O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quarta-feira, 31 de março de 2021

Ditadura militar: nota zero em democracia, e zero também em economia - Felippe Hermes

 Felippe Hermes

Não há pontos positivos na ditadura – nem mesmo a economia no período

Período marca o início de um intervencionismo sem fim, responsável por produzir a ilusão, que reina até hoje, de que gerou evolução ao país, ao menos no campo econômico

A importância do zero na matemática e na ciência - Al Juarismi

 Vejamos: antes de qualquer outro valor numérico figura a ética, à qual damos o número 1. Some-se honestidade, respeito, conhecimento, fraternidade, todos eles acrescentando zeros à direita do número 1. Agora, retire a ética do conjunto e o que é que sobra? Um monte de zeros...

Paulo Roberto de Almeida

Al Juarismi, o inventor da matemática moderna

Al Juarismi fue geógrafo, astrónomo y matemático. Su libro Al jabr, dio nombre a la disciplina que hoy conocemos como álgebra y en él se explicaba el método que utilizamos actualmente para resolver ecuaciones de segundo grado. Y, gracias a su tratado sobre aritmética, el mundo occidental tuvo conocimiento del sistema hindú de numeración decimal posicional, de la importancia del cero ―una novedad con respecto a los sistemas de numeración anteriores― y de los procedimientos para sumar, restar, multiplicar y dividir números en el sistema decimal que hoy aprenden todos los niños en la escuela. Y fue tan didáctico en exponer el método para operar con los números decimales, que esas operaciones recibieron el nombre de algoritmo, palabra formada a partir de su nombre. 

https://elpais.com/tecnologia/2021-03-27/al-juarismi-el-sabio-que-dio-nombre-al-algoritmo.html

Xi Thought: China's push to be a modern, socialist superpower - Reuters

Pergunto: o que tem de socialismo nisto tudo? 

"patriotism, democracy, civility, harmony, power through wealth, justice, freedom, equality, rule of law, industriousness, sincerity and friendliness."

A igualdade? Mas o capitalismo trouxe muito mais igualdade do que qualquer regime socialista do mundo, em qualquer época.

Todos, invariavelmente todos os princípios e valores de Xi Jinping são, inquestionavelmente princípios meritórios, que também deveriam estar sendo impulsionados por qualquer democracia de mercado das mais conservadoras.

Paulo Roberto de Almeida

Xi Thought: China's push to be a modern, socialist superpower

BEIJING (Reuters) - The political “thought” of President Xi Jinping, China’s most powerful leader in decades, is encapsulated in two weighty tomes and dozens of published “important speeches”.

Chinese President Xi Jinping speaks to Papua New Guinea's Prime Minister Peter O'Neill (not pictured) during a meeting at the Diaoyutai State Guesthouse in Beijing, China June 21, 2018. Fred DUFOUR/Pool via REUTERS

“Xi Jinping Thought on Socialism with Chinese Characteristics for a New Era,” as it is officially known, is an all encompassing theory guiding China to become a global military and economic power under the leadership of the Chinese Communist Party.

The end goal is the “Chinese dream of the great rejuvenation of the Chinese nation”, set for 2050, when Xi expects China will return to its rightful status after over a century of bowing to the demands of Western powers.

All former top leaders of the party have had guiding theories. Before Xi, Hu Jintao put forward a “scientific outlook on development”, and Jiang Zemin, before him, had the “three represents”.

But Xi Thought differs from previous ideologies in that it carries his name and was written into the party charter while he was still in office - honors only given to Mao previously.

Xi Thought is a smorgasbord of sayings, slogans, historic allusions and literary references, all of which are the subject of numerous dedicated social media accounts and spin-off books explaining exactly what Xi means.

Below is a selection of some key tenets.

CORE SOCIALIST VALUES

A set of 12 values to guide individuals, society and the nation: patriotism, democracy, civility, harmony, power through wealth, justice, freedom, equality, rule of law, industriousness, sincerity and friendliness.

THE FOUR COMPREHENSIVES

This slogan guides Xi’s twin drives to clean out the rot of corruption in the Chinese Communist Party and set up an even-firmer system of party rule. Four aspects of political rule must be followed: strict governance by the party, rule of law, pushing forward reform, and building a moderately prosperous society, an ancient Confucian term for everyone being basically well-off.

THE CHINESE DREAM

This is arguably the core of Xi’s thinking.

It says that all people should strive to make China “prosperous, strong, democratic, culturally advanced, harmonious and beautiful” by 2050. Similar in aspects to the American dream, China’s version is about achieving prosperity for the Chinese people, but rather than the freedom to pursue individual wealth and happiness, being well-off is inextricably tied to the “great rejuvenation” of the nation.

THE FIVE DEVELOPMENT CONCEPTS

Xi’s theoretical underpinning for the practical questions about how China’s economy should develop - in a green, innovative, coordinated, shared and open manner. These ideas are meant to guide China to avoid a hard landing for a slowing economy, boost consumption, improve innovation and services-based growth, and tackle hazardous pollution.

COMMUNITY OF COMMON DESTINY FOR MANKIND

This is the lofty concept that is meant to guide China’s relations with the rest of the world. A “new style” of international relations is proposed that is “win-win” and of “mutual benefit” for all, but many Western nations remain critical of China’s regional behavior over issues such as the contested waters of the South China Sea. Some academics say the concept is an attempt to counter fears of China’s rise and to avoid conflict with existing powers.

Reporting by Christian Shepherd; Editing by Philip McClellan


Sob novo chanceler, política externa manterá conservadorismo e alinhamento a EUA e Israel - Ricardo Della Coleta (FSP)

Difícil que o novo chanceler se livre dos aloprados que controlam a diplomacia, porque simplesmente controlam o poder central. Ou seja, pisando em ovos...

Paulo Roberto de Almeida  

 

Sob novo chanceler, política externa manterá conservadorismo e alinhamento a EUA e Israel

Sairão de cena, porém, combate a 'globalismo' e a 'narcossocialismo' e atritos públicos com China

Folha de S. Paulo | 30/3/2021, 20h16

O Itamaraty sob nova direção não vai dar nenhum cavalo de pau. Com o chanceler Carlos Alberto França em substituição a Ernesto Araújo, as mudanças serão mais de tom do que substância.

A Folha conversou com diplomatas próximos ao novo chanceler. Segundo eles, o Brasil não irá abandonar a aproximação com Israel, o posicionamento conservador em foros multilaterais, de oposição ao aborto e a políticas identitárias, alinhamento a países de direita como Hungria e Polônia, aposta na acessão à OCDE e em reformas na Organização Mundial do Comércio.

Mas sairão de cena o combate ao “globalismo” e ao “narcossocialismo”, fantasmas frequentemente invocados por Ernesto Araújo, a ojeriza às instituições multilaterais, e os atritos públicos com a China. Não haverá mais rompantes ideológicos, tuítes belicosos e brigas pueris.

França é, por natureza, um sujeito conciliador, boa praça, segundo diplomatas próximos a ele. Ele tende a diminuir a agressividade da política externa em questões nevrálgicas como China, Estados Unidos e meio ambiente. Resta saber qual será o grau de autonomia do novo ministro na condução do Itamaraty.

Sabe-se que o ministério continuará a ser comandado por um triunvirato. Na gestão Ernesto havia um comando compartilhado com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o assessor internacional da Presidência, Filipe Martins. Os três se falavam frequentemente e coordenavam as ações. Com França, Eduardo e Martins, que chancelaram a indicação do novo ministro, continuarão na formulação de políticas.

A grande pergunta é: França, que não tem experiência em formulação de política externa, irá simplesmente seguir direcionamento de Eduardo e Martins, ou terá alguma latitude na condução do ministério?

O presidente Jair Bolsonaro escolheu França porque sua primeira opção, o embaixador do Brasil em Paris, Luis Fernando Serra, seria gongado pelas lideranças do Congresso, e porque tem uma “boa química” com o novo chanceler, que trabalhava no cerimonial da Presidência. França é também católico praticante, o que agradou a Bolsonaro.

Tradicionalmente, os diplomatas do cerimonial se aproximam do presidente. Foi assim com Paulo César de Oliveira Campos, o POC, que foi chefe de cerimonial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante seis anos, e com Frederico Araújo, que desempenhou a mesma função com Fernando Henrique Cardoso.

França está na chefia do cerimonial da Presidência desde o final do governo Temer. Ele atuou no planejamento da posse de Bolsonaro e também em viagens do presidente ao exterior.

Bolsonaro é inseguro socialmente e desconfiado. Com o convívio diário, França, tido como um tipo simpático e cativante, caiu nas graças do presidente. O fato de o diplomata ser inexperiente em formulação de política externa e não ter chefiado nenhuma missão no exterior é visto como uma vantagem, e não um problema. Nem Bolsonaro nem Eduardo querem alguém muito independente.

Uma das primeiras missões do novo chanceler será mostrar que, com a saída de Ernesto, as brigas públicas com a China são página virada. Interlocutores do ministro acreditam ser preciso fazer gestos nessa direção para o país.

Não significa fechar os olhos para a ameaça estratégica representada pela China, nem para as violações de direitos humanos no país, mas, sim, de ter uma relação pragmática.

Também prioritária será a recomposição da relação com o governo Joe Biden nos EUA. Ernesto havia sido criticado nominalmente pelo senador democrata Bob Menendez, líder do comitê de Relações Exteriores do Senado americano, por chamar os invasores do Capitólio de “cidadãos de bem”.

Uma ligação para o secretário de Estado, Antony Blinken, um meio de campo com o Congresso dos EUA e uma proposta minimamente ambiciosa na Cúpula do Clima que Biden vai realizar nos dias 22 e 23 de abril seriam algumas das medidas mais urgentes.

Diplomatas no Itamaraty estão comemorando a troca e esperam que a calma e a normalidade voltem ao ministério.

Mas o mesmo jeito conciliador que tranquiliza diplomatas pode colocar França em choque direto com o núcleo duro bolsonarista, que preferia Serra ou Nestor Forster, embaixador em Washington, para o cargo.

Segundo um dos integrantes da ala ideológica, “essa coisa de pacificador e discreto é exatamente o que a base bolsonarista não quer”. “Sabemos que ele [França] vai cumprir ordens no dia a dia, mas ninguém sabe as posições dele sobre ONU, Mercosul, globalismo, China, religião, os temas que realmente interessam à base bolsonarista.”

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/03/sob-novo-chanceler-politica-externa-mantera-conservadorismo-e-alinhamento-a-eua-e-israel.shtml?origin=folha


Imprensa europeia destaca renúncia de Ernesto Araújo - seleção e resumo de matérias

 Imprensa europeia destaca renúncia de Ernesto Araújo

Jornais europeus consideram passagem de extremista de direita pelo Itamaraty "capítulo mais calamitoso da história da diplomacia brasileira" e destacam admiração de ex-chanceler por Trump.

DW | 30/3/2021

O ultraconservador ministro das Relações Exteriores de Jair Bolsonaro renunciou após uma rebelião de diplomatas e parlamentares que o acusaram de demolir a reputação internacional do Brasil e colocar vidas brasileiras em risco ao vandalizar as relações com a China e os EUA durante a pandemia do coronavírus.

Ernesto Araújo, um diplomata de carreira de 53 anos famoso por criticar a China de Xi Jinping e por sua devoção a Donald Trump, apresentou sua renúncia na segunda-feira, encerrando o que os críticos consideram o capítulo mais calamitoso da história da diplomacia brasileira.

Sob sua supervisão, o internacionalmente respeitado Ministério das Relações Exteriores brasileiro – conhecido como Itamaraty em homenagem ao palácio do século 19 que ocupava no Rio – adotou uma abordagem de extrema direita em questões como direitos reprodutivos e meio ambiente e se tornou um refúgio de ideólogos bolsonaristas radicais. O Brasil cortejou nacionalistas de direita como Trump e o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e abandonou sua posição duramente conquistada como líder ambientalista global. Araújo e outros importantes bolsonaristas, incluindo o filho do presidente Eduardo, também destruíram os laços com Pequim.

A oposição ao mandato de Araújo como ministro, cargo que ocupou por 27 meses, finalmente explodiu este mês com a deterioração da catástrofe da covid-19 no Brasil, que matou mais de 312 mil brasileiros. Muitos culparam a má gestão das relações de Araújo com a China, Índia e os EUA pelo fracasso do Brasil em garantir quantidades suficientes de vacinas e seus insumos.

El País: Em meio à pandemia, renúncia de dois ministros abre a maior crise do governo Bolsonaro

A semana começa agitada no Brasil. Pela manhã, o diplomata Ernesto Araújo renunciou ao cargo de chanceler, enquanto o Brasil se tornava o epicentro global da pandemia, com uma média diária de mortes que ultrapassa 2,5 mil. Nos últimos dias, intensas pressões vindas das duas casas parlamentares e de representantes do setor econômico obrigaram o presidente Jair Bolsonaro a ceder e entregar a cabeça do chanceler, que comandava a ala mais ideológica de seu governo.

Araújo, fervoroso anticomunista e trumpista, é considerado o maior responsável pelo fato de o país não ter conseguido comprar doses suficientes de imunizantes na China ou em outros países a fim de proporcionar uma vacinação em massa que permitisse vislumbrar uma certa recuperação econômica no horizonte.

A chegada de Araújo ao cargo representou uma ruptura radical com a tradicional diplomacia brasileira, baseada no multilateralismo e no diálogo. Com ele, o Brasil de Bolsonaro está mais isolado do que nunca na esfera internacional devido ao negacionismo da covid-19 e do desmatamento da Amazônia. O até então chanceler se encarregou de alinhar-se imediatamente com os Estados Unidos de Donald Trump e a extrema direita americana de raízes cristãs e de rejeitar abertamente à China, principal parceiro comercial do Brasil. Mas a derrota de Trump e o coronavírus precipitaram a erosão dessa estratégia.

O ministro Araújo estava sob pressão do Centrão, os partidos sem ideologia nos quais Bolsonaro vem se apoiando nos últimos meses para se proteger dos pedidos de impeachment. Boa parte da classe política considera o chanceler o principal responsável pela não importação do Brasil da quantidade de vacinas de que necessita para atender sua população.

FAZ: Bolsonaro troca seis ministros de uma só vez 

Do governo original de Bolsonaro, que assumiu o cargo em janeiro de 2019, quase não há mais nenhum ministro – principalmente entre os importantes. O fato de o chanceler [Ernesto] Araújo, da ala ideológica do governo do populista de direita, ter renunciado é visto como um duro golpe para o bolsonarismo.

Devido ao seu comportamento, Araújo havia sido acusado de isolar o Brasil no cenário internacional e de colocar o país em uma posição precária para a compra de vacinas. Araújo, por exemplo, trocou farpas com importantes parceiros comerciais como a China – país de onde o Brasil importa insumos para a produção de vacinas contra o coronavírus. Além disso, fez aliança com o governo do então presidente americano Donald Trump, que, segundo críticos, nem sempre andava de mãos dadas com as concessões almejadas pelo Brasil, enquanto o país rompia com posicionamentos históricos em instituições internacionais como a ONU.

Araújo também gerou polêmica no Brasil antes mesmo da pandemia perder o controle. Ele chamava o vírus de "comunavírus" em referência ao comunismo, classificou o nazismo como um movimento de esquerda e descartou a mudança climática como uma mentira marxista.

A posição de Araújo sobre o aquecimento global, em particular, tem sido uma barreira para as negociações entre Brasil e Estados Unidos sobre o combate ao desmatamento na Amazônia. O novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, havia dado prioridade ao tema – assim como a União Europeia, no contexto dos planos de uma área de livre comércio com o Mercosul.

Le Monde: No Brasil, Jair Bolsonaro surpreende ao remodelar seu governo 

Esperava-se apenas a saída do chefe da diplomacia brasileira, Ernesto Araújo, este último implicado no fiasco da política contra o coronavírus, que já matou cerca de 314 mil pessoas no Brasil.

Figura caprichosa, Araújo, 53, era um dos membros mais entusiastas da "ala ideológica" do governo Bolsonaro, um ferrenho crítico da globalização e um fervoroso admirador do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Ele tem criticado repetidamente o "marxismo cultural" que "influenciou o dogma científico do aquecimento global". Muitas vezes, Araújo enfureceu a China "maoísta" com suas declarações provocativas, embora Pequim seja o maior parceiro comercial do Brasil.

Em outubro, ele admitiu que o isolamento diplomático do Brasil não era um grande problema para ele. "Sim, o Brasil fala de liberdade em todo o mundo. Se isso nos torna um pária, vamos ser esse pária", disse ele a futuros diplomatas brasileiros. Ele acabou sendo substituído por Carlos Alberto Franco França, um ex-embaixador descrito como um "diplomata discreto" pelo jornal Folha de S. Paulo.

https://www.dw.com/pt-br/imprensa-europeia-destaca-ren%C3%BAncia-de-ernesto-ara%C3%BAjo/a-57052022

 

Brasil: entre a educação e a barbárie - Luis Eduardo Assis

Esta é a maior tragédia brasileira... 

A esquina do futuro

O exercício pleno da cidadania está atrelado à educação, ao conhecimento

Luís Eduardo Assis, O Estado de S.Paulo 29 de março de 2021 |05h00

     Já dizia o escritor inglês H. G. Wells: a história da civilização é uma disputa entre a educação e a barbárie. A ideia de que é preciso desvendar mistérios através de métodos científicos é relativamente recente na história da humanidade, mas sem ela não teríamos conseguido os extraordinários avanços dos últimos séculos. Demoramos milhares de anos para aprender que o avanço do conhecimento nos torna melhores. O método científico – que ainda hoje alguns apalermados refutam – é indissociável da ideia de progresso, algo também recente do ponto de vista histórico. Há enorme correlação entre o índice de desenvolvimento humano e o nível de educação dos países. Soa como uma platitude, mas aqui em terras tabajaras a necessidade de fazer avançar o nível educacional só encontra consenso na sua manifestação genérica e superficial.
     Ninguém se diz a favor da ignorância, mas as políticas públicas para combatê-la acabam esbarrando na falta de recursos, na incúria da elite e na cristalização de interesses corporativos. Gastamos pouco, gastamos mal e os resultados beiram a calamidade. O exame Pisa, realizado a cada três anos, teve sua última edição em 2018 e avaliou o desempenho acadêmico de jovens de 15 anos em 79 países. O Brasil ficou em 59.º em leitura, 67.º lugar em ciências e 73.º em matemática.
      Tudo sugere que a pandemia teve um impacto devastador sobre um esforço que já rendia poucos frutos. Estudo da Unicef divulgado em janeiro mostra que aumentou a evasão escolar durante a pandemia. Em 2019, o IBGE identificou uma taxa de abandono de 2,2% entre crianças e jovens de 6 a 17 anos. Já em outubro de 2020, o porcentual registrado pela Unicef foi de 3,8%, ou seja, 1,38 milhão de pessoas não frequentavam a escola. A este contingente devem ser acrescentados outros 4,1 milhões que afirmaram estarem matriculados, mas não participaram de nenhuma atividade nas escolas. O abandono escolar atinge mais os alunos pobres, cujo atendimento já era insatisfatório e que não tiveram acesso ao ensino remoto. Uma tragédia dentro de um drama.
      Em estudo divulgado em julho de 2020 (Consequências da Violação do Direito à Educação), o Insper estimou que, em 2018, 557 mil jovens com 16 anos não concluíram a educação básica. Isto vai provocar uma perda de renda ao longo de toda a vida laboral de cada um destes jovens de R$ 395 mil, o que significa que o custo total do abandono escolar para esta faixa etária alcança a cifra astronômica de R$ 220 bilhões. Para efeito de comparação, o orçamento do MEC para a Educação Básica em 2020 foi de R$ 42,8 bilhões (aliás, 34% menor que o de 2012).
      O problema das consequências é que elas chegam depois, já dizia Marco Maciel. O que o governo tem a dizer sobre o abandono escolar provocado pela pandemia? Se o sistema educacional brasileiro já vinha mal antes como evitar que fique ainda pior? O Ministério da Educação não tem planos – nem sequer diagnóstico. No meio da tragédia da covid-19, gastou tempo e esforços na busca da regulamentação do ensino domiciliar, uma abjeta excrescência ideológica. Para um governo que recusa o passado e não reconhece o presente, pensar a longo prazo é um luxo inacessível. A propósito, qual é mesmo o nome do atual ministro da Educação? Quando a pandemia arrefecer, malgrado o descaso do presidente, voltaremos a frequentar pizzarias, mas os jovens que nos entregam as pizzas hoje não voltarão para as escolas.
      Haverá uma geração a quem será privado o conhecimento e, desta forma, o exercício pleno da cidadania. Não se trata apenas de fomentar a ignorância; é a barbárie que está à espreita. Há um despacho na esquina do futuro, já dizia Marcelo Yuka.

* ECONOMISTA, FOI DIRETOR DE POLÍTICA MONETÁRIA DO BANCO CENTRAL E PROFESSOR DE ECONOMIA DA PUC-SP E FGV-SP. E-MAIL : LUISEDUARDOASSIS@GMAIL.COM

terça-feira, 30 de março de 2021

Finalmente o dia: Habemus Papa, quero dizer, novo chanceler: Carlos Alberto Franco França, no lugar daquele cara angustiado...

 1. Atos publicados no Diário Oficial da União de 30/03/2021

DECRETOS DE 29 DE MARÇO DE 2021

PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84,caput, inciso I, da Constituição, resolve:

EXONERAR, a pedido,

ERNESTO HENRIQUE FRAGA ARAÚJO do cargo de Ministro de Estado das Relações Exteriores.

PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84,caput, inciso I, da Constituição, resolve:

NOMEAR

CARLOS ALBERTO FRANCO FRANÇA, para exercer o cargo de Ministro de Estado das Relações Exteriores, ficando exonerado do cargo que atualmente ocupa.

Brasília, 29 de março de 2021; 200º da Independência e 133º da República.

JAIR MESSIAS BOLSONARO

Ordem do Dia Alusiva ao 31 de março de 1964 - novo ministro da defesa (com D minúsculo) dá tratos à bola no texto

 Os militares foram compelidos a comemorar o 31 de março por quem vocês sabem...

Na versão deles, nunca existiu golpe, só movimento para salvar o Brasil do comunismo. Seria até gozado, se não fosse ridículo...

Paulo Roberto de Almeida

MINISTÉRIO DA DEFESA
Ordem do Dia Alusiva ao 31 de março de 1964

Brasília, DF, 31 de março de 2021

Eventos ocorridos há 57 anos, assim como todo acontecimento histórico, só podem ser compreendidos a partir do contexto da época.

O século XX foi marcado por dois grandes conflitos bélicos mundiais e pela expansão de ideologias totalitárias, com importantes repercussões em todos os países.

Ao fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo, contando com a significativa participação do Brasil, havia derrotado o nazi-fascismo. O mapa geopolítico internacional foi reconfigurado e novos vetores de força disputavam espaço e influência.

A Guerra Fria envolveu a América Latina, trazendo ao Brasil um cenário de inseguranças com grave instabilidade política, social e econômica. Havia ameaça real à paz e à democracia.

Os brasileiros perceberam a emergência e se movimentaram nas ruas, com amplo apoio da imprensa, de lideranças políticas, das igrejas, do segmento empresarial, de diversos setores da sociedade organizada e das Forças Armadas, interrompendo a escalada conflitiva, resultando no chamado movimento de 31 de março de 1964.

As Forças Armadas acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o País, enfrentando os desgastes para reorganizá-lo e garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos.

Em 1979, a Lei da Anistia, aprovada pelo Congresso Nacional, consolidou um amplo pacto de pacificação a partir das convergências próprias da democracia. Foi uma transição sólida, enriquecida com a maturidade do aprendizado coletivo. O País multiplicou suas capacidades e mudou de estatura.

O cenário geopolítico atual apresenta novos desafios, como questões ambientais, ameaças cibernéticas, segurança alimentar e pandemias. As Forças Armadas estão presentes, na linha de frente, protegendo a população.

A Marinha, o Exército e a Força Aérea acompanham as mudanças, conscientes de sua missão constitucional de defender a Pátria, garantir os Poderes constitucionais, e seguros de que a harmonia e o equilíbrio entre esses Poderes preservarão a paz e a estabilidade em nosso País.

O movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil. Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março.


WALTER SOUZA BRAGA NETTO
Ministro de Estado da Defesa

Exército já espera 3ª onda da covid - Entrevista General Paulo Sérgio (CB)

Correio Braziliense

General Paulo Sérgio diz que Exército já espera 3ª onda da covid

Renato Souza

 https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/03/4914583-general-paulo-sergio-diz-que-exercito-ja-espera-3---onda-da-covid.html


Assim que o Brasil registrou as primeiras infecções pelo novo coronavírus, em fevereiro do ano passado, o Exército percebeu que o país enfrentaria um dos maiores desafios de saúde do século. Os números de mortes e casos que aumentavam rapidamente na Europa enviaram o alerta para a tropa terrestre mais poderosa da América Latina. Ao Departamento-Geral de Pessoal foi incumbida a missão de aplicar medidas sanitárias, realizar campanhas e proteger o contingente da covid-19.


Além dos militares da ativa, são de responsabilidade da Força os que estão na reserva e os dependentes — o que engloba uma rede de 700 mil pessoas. Com 60 unidades de saúde, entre hospitais, policlínicas e postos avançados, o Exército mantém uma taxa de mortalidade pela doença de 0,13%, bem abaixo do índice de 2,5% registrado na população em geral do país. A receita é uma política totalmente oposta à adotada pelo governo federal.


Autoridade máxima de saúde no Exército, o general Paulo Sérgio conta que a Força entrou em uma espécie de lockdown, em que integrantes de grupos de risco foram enviados para home office e cerimônias militares acabaram suspensas em todos os quartéis. Além disso, estão sendo realizadas campanhas massivas de distanciamento social e outras ações, como uso de máscaras e higienização das mãos.


Os novos recrutas, que ingressam para o serviço militar obrigatório, estão em regime de internato e passam semanas sem ir para casa, a fim de evitar infecções pelo novo coronavírus. Apesar das medidas intensas, a segunda onda já começa a ter efeitos severos no Exército, com o registro de internação de militares jovens e colapso nos hospitais da rede — obrigando o uso de unidades de saúde privadas.


Enquanto o país enfrenta a segunda onda e vê a taxa de mortes explodir, a Força já prevê uma terceira onda, que pode ser ainda mais grave e começar por Manaus, dentro de dois meses. Em entrevista ao Correio, o general Paulo Sérgio fala sobre as ações que evitaram mortes no Exército, lamenta as perdas no meio civil e destaca que integração, logística e planejamento são as armas mais eficazes para entrar na guerra contra o vírus. A seguir, os principais trechos.


Quais são as obrigações do Departamento-Geral de Pessoal do Exército?


É o órgão que cuida da estrutura, planeja e coordena todas as ações referentes aos nossos recursos humanos, nas áreas de avaliação de desempenho, promoções, atendimento aos pensionistas, assistência social, religiosa, entre outras. E, neste período que estamos vivendo, na saúde.


Quantas pessoas são atendidas pelo departamento?


Estamos falando numa força de 220 mil homens. E, aqui no DGP, eu sou a autoridade máxima do departamento de todas essas áreas de atuação. É um órgão que cuida da dimensão humana da Força, que é aquilo que temos de mais sublime. Então, nessa valorização dos recursos humanos, no apoio à família militar que a gente busca, damos ao Exército a operacionalização de que a gente precisa. A fatia dos nossos usuários, que são inativos, pensionistas, dependentes, eu diria que é de cerca de 700 mil do sistema. Quando se somam ativos, inativos e dependentes, chega a esse número de usuários do sistema de saúde.


São quantos hospitais nesta rede atualmente?


Nós temos cerca de 60 hospitais, policlínicas e postos médicos; isso espalhado nos oito comandos militares de área. Vem desde Amazônia, Nordeste, Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Planalto. É uma rede adequada ao efetivo que a gente tem. Mas 60 hospitais em um país continental como o nosso é pouco. O Hospital de Manaus recebe pacientes de São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga, Rio Branco, Porto Velho, Boa Vista. A cadeia de evacuação da Amazônia Ocidental se baseia no Hospital de Manaus. É um hospital muito importante para o Exército. É uma rede adequada à nossa Força, e temos de trabalhar, aqui, para que o recurso seja empregado. São quase 750 organizações militares espalhadas pelo Brasil.


Manaus e a Região Norte, no geral, foram as localidades mais atingidas pelas ondas da pandemia até o momento. Isso foi uma surpresa para o Exército?


Até hoje, é um aprendizado para todos nós. O Exército, ou melhor, o Ministério da Defesa, lá em março do ano passado, vendo o problema se adiantar, criou 10 conjuntos em todo o Brasil. Esses conjuntos envolveram as Forças Armadas e as autoridades estaduais e municipais. Esses 10 comandos conjuntos trabalharam harmônicos. No Exército, para dar suporte a esses comandos e aos nossos hospitais, criamos a Operação Apolo. Tem toda uma equipe logística, saúde, administrativa que coordena as ações. Eu estava em Belém, era o comandante da área quando isso começou. O Brasil inteiro se voltou para a Amazônia Ocidental. Nós tomamos nossas medidas. O Exército, por exemplo, baixou recomendações administrativas claras, com relação à prevenção mais especificamente. A partir dali, foi uma coisa muito disciplinada, no uso da máscara, no afastamento social nos refeitórios, nos dormitórios. Aí, começaram a surgir campanhas de conscientização. Os hospitais começaram a pedir sangue, e iniciamos uma campanha. Hoje, já passa de 40 mil doadores de sangue, no Exército, espalhados pelo Brasil. Lançamos a campanha “Ajudar está no nosso sangue”. Todas as medidas sanitárias, diretrizes emanadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), corroboradas pelas nossas diretorias de saúde, são rigorosamente cumpridas em nossos quartéis. É uma Força disciplinada.


Com relação à falta de oxigênio em Manaus, ocorreu alguma falha de previsibilidade?


No nosso caso, não. Tudo foi novidade. Ninguém imaginava aparecer de repente um negócio destes, este coronavírus. Os nossos hospitais na Amazônia têm reserva. Mas quando começou a surgir a crise na rede pública, nós “startamos”, aqui, um planejamento alternativo. Com antecedência, compramos usina de oxigênio, cilindro e, por meio da Força Aérea Brasileira, suprimos São Gabriel, Tabatinga, Porto Velho e Manaus. Não faltou oxigênio para as organizações militares de saúde do Exército. Esse centro de operações funciona e trabalha conjugado com a possibilidade de acontecer isso. Terminou essa crise do oxigênio, agora é Porto Alegre, Santa Maria e Rio Grande do Sul. Médicos de Manaus, engenheiros de Manaus, equipes de saúde para reforçarmos o Hospital de Santa Maria, já levamos.


Como está a situação em Manaus?


Em Manaus acalmou, tranquilizou, e no Sul, apertou. Então, deslocamos equipes. A logística no Amazonas é complicada, tem de usar aviões. Mas deslocamos equipamentos de Manaus para Porto Alegre. Nós temos um comando logístico, uma experiência logística. Não morreu ninguém, militar ou dependente nosso, por falta de leito, de apoio, de equipamento (no Exército). Morreu porque está morrendo gente, e lamentamos profundamente. Perdi parentes, tenho amigos na UTI em estado gravíssimo, generais que foram meus amigos. Nesse sentido, queria até ressaltar outros programas que fazemos para amenizar este estresse e sofrimento. Temos desenvolvido campanhas sobre estresse, desemprego, a morte de um ente querido; temos cuidado da saúde mental.


A segunda onda está afetando mais os jovens. Isso tem sido percebido dentro do Exército?


Sim. Temos militares mais jovens que foram evacuados, ou seja, moravam no interior, onde não tinha hospital, e foram transportados para outro local.


Foram necessários reforços nas equipes de saúde?


Sim, tivemos de convocar pessoal médico. Às vezes, tem equipamento, mas não tem equipe médica. Eu não posso transformar um infectologista em três, um intensivista em quatro, por estar abrindo mais 10 leitos. Então, tivemos de convocar e capacitar novas equipes. A primeira fase da pandemia veio em ondas. Começava por Manaus e descia para o resto do país. Melhorava em um estado e piorava em outros, então, a gente deslocava equipes.


Existe o temor de uma terceira onda em nível nacional?


Quando soubemos que França e Alemanha estão começando novo lockdown com esta terceira onda, imaginamos que, como ocorreu na segunda, que começa na Europa, dois meses depois se alastra por outros continentes. Temos de estar preparados no Brasil. Não podemos esmorecer. É trabalhar, melhorar a estrutura física dos nossos hospitais, ter mais leitos, recursos humanos para, se vier uma onda mais forte, a gente ter capacidade de reação.


O Exército, então, já trabalha com a hipótese de uma terceira onda?


É um planejamento contínuo. Tudo que a gente faz sempre tem a visão do futuro. Se temos a notícia de que, lá na frente, pode ter uma terceira onda, temos de estar preparado. Mas torcemos para não termos, que a gente avance, e a vacina está aí para isso.


Qual foi a estratégia para impedir o adoecimento da tropa nos últimos 12 meses?


Depois que os números caíram no Pará, (os casos) vieram para o Rio de Janeiro. Nós socorremos, deslocamos equipes médicas para Belém. Adquirimos equipamentos para reforçar nossos hospitais no Pará. Não faltou leito, pois tivemos êxito nessa operação. A coisa foi se expandindo para o Sul. Agora, os números estão crescendo no Rio de Janeiro. Vamos manobrando com nossos meios, apoiando estados e municípios. Nosso hospital de campanha no Rio é dividido em quatro módulos. Temos um hospital de campanha apoiando o hospital da rede pública, e outro em Manaus ainda. Também apoiamos a própria rede militar em algumas regiões.


Qual é o quadro atual da covid-19 no Exército?


Os números são relativamente bons em relação à população em geral, por conta da prevenção que temos. O índice de letalidade é muito baixo, menor do que na rede pública, graças a essa conscientização, essa compreensão, que é o que eu acho que, se melhorasse no Brasil, provavelmente, o número de contaminados seria bem menor.


Qual é esse índice de letalidade?


Estamos com uma taxa de mortalidade de 0,13%. Ínfima, em termos de comparação com a do país. Eu diria que a maioria dos hospitais são modernos. Os hospitais de porte mesmo são o HCE (Hospital Central do Exército) e o Hospital de São Paulo. Iniciamos a operação covid com 84 leitos de UTI em toda a rede. Fruto de equipamento comprado e transformação da estrutura dos hospitais, chegamos a 280 leitos de UTI em toda a rede militar. Há hospitais da rede pública de São Paulo, daqueles grandes, que têm 280 leitos. Então, é uma rede muito restrita, que mal atende à própria Força. Inclusive, temos convênios com a rede privada, que chamamos de organizações civis de saúde. Encaminhamos nosso paciente para a rede privada, pois não temos leitos suficientes em nossos hospitais.


Mas mesmo os hospitais privados registram falta de leitos de UTI. O que é feito nesses casos?


Quando o hospital privado diz que não há leitos, aí nós vamos ter de nos virar com os que a gente tem. Então, estamos adquirindo materiais, como respiradores e monitores, e transformando leitos de semi-intensiva em intensiva e leitos de enfermaria em semi-intensiva. Com muita prevenção e cuidado, temos nos mantido nos números adequadamente. Nenhum óbito aconteceu por falta de leito, oxigênio ou medicamento na nossa família militar, entre ativos, pensionistas e dependentes.


Como ocorreu a expansão da rede de saúde militar?


O Hospital de Curitiba é bem pequeno, com oito leitos de UTI. Lançamos um módulo de hospital de campanha lá e levamos 10 a 12 leitos com ato de semi-intensiva. Melhorou aqui, piorou ali, temos de fazer a logística de material e transporte para não deixar faltar onde precisa. Quando eu falei de 60 hospitais, são diversas unidades de saúde. Os postos médicos, nem leitos de intensiva e semi-intensiva têm. O paciente que chega ali em estado crítico é evacuado ou para a rede civil ou para um hospital de referência. Já está acontecendo no nosso caso o que chamamos de evacuação aeromédica. Acionamos uma empresa contratada e trazemos o paciente lá de Tefé, no meio da Floresta Amazônica, para Manaus. Ou traz para o Rio de Janeiro, e assim por diante. Onde tem vias de transporte, como no Sul, em caso leve, vem pela estrada. Mas na Amazônia é por meio aéreo.


A transferência pode ocorrer para um hospital público do Sistema Único de Saúde (SUS)?


Pode, e não tem problema. Só não é o normal. Porém, se o hospital de referência for do SUS, como em Tefé, onde só tem posto de saúde, o militar vai para hospital SUS normal. A depender do caso, nós o retiramos do hospital e trazemos para uma rede nossa. Certamente, ele não ficará no hospital mais de 48 horas.


Se tiver um leito vago em um hospital do Exército e um civil precisar de UTI, ele terá acesso?


É aquilo que falei no início. A nossa rede é adequada à Força, ao nosso efetivo. Se for visitar nossa rede, toda ela já está no limite de ocupação. Quiséramos nós ter a capacidade em nossos hospitais de ajudar nesse sentido. O que fazemos é hospital de campanha, como ocorreu em Manaus, em Porto Alegre e no Rio de Janeiro. São anexos a hospitais da cidade. Esse é o apoio que podemos dar.


Então, existem muitas campanhas de conscientização no Exército para incentivar o distanciamento, o uso de máscaras?


Chega a ser uma febre. Agora mesmo estamos recebendo o novo contingente de soldados incorporados. Eles estão com três semanas de instrução. São aqueles recrutas que se alistam, e todas as medidas sanitárias foram colocadas em prática. Desde a chegada ao quartel até a instrução; à noite, na hora de dormir; é o termômetro na entrada, higienização dos pés, álcool em gel, uso da máscara, distanciamento. Nós testamos praticamente todos os recrutas, quase 90%, e o índice de contaminação foi muito baixo. Os infectados foram isolados, com equipes médicas acompanhando. Em 2020, não tivemos nenhum óbito de soldado incorporado ao Exército. Imaginamos que seja pela idade, pela juventude.


E entre os militares mais idosos?


Entre esses, tivemos baixas, generais da ativa que morreram no HFA (Hospital das Forças Armadas). Entram naqueles 0,13% de óbitos. Ao recruta, fizemos um período de internato, e eles conversam com a família por vídeo. Ele pode ir no fim de semana. Eu acho que não tem local mais seguro para um jovem, hoje, do que dentro do quartel, pois ele está sendo acompanhado, fiscalizado sobre as medidas preventivas, instruído. Os índices de infecção são mínimos, e aqueles que se contaminam são resolvidos em internação. Nós temos locais isolados nos quartéis para esse tipo de coisa.


O General Miotto, ex-comandante militar do Sul, morreu por covid-19. Ele era influente no Exército. Existe preocupação maior com os oficiais de mais idade?


Hoje, no Quartel General, não estamos com todo o efetivo cumprindo o expediente normal. Metade vem um dia; outra metade, no outro. Ou metade vem de manhã e metade, à tarde. Todo mundo no ambiente é um risco, almoçando junto... Isso é prevenção que vem sendo feita há um ano. Quem não pode vir, é mais idoso, fica em casa. O general Miotto era um chefe militar, um amigo, que a gente lamenta muito. Mas é um risco, e eu estou aqui agora. Em duas semanas, posso me contaminar e não resistir. Temos oficiais generais internados, e não tem diferença para ocupar um leito. Se um soldado precisar de um leito naquele momento, tem de ser para ele. Temos maior preocupação com quem está com mais de 60 anos. Eu sou de risco, tenho 62, e já tive covid em Belém. Tive sintomas leves, em maio do ano passado. Eu estava em missão, na ponta da linha, viajando. Em algum momento, peguei, levei para minha esposa. Minha sogra, que mora comigo, e tem 84, não pegou.


O índice de infecção aumenta para militares que vão a campo?


Isso aí não tem jeito. A Força não pode parar, a missão continua, com a defesa da Pátria. Tem de ter instrução, adestramento. Estamos em operação, como a Verde Brasil, na defesa do meio ambiente. Então, com precaução, prevenção, fiscalização e disciplina, estamos conseguindo combater a covid sem perder a operacionalidade da tropa.


A segunda onda veio forte, e registramos mais de 3 mil óbitos em um dia. O senhor acredita que o Exército pode colaborar mais no combate à pandemia?


O reflexo na Força é igual. Estamos no limite. Se for, agora, ao Hospital das Forças Armadas, verá dois compartimentos de UTI completamente lotados. Eu sempre vou lá para verificar, pela minha posição de ser o 01 da saúde na Força. Nós estamos no limite, e a gente torce e até reza para que esses números decresçam para não faltar. Até hoje não faltou, mas é um risco que a gente corre.


O país quase todo enfrenta uma situação grave…


É, mas tem locais onde começa a reduzir. No Sul, está tendo uma leve desaceleração. Manaus desacelerou de uma forma que a terceira onda, que já está surgindo na Europa, a gente imagina que, se mantiver a tradição da primeira para a segunda, daqui a dois meses vamos sofrer essa terceira onda. E queremos exatamente a manutenção do planejamento para nos prepararmos para essa terceira onda. É isso que estamos fazendo, e esperamos que o poder público faça também. Eu acredito que, neste momento, estamos no nosso limite. Nossas organizações militares de saúde, nossos hospitais, são muito modestos. Estamos salvando vidas militares nos hospitais privados, pagando de acordo com o contrato. É uma válvula de escape nossa.


O Exército pode atuar na adoção de medidas sanitárias, como o fechamento de vias, se for o caso?


Sim, nós temos organizações militares muito capacitadas, na área de defesa química, biológica. Capacitamos mais de 5 mil militares no Brasil na parte de descontaminação. Hoje, todos os nossos quartéis têm pelotão, de 30 homens, por exemplo, capacitado. É muito comum a imagem daquele grupo de militares encapados, em aeroportos, portos, praças públicas. Em Belém, eu montei a patrulha do ponto de ônibus, com uma equipe protegida, equipamento apropriado, e saía na avenida à noite para desinfetar. Neste ano, realizamos muitas campanhas. Fizemos doações de sangue.


Como a sociedade civil pode se beneficiar desses programas?


Se o presidente de uma empresa quiser fazer descontaminação, é só falar com a gente. Não tem critério, e acontece muito. Em Belém, o Ministério Público pedia, a rodoviária de Belém pedia. Foi feita uma grande descontaminação na Rodoviária do Plano Piloto, nas estações de metrô, pelo Batalhão de Goiânia. Se for privado, às vezes, a empresa tem recursos para bancar, então, às vezes, atuamos na capacitação da equipe de limpeza, por exemplo. Fica três quatro dias no quartel aprendendo a descontaminar.


O Brasil está em guerra contra o vírus?


É um trabalho árduo, pois a medicina ainda não sabe tudo sobre o vírus. É uma mobilização, e o mais importante é que o Exército está pronto para ajudar a nação. As baixas que temos todos os dias são números de guerra. É uma força de expressão, mas é isso. Exige planejamento, integração, conjugação de esforços. Não conseguimos fazer tudo sozinho. Na Amazônia, é muito comum solicitar apoio. A Força esteve nesse ano inteiro e estará até o último momento do lado do Brasil, reduzindo o sofrimento desta, em tese, guerra.


O senhor falou em coordenação, campanha. O governo federal não tem uma campanha em nível nacional pelo uso de máscaras, distanciamento. Falta orientação para a população?


Nós acompanhamos o que acontece pelas mídias sociais, pela imprensa. Eu não tenho a condição de fazer um juízo de valor sobre o que está sendo feito ou deixado de fazer. Eu vejo um esforço grande, por parte dos órgãos gerais, de tentar conscientizar. Agora, é uma população de 200 milhões de habitantes, com problemas sociais diversos, com cinturões marginais nas grandes megalópoles. Às vezes, é difícil chegar à ponta da linha com essa orientação. Acho que há campanhas positivas.


O ministro da saúde e o próprio presidente chegaram a recomendar o uso de medicamentos sem eficácia científica comprovada contra a covid-19. No Exército, isso não acontece...


No Exército, temos protocolos muito bem elaborados, difundidos, que dizem qual a conduta entre médico, paciente e família para o melhor tratamento. Se vai dar a medicação A, B, C, O, D, é decidido entre médico e paciente. Eu não tenho restrição, nem a medicamento nem a tratamento.


O Ministério Público Federal investiga o governo por eventuais irregularidades na condução da pandemia. O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello é do Exército, e tem outros 6 mil militares no Executivo. Existe algum constrangimento da ligação da imagem das Forças Armadas com as falhas do governo?


Nessa área política, fica difícil para a gente. Eu prefiro não comentar. Mas acho que o Pazuello foi convocado pelo presidente para uma missão. Ele aceitou, saiu da Força, pediu licença e está lá fazendo seu papel. Não vou fazer juízo de valor do trabalho dele. Eu não conheço o âmago do que ocorre lá dentro. Conheço o Pazuello, convivi com ele na Amazônia, na 12ª Região Militar. Ele cumpriu a missão que o presidente deu a ele.


A segunda onda está preocupando mais?


Total. Está sendo pior que a primeira para o Brasil inteiro. A curva é muito mais ascendente. Aprendemos com a primeira, e, com certeza, se vier a terceira, a segunda terá nos dado lições. O esforço hoje do Exército para reduzir os números de contaminação é impressionante. Todo dia, nosso comandante, o general Leal Pujol, faz videoconferência conosco e recomenda para que a ponta da linha use máscara, álcool em gel, distanciamento. Não tem mais formatura militar. Quando vai fazer algum evento são 10, 20, no máximo. Agora mesmo, teve aniversário de uma companhia, e foi meia dúzia de gatos pingados.


O Exército está em lockdown?


É... Seria isso. É uma preocupação propagar o vírus. Mas não paramos nada. Se for ali ao Batalhão de Guarda Presidencial, está tendo instrução de tiro, de armamento, educação física. O treinamento físico controlado, tomar sol, vitamina, com nossos médicos acompanhando o tempo todo. Por isso, está com 0,13% de mortalidade. Tem internato de quatro semanas para todos. Antes, os recrutas voltavam para casa todo dia. Essa gurizada, agora, quando chegar em casa, estará consciente. Eles estão sendo massificados com campanha. Os militares que têm parentes em grupos de risco não precisam ir para casa. Aqui, temos alimentação, dormitório.


Como está o apoio às comunidades indígenas?


A nossa tropa é muito próxima das comunidades indígenas. Apenas na Amazônia Ocidental são 24 pelotões de fronteira, perto da Colômbia, da Venezuela. E, do lado de cá, é índio, do lado de lá, também, ou estamos dentro da própria terra indígena. Na área da Cabeça do Cachorro, tem dois pelotões. O médico do pelotão é o da tribo. Essa interação é impressionante. O indígena tem uma imunidade diferente, e existe um cuidado maior da nossa parte. Na vacinação, helicópteros vão lá com todos da equipe testados e com resultado negativo, todos empacotados para ir lá, vacinar e sair para não deixar contaminar. Um só que se contamine causa um grande estrago. Quando surge uma notícia de infecção em determinada comunidade, nós vamos avaliar. Surgiu a notícia da morte de três indígenas por covid. Chegamos lá, e não era covid, mas houve casos. Agora, a população indígena está toda vacinada, todas as comunidades. Risco sempre tem, mas reduzimos isso.


O Brasil poderia estar numa situação melhor?


Eu respondo pelo nosso DGP, nosso Exército. Como autoridade máxima na área de saúde da Força, acho que estamos cumprindo nosso dever. Os números estão aí, e apoiando a nação naquilo que é possível para enfrentar esse problema

48. Antes que seja tarde (semana 48) - Ereto da Brocha

 48. Antes que seja tarde (semana 48)

Ereto da Brocha   

 

[Nota PRA: Não tão tarde quanto das vezes anteriores, mas ainda assim me chegando quando o drama já se encerrou – pelo menos uma parte dele –, nosso Cronista Misterioso do Itamaraty escreveu uma simples recomendação ao infeliz, patético, idiota chanceler acidental, mas refletindo a grotesca “inquisição” (perdão pelo termo) desse personagem risível e lamentável pelos senadores na fatídica sessão que selou seu destino já traçado por ele mesmo: ser um pária, mas fora do Itamaraty. Não sei se a partir de agora nosso Batman do Itamaraty vai continuar sua obra memorável, já que o espantalho e o estropício já se foi, mas suponho que teremos pelo menos mais uma crônica para saudar sua saída. Pronto: a loucura terminou, pelo menos dentro da Casa de Rio Branco. EA poderá continuar suas loucuras por aí, provavelmente dentro de algum bunker bolsolavista, mas pelo menos os diplomatas, 99,9% deles, já não terão o desprazer, o desgosto, a infelicidade de serem representados por criatura tão canhestra, tão bizarra, tão desvio-padrão, no itinerário bissecular de nossa instituição. Nas tabelas estatísticas, a falta de dados é sinalizada por ... ou (...), ou ainda –. Pois é isso que EA, o chanceler acidental, o PIOR ministro de toda a nossa história, deve merecer na lista ou na galeria dos chanceleres; ele foi o buraco negro que quase tragou todo o serviço exterior. Mas atenção, o inepto que comandou o circo ainda continua no poder e pretende continuar infelicitando o Brasil e os brasileiros. Aguardo o próximo petardo, talvez o definitivo, do nosso Cronista Misterioso, a quem saúdo pela sua obra de desconstrução – com a minha contribuição – desse ser bizarro que o levou a conceber um nom de plume ainda mais bizarro. Até a próxima.]

 

 

Peço vênia, camarada leitor, para fazer uma breve digressão, talvez um desabafo, no relato de hoje. Depois, abordarei sem falta o descalabro que foi a sabatina do chanceler do horror em nosso Senado Federal.

 

Lutamos durante décadas, desde os tempos do Silveirinha, quiçá desde antes, para consolidar uma diplomacia pragmática, realista, responsável, independente, justa, alinhada com o desevolvimento do país, etc… Seja lá qual alcunha cada um queira dar, nossa diplomacia gerou frutos indiscutivelmente positivos para o país e tornou o Itamaraty um pináculo ante as casas diplomáticas. Obviamente tivemos discordâncias ao longo do caminho… Discordamos sobre rumos a serem tomados, sobre regiões a serem enfocadas e sobre picuinhas menores, mas operávamos com base na razão, na razoabilidade e na continuidade positiva e propositiva. 

 

ANOS de uma lenta e indiscutivelmente correta caminhada rumo ao desenvolvimento nacional. Quando de repente, não mais que de repente, Ernesto e sua récua de acéfalos, em dois anos e pico, destruiram tudo aquilo que construímos… Até me corre um arrepio de ódio e desespero pela espinha ao escrever estas linhas, mas o terrível dever é continuar. NUNCA, e eu repito, NUNCA, nos deparamos com tamanha loucura na política externa. Aproveito para me desculpar de antemão com os loucos, mas me falta vocabulário para tudo que vivemos. E a era da loucura no Itamaraty precisa acabar.

 

Ernesto é, antes de tudo, um bobo. E entrou em um lodaçal com nosso Senado. Foi o mais humilhante episódio de um diplomata no Senado. Não se tratou, porém, de uma humilhação injusta ou de uma armadilha, tratou-se de um correto esculacho aplicado pelos senadores a um homem que envergonha a diplomacia, o Itamaraty, a cadeira de Rio Branco, o Brasil e, principalmente, a inteligência como instituição.

 

Vivenciamos cinco horas excruciantes de balbuciantes ataques irracionais de Ernesto, desculpas esfarrapadas e birras chorosas de uma criança mal-criada e descompensada. Amigos, Ernesto chorou com a pressão (justa) dos senadores. Não soube justificar sua louca política de ataques à China e de lealdade incondicional a Trump. Ouviu da unanimidade dos senadores que deveria renunciar para o bem do Brasil e do mundo. Como se não bastasse, levou a tiracolo o menino Filipe Martins, representante do olavismo no planalto. Este, como uma criança que esconde travessuras, julgando-se genial, acenou a supremacistas brancos, enquanto fingia, quase corado, que ajeitava seu paletó. 

 

Mas os senadores ecoaram a voz do interesse nacional, que, em meio a 300 mil cadáveres, não pode mais tolerar brincadeiras de criança no Gabinete do Barão. Ernesto, saia antes que seja tarde.

 

Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN