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terça-feira, 22 de julho de 2025

Israel: entre a tradição e as contradições do momento presente - via Airton Dirceu Lemmertz (Não É Imprensa)

Israel: entre a tradição e as contradições do momento presente

(disponibilizado por Airton Dirceu Lemmertz, a quem agradeço por sempre permitir o acesso a material do mais alto interesse e relevância intelectual)

Abaixo, trechos (no YouTube) dos quatro episódios do documentário "A Nação que sobrevive no deserto" (2025), que revela as complexidades da vida cotidiana em Israel, um país marcado pela diversidade cultural e pela convivência de diferentes religiões e etnias. A íntegra dos episódios está no portal NEIM (https://www.naoeimprensa.com/).


EPISÓDIO 1: O DIREITO DE EXISTIR.
Partindo do massacre do dia 7 de outubro, os entrevistados fazem suas reflexões sobre a história de Israel e a situação política atual.

O primeiro episódio na íntegra:
(26 minutos)

EPISÓDIO 2: PERSEVERAR.
A experiência do Shalva, entidade que cuida de crianças com deficiência em Jerusalém, retratada poeticamente como a perseverança de um povo perseguido que vive num país em guerra, com todas as limitações e superações.

O segundo episódio na íntegra:
(23 minutos)

EPISÓDIO 3: UNIDOS NA DIVERSIDADE.
O que é ser israelense, considerando a dinâmica de um país multicultural e religiosamente variado? Neste episódio, buscamos saber como tantas diferenças podem moldar um instinto de nacionalidade.

O terceiro episódio na íntegra:
(17 minutos)

EPISÓDIO 4: OS VALORES DO PROGRESSO.
Queremos entender o papel da cultura judaica no desenvolvimento econômico de Israel. O que explica o paradoxo de um povo milenar estar sempre na vanguarda científica e tecnológica?

O quarto episódio na íntegra:
(14 minutos)

A coletânea dos episódios:
(NEIM)

Trailer:

sábado, 28 de junho de 2025

Senhor Deus dos desgraçados ( mas isto não é um poema) - Paulo Roberto de Almeida

Senhor Deus dos desgraçados

(mas isto não é um poema):

Paulo Roberto de Almeida 

Aviso aos navegantes, de direita e de esquerda, semitas e antissemitas, sionistas e antissionistas (e já vou avisando que eu não sou nem uma coisa, nem outra, muito pelo contrário, pois não tenho partido, nem religião, sequer um timezinho de futebol):

Os maiores inimigos de Israel, do povo judeu, da ideia mobilizadora do sionismo e daquele velho ideal da “única democracia” no Oriente Médio são a clique fascista e genocidária atualmente instalada no poder em Israel e seus auxiliares, que conduzem um morticínio sistemático contra o povo palestino, a pretexto de combater um movimento terrorista fascista e genocidário, e que estão se igualando a outros grandes, talvez os maiores, criminosos de guerra da história recente da humanidade (digamos nas últimas nove décadas).

Estou desistindo de ver noticiário na TV (e vejo quase todos os canais nacionais e várias internacionais (em inglês, francês, italiano, espanhol, lusitano etc., além de rádios e ferramentas de comunicações sociais) porque não suporto mais ver, todos os dias, dezenas de mortos, civis, desarmados, na fila da farinha (nem é comida de verdade), mulheres, crianças, velhos, todo mundo.

Alguém aguenta ver?

Tem alguma justificativa?

Quem pode ficar indiferente a essas imagens ou relatos?

Tem alguém com alma de Castro Alves para compor um novo poema do morticínio absoluto e irrestrito?

Por que tanto horror perante os céus?

Qual é a ideia que sustenta o genocídio? A impossibilidade de limpar o terreno para construir um balneário, um resort de luxo?

A ONU está muito distante e a clique dos criminosos de guerra, Netanyahu e snypers, muito perto?

O que dirão, vários anos à frente, os filhos e netos de judeus e palestinos aos seus antecessores que sobreviveram à tragédia? Vocês não fizeram nada? Assistiram a tudo aquilo absolutamente impassíveis?

Não posso crer e também não posso fazer nada, além de me comover e desejar não saber mais dessas coisas.

Só tenho este minúsculo espaço para expressar minha inconformidade. É pouco, muito pouco…

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 28/06/2025


terça-feira, 24 de junho de 2025

O Brasil no ‘eixo dos hipócritas’ - Editorial do Estadão

O Brasil no ‘eixo dos hipócritas’

Posicionamento do governo no conflito entre Israel e Irã repete o padrão de críticas seletivas e condescendência com autocracias que conspurca a credibilidade diplomática do Brasil

Notas & Informações,
Editorial do Estadão, 24/06/2025
https://www.estadao.com.br/opiniao/o-brasil-no-eixo-dos-hipocritas/

        A nota do Itamaraty sobre a ofensiva dos EUA ao Irã, longe de defender princípios democráticos ou a estabilidade internacional, é mais uma demonstração de alinhamento do governo Lula da Silva ao bloco autocrático global. Essa posição, marcada por um duplo padrão diplomático, põe o Brasil em rota de colisão com a tradição histórica de equilíbrio e prudência que sempre orientou sua política externa.
        No conflito entre Israel e Irã, o governo brasileiro formou com a Rússia o que se pode chamar de “eixo da hipocrisia”. A Rússia, que viola a soberania da Ucrânia numa guerra de agressão, condenou “com veemência” os ataques a alvos militares e instalações nucleares iranianas, reprovando-os como violações da soberania e do Direito Internacional. O Brasil, que jamais condenou “com veemência” a agressão russa na Ucrânia nem repudiou o bombardeio russo a uma das usinas nucleares ucranianas, também condenou o ataque americano ao Irã “com veemência”, salientando que “qualquer ataque armado a instalações nucleares representa flagrante transgressão da Carta das Nações Unidas”.
        Da Rússia, é claro, não se pode esperar nada, mas o Brasil deveria ao menos levar em conta o contexto real do ataque americano: o Irã é a maior fonte de instabilidade no Oriente Médio, um país cuja liderança teocrática prega abertamente a aniquilação de Israel e mantém uma guerra por procuração por meio de milícias como Hamas, Hezbollah e Houthis. Nessa guerra antiga e complexa, Israel não apenas tem o direito, mas o dever de se defender, assim como os EUA têm razões de sobra para apoiar a campanha israelense.
        O governo Lula opta por um silêncio cúmplice sobre a agressividade iraniana, enquanto faz questão de condenar as ações preventivas de Israel e dos EUA. Essa inversão de valores não é uma falha pontual, mas parte de um duplo padrão que marca a diplomacia lulopetista: criticar aliados democráticos e alinhados ao Ocidente, enquanto contemporiza com regimes autoritários, repressivos e fundamentalistas.
        O alinhamento com o Irã é só uma faceta desse quadro mais amplo. Do ponto de vista do Direito Internacional, o ataque americano é, de fato, controverso. Mas ao menos pode ser defendido com argumentos razoáveis, como o direito à autodefesa coletiva em face da ameaça nuclear iraniana. Já a invasão russa à Ucrânia não tem qualquer sombra de justificativa legítima. O governo brasileiro, contudo, opta pela ambiguidade e a condescendência com os crimes de Moscou.
        A hipocrisia é mais evidente à luz do histórico diplomático dos governos petistas. Em 2010, sob o comando de Lula, a diplomacia brasileira protagonizou uma desastrada mediação com o Irã de um acordo nuclear, ignorando alertas e fragilizando a posição brasileira no cenário internacional. A tentativa de protagonismo desmedido e voluntarismo diplomático expôs o País ao ridículo e aos riscos de alinhamento com um regime que ameaça a paz mundial.
Hoje, ao repetir o mesmo alinhamento, o governo reforça sua afinidade ideológica com regimes autoritários – Irã, Rússia, China e outros –, rompendo com a tradição de equilíbrio e prudência que sempre pautou a política externa brasileira.
Após a ofensiva dos EUA contra o Irã, as democracias sérias fizeram um apelo à moderação e ao resgate das vias diplomáticas, mas evitaram condenar o ataque e nem de longe legitimaram um regime beligerante e delinquente como o iraniano. Ao contrário: reconhecem o perigo concreto representado pela teocracia xiita, responsável por fomentar o terrorismo, desestabilizar o Oriente Médio e perseguir sistematicamente a fabricação de armas nucleares – uma ameaça que transcende fronteiras e atinge a segurança global.
        O que o Brasil ganha com essa adesão à aliança de autocracias? Quais benefícios estratégicos ou diplomáticos justificam associar o País a regimes que promovem a instabilidade internacional, violam direitos humanos e desafiam o multilateralismo baseado em regras? As respostas são óbvias: tudo isso só serve para satisfazer a rançosa ideologia antiamericana e antiocidental do lulopetismo.


Ex-embaixador Ricupero aponta incoerência da diplomacia brasileira sobre Irã e Ucrânia (VEJA+)

Ex-embaixador Ricupero aponta incoerência da diplomacia brasileira sobre Irã e Ucrânia

VEJA+, 24 de jun. de 2025
https://www.youtube.com/watch?v=BaTowtrvAUI

Na nova edição do Ponto de Vista, o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Rubens Ricupero, comenta a reação do governo brasileiro ao ataque israelense contra instalações nucleares do Irã. Em conversa com Robson Bonin e Marcela Rahal, o diplomata avalia a nota divulgada pelo Itamaraty, que condenou “com veemência” a ação de Israel.


“Do ponto de vista formal, a nota está correta. O ataque é ilegal e não foi autorizado pela ONU. Mas é curioso: a nota do Brasil foi mais dura do que a da China”, afirma Ricupero.

O embaixador também destaca o contraste da posição brasileira em relação à guerra na Ucrânia. “Lá, o governo evita condenar a Rússia. Isso gera uma percepção de incoerência”, diz.

Ricupero analisa ainda o contexto regional e internacional envolvendo o Irã: “Nenhum país deseja que o Irã adquira armas nucleares. Por isso, há até certo alívio mundial com o prejuízo ao programa nuclear iraniano.”

Assista à análise completa sobre a guerra no Oriente Médio, os bastidores da diplomacia internacional e os impactos da política externa brasileira neste cenário delicado.

sábado, 14 de junho de 2025

Morte ao… - Paulo Roberto de Almeida

Morte ao…

Movimentos terroristas ao redor do mundo, especialmente os islâmicos, costumam ser adeptos do … terrorismo, para ser redundante.

Mas poucos países, talvez nenhum Estado membro da ONU é capaz de proclamar abertamente sua intenção de eliminar um outro Estado da face da Terra como o regime teocrático dos aiatollahs iranianos em relação ao Estado judeu: “Morte a Israel!”

É algo raro, provavelmente inédito nas relações internacionais, esse desejo “estatal” expresso assim como se se tratasse de um programa normal de governo, assim sinceramente (não sei se já foi dito claramente numa AGNU).

Não vão, provavelmente, cumprir esse objetivo, e talvez até aconteça o exato contrário, não o Estado iraniano, mas o regime islâmico xiita.

No tempo do bolchevismo radical, os comunistas também desejavam a “morte do capitalismo”, mas era uma ingênua profecia marxista-leninista. 

Os movimentos terroristas possuem objetivos concretos. Não sei se os aiatollahs acreditam realmente no que proclamam, ou se se trata apenas de um slogan oportunista para congregar os true believers do antissionismo.

O fato é que a atual guerra Irã-Israel transcende a simples geopolitica dos conflitos interestatais “normais”, digamos assim. Putin também deseja eliminar, suprimir completamente a soberania do Estado ucraniano, mas arguindo sobre supostas ameaças da OTAN, o que pode ser um “legítimo” argumento geopolítico, mas que não ocorre no caso do atual regime iraniano, cujo programa nuclear é objeto de preocupação do P5+1 e da comunidade internacional.

Um caso único para estudo dos especialistas em Direito Internacional e diplomatas em geral.

O Brasil, se não me engano, condena o terrorismo, inclusive como preceito constitucional. Não sei se esse aspecto é lembrado quando o Itamaraty (ops, o Planalto) emite alguma Nota sobre o atual conflito.

Paulo Roberto Almeida

Brasília, 14/06/2025


sábado, 21 de setembro de 2024

Israel’s bravery has exposed the lie at the heart of Starmer’s foreign policy - Allister Heath (The Telegraph)

Israel’s bravery has exposed the lie at the heart of Starmer’s foreign policy

The battle that Jerusalem faces is not just defending the Jewish state.  It is abou upholding civilization itself.

https://www.telegraph.co.uk/news/2024/09/18/israel-hezbollah-exploding-beepers-devices-war-hamas/

The Telegraph, 18 September 2024

By Allister Heath

“Robbed of its moral bearings, bereft of any sense of right and wrong, incapable of distinguishing heroes from villains, the West can no longer celebrate when good triumphs over evil. 

Israel’s brilliantly audacious booby-trapping of thousands of Hezbollah pagers, followed by the blowing up of the terror group’s walkie-talkies, is a stunning fillip for the forces of civilisation worldwide. 

A tiny nation of just 9.3 million, of which 7.2 million are Jewish, living in a country the size of Wales, reeling from the worst anti-Semitic pogroms since the Holocaust, Israel is leading the war against barbarism, its young conscripts doing a job that would once have required intervention by a Western coalition acting as global policeman. 

The fact that so many in Britain, Europe and America, especially the young, no longer take Israel’s side in this existential combat exemplifies our cultural, intellectual and ethical degeneration. 

The Biden administration is obsessed with preventing “escalation”, even though that is what is required if Iran is to be stopped from gaining the means to wage a nuclear World War III. All too predictably, America, seemingly determined to ensure the survival of every regional terror group, appeared upset at the successful attack on Hezbollah. David Lammy, our foreign secretary, is delivering speeches claiming climate change is a worse threat than terrorism; in a rational world, Lammy would be privately congratulating his Israeli counterparts for the most successful surgical operation ever conducted against a terrorist organisation, with few civilian casualties, and pledging Britain’s help. 

Instead, Keir Starmer has turned against Israel, banning the sales of some weapons – a policy that Germany appears intent on following – and refusing to oppose lawsuits against the Jewish state, in an unforgivable moral inversion. 

Labour has placed Britain on the side of those nihilists masquerading as human rights lawyers who negate the essential distinction between victims and aggressors, between rule-bound, democracies desperate to minimise civilian casualties, and bloodthirsty dictatorships for whom their people are pawns to be sacrificed. 

Hezbollah is funded and controlled by the Iranian regime, an obscurantist, fascistic, millenarian tyranny that persecutes minorities, women and dissidents. Violating human rights and plotting war crimes is Hezbollah’s raison d’être: its 150,000 missiles point towards civilian centres and, like Hamas and Iran itself, it seeks Israel’s liquidation, guaranteeing the massacre, expulsion or subjugation of Jews. Hezbollah has forced some 63,473 Israelis to flee their homes since October 7. This is unsustainable and explains why a major Israeli response is looming; obscenely, this will trigger widespread condemnation of the Jewish state.

Western foreign policy is a mishmash of cowardice, delusion and contradictions. Iran is a threat to the world; its alliance with Russia is deepening. Turkey, led by the despot Recep Tayyip Erdoğan, has threatened Israel with invasion, yet remains part of Nato. Qatar, which puts up senior Hamas terrorists in luxury hotels, is a major non-Nato ally of the US, home to a crucial Western military base and a major investor in London. Egypt, a recipient of US aid, has tolerated myriad tunnels to southern Gaza, refused to let in any Palestinians and, bizarrely, is not held responsible for supplying Gaza with provisions, that task falling to Israel. None of the three latter regimes face sanctions: global ire is reserved for Israel. 

One reason Western elites have become so Israelophobic is that, infected by wokery, they increasingly loathe Europe’s and America’s history and traditions, and view the Jewish state as a standout example of a Western model they reject. 

Winston Churchill would be convicted for crimes against humanity today, as would Franklin D Roosevelt and Harry Truman. D-Day would be ruled illegitimate because so many French civilians died during the Battle of Normandy.

Democracies might as well not bother with nuclear weapons, for detonating one, even in retaliation for an unprovoked attack, would be deemed a war crime. I’m in favour of much stricter rules than those governing World War II, of doing everything possible to protect civilians, but this is madness. 

The Just War is a foundational principle. States have the right to defend themselves. Every civilian life lost as collateral damage is a tragedy, but pacifism is a deluded utopia that fails to grasp the reality of the human condition. It is madness to criminalise all warfare, and despicable to focus on that conducted by democracies and ignore that advanced by our enemies.

It is equally stupid to entrust so much power to legal activists. Much historic anti-Semitism has been ratified by kangaroo courts, including during the 1930s. The Trial of the Talmud took place in France in 1240, with rabbis forced to defend religious texts against trumped-up accusations of blasphemy and obscenity. 

Other bigot-fests masquerading as ordinary trials include the Disputations of Barcelona and Tortosa, the Damascus Affair, the Dreyfus affair that prompted Emile Zola’s seminal J’accuse, and the trial of Mendel Beilis in Ukraine in 1913. It is a well-established model that hasn’t gone out of fashion in far-Left quarters. They no longer explicitly single out religious beliefs or individuals but leverage lawfare to delegitimise what just happens to be the only Jewish state. 

The fact that the International Criminal Court and the International Court of Justice have the trappings of a legitimate legal setting does not mean they necessarily embody justice. The fact that their rulings are deemed legitimate by Left-wing elites doesn’t automatically make them such. The fact that today’s blood libels take on the language of “human rights” doesn’t make them less monstrous. The fact that it is possible for a country as unjustly governed as South Africa to lead a genocide case against Israel proves that the entire system is rotten. The case is backed by Iran, Brazil’s far-Left president, Ireland and Egypt: we must have been transported into an alternative, Kafkaesque universe. 

Israel is the supreme embodiment of law-bound national, democratic sovereignty, of peoplehood, of matching a nation to a state, of post-imperialism, of capitalism and technology, and of the continued relevance of the monotheistic religions. If you tear down Israel, you destroy the very ideas that underpin the West, the international order implodes and the autocracies triumph. 

The stakes are thus unbelievably high. We must support Israel, and allow it to finish the job of annihilating Hamas and defeating Hezbollah.”


sábado, 24 de fevereiro de 2024

O governo Netanyahu é um GOVERNO GENOCIDA - Pronunciamento do secretário-geral de MSF, Christopher Lockyear, ao Conselho de Segurança da ONU

Pronunciamento do secretário-geral de MSF, Christopher Lockyear, ao Conselho de Segurança da ONU


NY, 22 de fevereiro de 2024

Senhora presidente, excelências, colegas,

No momento em que pronuncio estas palavras, mais de 1,5 milhão de pessoas estão encurraladas em Rafah. Pessoas que foram violentamente forçadas a irem para esta faixa de terra no sul de Gaza estão arcando com as consequências da campanha militar de Israel.

Vivemos sob o medo de uma invasão terrestre.

Nossos temores são baseados na nossa própria experiência. Há apenas 48 horas, quando uma família estava ao redor de uma mesa de cozinha em uma casa que abrigava funcionários de MSF e suas famílias em Khan Younis, um projétil de 120mm disparado por um tanque rompeu as paredes do local e explodiu, iniciando um incêndio, matando duas pessoas e deixando outras seis com queimaduras severas. Cinco dos seis feridos são mulheres e crianças.

Havíamos tomado todas as precauções possíveis para proteger os 64 trabalhadores humanitários e membros de suas famílias de um ataque desse tipo, notificando as partes em conflito sobre a localização e marcando claramente o edifício com uma bandeira de MSF. Apesar das nossas precauções, nosso prédio foi atingido não apenas por um disparo de tanque, mas por tiros intensos. Algumas pessoas ficaram presas no prédio em chamas enquanto os disparos contínuos atrasavam a chegada de ambulâncias ao local. Hoje pela manhã, olho para fotos que mostram a extensão catastrófica dos danos e vejo vídeos de equipes de resgate retirando corpos carbonizados dos escombros.

Isto tudo é extremamente familiar – forças israelenses atacaram nossos comboios, detiveram nossos funcionários e destruíram nossos veículos com tratores, e hospitais foram bombardeados e invadidos. Agora, pela segunda vez, um dos abrigos onde estavam nossos funcionários foi atingido. Ou este padrão de ataques é intencional ou é um indicativo de incompetência negligente.

Nossos colegas em Gaza têm medo de que, conforme eu pronuncio hoje essas palavras, eles sejam punidos amanhã.

Senhora Presidente, todos os dias nós testemunhamos o horror inimaginável.

Nós, assim como tantos outros, ficamos horrorizados pelo massacre praticado pelo Hamas em Israel em 7 de outubro, e ficamos horrorizados pela reação de Israel. Sentimos a angústia das famílias cujos entes queridos foram feitos reféns em 7 de outubro. Sentimos a angústia das famílias daqueles detidos arbitrariamente de Gaza e da Cisjordânia.

Como humanitários, ficamos perplexos com a violência contra civis.

Estas mortes, destruição e deslocamentos forçados são o resultado de escolhas políticas e militares que desrespeitam flagrantemente as vidas de civis.

Estas escolhas poderiam ter sido feitas, e ainda podem ser feitas, de maneira muito diferente.

Por 138 dias, testemunhamos o sofrimento inimaginável da população de Gaza.

Por 138 dias, temos feito tudo que é possível para efetuar uma resposta humanitária relevante.
Por 138 dias, temos assistido à destruição sistemática de um sistema de saúde que apoiamos há décadas. Temos assistido aos nossos colegas e pacientes serem mortos e mutilados.

Esta situação é o ponto culminante de uma guerra travada por Israel contra toda a população da Faixa de Gaza— uma guerra de punição coletiva, uma guerra sem regras, uma guerra a qualquer preço.

As leis e os princípios dos quais dependemos coletivamente para permitir a assistência humanitária estão agora corroídos ao ponto de perderem seu significado.

Senhora Presidente, a resposta humanitária em Gaza é uma ilusão —uma ilusão conveniente que perpetua a narrativa de que esta guerra está sendo travada em linha com leis internacionais.

Apelos por mais assistência humanitária ecoaram nesta sala.

Ainda assim, em Gaza temos cada vez menos a cada dia—menos espaço, menos medicamentos, menos comida, menos água, menos segurança.

Já não falamos mais de intensificar a ação humanitária; falamos de sobreviver mesmo sem o mínimo necessário.

Hoje, em Gaza, os esforços para prover assistência são irregulares, episódicos e totalmente inadequados.

Como podemos oferecer ajuda que salva vidas em um ambiente onde a diferença entre combatentes e civis não é levada em conta?

Como podemos manter qualquer tipo de resposta quando trabalhadores médicos são alvejados, atacados e demonizados por atender aos feridos?

Senhora Presidente, ataques a serviços de saúde são ataques à humanidade

Não restou nada que possa ser chamado de um sistema de saúde em Gaza. Os militares de Israel desmantelaram hospitais, um após o outro. O que restou é tão pouco diante de tamanha carnificina que é simplesmente absurdo.

A desculpa dada é a de que as instalações médicas foram usadas para fins militares, embora não tenhamos visto qualquer prova verificada de maneira independente de que isso tenha ocorrido.

Em circunstâncias excepcionais nas quais um hospital perde seu status de local protegido, qualquer ataque deve atender aos pricípios de proporcionalidade e cautela.

Ao invés da aderência à lei internacional, vemos a inutilização sistemática de hospitais. Isto tem deixado inviáveis as operações de todo o sistema médico.

Desde 7 de outubro, fomos forçados a evacuar nove instalações de saúde distintas.

Há uma semana, o hospital Nasser foi invadido. O pessoal médico foi forçado a sair apesar de ter recebido garantias reiteradas de que poderia ficar para continuar atendendo aos pacientes.

Estes ataques indiscriminados, assim como os tipos de armas e munições utilizadas em áreas densamente povoadas, mataram dezenas de milhares de pessoas e mutilaram outros milhares.

Nossos pacientes têm ferimentos catastróficos, amputações, membros esmagados e queimaduras graves. Eles precisam de atendimento especializado. Precisam de reabilitação longa e intensiva.

Médicos não podem tratar estes ferimentos em um campo de batalha ou nas cinzas de hospitais destruídos.

Não há leitos, medicamentos e suprimentos suficientes.

Cirurgiões não tiveram escolha a não ser realizar amputações sem anestesia em crianças.

Nossos cirurgiões estão ficando até sem gaze para impedir que seus pacientes sangrem. Eles usam uma vez, espremem o sangue, lavam, esterilizam e reutilizam para o próximo paciente.

A crise humanitária em Gaza deixou grávidas sem cuidados médicos por meses. Mulheres em trabalho de parto não podem aceder a salas de parto. Estão dando à luz em barracas de plástico ou edifícios públicos.

Equipes médicas agregaram um novo acrônimo ao seu vocabulário: WCNSF — sigla em inglês para criança ferida sem familiar sobrevivente.

As crianças que sobreviverem a esta guerra não vão carregar apenas os ferimentos visíveis das lesões traumáticas, mas também os invisíveis—aqueles causados pelos reiterados deslocamentos, medo constante e por testemunhar membros da família serem literalmente despedaçados diante de seus olhos. Essas feridas psicológicas têm levado crianças tão pequenas como de 5 anos nos dizer que preferiam estar mortas.

Os riscos para o pessoal médico são enormes. Todos os dias, temos feito a escolha de prosseguir com o nosso trabalho diante do perigo cada vez maior.

Estamos apavorados. Nossas equipes estão mais do que exaustas.

Senhora Presidente, isso tem de parar.

Nós, junto com o resto do mundo, temos acompanhado de perto o modo como este Conselho e seus membros têm abordado o conflito em Gaza.

Reunião após reunião, resolução após resolução, este órgão não conseguiu endereçar de maneira efetiva este conflito. Vimos membros deste Conselho deliberarem e agirem com atraso enquanto civis morrem.

Estamos perplexos com a disposição dos Estados Unidos de usar seus poderes como membro permanente do Conselho para obstruir os esforços para a adoção da mais evidente das resoluções: uma pedindo um cessar-fogo imediato e sustentado.

Por três vezes este Conselho teve a oportunidade de votar por um cessar-fogo que é tão desesperadamente necessário, e por três vezes os Estados Unidos usaram seu poder de veto, mais recentemente na última terça-feira.

Uma nova proposta de resolução feita pelos Estados Unidos pede de maneira ostensiva por um cessar-fogo. Apesar disso, ela é no mínimo falaciosa.

Este Conselho deveria rejeitar qualquer resolução que obstrua ainda mais os esforços humanitários no terreno e leve este Conselho a endossar de maneira tácita a violência contínua e as atrocidades em massa em Gaza.

A população de Gaza precisa de um cessar-fogo não quando seja “viável” mas agora. Eles precisam de um cessar-fogo sustentado, não “um período temporário de calma”. Qualquer coisa que fique aquém disso é negligência grosseira.

A proteção de civis em Gaza não pode estar condicionada a resoluções deste Conselho que instrumentalizem o humanitarismo para ocultar objetivos políticos.

A proteção de civis, de infraestrutura civil, de trabalhadores da saúde e de instalações de saúde recai, antes de mais nada, sobre as partes envolvidas no conflito.

Mas é também uma responsabilidade coletiva, uma responsabilidade que recai sobre este Conselho e seus membros individuais, como aderentes à Convenção de Genebra.

As consequências de deixar que o Direito Humanitário Internacional torne-se letra morta repercutirão muito além de Gaza. Isto será um fardo duradouro em nossa consciência coletiva. Não se trata apenas de inação política, tornou-se cumplicidade política.

Há dois dias, uma equipe de MSF e suas famílias foram atacados e pessoas morreram em um lugar onde havia sido dito a elas que estaria protegido.

Hoje, nosso pessoal está de volta ao trabalho, arriscando mais uma vez a vida pelos pacientes.

O que vocês estão dispostos a arriscar?

Nós exigimos as proteções prometidas sob o Direito Humanitário Internacional.

Exigimos um cessar-fogo de ambas as partes.

Exigimos que haja espaço para transformar a ilusão da assistência em assistência realmente significativa.

O que vocês farão para que isso seja possível?

Muito obrigado, Senhora Presidente.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Atitudes de Lula em questões internacionais prejudicam Brasil na política externa - R7, Portal Correio

Atitudes de Lula em questões internacionais prejudicam Brasil na política externa, dizem especialistas

Presidente brasileiro se tornou 'persona non grata' para Israel após comparar ações de defesa israelense ao nazismo

Os gestos e as atitudes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm prejudicado o Brasil na área da política externa, avaliam especialistas consultados pelo R7. Os exemplos citados são as declarações sobre as ações de defesa de Israel, que o considerou “persona non grata”, do conflito entre Rússia e Ucrânia e a tentativa de relativizar o regime ditatorial de Nicolás Maduro na Venezuela. As informações são do R7, parceiro nacional do Portal Correio.

Desde o início do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, Lula tem buscado o papel de conciliador, visando um cessar-fogo permanente na região. A mesma atitude tem sido tomada em relação à guerra da Rússia na Ucrânia. Nas principais ocasiões, o petista enviou o assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, para se reunir com membros de ambos os governos na tentativa de se buscar uma solução.

Lula registrou diversas dificuldades para colocar em prática seu plano de o Brasil ser protagonista e pacificador nas questões internacionais voltadas para a área da segurança. O líder brasileiro criticou os Estados Unidos, por supostamente alimentar a guerra na Ucrânia, e recebeu uma repreenda da Casa Branca, que afirmou que o Brasil estava “papagueando” o discurso adotado pela Rússia para negar que tem culpa.

O episódio mais recente e polêmico ocorreu nessa segunda-feira (19), quando Israel classificou Lula como “persona non grata” no país até que haja uma retratação sobre as declarações feitas pelo presidente brasileiro.

No fim de semana, o petista comparou as ações de defesa israelense no conflito contra o grupo terrorista Hamas ao nazismo. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler decidiu matar os judeus”, afirmou o petista na ocasião.

Depois do mal-estar causado pela fala do presidente, o governo israelense tornou Lula “persona non grata” no país. O embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, foi chamado por Lula para consultas e embarca para o Brasil nesta terça (19). 

“Cada vez que o presidente Lula viaja ao exterior, traz estragos e prejuízos em termos de política externa. E são episódios tristes para os brasileiros, que compõem tradicionalmente um povo pacífico, aberto e amigo com as demais nações. No caso de Israel, os gestos parecem fechar as portas aos israelenses e desrespeitam os judeus que em solo brasileiro estão. É uma tremenda ofensa”, avalia a professora de direito da Universidade de São Paulo (USP) Maristela Basso.

“Por outro lado, acirra também a polarização no país, uma vez que, aqueles que seguem o pensamento ideológico-partidário de Lula, se sentem autorizados à revanche antissemita. É extremamente prejudicial nas relações internacional e interna, porque serve de combustível para a eventual prática de crime”, acrescenta.

Para a professora de direito da USP, os gestos de Lula fazem com se que perca completamente o espaço de conciliador que o Brasil buscava ocupar entre países que estão em disputa, como Israel e Palestina e Rússia e Ucrânia.

“Perdeu a credibilidade. Essas manifestações são incompatíveis com o posto de líder, de conciliador. Qualquer pretensão que se tinha, de ser o protagonista, de ocupar espaço de liderança, acabou”, argumenta.

Outro episódio citado pelos especialistas trata-se do regime ditatorial de Nicolás Maduro na Venezuela. No ano passado, Lula disse que o ditador merece mais respeito, apesar de o governo dele ser conhecido por episódios de violação de direitos humanos, censura à imprensa e prisão a opositores. O petista evitou dizer se o país vizinho é uma democracia, mas destacou que a situação política do país não pode sofrer interferência de outras nações.

Para o diplomata e diretor de Relações Internacionais do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, Paulo Roberto de Almeida, as declarações do presidente podem prejudicar a política externa brasileira.

“A declaração de Lula é absolutamente equivocada nos planos histórico, diplomático e político. Não há equiparação possível ao Holocausto, que foi organizado por um Estado contra uma determinada população. Foi um massacre. Não há precedentes na história”, avalia.

“Temos duas questões que caracterizam o [mandato] Lula 3, que deveria ser mais maduro pelas experiências dos mandatos anteriores. O que a gente repara é que tem havido tensões internas e externas que derivam das posturas típicas do PT. No campo econômico, o intervencionismo que vimos em casos como a Vale e a Petrobras. No campo da política externa, o que se nota são posições mais próximas do partido [PT] que as da diplomacia brasileira,” explicou.

“Quando Lula cita o Holocausto, isso ultrapassa a linha do aceitável por ser um fato único na história da humanidade. O Holocausto é algo inimaginável até em relação a outros genocídios, por ter sido um projeto estatal do hitlerismo de eliminar todos os judeus. Isso é algo inédito na humanidade. Essa palavra ‘Holocausto’ o Lula pronunciou por ignorância histórica e causou um choque no povo judeu.”

O advogado especialista em direito internacional Bernardo Pablo Sukiennik argumenta que a classificação do brasileiro como ‘persona non grata’, como reação israelense, amplifica a crise gerada pelo petista.

“Isso quer dizer que essa pessoa, no caso o Lula, não é mais bem-vinda em Israel. Não há previsão de visita ao Estado, mas com essa nomenclatura estão deixando claro que, enquanto o governo for liderado por Isaac Herzog e Benjamin Netanyahu, ele não é bem-vindo lá”.

O diplomata Almeida avalia a reação israelense como grave, pois não há precedentes na histórica republicana brasileira deste tipo de movimento e, dessa forma, mostra a gravidade da situação.

“Após a ‘persona non grata’, a retaliação pode atingir acordos e tratados de cooperação entre os dois países. Não creio que chegue a muito, até porque perderiam muito comercialmente, mas pode ser que seja feita uma espécie de corretivo ao Brasil. Além de sinalizar aos demais líderes mundiais de que não vão aceitar manifestações com esse tipo de conteúdo.”

“Não necessariamente envolve romper acordos, porque não seria do interesse do governo nem de empresas israelenses que exportam ao Brasil, principalmente, na área de segurança, mas mostra um descontentamento para a manutenção, pelo menos temporária, de cooperação”, acrescenta Almeida.

Parlamentares evangélicos repudiaram as palavras de Lula

As Frentes Parlamentares Evangélicas (FPE) do Congresso Nacional e do Senado Federal
repudiaram as palavras de Lula. Em nota, os parlamentares disseram que comparar os ataques de Israel ao Hamas com o nazismo, que vitimou seis milhões de judeus, é provocar um conflito ideológico desnecessário.

“Com a ressalva do respeito às pessoas que inocentemente morrem, Israel, ao contrário de Hitler, está exercendo o seu direito de sobreviver diante de um grupo com o objetivo de eliminar os judeus”, diz o documento.

Para a FPE, “não é justo exigir que uma nação se mantenha passiva diante de um ataque covarde que estupra e mata jovens, idosos e crianças das formas mais horríveis e continua com a política de se esconder atrás de reféns (civis inocentes)”.

Ainda de acordo com a nota, as verbalizações do presidente “não representam o pensamento da maioria dos brasileiros e comprometem a política internacional de forma desnecessária”.

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terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

A questão palestina - Rubens Barbosa (Estadão)

 A QUESTÃO PALESTINA

Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 13/02/2024

       

        Continua a crescer a pressão da opinião pública mundial por uma solução a médio e longo prazo para a dramática situação no Oriente Médio, a fim de evitar a escalada do conflito entre Israel e Hamas e de buscar um entendimento que permita a estabilização política, econômica e militar na região.

       Os altos custos do apoio militar para a Ucrânia e a aproximação da eleição presidencial nos EUA, com forte impacto negativo à candidatura de Biden, são agravados, no curto prazo, pela multiplicação dos incidentes militares, com o risco da situação sair do controle, e pela necessidade de garantir a segurança de Israel e a viabilização do Estado Palestino.

        Com esse pano de fundo, o governo de Washington lançou um balão de ensaio com o vazamento de um esboço de proposta por meio de comentários no New York Times e no The Economist, com grande repercussão.

        Segundo se noticia, estaria havendo conversas sigilosas no sentido de viabilizar um amplo plano de paz - hoje de difícil aceitação por todas as partes envolvidas -, mas que poderá, com concessões de todos, tornar possível vislumbrar uma luz no fim do túnel, caso a posição do governo norte-americano se mantenha firme e os entendimentos se intensifiquem.

        Assim, a política dos EUA em relação a região parece estar evoluindo. O presidente Biden anunciou inéditas sanções contra colonos israelenses que promovem violência contra palestinos na Cisjordânia. Thomas Friedman, no New York Times, prevê uma nova “Doutrina Biden” para o Oriente Médio. As linhas principais dessa nova política americana passariam por uma atitude firme em relação ao Irã, por uma forte pressão sobre Israel, para que aceite a criação de um Estado Palestino, e pelo fortalecimento da aliança com a Arábia Saudita, que reconheceria diplomaticamente Israel. The Economist acrescenta que, em meio a intensa ação diplomática, lideradas pelos EUA e Arábia Saudita, o plano estaria tomando forma, a partir das negociações para a liberação dos reféns em poder do Hamas, (Netanyahu recusou a  última proposta do Hamas), para modificar a política interna israelense e permitir a possibilidade de criação do Estado Palestino.

        O primeiro passo seria uma posição dura em relação ao Irã, incluindo uma retaliação militar robusta contra aliados e agentes do Irã na região (Houthis, ISIS e outros grupos) em resposta às mortes dos três soldados americanos em uma base na Jordânia, por um drone aparentemente lançado por uma milícia pró-Irã ativa no Iraque. O segundo eixo consistiria em uma iniciativa diplomática sem precedentes, para promover um Estado palestino, que envolveria alguma forma de reconhecimento pelos EUA de um Estado palestino desmilitarizado na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, que passaria a existir somente depois que os palestinos tivessem desenvolvido um arcabouço de instituições definidas e críveis, assim como capacidades de garantir que esse Estado seja viável e incapaz de ameaçar Israel. O governo norte-americano estaria mantendo consultas dentro e fora do governo americano a respeito das diferentes formas que esse reconhecimento do estatuto de Estado dos palestinos poderia assumir. O terceiro eixo seria uma aliança de segurança ampliada dos EUA com a Arábia Saudita que também envolveria a normalização das relações dos sauditas com Israel, com reconhecimento mútuo e com garantias de segurança respaldadas pelo governo norte-americano. Seria a retomada dos entendimentos entre a Arabia Saudita e Israel (acordo de Abraão) para o reconhecimento do Estado de Israel, se o governo israelense estiver preparado para aceitar um processo diplomático que leve a criação de um Estado palestino desmilitarizado, liderado por uma Autoridade Palestina fortalecida.

       A primeira fase está em curso com os ataques dos EUA aos grupos terroristas no Iraque, na Síria e no Yemen. Como nem os EUA, nem o Irã, nem os países do Golfo querem uma escalada da guerra na região, a fase inicial teria de ser concluída com o controle dos grupos terroristas financiados por Teerã. As conversas reservadas entre EUA, Arabia Saudita, Irã e Israel mostrarão se as duas etapas seguintes da estratégia serão viáveis a médio prazo.

         O ataque terrorista de 7 de outubro contra Israel e seus desdobramentos estão forçando uma reformulação fundamental na maneira como a questão do Oriente Médio deve ser tratada. Se vencer as resistências, a Doutrina Biden produzirá um equilíbrio geopolítico e políticas domésticas mais seguras. Essa estratégia poderia dissuadir o Irã, tanto militarmente, quanto politicamente, ao tirar a carta palestina de Teerã. Poderia promover o estatuto do Estado palestino em termos consistentes com a segurança israelense e, simultaneamente, criar condições para a normalização das relações entre Israel e Arábia Saudita, em termos que os palestinos possam aceitar. Mas para que a questão seja bem-sucedida é indispensável que esses três eixos estejam assegurados e interconectados. O plano promete uma nova arquitetura econômica e de segurança no Oriente Médio. Essa estratégia poderia se tornar o maior realinhamento estratégico na região desde o tratado de 1979 em Camp David.

 

Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE) e membro da Academia Paulista de Letras

       

domingo, 14 de janeiro de 2024

Manifesto pela Retirada do Apoio Brasileiro à Petição Sul-Africana Contra Israel - dirigido ao presidente Lula

PRA: Não tenho a menor ideia de quem ou quais pessoas possam ter escrito esse manifesto, mas creio que reflete a posição de cidadãos preocupados com a credibilidade diplomática do Brasil.

*Manifesto pela Retirada do Apoio Brasileiro à Petição Sul-Africana Contra Israel*

“Prezado Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,

Nós, cidadãos preocupados, expressamos nosso descontentamento com a decisão do governo brasileiro de apoiar a ação da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça. Compreendemos a complexidade da situação em Gaza e o sofrimento da população local. No entanto, é imperativo avaliar todos os aspectos antes de endossar tal iniciativa, principalmente quando se trata da séria acusação de genocídio.

Genocídio, por definição, implica a intenção de exterminar pessoas com base em nacionalidade, raça, religião ou etnia. Não acreditamos que seja sua visão ou a percepção geral dos brasileiros que Israel tenha tal objetivo. Pelo contrário, reconhecemos que o conflito teve início com um ataque terrorista do Hamas, que declaradamente busca a eliminação de Israel e de seu povo.

O Hamas utiliza civis como escudos humanos e mantém reféns inocentes, o que contribui significativamente para a complexidade e gravidade da situação em Gaza. Ao apoiar o pedido da África do Sul, o Brasil pode inadvertidamente reforçar uma visão distorcida dos eventos, simplificando uma realidade complexa.

*Instamos, portanto, uma reconsideração desse apoio* e a adoção de uma abordagem justa e equilibrada. Enquanto buscamos aliviar o sofrimento em Gaza, é crucial pressionar não apenas Israel, mas especialmente o Hamas, para que cesse o uso de escudos humanos e liberte os reféns. A responsabilidade pela situação deve ser atribuída a todas as partes envolvidas, sem acusações infundadas, como a de genocídio praticado por Israel.

Apelamos por uma atitude que promova a verdade, a justiça e um ambiente propício para negociações de paz duradouras.”


sábado, 13 de janeiro de 2024

Carta do ex-chanceler Celso Lafer ao Chanceler Mauro Vieira (11/01/2024)

 https://www.academia.edu/113412415/Carta_do_ex_chanceler_Celso_Lafer_ao_Chanceler_Mauro_Vieira_11_01_2024_

Carta do ex-chanceler Celso Lafer ao Chanceler Mauro Vieira (11/01/2024)

2024, Carta de Celso Lafer ao chanceler Mauro Vieira
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CELSO LAFER Professor Emérito Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo Exmo. Sr. Embaixador Mauro Vieira DD Ministro das Relações Externas Palácio do Itamaraty - Brasília Caro Mauro Tomo a liberdade, pelas razões abaixo expostas, de tecer considerações sobre a iniciativa da Africa do Sul de submeter à CI] uma imputação de genocídio a Israel - e do apoio brasileiro a tal iniciativa. (...)




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