estratégia mais sábia é evitar um confronto que você não pode vencer e se concentrar nas oportunidades em que tem vantagem.

💬 Citação: "O general sábio evita a batalha que não pode vencer."

💡 Exemplo prático: No mundo moderno, isso pode significar evitar projetos ou negócios com alto risco e baixo retorno, e focar nas áreas onde você tem uma clara vantagem.

7️⃣ Use a Estratégia Indireta: "Atacar diretamente raramente é a melhor opção" 🏹

Sun Tzu ensina que o ataque direto é muitas vezes previsível e esperado. Ao invés disso, estratégias indiretas, que enganam e desorientam o inimigo, podem levar a uma vitória mais eficiente e menos desgastante.

💬 Citação: "Ataque onde ele não espera, e vá onde ele menos imagina."

💡 Dica prática: Em um projeto ou negociação, use métodos inovadores para alcançar seu objetivo de maneiras que seus concorrentes ou desafios não preveem.

8️⃣ Comandar com Liderança e Autoridade 🧑‍⚖️

Sun Tzu acredita que um exército forte só pode ser liderado por um líder forte. A disciplina, a moral e a eficácia de um exército são reflexos diretos da autoridade de seu líder.

💬 Citação: "Liderança é uma questão de inteligência, confiança, humanidade, coragem e disciplina."

💡 Lição moderna: Seja um líder que inspira e dá direção clara, mas que também entende as necessidades de seu time.

9️⃣ A Moral é um Pilar da Vitória: "Uma tropa unida é invencível" 🤝

Sun Tzu ensina que um exército, ou equipe, com alta moral e espírito de união é muito mais forte que um grupo desunido. A confiança e o respeito mútuo são essenciais para vencer batalhas.

💬 Citação: "Trate seus soldados como seus filhos, e eles o seguirão até os vales mais profundos."

💡 Aplicação prática: No trabalho ou na vida, mantenha sua equipe motivada e cuidada. A moral elevada leva a maiores realizações.

🔟 Evite Conflitos Desnecessários: "A maior vitória é aquela que não requer luta" 🕊️

A última grande lição de Sun Tzu é que a melhor vitória é aquela que vem sem batalha. Às vezes, a vitória pode ser alcançada através da negociação, diplomacia ou simples intimidação.

💬 Citação: "A arte suprema da guerra é submeter o inimigo sem lutar."

💡 Aplicação prática: Evite confrontos desnecessários em sua vida. Se você puder atingir seu objetivo sem conflito, você terá economizado recursos e tempo.

Conclusão: "A Arte da Guerra" não é apenas um manual de estratégia militar, mas um guia atemporal de sabedoria e táticas para a vida. Suas lições são aplicáveis a todos os campos, desde negociações de negócios, liderança, até relacionamentos pessoais.


Santa raiva: A tragédia educacional precisa ser vista como a da escravidão - Cristovam Buarque (revista VEJA)

 . Nem sentimos incômodo pelo fato de nosso desprezo à educação amarrar o país, impedir o aumento da renda média e manter a sua trágica concentração devido ao sistema escolar dividido entre “escolas senzala” e “escolas casa grande”, determinando o futuro de uma criança desde o dia de seu nascimento; salvo raras exceções, tanto quanto antes era por causa da cor da pele durante a escravidão...

 

 

sábado, 5 de outubro de 2024

Cristovam Buarque - Santa raiva

Veja

A tragédia educacional precisa ser vista como a da escravidão

 

O movimento abolicionista só cresceu quando, em vez da simpatia à liberdade dos escravos, passou a usar a raiva contra a perversidade da escravidão e a denunciar a estupidez desse sistema para o progresso do país. Há décadas, nossos educacionistas defendem o direito de todos a uma escola com qualidade, mas a educação continua entre as piores e mais desiguais do mundo; sabe-se que a deseducação é uma barreira para nosso progresso, mas o eleitor não vota por educação, sobretudo se o candidato lembrar que essa prioridade exige relegar outros gastos.

Apenas com discurso simpático, educação não estará entre as prioridades dos políticos. Ainda mais agora, quando os resultados eleitorais são motivados mais pela raiva aos políticos do que por simpatia a uma causa.

Mais do que ser favorável à educação, os educacionistas precisam criar uma santa raiva contra a falta de educação, tanto quanto os abolicionistas contra a escravidão. Vergonha por termos entre 12 milhões e 14 milhões de adultos analfabetos plenos, incapazes de ler o lema escrito na bandeira; e quase 100 milhões despreparados para o mundo contemporâneo, sem um mapa que facilite sua busca pela felicidade pessoal nem as ferramentas necessárias a sua participação na promoção do progresso do país. Indignação por estarmos entre os piores do mundo em educação: 52º lugar em leitura, 65º em matemática, 62º em ciência, e termos o mais desigual sistema escolar do mundo conforme a renda e o endereço do aluno. Raiva por sabermos que essa situação deixará o Brasil atrasado, insustentável, injusto, ineficiente, continuando a escravidão mesmo 136 anos depois da abolição, que ficou incompleta por desprezo com a educação dos libertos.

“É vergonhoso termos entre 12 milhões e 14 milhões de adultos analfabetos plenos”

Medo coletivo diante do fato de que 40 milhões de nossos 50 milhões de brasileiros em idade escolar neste ano de 2024 serão deixados para trás e não desenvolverão o potencial necessário para construir um país rico, justo, civilizado; no máximo 10 milhões deles chegarão à vida adulta plenamente alfabetizados para a contemporaneidade. A raiva seria imensa se poços de petróleo fossem tapados, já temos raiva porque queimamos florestas, mas não há uma santa raiva contra a queima dos cérebros deixados para trás por falta de escolas com qualidade.

Nem sentimos incômodo pelo fato de nosso desprezo à educação amarrar o país, impedir o aumento da renda média e manter a sua trágica concentração devido ao sistema escolar dividido entre “escolas senzala” e “escolas casa grande”, determinando o futuro de uma criança desde o dia de seu nascimento; salvo raras exceções, tanto quanto antes era por causa da cor da pele durante a escravidão.

Felizmente, aprendemos a ter raiva da corrupção que domina a política, mas ainda não sentimos desconforto com a pior delas: o roubo de inteligência, negação de escola com qualidade para as crianças sem renda suficiente para pagar algumas das raras boas escolas privadas ou, com sorte, para entrar em uma das raras públicas com qualidade, em geral federal. Sentimos raiva porque o SUS não funciona bem, mas nenhuma raiva porque o Brasil, com 136 anos de República, ainda não tem um Sistema Único Público de Educação de Base com qualidade para todos.

A política só vai priorizar a educação quando os educacionistas, inspirados nos abolicionistas, promoverem um sentimento de santa raiva e vergonha diante da tragédia educacional, sua injustiça com os brasileiros e estupidez com o país.

 

Publicado em VEJA de 4 de outubro de 2024, edição nº 2913

Christian Arnsperger, Philippe Van Parijs, Éthique économique et sociale -Compte-rendu par Julien Damon

 Un petit précis de philosophie politique

Oct. 5, 2024


 

Le philosophe Philippe Van Parijs, auteur entre autres d’un tableau remarqué de la philosophie politique analytique (Qu’est-ce qu’une société juste ? 1991) et grand théoricien du revenu universel, s’était associé, il y quelques années, avec le professeur d’économie Christian Arnsperger, pour proposer, dans un « Repère » très clair intitulé Éthique économique et sociale[1], une introduction aux grandes lignes de partage et de convergences de la réflexion contemporaine en philosophie politique. La seconde édition de ce synthétique opus des deux auteurs belges date de vingt ans mais l’ouvrage n’a, au fond, presque pas pris de ride.

 

Tour d’horizon

Soulignons d’emblée qu’il ne s’agit pas du rassemblement de constructions métaphysiques désincarnées, mais d’une présentation des différentes argumentations, rigoureuses et aux résonances concrètes, qui peuvent fonder autant les systèmes collectifs de protection sociale que les pratiques individuelles. En faisant le tour des références incontournables structurant les pans de la réflexion économique et sociale actuelle, Arnsperger et Van Parijs font œuvre utile avec une concision et une précision aussi utiles au néophyte qu’au spécialiste.

Depuis John Rawls et sa Théorie de la Justice (1971), une littérature conséquente s’est développée autour des fondements des institutions sociales et de l’organisation des sociétés. Indexées sur la question centrale de la justice sociale, différentes postures, très solides, sont disponibles sur le marché des convictions et des comportements. Sans fondements absolus, mais avec une indéniable cohérence interne, ces théorisations composent le spectre des positionnements éthiques et pratiques dans des démocraties avancées et pluralistes composées d’individus responsables et maîtres d’eux-mêmes.

Nos deux auteurs présentent de manière particulièrement didactique les quatre principales approches modernes de l’éthique économique et sociale. Avec chacune une vision de la société juste et du progrès humain, ces quatre approches, l’utilitarisme, le libertarisme, le marxisme et l’égalitarisme, campent les « points cardinaux » des réflexions et des discussions politiques, mais aussi, pouvons-nous ajouter, des discussions de café (qui ne sont pas moins importantes). Avec des bases historiques puissantes et des traductions institutionnelles élaborées ces approches structurent largement l’espace des raisonnements éthiques et politiques. Signalons d’entrée de jeu qu’aucune n’a jamais pu se développer sous une forme pure, ce qui est probablement heureux tant elles peuvent être, quand elles sont envisagées sous une forme extrême, pleines de paradoxes, voire de dangers. Faisant jouer les variables « juste », « bonne », « égalitaire », « libre », « heureuse », ces bases théoriques, qui ne sont pas des alternatives définitivement opposables, permettent d’évaluer les formes et les fondements de l’Etat-providence (voire de son dépassement).

 

Utilitarisme, libertarisme, marxisme, égalitarisme

L’utilitarisme, tout d’abord, est une doctrine fondée par Jeremy Bentham. Baptisée et popularisée par John Stuart Mill, cette doctrine aussi simple que forte considère qu’une société juste est une société heureuse. Refusant tout droit naturel et toute autorité suprême pour l’humanité, elle invite à se soucier essentiellement du « plus grand bonheur du plus grand nombre ». La notion centrale est celle d’utilité, comprise comme l’indicateur de satisfaction des préférences des individus. Cette utilité, agrégée au niveau de la société, doit être maximisée pour minimiser les souffrances. A dissocier de l’égoïsme et du matérialisme, l’utilitarisme est une prise en compte impartiale des préférences de chacun. Il va sans dire que les règles de décision (par exemple à la majorité) peuvent léser certains et aller jusqu’à légitimer la ségrégation. La maximisation du bien-être agrégé, comme objectif, peut alors être tempérée par la nécessité de respecter des droits fondamentaux.

Le point de départ de la deuxième référence fondamentale de l’éthique économique et sociale, l’approche libertarienne (au sens de libéral radical), est d’ailleurs cette question de la dignité fondamentale de chaque être humain. Puisant son inspiration dans le libéralisme classique d’un John Locke, le libertarisme connaît ses lettres de noblesse avec les économistes autrichiens Ludwig von Mises et Friedrich Hayek, et ses formulations les plus entières avec des auteurs américains comme Murray Rothbard ou Robert Nozick. Selon les libertariens, une société juste n’est pas une société heureuse, mais une société libre, c’est-à-dire composée d’individus souverains dont la liberté ne peut être bridée par des impératifs collectifs. Chacun, dans une société libertarienne, a d’abord entière propriété de soi. L’individu libre s’engage dans des transactions volontaires, refusant toute coercition et toute obligation, qui permettent une juste circulation des droits de propriété. Dans une version extrême le libertarisme peut être qualifié d’anarcho-capitalisme. Récusant la justice sociale (un « mirage » pour Hayek), les libertariens valorisent l’égalité formelle (l’égalité des droits) et repoussent toute idée d’égalité substantielle (égalité des chances ou des situations).

Le marxisme, en tant que troisième doctrine cardinale, fait droit à l’égalité comme exigence centrale. Comme théorie, le marxisme est fait de nombreuses composantes, allant d’une tradition de fidèles de Karl Marx à un marxisme analytique (Jon Elster, Gerald Cohen) soucieux moins de lutte des classes et de dictature du prolétariat que de la formulation logique d’une théorie égalitaire de la justice. Dans le projet marxiste, l’idée est d’abolir l’aliénation inhérente au capitalisme et de mettre fin à l’exploitation de l’homme par l’homme, ou plus précisément, d’en finir avec l’exploitation du surtravail de certains. Plutôt qu’une opposition stricte entre deux couches de la société, les marxistes contemporains (certains disent – sérieusement – les marxiens), rendent compte d’inégalités de bien-être matériel, ancrée dans des inégalités de dotation, éclairant de la sorte les nouvelles formes de disparités de ressources et de positions sociales. La difficulté reste de distinguer les injustices issues d’inégalité de talents innés ou de savoir-faire, pour savoir que faire de l’héritage et de l’épargne.

Le quatrième point cardinal, auquel va la préférence des auteurs, est la conception libérale-égalitaire de la justice. Incarnée par John Rawls, cette référence de l’éthique économique et sociale occupe désormais une « position pivot » à côté des trois vénérables traditions marxiste, libertarienne et utilitaristes avec leurs déclinaisons contemporaines. Dans cette conception une société juste est d’abord une société conforme aux principes suivants : égale liberté des uns et des autres, légitimité des inégalités si elles peuvent profiter aux plus désavantagés, égalité des chances. C’est ensuite une société juste si elle répartit les « biens premiers » (droit de vote, liberté de pensée, avantages socio-économiques, bases du respect de soi, etc.) de manière équitable entre ses membres. Une difficulté est alors de fonder un indice synthétique de ces biens premiers permettant de bien différencier les positions, notamment pour dire qui est le plus mal loti.

Autour de Rawls, de multiples évaluations, réfutations et variations se sont accumulées. Rejetant généralement, comme lui, les approches et les notions dites welfaristes, c’est-à-dire fondées sur les utilités et sur les préférences, des économistes, des sociologues et des philosophes se sont attachés à défendre d’autres entrées pour apprécier la question de l’égalité. C’est le cas, par exemple, de Amartya Sen qui cherche à fonder la justice comme égalité, non pas des biens, mais des capacités fondamentales de tout un chacun à pouvoir bénéficier de ces biens.

 

Exercices de philosophie politique

Après la présentation de cette palette à quatre coins des doctrines éthiques, qu’ils argumentent avec clarté, érudition et humour, Arnsperger et Van Parijs font tourner les différents modèles autour de deux problématiques particulières : les soins de santé peuvent-ils être laissés au libre jeu du marché ? faut-il ouvrir les frontières ? En ces domaines l’utilitarisme fait des calculs coûts bénéfices et mesure des externalités, le libertarisme soutient la souveraineté naturelle des patients et des soignants et affirme le droit fondamental à la mobilité universelle, le marxisme vise à réduire l’exploitation par les besoins et l’exploitation nationale, l’égalitarisme libéral propose une assurance santé de base et ne conclue pas de manière univoque sur la question de la circulation des étrangers.

Au terme de notre exercice (compliqué tant la matière est dense) de compte-rendu, on doit redire que les thèmes et les objets traités ici sont des plus concrets. La visée de Arnsperger et Van Parijs n’a d’ailleurs rien à voir avec l’exégèse de chambre. Leur projet est pédagogique. Il s’agit de s’initier à l’exercice de la philosophie politique incarnée, appuyé sur les grands modèles interprétatifs et normatifs. Autant qu’à la lecture des auteurs qu’ils examinent et à l’examen des divers principes qu’ils abordent, ils invitent leurs lecteurs et leurs étudiants à la pratique in concreto. Il s’agit d’aborder collectivement des sujets de société, sans s’imposer prémisses ou conclusions, en cherchant à aboutir à une cohérence dans l’argumentation au terme de la confrontation raisonnée des points de vue. Ceux-ci peuvent être soutenus à partir des quatre points cardinaux de l’éthique économique et sociale. Cet exercice est salutaire pour des sujets aussi variés, dans le domaine de la protection sociale, que le fondement de prestations familiales, l’efficience d’aides au logement, ou la légitimité de minima sociaux. Par un jeu de confrontation des justifications et des objections on peut aboutir à un équilibre sensé et non dogmatique des positions.

Le travail de réflexion auquel nous convie individuellement l’éthique économique et sociale est particulièrement exigeant. Au-delà de certitudes qui nous seraient données par le « terrain », l’économétrie ou l’idéologie, la pesée de l’importance relative des grands courants de pensée permet de fonder en raison des opinions personnelles, des prestations collectives et des politiques publiques.

 

[1] Christian Arnsperger, Philippe Van Parijs, Éthique économique et sociale, La Découverte, coll. « Repères », 2000, deuxième édition 2003.

Uma modesta sugestão aos eleitores da cidade de São Paulo: Tabata Amaral - Paulo Roberto de Almeida

Fazendo uma coisa que nunca fiz antes: recomendar voto em alguém...

Uma modesta sugestão aos eleitores de São Paulo: Tabata Amaral 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Sou paulistano, mas pouco votei em São Paulo ou por São Paulo.

Lembro-me, ainda muito criança, ter acompanhado meu pai no voto para presidente em 1960, o que se imaginava ser a grande esperança de luta contra a corrupção e a inflação (já crescente), e que foi uma grande frustração alguns meses depois. Lembro-me, igualmente, de que na crise da renúncia (sobre a qual eu não entendia literalmente nada), minha mãe foi nos buscar na escola, quando normalmente eu e meu irmão voltávamos a pé para casa, por temer não sei qual tipo de confusão (talvez como no suicídio do Getúlio, quando meus pais já eram adultos, embora em SP não tenha havido o impacto que teve no Rio de Janeiro).

Depois, por causa do golpe militar e da ditadura que se seguiu, não votamos mais, por longos anos, sequer para prefeitos das capitais.

Acabei saindo do Brasil em 1970, sem jamais ter exercido o direito cidadão do voto, para qualquer cargo em qualquer nível, e assim permaneci sete longos anos no exterior, refazendo a graduação incompleta (deixei Ciências Sociais na USP no segundo ano), com um mestrado terminado e um doutoramento iniciado. Não tenho certeza de ter justificado inadimplência eleitoral no consulado do Brasil em Antuérpia, onde residi por algum tempo.

Quando voltei ao Brasil, em meados de 1977, sequer tive tempo ou oportunidade, de votar pela primeira vez, pois que logo incorporei-me ao serviço diplomático e acabei saindo do Brasil pouco tempo depois, dois anos e meio após ter voltado. Apenas relato, como parte de meus registros político-eleitorais, que voltei a lutar pela redemocratização, tendo auxiliado na campanha do candidato da oposição a presidente da República em 1978, e por mesmo isso fui fichado pelo SNI como “ diplomata subversivo”, conforme verifiquei anos depois no diretório do órgão no Arquivo Nacional de Brasília. Devo ter votado uma única vez em Brasília, mas com meu título de SP, apenas em nível federal. Passaram-se várias eleições, na quais votei ou não, dependendo do lugar do mundo em que houvesse votação consular, sendo que eu mesmo organizei as eleições presidenciais de 2014 para o pessoal brasileiro inscrito no Consulado em Hartford, nos EUA, onde estava lotado naquele ano.

Neste ano de 2024, Brasília não tem eleições, mas acompanhei a movimentação em algumas capitais a partir do noticiário da mídia, com especial atenção para as tribulações dos candidatos em São Paulo. Confesso que fiquei estarrecido com o desempenho dos três primeiros colocados na disputa municipal e é esta a razão que me induz a escrever um pedido, uma sugestão, um apelo a todos os meus amigos, conhecidos e desconhecidos, que por acaso acessem minhas redes sociais como eleitores paulistanos ou residentes e inscritos em alguma circunscrição eleitoral da cidade.

Considero que a única candidata digna de voto na maior cidade do país, no terceiro maior orçamento da federação – após o próprio orçamento da União e o do estado de SP –, é a paulista Tabata Amaral, parlamentar federal e lutadora pela educação no Brasil.

Repito: considero ser esta candidata a única digna do voto dos eleitores e cidadãos de São Paulo capital, por dezenas de razões que não julgo necessário expor aqui.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 5/10/2024

 

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Imperial Legacy: 1949 to Xi's Rise - Yasheng Huang , Jordan Schneider, Lily Ottinger, Ilari Markela (China Talk)

 Segunda parte de um debate histórico que teve inicio pela discussão do periodo anterior à emergência da RPC: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/09/china-meritocracia-inovacao-e.html?m=1