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quinta-feira, 7 de março de 2024

Os dez maiores bancos do mundo, 2023

 World's largest banks, 2023.

1. 🇨🇳 ICBC

2. 🇨🇳 China Construction Bank

3. 🇨🇳 Agricultural Bank of China

R. 🇺🇸 Bank of America

6. 🇺🇸 JPMorgan Chase

7. 🇯🇵 Mitsubishi 

8. 🇬🇧 HSBC

9. 🇫🇷 BNP

10. 🇫🇷 Crédit Agricole


(S&P Global Market Intelligence)

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

A questão palestina - Rubens Barbosa (Estadão)

 A QUESTÃO PALESTINA

Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 13/02/2024

       

        Continua a crescer a pressão da opinião pública mundial por uma solução a médio e longo prazo para a dramática situação no Oriente Médio, a fim de evitar a escalada do conflito entre Israel e Hamas e de buscar um entendimento que permita a estabilização política, econômica e militar na região.

       Os altos custos do apoio militar para a Ucrânia e a aproximação da eleição presidencial nos EUA, com forte impacto negativo à candidatura de Biden, são agravados, no curto prazo, pela multiplicação dos incidentes militares, com o risco da situação sair do controle, e pela necessidade de garantir a segurança de Israel e a viabilização do Estado Palestino.

        Com esse pano de fundo, o governo de Washington lançou um balão de ensaio com o vazamento de um esboço de proposta por meio de comentários no New York Times e no The Economist, com grande repercussão.

        Segundo se noticia, estaria havendo conversas sigilosas no sentido de viabilizar um amplo plano de paz - hoje de difícil aceitação por todas as partes envolvidas -, mas que poderá, com concessões de todos, tornar possível vislumbrar uma luz no fim do túnel, caso a posição do governo norte-americano se mantenha firme e os entendimentos se intensifiquem.

        Assim, a política dos EUA em relação a região parece estar evoluindo. O presidente Biden anunciou inéditas sanções contra colonos israelenses que promovem violência contra palestinos na Cisjordânia. Thomas Friedman, no New York Times, prevê uma nova “Doutrina Biden” para o Oriente Médio. As linhas principais dessa nova política americana passariam por uma atitude firme em relação ao Irã, por uma forte pressão sobre Israel, para que aceite a criação de um Estado Palestino, e pelo fortalecimento da aliança com a Arábia Saudita, que reconheceria diplomaticamente Israel. The Economist acrescenta que, em meio a intensa ação diplomática, lideradas pelos EUA e Arábia Saudita, o plano estaria tomando forma, a partir das negociações para a liberação dos reféns em poder do Hamas, (Netanyahu recusou a  última proposta do Hamas), para modificar a política interna israelense e permitir a possibilidade de criação do Estado Palestino.

        O primeiro passo seria uma posição dura em relação ao Irã, incluindo uma retaliação militar robusta contra aliados e agentes do Irã na região (Houthis, ISIS e outros grupos) em resposta às mortes dos três soldados americanos em uma base na Jordânia, por um drone aparentemente lançado por uma milícia pró-Irã ativa no Iraque. O segundo eixo consistiria em uma iniciativa diplomática sem precedentes, para promover um Estado palestino, que envolveria alguma forma de reconhecimento pelos EUA de um Estado palestino desmilitarizado na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, que passaria a existir somente depois que os palestinos tivessem desenvolvido um arcabouço de instituições definidas e críveis, assim como capacidades de garantir que esse Estado seja viável e incapaz de ameaçar Israel. O governo norte-americano estaria mantendo consultas dentro e fora do governo americano a respeito das diferentes formas que esse reconhecimento do estatuto de Estado dos palestinos poderia assumir. O terceiro eixo seria uma aliança de segurança ampliada dos EUA com a Arábia Saudita que também envolveria a normalização das relações dos sauditas com Israel, com reconhecimento mútuo e com garantias de segurança respaldadas pelo governo norte-americano. Seria a retomada dos entendimentos entre a Arabia Saudita e Israel (acordo de Abraão) para o reconhecimento do Estado de Israel, se o governo israelense estiver preparado para aceitar um processo diplomático que leve a criação de um Estado palestino desmilitarizado, liderado por uma Autoridade Palestina fortalecida.

       A primeira fase está em curso com os ataques dos EUA aos grupos terroristas no Iraque, na Síria e no Yemen. Como nem os EUA, nem o Irã, nem os países do Golfo querem uma escalada da guerra na região, a fase inicial teria de ser concluída com o controle dos grupos terroristas financiados por Teerã. As conversas reservadas entre EUA, Arabia Saudita, Irã e Israel mostrarão se as duas etapas seguintes da estratégia serão viáveis a médio prazo.

         O ataque terrorista de 7 de outubro contra Israel e seus desdobramentos estão forçando uma reformulação fundamental na maneira como a questão do Oriente Médio deve ser tratada. Se vencer as resistências, a Doutrina Biden produzirá um equilíbrio geopolítico e políticas domésticas mais seguras. Essa estratégia poderia dissuadir o Irã, tanto militarmente, quanto politicamente, ao tirar a carta palestina de Teerã. Poderia promover o estatuto do Estado palestino em termos consistentes com a segurança israelense e, simultaneamente, criar condições para a normalização das relações entre Israel e Arábia Saudita, em termos que os palestinos possam aceitar. Mas para que a questão seja bem-sucedida é indispensável que esses três eixos estejam assegurados e interconectados. O plano promete uma nova arquitetura econômica e de segurança no Oriente Médio. Essa estratégia poderia se tornar o maior realinhamento estratégico na região desde o tratado de 1979 em Camp David.

 

Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE) e membro da Academia Paulista de Letras

       

domingo, 14 de janeiro de 2024

Um texano médio escreve para um russo comum - David D.

 Preservo todos os erros de digitação e de redação (PRA)

“ dear russian citizen...

im here in texas tonight and its about to hit 17 deg F.  yes thats about -8 to you....

many places in russia tonight are getting down to -40 with some down to -57.  tomorrow im sure with the power blackouts, and the burst heating pipes many in russia will not make it through the night..

sucks to be you....

im sorry but i dont care... and neither does the rest of the world. NO one is really thinking about russia tonight (except for me looking at the karma on the weather map).  we in the US dont give a darn about russia, its not in our head most of the time... NO ONE thinks about you at all. we have more improtant things to think of.. like who is on love island tonight, or dancing with the stars..... we dont care about russia, or its people. 

but for tonight i have 2 generators, 40 gal of gas, solar, battery back up, and a hmmwv mounted generator...  and a reliable grid. 

i also have eggs and 40 chickens, i know right.... crazy.

i will be in comfort and sleep well tonight... 

the thing is that im not rich, just a standard american that has worked hard... thats it. 

none of my army friends are dying tonight in a cold hole in another country, im not getting shelled, and again i have eggs and chickens... 

YOU could and should have everything i have, your country is rich in oil and lots of other things... BUT, YOUR dumb ass voted in a crazy murder as the leader of your country.. YOU did that, then YOU supported the invasions of georga and ukraine.... YOU DID.

it was all fun and games when you were winning, but now everything is falling apart. you cant get parts for your car, your aircraft are not flying like they should, your pipes and bursting, wildburries are burning to the ground... everything is turning to crap around you... over what?  some land in another country that the entire world has said you will never be able to keep... the entire world is against you.  yea i know you still have syria and north korea... but other than that... no one.

you have had over 1 million dead and wounded over this stupidity... you see the wounded every day on the street, people that will never be normal with missing arms and legs... and others that have nightmares in their heads that at some point will make them monsters and kill (at home) sometime in the future.. ticking bombs waiting to go off. if the war stopped today the killing would not... 

whats sad is that if you had not invaded ukraine, and was not a monster of a country the whole world would be helping you today with the cold. sending planeloads of generators and parts to make sure no one froze to death, and everything that would be needed to make your lives better. but no you had to be a jerk. 

it seems you have 3 choices now, die in ukraine, die in a unheated apartment, or someone has to show putin the window or give him "special" tea.... its sad but no one cares if nearly every russian dies tonight... just saying. 

in the words if the great clarkson....

"ow well, moving on"

and i do hope that a russian sees this note...”


sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Quatro líderes e um mundo virado ao revés Israel , EUA, Rússia e China - Thomas L. Friedman (NYT, Estadão)

 Quatro líderes e um mundo virado ao revés

Israel EUA, Rússia e China

Thomas L. Friedman
The New York Times É colunista e ganhador de três prêmios Pulitzer
O Estado de S. Paulo, 6/10/2023

Desde o dia em que aprendí que, em 1947, Walter Lippmann popularizou o termo Guerra Fria para definir o conflito que emergia entre EUA e União Soviética, achei que seria legal poder batizar um período histórico. Agora que o pós-Guerra Fria acabou, o pós-pós-Guerra em que entramos tem de ganhar um nome. Então, aqui vai: é a era do "Isso não estava nos planos".

Eu sei, não é uma expressão fácil de articular - e não espero que cole. Mas ela é certeira. Eu tropecei nela na minha viagem recente à Ucrânia. Estava conversando com uma mãe ucraniana que me contava que sua vida social tinha se reduzido a jantares ocasionais com amigos, festas de aniversário "e funerais".

Depois de digitar a citação na minha coluna, acrescentei meu próprio comentário: "Isso não estava nos planos". Antes do ano passado, jovens ucranianos vinham desfrutando de acesso facilitado à União Européia, entrando em startups de tecnologia, pensando sobre fazer faculdade e decidindo se passavam férias na Itália ou na Espanha. Então, como um meteoro, a invasão russa virou as vidas deles de ponta cabeça da noite para o dia.

Aquela ucraniana não está só. Muitos planos de muita gente - e de muitos países - saíram completamente dos trilhos. Entramos na era do pós-pós-Guerra Fria, que tem pouco a prometer em comparação à prosperidade, à previsibilidade e às novas possibilidades do período pós-Guerra Fria, que abrangeu os 30 anos desde a queda do Muro de Berlim.

Há muitas razões para isso, mas nenhuma é mais importante do que o trabalho de quatro líderes cruciais com uma coisa em comum: acreditam que sua liderança é indispensável e estão dispostos a adotar medidas extremas para se manter no poder o máximo que puderem.

PODER. Estou falando de Vladimir Putin, Xi Jinping, Donald Trump e Binyamin Netanyahu. Esses quatro - cada um à sua maneira - criaram perturbações dentro e fora de seus países com base em seu interesse particular, em vez dos interesses de seus povos, e dificultaram a capacidade de suas nações funcionarem normalmente no presente e se planejarem sabiamente para o futuro.

Veja Putin. Ele começou a carreira como um tipo de reformador que estabilizou a Rússia pós-Yeltsin e coordenou um boom econômico graças aos preços do petróleo em elevação. Mas a renda com o petróleo começou a cair e, conforme descreve o acadêmico russo Leon Aron em seu próximo livro, Ridingthe Tiger: Vladimir Putirís Rússia and the Uses ofWar, Putin deu uma grande virada no começo de seu terceiro mandato como presidente, em 2012, após os maiores protestos contra seu governo irromperem em 100 cidades russas e sua economia empacar.

A solução de Putin? "Mudar a fundação da legitimidade de seu regime do progresso econômico para o patriotismo militarizado", disse Aron, colocando a culpa de todas as dificuldades no Ocidente e na expansão da Otan. No processo, o presidente russo transformou seu país em um forte sitiado, que, em sua mentalidade e propaganda, somente Putin é capaz de defender. Ele ter invadido a Ucrânia para restaurar a mítica Mãe-Pátria russa foi inevitável.

Os acontecimentos na China também têm se desdobrado de maneira bastante inesperada. Depois de se abrir e afrouxar controles internos constantemente desde 1978, tornando-se mais previsível, estável e próspera que em qualquer outro momento da história moderna, a China experimentou uma virada de quase 180 graus sob o presidente Xi: ele suprimiu o limite de mandatos - respeitado por seus antecessores para evitar a ascensão de um novo Mao Tsé-tung - e fez-se presidente indefinidamente.

Xi, aparentemente, acreditou que o Partido Comunista estava perdendo o controle e, portanto, reafirmou seu poder em todos os níveis sociais e empresariais ao mesmo tempo, o que eliminou qualquer rival.

Isso tomou a China um país mais fechado do que em qualquer momento desde os dias de Mao e desencadeou comentários de que o mundo pode já ter visto o auge da China em relação a potencial econômico, o que equivalería a um terremoto na economia global.

Certamente não estava nos meus planos acabar escrevendo, depois de quase uma vida inteira acompanhando conflitos de Israel com inimigos externos, que a maior ameaça à democracia judaica hoje é um inimigo interno - um golpe no Judiciário liderado por Netanyahu que está fragmentando a sociedade e as Forças Armadas de Israel.

O ex-diretor-geral do ministério israelense da Defesa Dan Harel afirmou, em um comício pró-democracia em Tel-Aviv, na semana passada: "Eu nunca vi nossa segurança nacional num estado tão ruim" e houve "dano às unidades da reserva de formações essenciais das Forças Armadas, o que reduziu prontidão e capacidade operacional".

E este problema não é pequeno para os EUA. Ao longo dos últimos 50 anos, o Estado de Israel tem sido tanto um aliado crucial quanto, de fato, uma base avançada na região em que Washington projetou poder sem usar tropas americanas.

Israel destruiu tentativas incipientes de Iraque e Síria se tornarem potências nucleares e é o maior contrapeso atualmente à expansão do poder do Irã sobre toda a região. Mas, se tivermos mais três anos desse governo extremista de Netanyahu, com sua pretensão de anexar a Cisjordânia e governar os palestinos que habitam o território com um sistema à la apartheid, o Estado judaico poderá se tornar uma grande fonte de instabilidade, não de estabilidade.

E por quê? Em um recente perfil de Bibi no Times, Ruth Margalit citou Ze'ev Elkin, um ex-ministro do gabinete de Netanyahu, do Likud, descrevendo o primeiro-ministro da seguinte forma: "Ele começou com uma visão de mundo que dizia: 'Eu sou o melhor líder para Israel neste momento', que gradualmente se transformou numa visão de mundo que diz: 'A pior coisa que pode acontecer para Israel é eu parar de liderar o país, e portanto minha sobrevivência justifica qualquer coisa'."

PILAR. Nem é preciso dizer, depois de testemunhar o esforço de Trump para reverter a eleição de 2020 inspirando uma turba a invadir o Capitólio e ver esse mesmo homem se tomar o principal pré-candidato republicano à presidência em 2024, que a nossa próxima eleição será uma das mais importantes de todos os tempos - para que não seja a última. Isso não estava nos planos.

O denominador comum que une esses quatro líderes é que todos eles quebraram as regras do jogo em seus países por uma razão bastante familiar: permanecer no poder. Putin também iniciou uma guerra no exterior com o mesmo objetivo. E seus sistemas locais - a elite russa, o Partido Comunista Chinês, o eleitorado israelense e o Partido Republicano - não foram capazes de refreá-los.

Mas também existem diferenças importantes entre eles. Netanyahu e Trump enfrentam resistência em suas democracias, onde os eleitores ainda podem expulsar ou impedir ambos - e nenhum deles começou uma guerra.

Xi é um autocrata, mas tem uma agenda para melhorar a vida de seu povo e planeja dominar grandes indústrias do século 21, da biotecnologia à inteligência artificial. Mas seu governo, cada vez mais linha-dura, poderá ser exatamente o que impedirá a China de chegar lá, principalmente porque esse punho de ferro ocasiona fuga de cérebros.

Putin não passa de um chefão mafioso disfarçado de presidente. Ele será lembrado por transformar a Rússia da potência científica, que colocou o primeiro satélite em órbita, em 1957, em um país incapaz de fabricar um carro, um relógio ou uma torradeira que qualquer pessoa fora do país compraria. Putin teve de recorrer à Coréia do Norte para mendigar ajuda para seu Exército arrasado na Ucrânia.

Trump, em última instância, é o mais perigoso - e por uma simples razão: quando o mundo fica tão caótico assim e países tão importantes contrariam os planos, o restante depende dos EUA para assumir a liderança, conter os problemas e opor-se aos causadores de problemas. Mas Trump prefere ignorar problemas e louvar os criadores de problemas. É isso que torna a perspectiva de outra presidência sua tão assustadora, insensata e inconcebível.

Porque os EUA ainda são o pilar do mundo. Nem sempre fazem isso sabiamente, mas se parar completamente de fazê-lo, cuidado. Dado o que já está acontecendo nesses três outros importantes países, se os EUA vacilarem, nascerá um mundo no qual ninguém será capaz de fazer nenhum plano. Haverá um nome fácil para esse período: "Era da Desordem".

TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Se os EUA vacilarem, nascerá um mundo incapaz de fazer planos. Será a 'Era da desordem'

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Joe Biden deveria renunciar à reeleição - The New York Times

Joe Biden é um presidente impopular e sem alguma recuperação ele poderia facilmente perder para Donald Trump em 2024. 

 THE NEW YORK TIMES, 13/09/2023

O que, em si, não é nenhuma surpresa: seus dois antecessores também eram impopulares neste ponto de suas presidências e também corriam perigo em suas postulações à reeleição. Mas com Trump e Barack Obama havia explicações razoavelmente simples. Para Obama, o índice de desemprego de 9,1% em setembro de 2011 e os ferimentos das batalhas do Obamacare. Para Trump, o fato dele jamais ter sido popular, tornando índices baixos de aprovação o padrão natural de sua presidência. 

 Para Biden, contudo, houve uma lua de mel normal, meses de índices de aprovação razoavelmente altos que terminaram apenas com a caótica retirada do Afeganistão, e desde então tem sido difícil condensar uma explicação para o que tem prejudicado sua popularidade. A economia está melhor do que no primeiro mandato de Obama, a inflação está baixando e a temida recessão não se materializou. As guerras lacradoras e as batalhas sobre a covid que prejudicaram os democratas não são mais fatores centrais, e as guerras culturais pós-Roe parecem um terreno mais amigável. A equipe de política externa de Biden tem defendido a Ucrânia sem uma escalada perigosa com os russos (até aqui), e Biden alcançou até legislações bipartidárias, cooptando promessas trumpistas sobre política industrial no caminho. Isso criou uma mistificação entre democratas sobre por que tudo isso não é suficiente para dar ao presidente uma vantagem decente nas pesquisas. Eu não compartilho dessa mistificação. 

Mas acredito que há uma incerteza real a respeito de quais são as forças mais importantes prejudicando os índices de Biden. Comecemos com a teoria de que os problemas de Biden ainda decorrem principalmente da inflação — que as pessoas simplesmente odeiam ver os preços aumentando e que o presidente não recebe crédito por evitar a recessão porque os aumentos de salários foram consumidos pela inflação até recentemente. Se for esta a questão principal, a Casa Branca não terá muitas opções além de paciência. O pecado original inflacionário do governo, o gasto excessivo no Plano Americano de Resgate Econômico, não se repetirá, e exceto pela possibilidade de um armistício na Ucrânia aliviar parte da pressão sobre os preços do gás, não há muitas outras alavancas políticas a se acionar. 

A esperança tem de ser que a inflação continue a baixar, os salários reais aumentem consistentemente e, em novembro de 2024, Biden receba o crédito que não está recebendo agora pela condição da economia. Um afastamento do centro Mas talvez não seja só a economia. Em várias pesquisas Biden parece estar perdendo apoio de eleitores de minorias, continuando uma tendência da era Trump. Isso levanta a possibilidade da existência de um repuxo para os democratas em relação a temas sociais, no qual mesmo que lacração não seja frontal e central, o fato de que o núcleo ativista do partido está posicionado tão à esquerda gradualmente empurra afro-americanos e hispânicos culturalmente conservadores para o Partido Republicano — num movimento muito parecido com o de democratas brancos conservadores que vaguearam gradualmente para a coalizão republicana entre os anos 60 e 2000. Bill Clinton conteve temporariamente esse movimento rumo à direita comprando brigas públicas com facções à sua esquerda. 

Mas a estratégia de Biden não é esta. Ele se moveu um pouco para a direita em temas como imigração, no qual a visão de políticas do progressismo vai mal. Mas Biden não faz alarde sobre suas diferenças com o flanco progressista. Eu não espero que isso mude — mas isso pode estar lhe cobrando de maneiras um tanto invisíveis para os progressistas neste momento. Um presidente idoso Ou talvez o grande problema seja apenas a ansiedade latente sobre a idade de Biden. Talvez seus índices de aprovação despencaram primeiro na crise do Afeganistão porque a retirada americana evidenciou o absentismo público que com frequência caracteriza sua presidência. 

Talvez alguns eleitores assumam agora que um voto por Biden é um voto na desafortunada Kamala Harris. Talvez exista simplesmente um vigor intensificado em campanhas presidenciais que dê vantagem a Trump. Em qualquer caso, um líder diferente com as mesmas políticas poderia ser mais popular. Sem nenhuma maneira de elevar um líder assim, porém, tudo o que os democratas podem fazer é pedir para Biden mostrar mais vigor público, com todos os riscos que isso pode implicar. Pelos menos é uma — espécie de — estratégia. 

O problema mais difícil para Biden abordar poderá ser o tormento da depressão privada e do pessimismo geral que paira sobre os americanos, especialmente os mais jovens, que foi piorado pela covid mas parece arraigado em tendências sociais mais profundas. Eu não vejo nenhuma maneira óbvia de Biden tratar dessa questão por meio de algum posicionamento normal. Eu não recomendaria atualizar o “discurso do mal-estar” de Jimmy Carter com a terminologia terapêutica do progressismo contemporâneo. E também não considero que o presidente seja o político adequado para travar uma cruzada contra o desarranjo digital ou algum arauto do reavivamento religioso. Biden elegeu-se, em parte, definindo a si mesmo como uma figura transicional, uma ponte para um futuro mais jovial e otimista. 

Agora ele precisa de alguma crença generalizada nesse futuro melhor para ajudá-lo a reeleger-se. Mas onde quer que os americanos venham a encontrar esse otimismo, nós provavelmente passamos bastante do ponto em que um presidente de aparência decrépita poderia esperar ser capaz de, ele próprio, gerá-lo. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

O que esperar de aliança por etanol que o Brasil, Índia e EUA devem lançar amanhã no G20 - Felipe Frazão (O Estado de S. Paulo)

 O que esperar de aliança por etanol que o Brasil, Índia e EUA devem lançar amanhã no G20

Por Felipe Frazão


ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLHI - 
Brasil, Índia e Estados Unidos planejam lançar neste sábado, 9, uma aliança global de biocombustíveis, como forma de fomentar, sobretudo, a produção e o consumo do etanol no mundo. Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Joe Biden, e o anfitrião, o primeiro-ministro Narendra Modi, lideram a iniciativa e participam do evento de lançamento, em paralelo à 18ª Cúpula do G-20, em Nova Délhi. A iniciativa conta com o apoio do setor produtor de etanol no Brasil, e o governo vê na Índia um mercado potencialmente interessante para o biocombustível brasileiro. Analistas alertam, no entanto, que a demanda mundial pelo produto ainda é muito baixa. A aliança de biocombustíveis reúne três dos cinco principais produtores de etanol do mundo. Os EUA, com seu etanol de milho, respondem por 55% da produção mundial, segundo a RFA (Associação de Combustíveis Renováveis). Na vice-liderança do ranking, o Brasil produz o equivalente a 27% desse total. A Índia é a quinta colocada, com 3%, atrás da UE, com 4,8% e da China, com 3,1%. De olho em mercados emergentes 

A ideia da aliança, batizada de Global Biofuels Alliance – GBA (em inglês) surgiu de uma demanda da indústria de produção de etanol, que começou a se articular em janeiro com representantes do setor nos demais países. Participam as associações do setor privado de cada país: a brasileira Única, a indiana Isma - Indian Sugar Mills Association -, a norte-americana US Grains Council e a europeia ePure. Elas acabaram adiando o projeto, para inserir o setor público. Em julho, os ministros de Energia dos três países que encabeçam a estratégia lançaram a iniciativa em Goa, em reunião preparatória do G-20. O plano é vender biocombustível a nações em desenvolvimento, que podem ter no uso do etanol uma forma de redução da pegada de carbono no setor de transporte, seja terrestre, aéreo ou marítimo. 

 Nesse cenário, governo e setor privado apostam que a expansão do mercado global de etanol vai abrir caminho ainda para maior inserção no mundo da engenharia automotiva brasileira, que poderá virar uma referência por já ter consolidado o desenvolvimento de veículos a etanol, bi-combustíveis e autopeças. Biocombustíveis e descarbonizaçao Evandro Gussi, presidente da principal associação brasileira do setor, a Única (União da Indústria de Cana de Açúcar e Bionergia), afirma que o futuro é da coexistência de alternativas aos combustíveis fósseis. Segundo ele, o mercado vai se expandir globalmente nos próximos 25 anos com demanda crescente pelos biocombustíveis – até três vezes maior no transporte terrestre - e o desafio é convencer as indústrias a considerarem o etanol como alternativa em diversos mercados, para adaptação de automóveis, de aviões e embarcações. O argumento da Única é que nem sempre a solução da eletrificação basta. A Índia é considerada um caso que exemplifica o problema. Cerca de 76% da energia elétrica do país vem de combustíveis fósseis, sobretudo a queima de carvão mineral, um grande emissor de poluentes, que responde por cerca de 70%. Portanto, eletrificar a frota nacional não bastaria. É daí que vem a aposta no etanol. 

A África do Sul é outro exemplo de mercado potencial. “Temos que descarbonizar. Como vamos fazer depende da melhor solução, do que é mais apto para a situação econômica, social e ambiental de cada país e região”, afirma Gussi. “Eletrificação não é sinônimo de descarbonização. Se a energia elétrica é mais suja, o carro a etanol pode ser melhor do que o elétrico. Vamos ter espaço para os dois. " “Desde segurança para motores, sistema de injeção dos veículos, até controle da pegada de carbono, o Brasil produziu muita informação. A troca com indianos em larga escala fez com que entendêssemos mais e criamos um centro de excelência virtual onde tem um repositório desse material. A ideia agora é que isso se expanda numa aliança global de modo a acelerar esses processos nos demais países com vocação na Ásia, na África e na América Latina.” Índia como mercado estratégico 

Além do setor privado, o Itamaraty também vê o mercado indiano é estratégico. O governo de Narendra Modi anunciou recentemente um plano para aumentar a mistura do etanol na gasolina para 20%, até 2025. O primeiro-ministro passou a considerar o etanol como uma das prioridades estratégicas do país. Em 2019, a mistura era de 1,4% na gasolina, e agora está no patamar de 10%. “Não vamos exportar etanol para a Índia, mas garantir que possa ser parte da solução de descarbonização. Já existe na Índia a definição política de que o etanol é parte da solução, medida de segurança energética e de criação de empregos”, diz o embaixador do Brasil em Nova Délhi, Kenneth Nóbrega. “Vamos consolidar o etanol como rota tecnológica. Vamos exportar conhecimento, A oportunidade de ganharmos dinheiro é com o motor flexfuel, na cadeia de produção industrial, com propriedade intelectual, know-how, melhoria de processos na indústria do açúcar, máquinas e tecnologia de autopeças”, acrescenta. Baixa demanda internacional Na avaliação de João Victor Marques, pesquisador da FGV Energia,no entanto, um dos desafios da aliança será lidar com um mercado global que ainda tem uma baixa demanda pelo biocombustível. “Precisa criar uma demanda que muitos países não têm”, diz Marques. Hoje, a participação do biocombustível na matriz de consumo energético nos transportes é de 21% no Brasil, mas, na média global, é de apenas 4%. “Não tenho clareza de quais serão os instrumentos dessa cooperação que vai surgir entre os países, mas deve trazer algum tipo de geração de fomento de negócios”, afirma o pesquisador. Ainda de acordo com o especialista da FGV, a nova aposta no etanol precisa alcançar mais países para funcionar. “Esforços foram feitos no passado, no governo Bush e nos primeiros governos Lula, para tornar o etanol uma commodity internacional. Era uma iniciativa mais bilateral e que acabou sem um alcance global”, lembra. A Única também reconhece a necessidade de expansão do etanol para outros países. “Temos uma solução tecnológica que entrega a descarbonização que o mundo precisa, mas ela está muito concentrada no Brasil. 

Ficar com uma solução isolada, ilhada, em energia, não é inteligente. Ninguém quer um novo gás russo, ninguém quer um novo Oriente Médio da década de 1970″, cita Evandro Gussi. Como funcionará a aliança A aliança deve ser lançada com 19 países participantes, segundo estimativas de fontes envolvidas no projeto. Os países já deixaram prontos os protocolos de adesão e participação, com minutas de textos negociadas por diplomatas e os respectivos órgãos governamentais de energia. Eles vão criar uma organização interna da GBA. Brasil, Índia e Estados Unidos querem criar um “cinturão de bioenergia”, na zona tropical, para irradiar conhecimento, disseminar o consumo e estimular a produção etanol pelo mundo. A aliança vai fomentar ainda o biodiesel, o biometano e os SAF (Sustainable Aviation Fuels), cujo desenvolvimento também pode incluir o uso do etanol, por meio do processo conhecido como ATJ (Alcohol‐to‐Jet), para obtenção de bioquerosene de aviação. Entre os membros confirmados estão Argentina, Canadá, Paraguai, Bangladesh, Ilhas Seychelles, Ilhas Maurício, Quênia, Uganda e Emirados Árabes Unidos. Há interesse do setor de abrigar mais países em desenvolvimento na Ásia e na África. Na Europa, a Itália foi um dos únicos a manifestar interesse em ingressar, de acordo com embaixadores a par das negociações. 

Países da América Central também são vistos como potenciais integrantes. Além do Brasil, Índia e Estados Unidos, estarão representados no lançamento a África do Sul, a Argentina, os Emirados Árabes Unidos, a Itália e as Ilhas Maurício, dentre os membros da aliança; e Bangladesh, Canadá e Singapura, como observadores, segundo o governo federal. Entre os países vistos como potenciais produtores em grande escala, mapeados pelo setor privado, estão Indonésia, Tailândia, Vietnã, Paquistão, Filipinas, África do Sul, Moçambique, Angola, Quênia, Etiópia, Colômbia, Panamá e El Salvador. 
COLABOROU LUIZ GUILHERME GERBELLI 

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

O tamanho da crise econômica da China - Paul Krugman (NYT, OESP)

O Brasil seria mais impactado por uma crise chinesa do que os EUA (pouco) ou o Japão e a Alemanha, que vendem muito para a China. Ou seja, o Brasil é um perdedor se a China entrar em recessão. 

O tamanho da crise econômica da China
Paul Krugman

O Estado de S. Paulo | Internacional
30 de agosto de 2023
Paul Krugman 
É colunista e ganhador do prêmio Nobel de Economia de 2008
The New York Times

Graças à baixa exposição da economia dos EUA, é difícil que problemas chineses se tornem globais

O efeito da crise seria maior em países que vendem mais para a China, como Alemanha e Japão

A s agruras econômicas dos anos pós-pandêmicos têm ocasionado intensos debates intelectuais e sobre políticas. Algo com que quase todos concordam, porém, é que a crise póscovid se assemelha pouco à crise financeira de 2008. Mas a China – segunda maior economia do planeta – parece balançar à beira de uma crise muito parecida.

Eu não confio no meu próprio entendimento sobre a China para julgar se o país vive seu momento Minsky, o ponto em que todos de repente se dão conta de que uma dívida insustentável é, de fato, insustentável. E, de fato, duvido que alguém ? incluindo as autoridades chinesas ? saiba responder a essa questão.

Mas acho que somos capazes de responder a uma pergunta mais condicional: se a China realmente passa por uma crise em estilo 2008, ela transbordará para o restante do mundo? E a resposta é clara: não. Por maior que seja a economia chinesa, os EUA estão pouco expostos aos problemas chineses. Antes de chegar aí, contudo, falemos sobre por que a China de 2023 se assemelha às economias americana e europeia de 2008.

BOLHA. A crise de 2008 foi ocasionada pelo estouro de uma bolha imobiliária transatlântica. Os efeitos foram amplificados por perturbações financeiras, especialmente o colapso dos ditos "shadow banks" – instituições que agiam clandestinamente como bancos, criando riscos de uma corrida bancária, mas prescindindo de regulamentações e de redes de segurança.

E agora chega a China, com um setor imobiliário ainda mais inchado que o dos países ocidentais em 2008. A China também tem um atribulado setor de "shadow banking", além de problemas peculiares, como dívidas enormes de governos locais.

A boa notícia é que a China não é a Argentina ou a Grécia, que deviam quantias imensas a credores estrangeiros. A dívida em questão aqui é de dinheiro que a China deve para si mesma. E deveria ser possível, em princípio, para o governo nacional resolver a crise por meio de alguma combinação entre resgates de devedores e abatimentos para credores.

Mas o governo da China tem competência para gerir o tipo de reestruturação financeira? As autoridades chinesas têm determinação ou clareza intelectual para fazer o que é necessário? Eu me preocupo especialmente com a segunda questão.

A China precisa substituir o investimento imobiliário insustentável por maior demanda de consumo. Mas alguns relatos sugerem que autoridades chinesas mais graduadas continuam suspeitas em relação a gastos de consumo "supérfluos" e resistem à ideia de "dar poder para os indivíduos tomarem mais decisões a respeito de como gastar seu dinheiro".

E não é nada tranquilizador o fato de as autoridades chinesas estarem respondendo à possível crise pressionando os bancos para emprestar mais, basicamente continuando a política que levou a China à situação em que ela se encontra.

EXPOSIÇÃO. Portanto, a China poderá entrar em crise. Se entrar, como isso afetará os EUA? A resposta, até onde eu consigo perceber, é que a exposição dos americanos a uma possível crise chinesa é surpreendentemente pequena.

Quanto os EUA têm investido na China? O investimento direto é de US$ 215 bilhões. Investimentos em carteira – ações e obrigações –, pouco mais de US$ 300 bilhões. Então, estamos falando de um total de US$ 515 bilhões.

Este número pode parecer grande, mas, para uma economia enorme, não é. Considerem uma comparação. Neste momento, há muitas preocupações a respeito do setor imobiliário comercial dos EUA, especialmente em relação aos prédios de escritórios ? que provavelmente encaram uma redução permanente na demanda em virtude do aumento do trabalho remoto. Os prédios de escritórios dos EUA valem hoje US$ 2,6 trilhões, aproximadamente cinco vezes mais que o nosso investimento total na China.

Por que uma economia tão grande atraiu tão pouco investimento dos EUA? Basicamente, porque, dadas as arbitrariedades das políticas chinesas, muitos possíveis investidores temem a possibilidade de a China se tornar uma armadilha: você consegue entrar, mas não consegue sair.

Mas o que dizer da China enquanto mercado? A China é uma importante jogadora no comércio mundial, mas não compra muito dos EUA – apenas US$ 150 bilhões, em 2022, menos de 1% do nosso PIB. Portanto, uma crise não surtiria muito efeito direto na demanda por produtos americanos.

O efeito seria maior em países que vendem mais para a China, como Alemanha e Japão, e algo poderia ricochetear nos EUA por meio das vendas a esses países. Mas o efeito geral ainda seria pequeno.

DIFERENÇAS
Uma crise poderia até surtir um pequeno efeito positivo nos EUA, porque reduziria a demanda por matérias-primas, especialmente petróleo, o que reduziria a inflação. Nada disso significa que devamos aplaudir a possibilidade de uma recessão chinesa ou tripudiar sobre os problemas de outro país.

Mesmo que por razões puramente egoístas, devemos nos preocupar com o que o regime chinês poderá fazer para distrair a atenção de seus cidadãos dos problemas domésticos. Mas, em termos econômicos, parece que estamos diante de uma possível crise interna na China, não de um evento global em estilo 2008. 

TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSS


domingo, 11 de junho de 2023

O perigo não está nos outros, e sim em nós mesmos: - Paulo Roberto de Almeida

 O perigo não está nos outros, e sim em nós mesmos

Paulo Roberto de Almeida 

As disfuncionalidades da democracia americana são evidentes, e isso é muito mais grave do que o desafio chinês; os EUA podem ficar paralisados por suas dissensões internas e gastos excessivos. 

A China também tem seus problemas, mas por enquanto o mandarinato tem atuado de forma bastante eficiente: se o novo imperador não exagerar no centralismo autoritário, vamos ter, realmente, um novo hegemon durante algum tempo, até que a entropia produza efeitos negativos.

A democracia brasileira também é muito  disfuncional, mas sua natureza é diversa da americana: não temos educação de qualidade suficiente para melhorar a produtividade do capital humano da massa da população, apenas ilhas de excelência contidas em seu dinamismo pela mediocridade geral do estamento político e pela extorsão sobre os recursos públicos dos altos mandarins do Estado, começando pelos aristocratas do Judiciário.

Como viram, não sou sartriano no meu ceticismo sadio: o inferno não são os outros. 

No longo prazo, a racionalidade vai predominar, mas a desigualdade de oportunidades continuará sendo o traço marcante do processo civilizatório, entre as nações e dentro dos Estados.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11/06/2023

quinta-feira, 25 de maio de 2023

"Racismo estrutural", no Brasil e nos EUA - José Antonio de Macedo Soares, Paulo Roberto de Almeida

 Para quem acha que o Brasil sofre de "racismo estrutural": 

No dia 8 de junho de 1953, há setenta anos, a Suprema Corte dos EUA decidiu que restaurantes, bares e cafés em Washington D.C. não poderiam recusar a servir clientes negros (District of Columbia v. John R. Thompson Co.Inc.). 
Pescado na "Folhinha do Futuro", para o mês de Junho, preparada todo mês pelo meu bom amigo José Antonio de Macedo Soares.

PRA: Mas essa decisão só afetava Washington, pois no Deep South, o Apartheid durou até meados dos anos 1960, senão mais.
Permito-me aliás, lembrar quefoi essa mesma corte, mas na década final do século XIX que decidiu que os estados podiam, sim, manter a discriminação nas escolas, ou seja, as melhores para brancos, o que tiver para os negros. Foi o famoso "ruling" Qual But Separated, ou seja, os negros eram iguais aos brancos, mas estes tinham o direito de mantê-los bem apartados de escolas públicas.
Lembro ainda que o super racista presidente Woodrow Wilson, saudado como famoso progressista, pelos seus "14 pontos" para as negociações de paz de Paris, após o armistício da Grande Guerra, foi o sulista que federalizou o racismo no serviço público federal, separando brancos e negros em todas as repartições públicas. Os estados do Sul aproveitaram para recrudescer no Apartheid e a Ku-Klux-Klan para linchar milhares de negros em árvores de vários estados do Sul. 
Aquilo sim era racismo estrutural...

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Ataques misteriosos contra o Irã: Israel, EUA, Ucrânia? - Chris Snow (Medium)

 Um notícia de janeiro, que tinha me passado despercebida...

Air strikes in Iran: The military facility in Isfahan was hit by a drone attack. A refinery was also set ablaze

Iran has been providing Shaheed 136 and Shaheed 131 drones to Russia. These drone deliveries were heavily condemned by the West. Iran was threatened with sanctions and other consequences to encourage the regime to discontinue these deliveries.

The Iranian regime has recently cracked down very hard on its own people. After the protests against the regime going on since mid-September, have since then taken a turn towards a revolution. The people of Iran do not just want change from this government. They want the regime gone entirely.

Another horrible mistake that the Iranian Mullah regime made was providing Russia with arms or rather terrror weapons in its war against Ukraine. Now, a drone factory was hit. However, it is unclear who is behind these attacks.

The geo-political chess game just got a lot trickier since these recent strikes last night

“An explosion has occurred in one of the military centers affiliated to the Ministry of Defense,” the deputy head of security for Isfahan governorate Mohammad Reza Jan-Nesari told the semi-official Fars News Agency.

The West has often criticized this decision and warned Iran of possible consequences of such actions. The regime in Teheran obviously didn’t heed these warnings. However, who is behind these attacks is still shrouded in mystery.

What we do know is that among other strikes there is also a huge fire reported in Azarsharhr in an East Azerbaijan province, the attack seem to be well coordinated and have been targeted against military and industrial facilities all across the country. The strikes are still ongoing as new strikes are reported against an IRGC base in Mahabad.

These attacks are a major escalation in the increasingly violent struggle of the Iranian peopel against their own government

Iranian sources reported that explosions were heard in Hamedan and Karaj

The Azerbaijani Ministry of Foreign Affairs will evacuate their embassy staff and members of their families from Iran today. We must keep in mind that the Israeli Airforce has been granted access to an airfield on the territory of Aszerbaidschan in close proximity to the Iranian border. US officials have been rather unhappy with this arrangement.

U.S. intelligence officials are worried that Israel’s military involvement in Azerbaijan would make it more difficult for the U.S. to reduce Israeli-Iranian tensions. Apparently now, military planners must prepare for a war scenario that would also involve the Caucasus.

“We’re watching what Iran does closely,” said a U.S. intelligence officer involved in assessing the consequences of a potential Israeli strike on Iran. “But we’re now watching what Israel is doing in Azerbaijan. And we’re not happy about it.”

These attacks and the news about them are still very fresh. We find ourselves in a stone-cold whodunnit scenario

Note: From here on out, this is an opinion piece.

The current regime has lost its legimitacy with its people, while many Western media outlets wish to present the case as “civil unrest” or “protests” that couldn’t be further from the truth.

The Iranian regime has started to kill people, torture them, and imprison them in mass.

The Iranian people do not want reforms from the regime, they want the regime gone, they want to take care of their own affairs without some morality police telling them how to live or a security guard eavesdropping on their conversations. These aren’t protests. This is a revolution made by the people and for the people to remove the Mullah dictatorship from power.

Let’s try to answer the question: Who could be behind these attacks?

“Freedom is never given voluntarily by the oppressor; it must be demanded by the oppressed.” You must demand it, for it will not be given freely. Dr. Martin Luther King

Semper sic tyrannis
  1. Mossad Special Operation

My first guess would be that the Mossad smuggled in a dozen or so foreign-made drones to one of the insurgent or anti-regime groups and provided coordinates of some lightly-defended, highly-flammable targets.

Iran has been executing peaceful civilians for a while now, so the now still peaceful protestors may soon join the ranks of the more violent arm of the revolution as they may be ready to move to a less peaceful approach.

That explanation is possible, although as widespread and coordinated as it seems at this moment, I’d guess there is some level of professionalism that goes beyond the capacity of local insurgent groups.

I really doubt this is a Mossad led insurgency on the ground type of operation. Even though it would probably be the best-case scenario, if the attack was executed by anti-regime groups rather than a foreign power.

Likelihood: 3/10

Option 2: The USA did it

Israel has a lot of agents and cells in Iran.This was totally something they could set in motion. The way the Mossad works in Iran is absolutely master class. I highly doubt this was the US, though. The US does not like doing anything kinetic in Iran these days.

Except that the computer virus that the US and Israel sent towards Iran, which was pretty gangster. Autocratic regimes all around the world love to blame everything on the US. Don’t be shocked as the accusations are going to come in pretty soon.

Likelihood: 1/10

Option 3: China

Maybe it was Xi. But if you thought the US and Russia both had their problems with the Middle East, I am deeply skeptical of what would the Chinese COIN operations look like. That’s assuming the Chinese military is even bothered by trying to understand the local culture/religion.

Their best option would be to try to establish mass surveillance to run facial recognition and whack the folks who seem to be doing suspicious stuff or disappear off of the grid for hours/days at a time. But first they need to get the cameras up and running when the insurgents are probably going to suspect something is up with the Chinese trying to install cameras in every house, apartment elevators/hallways, alleyway, streetlight and so on.

Likelihood: 2/10

Option 4: Ukraine is sending their regards with the kind support of the Israeli Air Force and Western intelligence

The CIA director is in Israel right now. The US did say they would “work to distrust the supply of weapons and drones to Russia”. Ukraine has warned Iran as well about the continuation of this close relationship. Israel was less than happy about Iranian drone deliveries as well. Iran is using Russia as a proxy for their own fight against Israel. Russia really fell very low by becoming a proxy of Iran in this geo-political chess game. Also, recent remarks about giving nukes to Iran by Russia’s propaganda machine could have triggered a reaction by Israel.

It could also be a false flag operation by the revolutionary guard to distract us all from the revolution. Potentially, that could backfire, though. What is for sure: The Israelis are on edge and geared up because a Palestinian just killed 7 people outside of a synagogue in east Jerusalem.

So, I think it’s more likely the CIA is in Tel Aviv to try and keep the Israelis calm than they are trying to organize covert strikes rather than to discuss secret strikes against Iran.

Still, this scenario has some credibility to it. This might be a message by the West delivered by a close ally Israel. The message is going out to Teheran but also towards Moscow: Stop these drone attacks and deliveries. Otherwise, none of these factories will be left standing. The scenario of an Israeli drone strike seems to be the most credible and most likely explanation here.

Likelihood: 8/10

Summary and Conclusion:

Probably all of that is another sad comedy of incompetence with some warcrimes sprinkled in. The Iranian regime has made many mistakes lately. Sending these drones to Russia was one of them. Acting with such brutality and violence against the Iranian people is another one. Iran is just one of many geo-political players who have underestimated the strength of the West and the strength of people unwilling to bow to tyranny.

I have ultimately no answer for you who is behind these strikes. Time will tell, but feel free to share your opinion with me in the comments as to what you think? Who is behind these strikes?

No nation deserves freedom or can long retain it, which does not win it for itself. Revolutions must be made by the people and for the people. Giuseppe Mazzini

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30+ year old History Professor and educator. MA in Business Ethics and Modern European History. History has much to teach, but it doesn't find enough students