Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Meus livros podem ser vistos nas páginas da Amazon. Outras opiniões rápidas podem ser encontradas no Facebook ou no Threads. Grande parte de meus ensaios e artigos, inclusive livros inteiros, estão disponíveis em Academia.edu: https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida
Nos últimos dias, noticiou-se que conversas telefônicas entre presidentes tentaram avançar interesses concretos nas políticas externas dos EUA em relação à Venezuela e do Brasil em relação aos EUA.
No fim de semana, o presidente Donald Trump ligou para o presidente venezuelano e deu um ultimato para Nicolás Maduro deixar o poder em Caracas. A conversa teria sido intermediada por Brasil, Catar e Turquia.
No telefonema, talvez a última tentativa de Washington de mudar o regime sem uma ação militar, Trump ofereceu uma saída da família de Maduro para um terceiro país, onde ficaria exilado, em troca da renúncia de seu cargo presidencial e a volta da democracia à Venezuela.
Do ponto de vista do Brasil, a iniciativa de Lula de ligar para Trump foi oportuna e pragmática Por Rubens Barbosa, presidente do Grupo Interesse Nacional
Uma das propostas do Projeto 2025, dos apoiadores de Trump, no campo monetário, seria um retorno ao padrão ouro, algo virtualmente impossível, nas condições atuais. Os BCs ficariam administrando toneladas de lingotes (para supostamente garantir as emissões de moeda), sem que isso se refletisse necessariamente nas demais políticas macroeconômicas e setoriais.
O fato é que a China, já maior produtora do mundo de ouro (e de muitas outras coisas mais), está acumulando toneladas de ouro, talvez para enfrentar a outra obsessão de Trump, além das tarifas: a manutenção do dólar como o padrão incontestável dos pagamentos e das cotações nos intercâmbios globais.
O outro fato é que Trump está fazendo de tudo para afundar os EUA: a China assiste impassível ao besteirol econômico trumpista.
Lula já falou diversas vezes numa provável “desdolarização” (que irá ocorrer, mas a longo prazo), com isso atraindo inutilmente os raios jupiterianos de um Zeus de araque, aquele que se crê o imperador do mundo.
No momento em que o Secretário estadunidense da “Guerra” — de Truman até Trump era de Defesa — anuncia uma Operação “Lança do Sul”, dirigida especificamente à América Latina (que também tem uma parte na América do Norte e Central), tomei o cuidado de consultar o n. 2 da revista Política Externa Independente, criada e dirigida pelo historiador José Honório Rodrigues, mas que sobreviveu apenas por três únicos números, de 1965 a 1966.
Esse número 2, de agosto de 1965, é dedicado quase inteiramente à “Invasão da República Dominicana”, país do Caribe então acusado, pelo presidente Lyndon Johnson de colocar em risco “as vidas de norte-americanos e outros estrangeiros ali residentes”, depois para “evitar o risco de um novo regime comunista no continente”.
Esse número especial — artigos, debates, entrevistas, documentos — foi organizado pelo embaixador Jayme Azevedo Rodrigues, que tinha sido aposentado compulsoriamente pelo regime militar logo na primeira leva de cassações da ditadura, em 1964, por ter se recusado a servir “um governo de gorilas”.
Todo o número parece anunciar certo trumpismo avant la lettre, feito de unilateralismo, de arrogância imperial e de desrespeito ao princípio da não interferência nos assuntos internos dos países, consagrado no Direito Internacional e precisamente na Carta da OEA, que aprovou rapidamente a criação (solicitada pela diplomacia profissional brasileira) de uma Força Interamericana de Paz, para dar uma mínima aparência multilateral a um empreendimento imperial (do qual as FFAA brasileiras participaram, um pouco para agradecer o apoio dado no golpe, numa espécie de pagamento de um imposto atrasado).
Vale a pena consultar esse número 2 (de 3), da revista Política Externa Independente, apenas para constatar se alguma coisa mudou no diktat imperial hemisférico. Parece que não. O Brasil mudou, mas de uma forma bizarra: a diplomacia que denuncia a intervenção unilateral imperialista na América Latina tem sido até aqui incapaz de denunciar a intervenção unilateral imperialista no coração da Europa, duplicada por uma guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia que a diplomacia presidencial personalista jamais foi capaz de condenar de forma explícita.
Então, alguma coisa, enfim, mudou: parafraseando Orwell, todas as intervenções unilaterais imperiais são iguais, mas algumas são mais iguais do que as outras.
Em virtude de certo ceticismo sadio, que cultivo amplamente em relação às ideias de senso comum, sempre apreciei livros, ensaios e artigos nessa vertente contrarianista, isto é, obras ligeiramente desconfiadas das verdades reveladas que, bem pesquisadas, podem não confirmar pressupostos de argumentos geralmente admitidos como válidos no entendimento comum dos simples mortais. Desde jovem, já grande leitor de história do Brasil e também da história do mundo – aqui estimulado pelas leituras infantis de Monteiro Lobato, neste caso o História do Mundo para as Crianças, uma tradução-adaptação do criador do Jeca Tatu com base num famoso livro americano dedicado ao público infantil, mas contado por Dona Benta – apreciei imensamente quando o inesquecível Stanislaw Ponte Preta (o humorista Sérgio Porto) compôs o “Samba do Crioulo Doido”, um título que é hoje, integral e totalmente, politicamente incorreto, mas ainda admissível naqueles primeiros tempos da ditadura militar. Anos depois vim a tomar conhecimento do livro do médico e jornalista José Madeira, ou “Mendes Fradique”, autor do livro História do Brasil pelo método confuso, publicado pela primeira vez em folhetins a partir de 1917, e que vim a ler numa edição ilustrada de 2004.
Esse gosto pelas versões sarcásticas, até mesmo caóticas, da história nacional, me acompanhou quando ingressei na diplomacia, em 1977, depois de sete anos de um autoexílio na Europa, para escapar de uma possível prisão nos anos de chumbo da ditadura militar. O fato é que, ao lado das leituras sérias sobre a política mundial e as relações internacionais, continuei a correr atrás do inusitado na minha própria profissão, sempre atraído pelo lado contestador de sua pompa aparente, do seu jeito chic, até emplumado, que é a imagem que os paisanos costumam ter de nós, diplomatas, como sempre finos e sofisticados. Nas pesquisas sobre o lado bizarro da profissão, acabei encontrando algumas definições pouco elogiosas sobre nossas supostas características comportamentais, as quais me permito reproduzir aqui, antes de tratar do tema-título.
Como passei quase sete anos estudando em francês – retomada integral da graduação em Ciências Sociais, abandonada depois que o AI-5 aposentou compulsoriamente meus professores, entre eles Florestan Fernandes, FHC e Octavio Ianni, seguida de um mestrado e um início de doutoramento – fui buscar, naturalmente, na literatura francesa, alguns apodos sarcásticos sobre meus colegas de profissão, e comecei logo por um dos mais famosos escritores franceses, Gustave Flaubert. Além dos romances mais conhecidos, Madame Bovary e Salambo, Flaubert também compôs, uma obra talvez não terminada, apresentada em 1850 como sendo Le Dictionnaire des Idées Reçues. Num dos volumes de suas Oeuvres Complètes, publicada pelas Editions du Seuil, em 1964, encontrei o que procurava (no tomo 2, p. 307), a definição de “diplomacia”. O criador de Bouvard e Pécuchet, dois copistas dedicados à composição de uma enciclopédia sobre os ofícios mais conhecidos, chegam à ocupação dos diplomatas:
Belle carrière (mais hérissée de difficultés, pleine de mystères). – Ne convient qu’aux gens nobles. – Métier d’une vague signification, mais au-dessus du commun. – Un diplomate est toujours fin et pénétrant.
Continuando em minhas investigações, e induzido por comentários de colegas mais velhos, que reproduziam uma famosa frase supostamente dita por um embaixador britânico sobre o caráter pérfido dos representantes da espécie, fui buscar a origem dessa designação depreciativa, e encontrei-a num outro dicionário, de autoria de um escritor e crítico satírico americano, Ambrose Bierce: The devil’s dictionary foi originalmente publicado em 1911, mas o consultei na edição de 1999 da Oxford University Press, onde assim se define a profissão: Diplomacy. The art of lying on behalf of his country. O introdutor dessa edição, Roy Morris Jr., discorre sobre a razão de Bierce ter chamado a sua obra de Dicionário do Diabo, mas não estabelece nenhuma conexão direta com eventuais qualidades próprias a essa espécie.
Ainda prosseguindo em minhas investigações vocabulares, já a caminho de assumir o segundo cargo na embaixada em Washington, o de ministro conselheiro, mas querendo, na verdade, servir novamente na Europa, deparei-me com um legítimo sucessor de Gustave Flaubert, Alain Schifres, que, no seu Le nouveau dictionnaire des idées reçues, des propos convenus et des tics de langage ou Le dîner sans peine (Paris: Jean-Claude Lattès, 1998), assim se referiu, desdenhosamente, à nossa tão distinguida ocupação: Diplomates. Un bon diplomate à l’ancienne : cynique, tortueux, lâche, hypocrite mais exquis (p. 87). Malvado!
Em Washington, provavelmente a capital de um império com o maior número de representações diplomáticas, continuei em minhas duvidosas pesquisas, frequentando intensamente várias universidades (George Washington, Georgetown, American) e todos os think tanks (Carnegie, Brookings, Cato, CSIS etc.), para doutos seminários e debates úteis sobre as singularidades de nossa profissão tão pouco apreciada pelo público em geral. Foi instrutivo, pois aproveitei as horas de lazer para compor o meu próprio dicionário, tão provocador quanto os precedentes, e até o conservei (sob o número 873, Washington, 26 de fevereiro a 3 março de 2002), em minha lista de trabalhos mas nunca o terminei, embora o tenha registrado sob um título quase interminável: “Dicionário de disparates diplomáticos (ou dicionário politicamente incorreto de meias-verdades diplomáticas, constando de um repertório de ambiguidades, equívocos e paradoxos da vida internacional)”. Encaminhei o rascunho a alguns colegas de ofício, mas não devo ter recolhido opiniões abonadoras, razão pela qual deixei interrompida a minha coletânea, prometendo terminá-la numa futura ocasião (quem sabe agora, já na aposentadoria, sem o risco de retaliações maciças, como parece ser o hábito entre nossos colegas militares).
Eram os tempos de Bush filho, que todos considerávamos uma aberração diplomática, decidido a terminar, sem o aval da ONU, o trabalho iniciado em 1991 pelo pai, na primeira guerra do Golfo, devidamente autorizada pelo Conselho de Segurança. Lula, logo ao início de seu primeiro mandato, até tentou dissuadir o Bushinho dessa loucura, mas a “diplomacia” do filho menos bem dotado da família fez ameaças a Brasília, através da embaixada na capital americana, como eu próprio testemunhei em conversa com o embaixador Rubens Barbosa no exato momento em que o império começava seu trabalho de desmantelamento do Oriente Médio (que aliás resultou no Estado Islâmico). Mal sabíamos nós, naquele momento, que o futuro nos reservava coisa bem pior, e aqui chego, finalmente, ao objeto deste artigo: a “diplomacia” de Mister Trump, se é que o conceito pode ser aplicado a tão abominável modo de lidar com o ROW, o Resto do Mundo (que resume a geografia simplória do personagem).
Assim como o atual Brics+ não tem mais nada a ver com o BRIC original, ou com o Brics que lhe veio na sequência, Trump 2 não tem quase nada a ver com Trump 1, a não ser a mesma indômita ignorância sobre os assuntos do mundo (além da especulação imobiliária), em especial sobre os assuntos do sistema multilateral de comércio, que ele se empenha em destruir, como não conseguiu fazer em seu primeiro mandato. Entre 2017 e 2020, Trump 1 conseguiu, se tanto, substituir o Nafta por um acordo tripartite com o Canadá e o México, já tentando “reindustrializar” a Trumplândia, como se protecionismo comercial fosse um substitutivo a uma política industrial em tempos de quinta revolução industrial (a qual os chineses já lideram, depois de terem falhado nas duas primeiras revoluções industriais e de terem ainda afundado um pouco mais na terceira, sob as “trumpices” econômicas do maoísmo demencial). Trump é uma espécie de Rei Midas ao contrário, pois tudo em que toca vira o contrário da “relíquia bárbara” desprezada por Keynes, um ouro de cor marrom, se vocês percebem a qualidade do material produzido.
Trump não tem predecessores nos anais da diplomacia mundial desde a guerra do Peloponeso – perdida mais por erros diplomáticos de Atenas, nas relações com os membros da Liga Ateniense, do que propriamente pela força dos exércitos espartanos – e não sei se haverá algum Tucídides para relatar a miséria que o promotor do MAGA está fazendo contra aliados e adversários, que ele trata com a mesma truculência usual nas artes marciais do kickboxing americano, tão apreciado pelas massas ignaras que o seguem devotamente. O “tarifaço”, aplicado contra gregos e troianos ao redor do mundo, é uma guerra comercial tão destruidora dos fundamentos do sistema multilateral de comércio, em especial a secular cláusula de nação mais favorecida multilateralizada no Gatt, quanto o é a guerra de agressão deslanchada por Putin contra a Ucrânia, do ponto de vista das regras mais elementares do Direito Internacional, em especial no tocante aos primeiros artigos da Carta da ONU.
Putin e Trump são os dois principais destruidores da ordem política e econômica do mundo contemporâneo, concebida precariamente em Yalta e formalizada em San Francisco num estilo propriamente orwelliano, o do Animal Farm: “todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que outros”. Trump adoraria repetir a famosa foto de Yalta, com os atuais três imperadores do mundo, ele mesmo, Putin e Xi Jinping, no lugar de Roosevelt, Churchill e Stalin. Não conseguirá obter essa foto de uma nova divisão do mundo, uma vez que o novo imperador do renascido Império do Meio não exibe as pretensões hegemônicas de alguns predecessores e, também, porque a “diplomacia” de Trump se faz, como já alertado, pelo “método confuso”, tanto o de Mendes Fradique quanto o de Stanislaw Ponte Preta. Como já disse alguém, a história não se repete, nem como drama, nem como farsa, como aliás pretendia Marx no 18 Brumário de Luís Bonaparte.
A História de fato não se repete, embora, segundo um outro escritor humorista, Mark Twain, ela possa rimar, como nas melhores tragédias de Shakespeare, com múltiplas traições e assassinatos em sequência. Por enquanto, o imperador americano está assassinando apenas pescadores nas águas do Caribe e do Pacífico oriental…
Dois discursos na AGNU, dos dois primeiros presidentes: Trump e Lula
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota sobre os discursos de Lula e de Trump na AGNU.
Rotineiramente, os debates nas reuniões anuais da AGNU, desde 1946, começam pelo delegado do Brasil, eventualmente o presidente ou o chanceler, seguido pelo representante do país-sede, os EUA, raramente pelo presidente, mais frequentemente pelo Secretário de Estado ou o próprio represente diplomático na ONU.
Durante 70 anos, aproximadamente, os discursos inaugurais do Brasil refletiram os conceitos basilares de nossa diplomacia: estrito respeito à Carta da ONU e às normas mais elementares do Direito Internacional, aliás consolidados na Carta Constitucional de 1988. Ocorreu, sim, uma ruptura com os padrões tradicionais de nossa política externa e da diplomacia, durante os quatro anos do governo Bolsonaro, bizarramente oposta ao mecanismo fundamental da diplomacia contemporânea: o multilateralismo e a igualdade soberana das nações, substituídos pela submissão vergonhosa, não exatamente à nação ainda hegemônica na comunidade internacional, mas ao seu primeiro presidente claramente oposto aos mesmos princípios e supostamente um modelo para o seu subserviente colega brasileiro.
Esse mesmo presidente americano, eleito para um segundo mandato, persiste em seus propósitos de desmantelar o sistema multilateral, especialmente o comercial, e as regras consagradas do Direito Internacional.
Não cabe comentar o inacreditável discurso de Donald Trump, uma vez que não há uma única frase que corresponda à verdade dos fatos, um único argumento que reflita a realidade atual das relações internacionais, justamente afetadas pelas ações arbitrárias e unilaterais do Estado ainda mais poderoso do mundo (infelizmente para quase todo o resto da comunidade mundial). Cada palavra mais contundente, contra a ONU, os imigrantes, as múltiplas guerras supostamente terminadas por sua ação “merecedora de um Prêmio Nobel da Paz”, todos os conceitos constituem apenas o reflexo de seus preconceitos, obsessões e invenções de uma mente distintamente perturbada por uma megalomania raras vezes vistas no cenário mundial. Nada de muito novo, de fato, em termos de previsões sombrias para a Europa e o resto do mundo e de futuros radiantes para o seu próprio país.
Quanto ao discurso de Lula, pode ser considerado positivo — na defesa do multilateralismo e da soberania nacional, o que corresponde, na verdade, ao habitual costumeiro de nossa diplomacia — e correto nas críticas às sanções unilateralmente impostas ao Brasil, sem necessariamente vinculá-las ao presidente norte-americano.
Se examinarmos mais detidamente, porém, os primeiros parágrafos do discurso de Lula, chegaremos à conclusão de que todas as referências às violações à Carta da ONU, a condenação do recurso à guerra para resolver controvérsias e disputas entre Estados ou no tratamento do terrorismo, tudo isso se aplica, inteira e totalmente, à Rússia de Putin, sem que ela seja jamais equiparada às mesmas práticas delitivas e criminosas sendo infligidas à população palestina de Gaza.
[Discurso de Lula: “Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por seguidas concessões à política do poder. Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra.”]
Ao contrário, Lula repete ipsis litteris os argumentos de Putin no que respeita à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, jamais mencionada enquanto tal, como uma grave ruptura do Direito Internacional e dos mesmos princípios que a diplomacia brasileira defende estritamente.
[Discurso de Lula: “No conflito na Ucrânia, todos já sabemos que não haverá solução militar. O recente encontro no Alaska despertou a esperança de uma saída negociada. É preciso pavimentar caminhos para uma solução realista. Isso implica levar em conta as legítimas preocupações de segurança de todas as partes.” [Putin dixit] ]
Em resumo, o discurso de Lula pode ser considerado como 90% adequado aos requerimentos da ONU, mas totalmente falho no tocante à pior ameaça à paz e à segurança internacionais desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Avaliação preocupante de um especialista renomado: Trump está perigosamente doente, próximo da demência. Não é só preocupante para ele e para os EUA. É preocupante e perigoso para o mundo intriro. Talvez até Putin esteja preocupado de perder o seu melhor “amigo-serviçal”. PRA
(Postado por Olympio Punheiro)
"DEMÊNCIA PRECOCE"
ÚLTIMAS NOTÍCIAS: Dois psicólogos renomados lançam uma bomba sobre o agravamento dos problemas cognitivos e o declínio da saúde de Donald Trump, afirmando que ele parece ter "demência precoce".
As evidências são claras...
"Você está na final do Aberto dos Estados Unidos, uma performance fascinante... você é o centro das atenções. Então, como Trump reage? Ah, ele está dormindo de novo, assim como dormiu durante a maior parte dos dias de seu julgamento criminal", disse o psicólogo John Gartner ao coapresentador Harry Segal em seu podcast "Shrinking Trump".
Gartner passou cerca de trinta anos lecionando na Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins e, portanto, sua opinião tem muito peso em sua área. Segal é professor sênior na Universidade Cornell, o que reforça ainda mais a trajetória do podcast.
"Só quero ressaltar que isso não é normal", disse Gartner, explicando que adormecer descontroladamente em momentos inoportunos costuma ser um sintoma de demência.
Os especialistas então passaram a abordar a questão da saúde física de Trump, que tem sido cada vez mais analisada nos últimos meses, com manchas estranhas na pele, tornozelos inchados e uma estranha flacidez na boca. A Casa Branca admitiu que ele tem válvulas defeituosas que causam acúmulo de sangue nas pernas, mas parece improvável que saibamos a história completa.
"Insuficiência cardíaca congestiva é o que normalmente causa inchaço, principalmente nos tornozelos", disse Segal. "Acho que ele não está, quer dizer, ele não está bem."
Não pararam por aí: eles criticaram o governo por tentar fazer as mãos machucadas de Trump parecerem um problema menor causado por "aperto de mão" e aspirina.
"Eles obviamente estão escondendo o problema mais sério", disse Gartner. "Ele provavelmente está recebendo algum tipo de fluido intravenoso."
Os psicólogos também mencionaram a já mencionada queda, ocorrida em um evento em memória aos ataques de 11 de setembro. Sua aparência era tão gravemente debilitada que muitos começaram a especular que ele havia sofrido um derrame.
"Quando você vê alguém com metade do rosto caído daquele jeito, não é apenas cansaço, não é um rosto normal", disse Segal. "É significativo. E é por isso que estou mostrando, não apenas para zombar dele ou para brincar."
E as evidências continuam se acumulando. No fim de semana, Trump afirmou que 300 milhões de americanos morreram de overdose de drogas no ano passado. A população total dos Estados Unidos é de aproximadamente 340 milhões.
Este não foi um caso inocente de Trump simplesmente falando errado, e esse tipo de problema cognitivo está acontecendo cada vez com mais frequência. Algo está profundamente errado com a mente e o corpo desse homem.
Compare a cobertura da mídia sobre o estado atual de Trump com as reportagens frenéticas sobre Joe Biden. A duplicidade de critérios é irritante.
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BREAKING: Two top psychologists drop a bombshell about Donald Trump’s worsening cognitive problems and declining health, stating that he appears to have “early dementia.”
The evidence is right out in the open…
“You’re at the finals of the U.S. Open, a riveting performance… you’re the center of attention. So how does Trump react? Oh, he’s asleep again, just like he slept through most of the days of his criminal trial,” said psychologist John Gartner to co-host Harry Segal on their podcast “Shrinking Trump."
Gartner spent roughly thirty years teaching at Johns Hopkins University Medical School and so his opinion carries a lot of weight in his field. Segal is a Senior Lecturer at Cornell University, adding even more force to the podcast’s pedigree.
“I just wanna point out, this isn’t normal,” Gartner said, explaining that uncontrollably falling asleep at inopportune times is often a symptom of dementia.
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The experts then moved on to the issue of Trump’s physical health which has come under increasing scrutiny in recent months, with bizarre skin patches appearing on his skin, swollen ankles, and a strange droop to his mouth. The White House has admitted that he has malfunctioning valves that cause blood to pool in his legs, but it seems unlikely that we’re getting the full story.
“Congestive heart failure is what typically causes swelling, you know, largely swollen ankles,” said Segal. “I think he’s not, I mean, he’s not doing well.
Not done there, they criticized the administration for trying to pass off Trump’s bruised hands as a minor issue cause by “handshaking” and aspirin.
“They’re obviously hiding the more serious problem,” said Gartner. “He’s probably getting some kind of IV fluids.”
The psychologists also brought up the aforementioned drooping, which occurred at an event commemorating the 9/11 attacks. His appearance was so dramatically unwell that many began to speculate that he had suffered a stroke.
“When you see someone with half their face drooping like that, that’s not just someone being tired, that’s not a normal face,” said Segal. “It’s significant. And that’s why I’m showing it, not just to make fun of him or to joke.”
And the evidence keeps piling up. Over the weekend, Trump claimed that 300 million Americans died of drug overdoses last year. The entire population of the United States is roughly 340 million.
This was not an innocent case of Trump simply misspeaking and these kinds of cognitive screwups are happening more and more frequently. Something is deeply wrong with this man's mind and body.
Compare the news media's coverage of Trump's current state to the breathless wall-to-wall reports about Joe Biden. The double standard is infuriating.
Uma mudança profunda ocorre em Washington sem que muitas pessoas se preocupem com a destruição do modelo político norte-americano. Muitos ainda veem os Estados Unidos como uma referência democrática apesar de que a primeira potência mundial não seja mais um caso exemplar de prática democrática. Muito pelo contrário agora se faz necessário analisar com maior cuidado os desvios de Washington desde a instalação do trumpismo como aponta o último número da revista inglesa The Economist . O aumento das desigualdades na América e o combate de ideologias inconciliáveis mostra o perigo do totalitarismo que ameaça as instituições dos Estados Unidos.
Essa ameaça institucional se baseia nas paixões políticas violentas exacerbadas pelas tropas de Donald Trump. Em seis de janeiro de 2021 vimos esse grupo de pessoas atacar o templo da legitimidade nacional, o Congresso.
Esse caos instalado por essas hordas não desapareceu do cenário político das Américas e continua a germinar apesar das resistências democráticas como aliás e também o caso do Brasil. Esse episódio, como em Brasília, revelou o nível de gravidade dessa fratura política, ideológica e identitária. Foi uma cena emblemática de um certo tipo de guerra civil que se estende agora já por vários anos.
Tal grupo de pessoas quer impor pela força uma carta soberania popular contra a soberania do Legislativo. Trump manipulou essas pessoas em seu projeto político e agora voltou ao poder pela segunda vez com o apoio de grupos econômicos poderosos. Essa psicopatia de eleição roubada mostra a gravidade dessa fratura nas Américas. Uma constituição não é apenas um conjunto de leis mas também um modelo de texto a seguir para padrões civilizados de convivência política. Esses novos bárbaros acreditam que podem impor suas ideias pela força bruta e pela violência política.
As sociedades precisam estar atentas para a defesa e a manutenção dos princípios democráticos sob pena de vitória da barbárie sobre a civilização. Não custa lembrar em 2025 que o preço da liberdade e a eterna vigilância.
No caso dos Estados Unidos as fraturas da sociedade transcendem a luta entre o partido democrático e o republicano. Essa fissura vai além do campo político e confronta duas visões inconciliáveis de sociedade. O campo conservador se vê cada vez mais sequestrado pelo trumpismo com defensores radicais de posições racistas , totalitárias e violentas.
Esses grupos pretendem exportar essas ideias bárbaras e ditatoriais e se impor até pela força nos Estados Unidos e em outros países como é o caso hoje do Brasil diante das ameaças a nossa soberania por parte do trumpismo. Hoje o momento histórico parece confrontar dois planetas que não tem chance de reconciliação.
Esses escorregões do que poderíamos chamar de pós democracia não podem ser toleradas pelo poder de corrosão das instituições democráticas. Essa patologia política nos ameaça a todos e exige respostas à altura para preservar a manutenção do nosso processo democrático e os padrões mínimos de uma sociedade civilizada em 2025.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG
Todos sabem quem é, qual a natureza, quais as intenções de Putin. Creio que não há nenhuma dúvida quanto a isso. Também sabemos, com certeza, de que Trump tem muitas dúvidas e que ele desconhece completamente a natureza profunda e real de Putin.
Todos sabemos, também, que os europeus, em geral, acreditaram, clara e sinceramente, na natureza profundamente ocidental dos EUA, e que, com base nessa certeza, eles se dedicaram, durante 80 anos, a construir uma bela casa agradável de se viver, confiando (mais que isso: tendo certeza) na proteção do Big Cop americano, contra os homens maus que poderiam vir do Leste.
Agora, os europeus estão cheios de dúvidas, e não sabem com certeza se poderão confiar novamente no Big Cop, e têm certeza de que não poderão, sozinhos, guardar a bela casa que construíram nos últimos 80 anos, com flores no jardim, dispensa cheia e tudo mais. A dúvida é sobre quando aparecerão os homens maus.
Trump tem uma única certeza: a de que ele é o homem providencial que poderá arrumar um novo esquema para cuidar das casas dos homens bons, inclusive fazendo alguns negócios com os homens maus, que assim deixarão de ser maus.
Ele tem outra certeza: a de que ele saberá, por meio de tarifaços, de induções e de ameaças, trazer os EUA de volta para as glórias da segunda revolução industrial, aquela do carvão e do petróleo, do motor a explosão, das linhas de montagem cheias de operários felizes e bem pagos, ao estilo do Modern Times de Chaplin.
Putin tem muitas dúvidas sobre as reais capacidades de seu país, com um PIB que é hoje inferior ao de uma potência média como é hoje, por exemplo, o Brasil, ainda que com um PIB per capita maior e capacidade militar muitas vezes maior.
Mas Putin tem uma única certeza: a de que poderá continuar enganando Trump, até que os ucranianos se rendam à exaustão ou de que os europeus consigam convencer Trump de que ele está enganado, ou resolva repentinamente cortar o resto da mesada defensiva que ele ainda concede a esses aproveitadores espertos e temerosos europeus.
O mundo está cheio de dúvidas e de certezas, e assim continuará até que Putin e Trump desapareçam de cena.
Xi tem algumas poucas dúvidas e muitas certezas, por isso ainda espera um pouco para dar seu próximo bote.
Em 2016, alegando fraude, roubo, interferências eleitorais, Donald Trump ganhou as eleições, ele mesmo fraudando extensivamente contra as regras, ofendendo jornalistas, mentindo descaradamente.
Continuou falando em fraude eleitoral nos quatro anos seguintes.
Bolsonaro seguiu inescrupulosamente esse roteiro, alegando fraude antes mesmo de ganhar as eleições de 2018 e continuou mentindo vergonhosa e descaradamente, antes, durante e depois, ou seja, imitando servil e acintosamente o seu modelo americano.
Trump fez todo o possível para roubar as eleições de 2020, mas perdeu e não se conformou: incitou uma turba de bárbaros (muitos o eram, de fato, supremacistas e terroristas eleitorais) e tentou derrubar a certificação de modo violento em 6 de janeiro de 2021 (com mortes entre o pessoal da segurança do Capitólio). Nunca reconheceu a sua derrota e continuou alegando fraude nas eleições.
Bolsonaro fez de tudo no seu mandato de 2019 a 2022 para desacreditar as eleições, alegando fraude na tentativa de reeleição, perdeu e montou um golpe canhestro, como é da sua natureza doentiamente mentirosa e incompetente. Achou que as FFAA daria um golpe para ele, incitou uma turba de desordeiros d designou outros incompetentes para dar o golpe em seu lugar. Fugiu antes do término do mandato para a Flórida, terra dos seu modelo “I love you, Trump”. A tentativa de golpe trapalhão ocorreu em 8 de janeiro de 2023, mas o covarde escafedeu-se naquele dia.
Trump ganhou as eleições de 2024, e anistiou, perdoou e liberou todos os criminosos golpistas do 6 de janeiro. Mas já está alegando as próximas fraudes, nas mid-term elections de 2026, e vai preparar a maior confusão para o término de seu mandato: certamente vai querer fraudar para continuar ilegalmente com um terceiro mandato em 2029.
O patético Bolsonaro, se não estiver preso vai querer disputar em 2030, e ainda tem muito idiota a seu favor.
Que desgraça é essa que se abateu sobre os dois maiores países do hemisfério americano? Que pecado cometemos para merecer tão sinistros personagens, loucos e autoritários?
Virão outros desequilibrados imitando o mesmo modelo tresloucado?
Acho que está na hora de se exigir um exame psicológico, neurológico, psiquiátrico, e de conhecimentos mínimos de História, Matemática, Economia, Geografia, Direito e Língua pátria de qualquer candidato a cargos eletivos: não é possivel continuar elegendo idiotas, imbecis, ignorantes, depravados e criminosos ao mais alto cargo de qualquer nação, e também a todos os demais cargos públicos.
O vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio Geraldo Alckmin escreveu uma carta, em maio, ao Secretário de Comércio dos EUA, quando ainda se discutia a imposição de 10% sobre aço e alumínio.
Não teve qualquer resposta, sequer a simples cortesia de uma confirmação de recebimento, silêncio total.
Reincidiu novamente, recentemente, no anúncio de 50% sobre tudo, em 1o de agosto, mais o início do processo de investigação ao abrigo da seção 301 da Lei Comercial de 1974, que não tem uma data precisa para produzir “resultados”, mas é infinitamente mais destrutiva, se desejarem fazer, e de forma totalmente unilateral.
Ou seja, Trump decidiu punir o Brasil, independentemente de nosso protecionismo comercial, que é real e extensivo. A punição é uma espécie de retaliação pessoal de Trump, sem qualquer relação com atos comerciais e tudo a ver com as declarações de Lula, não apenas no contexto do Brics, mas dirigidas pessoalmente a Trump.
Minha reflexão, como diplomata: não tem Samuel Becket que resolva a angústia diplomática dos meus colegas do Itamaraty, quando a diplomacia personalista do presidente ocupa todos os espaços.
P.S. ex-ante: Alguns dos leitores da postagem abaixo estão considerando que eu equiparei Lula e Trump, que supostamente considero ambos exatamente iguais, o que é totalmente errado. Eu falei da maneira de ser, não do caráter ou do efeito real de suas ações, no que eles são absolutamente diferentes, com ações frontalmente opostas no plano interno ou na esfera internacional.
Lula é um populista sinceramente engajado na promoção do povo pobre, ainda que com politicas equivocadas no plano econômico e mesmo social. Lula não é marxista, está longe de qualquer definição ideológica, mesmo se acredita ser um esquerdista, onde acredita devem estar todos aqueles que querem igualdade de oportunidades para aqueles que nunca tiveram nenhuma.
Também é um anti-imperialista igual a tantos outros (como eu, por exemplo) e um antiamericano anacrônico, e por isso se alia a ditaduras execráveis ao redor do mundo, de direita e de esquerda, desde que sejam antiamericanas ao seu gosto, o que é exatamente o caso do extremista de direita, tirano cruel Vladimir Putin, que leva uma brutal guerra de agressão contra o povo ucraniano, contrária à Carta da ONU e a todos os princípios elementares do Direito Internacional, assim como aos valores constitucionais e aos padrões diplomáticos do Brasil, que Lula parece ignorar completamente. Nesse plano dos nossos valores e princípios, creio que Lula está profundamente equivocado, mas não na esfera de suas intenções. Espero que isso fique bastante claro, ponto.
Trump é um sujeito completamente diferente, de um caráter doentio e perverso, absorvido unicamente por suas próprias ambições mesquinhas e que está destruindo não apenas o seu próprio país, mas tudo aquilo que os EUA fizeram de positivo no mundo nos ultimos 110 anos (por certo muitas coisas erradas, Vietnã, Iraque etc., mas a maior parte certas, como salvando a Europa duas vezes de aventuras totalitárias de poderes agressivos). Trump é um sociopata perigoso, para os EUA e o mundo, que isso fique bastante claro, ponto.
Resumo e termino esta nota introdutória a uma postagem anterior: Eu fiz uma comparação entre duas personalidades pelo lado do egocentrismo megalomaníaco, não quanto a seus respectivos papeis no plano das políticas sociais. Se quiserem notas “diplomáticas” para ambos, Lula fica com 40/100 e Trump com um Zero absoluto (Putin tem menos 50, ou mais, e merece um Nuremberg só seu). PRA
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Aqui a postagem original:
No fundo, no fundo, Trump e Lula são muito parecidos, praticamente duas almas gêmeas separadas unicamente pela língua e pelo PIB de cada país, mas unidos pela mesma vocação palanqueira, bravatas mil, espíritos autocentrados, se encantam com as suas próprias palavras, se julgam extraordinariamente espertos e acreditam, piamente, que ninguém consegue ser como si próprios, cada um deles, respectivamente, dispostos a subir o tom quando são desafiados, não aceitam negativas e acham que podem transferir custos para terceiros desde que possam provar que estão certos e que não há nada melhor do que prevalecer sobre tudo e sobre todos, como se o mundo girasse em volta deles mesmos, a exclusão de qualquer concorrente, adversário, auxiliar ou subordinado, todos devidamente enquadrados e submissos à sua vontade exclusiva. Lula tem ligeira vantagem, pois está em 3, ao passo que seu espelho tropeça no 2.
Cara de um, espelho do outro, perfeitamente simétricos, ainda que no formato reverso, comme il faut!
Existem hoje, temporariamente, três impérios e meio no mundo.
O império chinês é guiado pela racionalidade instrumental dos mandarins tecnocráticos do PCC.
O império russo é dominado pela obsessão expansionista de Putin.
O império americano está sendo diminuído pela ignorância avassaladora de Trump.
Isso explica as trajetórias diferentes de cada um deles: sucesso sustentável no primeiro caso; impasses e disfunções no segundo caso, podendo levar a uma profunda crise estrutural da Rússia; aceleração do declinio no terceiro caso, mas que atinge não só os EUA, mas o mundo todo, dada a magnitude do ainda hegemônico império americano.
De certa forma, o mundo econômico é uma vitima da extrema ignorância de um déspota eleito democraticamente.
O mundo político e geopolítico está sendo abalado pelo expansionismo obsessivo de um ditador totalitário.
O fabuloso Império do Meio do passado, que atraía comerciantes e aventureiros europeus da primeira globalização, a dos “descobrimentos”, está sendo pacientemente reconstruído pelos novos mandarins do PCC.
Em volta desses três impérios, e do meio império da UE, que não possui comando unificado no plano econômico ou militar, gira o destino de potências médias, como Índia e Brasil, assim como o de todos os demais países com alguma importância econômica ou política no mundo atual.
Alguns destes são guiados por estadistas inteligentes e racionais; outros, infelizmente, o são por lideres impulsivos ou mal assessorados, que reagem de forma tão irracional quanto o atual candidato a déspota dos EUA; de certa forma, este último está facilitando o itinerário bem sucedido do primeiro império.
Opinião William Waack Uma avaliação dos nossos riscos A direita brasileira identificada com Trump vai sofrer graves danos eleitorais Do ponto de vista exclusivamente comercial e geopolítico o tratamento que o presidente dos EUA dá ao Brasil é simplesmente burrice O Estado de S. Paulo, 09/07/2025 Atualização: 10/07/2025 | 10h01
O ataque do presidente americano ao Brasil não tem paralelos históricos. Trata-se sobretudo de uma agressão política, cujos termos são por definição inegociáveis. Trump age com a prepotência de quem, de fato, escolheu dividir o mundo em esferas onde os fortões fazem o que querem, e os fracos — como o Brasil — que se virem. A última vez em que um presidente americano agiu contra o Brasil por questões políticas ocorreu sob Jimmy Carter a meados da década de setenta. As semelhanças são remotas dada a brutalidade — e a irracionalidade ideológica — exibida por Trump neste momento. Naquela época dois fatores haviam se combinado: a pressão contra a ditadura militar brasileira por conta de violações de direitos humanos e o acordo nuclear que o Brasil assinara com a Alemanha, que incluía a transferência de tecnologia sensitiva. O presidente era o general Ernesto Geisel, que reagiu cancelando um acordo de cooperação militar com os EUA. O Brasil acabou fazendo um programa nuclear paralelo e a democratização liquidou a questão dos direitos humanos. Do ponto de vista exclusivamente comercial e geopolítico o tratamento que Trump dá ao Brasil é simplesmente burrice. Mas é um extraordinário nível de mediocridade estratégica, ignorância histórica e posturas prejudiciais aos próprios interesses da super potência que Trump vem exibindo desde que assumiu. Em nome de um eleitorado que aplaude o populista que está diminuindo em vez de aumentar a liderança e capacidade de ação americana. Os danos comerciais ao Brasil são consideráveis mas em situações semelhantes de imposição de tarifas Trump demonstrou a falta de consistência habitual — é algo que pode ser eventualmente “negociado”. O problema muito mais grave é político e terá impacto também no contexto eleitoral doméstico brasileiro. Como aconteceu em países como Canadá, Austrália, México e, até certo ponto Alemanha, a interferência política de Trump nos assuntos de cada um produziu os resultados contrários. Ou seja, Trump desmoralizou, enfraqueceu e tirou potencial eleitoral das forças políticas que quis “proteger”. No caso brasileiro, o clã Bolsonaro e todo agente político que aderiu ao fã clube de Trump. É claro que esse é um problema do capitão e sua ilusão infantiloide de que um prepotente como Trump possa livrá-lo da cadeia — onde provavelmente mais e não menos gente vai querer vê-lo agora. Bem mais complicada é a situação do governo brasileiro que, ao contrário do exemplo da esquerdista que preside o México, não soube criar qualquer canal direto com a Casa Branca. O Brasil é uma potência menor, com escassa capacidade de retaliação que não nos torne ainda mais vulneráveis, sobretudo em relação a insumos. É grande a tentação de pular para um lado no confronto geopolítico, mas um pouco de inteligência estratégica indica que os Trumps acabam indo embora, e a profundidade dos laços entre Brasil e Estados Unidos permanecem. Mas o mais provável é que ninguém vai enxergar esse horizonte nos próximos dias. Opinião por William Waack Jornalista e apresentador do programa WW, da CNN https://www.estadao.com.br/politica/william-waack/a-direita-brasileira-identificada-com-trump-vai-sofrer-graves-danos-eleitorais/?j=2132572&sfmc_sub=761468549&l=8503_HTML&u=65252480&mid=534001280&jb=3005&utm_medium=newsletter&utm_source=salesforce&utm_campaign=conectado&utm_term=20250710&utm_content=
Um jantar “inesquecível” na Casa Branca, e uma conversa inacreditável:
Trump e Netanyahu coincidiram ontem, mais uma vez, em que é preciso expulsar, vender, eliminar os 2 milhões de palestinos da Faixa de Gaza, se livrar deles, para enfim construir, no espaço livre desse incômodo humano, uma Big, Beautiful, bright Riviera, um resort de luxo à beira do Mediterrâneo, para os seu negócios imobiliários e acolher os BBBs, os bilionários brancos e belos naquelas paragens.
Gostaria de ouvir a opinião a respeito dos meus amigos e conhecidos judeus, sionistas ou não l, apenas seres pensantes, o que eles, em especial o Julio Benchimol Pinto, têm a dizer sobre esse Big, Belo Projeto de dois supremacistas arrogantes.
Não adianta me chamar de antissemita, pois estou apenas refletindo o que ouvi ontem na inacreditável entrevista à imprensa antes do jantar (quando devem ter combinado, em segredo, coisas ainda piores contra os pobres palestinos).
Se concluído o projeto, ele não eliminará o terrorismo: ao contrário, produzirá centenas, talvez milhares, de novos terroristas pelos anos à frente, não só no Oriente Médio, mas em todas partes do mundo, com força no território americano, contra americanos.
Existem, atualmente, três coisas e três pessoas absolutamente nefastas ao bem-estar de países e de toda a humanidade, insustentáveis no plano econômico, político, securitário ou simplesmente humano ou ético, mas que continuam a se desempenhar impunemente aos seus promotores, ao arrepio dos interesses dos respectivos povos e do Direito Internacional e do Direito Humanitário. São elas, equiparadas nos malefícios impostos às suas vítimas:
1) a cruel guerra de agressão de Putin contra o povo da Ucrânia, a pretexto de ameaças desta à segurança da Rússia e de russos étnicos de suas províncias orientais;
2) a guerra de eliminação sistemática de Netanyahu contra o povo palestino da faixa de Gaza, a pretexto de abrigar os terroristas do Hamas;
3) a insana guerra tarifária de Trump contra todos os demais países, em especial China, UE e membros do acordo de livre comércio com Canadá e México, a pretexto de superávits comerciais com os EUA, deixando de lado os superávits em serviços dos EUA contra todos esses países.
Esses três criminosos, de guerra, humanitário e comercial, Putin, Netanyahu e Trump, são, a despeito de eleitos, autocratas arrogantes e violadores do Direito Internacional, causando danos irreparáveis à paz e à segurança internacionais, em primeiro lugar a seus próprios povos, além de atos agressivos contra todas aquelas vítimas de suas ações nefastas.
Constatamos que as vidas, o bem-estar, a segurança, o patrimônio material, o próprio respeito às normas mais elementares do Direito e da ética na conduta da governança nacional estão sendo gravemente ameaçados por esses três criminosos seriais.
Proponho que eles sejam chamados de “Inimigos da Humanidade” e como tal sancionados num tribunal especial de caráter ético e humanitário.
Zelenskyy won’t walk in with hope. He’s walking in with dignity.
VIKTOR KRAVCHUK MAY 11, 2025
WOULD YOU WALK INTO A ROOM with the man who tried to destroy everything you love?
Would you sit across from the one who denied your very existence, while the people you swore to protect were still being killed?
Would you call that diplomacy?
Zelenskyy will. This Thursday.
In Turkey.
Face to face with Putin.
While the missiles still fall.
Our president asked for one thing. A ceasefire. Full. Unconditional. Real.
He didn’t ask for land. He didn’t ask for leverage. He asked for the violence to stop, just long enough to talk.
But Russia answered with 104 drones in one night, and they struck our cities while pretending to think about peace.
In Sumy, three more civilians died.
In Kyiv, well, same story. 3 years now.
Putin says he’s ready for talks.
But his idea of “talking” usually starts with a funeral.
Sometimes the person he meets becomes the next.
It’s one of the most dangerous things a human being can do. To meet the monster, while the monster still has the knife in his hand.
We’ve seen this story before.
Russia makes a promise. Breaks it. Lies about it. Then blames us for bleeding.
You know what this is.
Russia doesn’t want peace. It wants obedience.
It wants the photo, the quote, the illusion of reason.
And when it doesn’t get what it wants, it kills.
Still, Zelenskyy said yes.
“I’ll be there. Personally.” “We expect a full ceasefire, starting now.” “I hope Putin doesn’t find excuses this time.”
But Putin will find the excuses. He always does.
He doesn’t show up to talk. He shows up to stall. He shows up to control the script.
If he shows up at all.
But someone has to be in the room. Someone has to carry hope in, even when it might not come back out.
That’s not trust. That’s leadership.
Because Russia doesn’t talk. Russia deceives.
Every time we’ve met them at the table, they brought war in their pocket.
They signed “peace agreements” while printing maps for the next invasion. They pretended to listen, only to turn around and deny our right to exist.
Putin said Ukraine was a fiction. He said we were not real.
That this country did not deserve to stand.
So tell me, how do you negotiate with someone who doesn’t even believe you’re a person?
But at the same time, what choice do we have?
We are being attacked by the largest country on Earth.
A nation that covers one-seventh of the world’s surface, fueled by a fantasy of empire and backed silently, strategically, completely, by China.
Not loudly. But you know. We all do.
That’s not one enemy. That’s nearly two billion people, under regimes that see our democracy as a virus they must kill before it spreads.
And then there’s America.
A country that once led the free world, and now sadly needs to bow to a man who jokes about war crimes, calls our President a coward from behind a golf cart, and get applauded for that.
Trump.
The most cynical leader I’ve seen in my lifetime.
The kind who sells you out before breakfast, then blames the waiter for the price.
A man who will praise Putin for strength and mock Zelenskyy for courage.
That’s what cowards do when they see real courage.
They try to destroy it.
Because it reminds them of everything they are not.
So here we are.
Outnumbered. Surrounded. Lied to. And still, we go to Turkey.
We ask for a ceasefire. We say, “Let’s talk.”
Even when we know they probably won’t listen.
Even when we know they’ve used meetings like this before to regroup. To reload. To kill.
Even when we know the moment we pause, they’ll push harder.
Still. We go.
Because that’s what Ukrainians do.
Would you ever be ready to meet a man like Putin?
Could you sit across from the man who tried to bomb your country off the map, and still ask for peace?
Could you carry the weight of three years of war into that room, knowing that any handshake might be a setup?
Could you do that while your people are still being buried and and the sky above you is still screaming?
Because that’s what Zelenskyy is doing.
And whatever happens Thursday, history will remember that.
He’ll be there. Waiting.
What would you feel if your President walked into a room like that for you?
Because he is.
And not just for Ukraine.
But for every person who still believes peace is worth fighting for.
Or every nation that still holds democracy as a value we don’t have the option to give up.
This is about how we keep standing, even when so much of the world tells us to sit still.
You’re not just reading this.
You stayed.
You felt it.
You know that Zelenskyy is going to meet the monster for you, too.
Celso Amorim diz que Trump é o interesse 'nu e cru' e que Brasil tem que se reorganizar
Ex-chanceler e assessor especial de Lula, ele afirma que mundo passa por uma das maiores mudanças desde a queda do muro de Berlim e que país tem o desafio de não virar colônia
Um dos mais experientes diplomatas do país, o ex-chanceler e hoje assessor especial de Lula (PT) Celso Amorim afirma que o mundo está diante de uma das maiores transformações estruturais da história recente.
A chegada deDonald Trumpà presidência dos EUA, diz ele, acabou com certa hipocrisia do multilateralismo.
Desafiando a ordem mundial até então vigente e renegando a condição de superpotência, o atual presidente defende exclusivamente os interesses de seu país, "de forma deslavada", e é preciso se reorganizar diante de novos desafios.
Questionado se Trump poderia aderir à tese bolsonarista de que o Brasil vive sob uma ditadura judicial, Amorim afirma que Jair Bolsonaro (PL) "ficou pequeno diante das grandes questões do mundo" e que o presidente norte-americano respeita o poder, e não quem "fica lá querendo adular".
O mundo parece estar mudando de maneira célere. A governança pós-Segunda Guerra Mundial passa por um desmonte. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, diz que não é mais normal termos uma potência unipolar e que rumamos para um mundo multipolar. Como o Brasil se insere neste novo contexto? Nós estamos vivendo, de certa maneira, a hora da verdade.
Os EUA e a Rússia foram os principais vitoriosos [da Segunda Guerra], mas os EUA tinham muito mais influência. E construíram um mundo à imagem e semelhança do que desejavam —com diferenças com a União Soviética e, depois, com a China.
Na letra, essa era a ordem internacional vigente.
Havia conflitos. Mas, de alguma maneira, havia uma defesa dessas regras internacionais.
O primeiro grande abalo nessa ordem foi a queda do muro de Berlim [em 1989] e a dissolução da União Soviética, algo que ninguém imaginava que poderia acontecer.
O mundo também muda de forma inesperada.
A minha geração passou por duas transformações estruturais imensas. A primeira foi o fim da União Soviética. E agora temos outra enorme mudança, imensa, com os americanos renegando a ordem que eles mesmos criaram.
O ex-chanceler e hoje assessor especial da Presidência da República Celso Amorim posa para fotos em seu gabinete, no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira/Folhapress
Desde a queda de Berlim até agora, os EUA atuavam como uma potência praticamente incontrastável. O que mudou? Havia, de certa maneira, a aceitação de que os EUA eram a única potência remanescente. Mas eles procuravam, sempre que possível, conduzir [as políticas internacionais] pelo multilateralismo.
Faziam isso pela ONU. Quando não dava certo, faziam pela Otan. Raramente agiam sozinhos nos grandes problemas internacionais.
O Trump atual não quer saber [dessas estruturas multilaterais]. Ele não esconde o autointeresse.
É uma atitude de absoluta franqueza. Não há hipocrisia. Ele quer a Groenlândia não porque é bom para a paz, mas por causa do minério do país. Diz isso a propósito da Ucrânia também.
Eu acho que o Trump olha para a extensão imensa da Rússia, um país que tem 12 fusos horários, e imagina as possibilidades de investimento. Não quer ficar totalmente brigado com a Rússia.
Em sua declaração, Marco Rubio disse "não queremos uma Rússia que seja totalmente dependente da China. E também não queremos que eles fiquem inimigos a ponto de ameaçar com uma guerra nuclear". É uma declaração surpreendentemente sensata.
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, faz juramento durante sua posse, enquanto Melania segura a Bíblia no dia da posse do segundo mandJulia Demaree Nikhinson/via Reuters
Por que o senhor diz que chegou a hora da verdade? Porque é o interesse nu e cru, que não é disfarçado. E isso pode até servir para alguma coisa positiva
Na conversa com [o presidente da Ucrânia, Volodimir] Zelenski [no fim de fevereiro, na Casa Branca], que foi muito rude, Trump disse uma coisa interessante: "Ele [Zelenski] quer a vitória. Eu quero a paz". E é verdade também.
Trump fala em desnuclearização. E não faz isso porque é bonzinho. Faz porque sabe que o custo para manter a paridade [de armamentos] com a Rússia é enorme. Para diminuir o gasto militar, ele tem que ter paz, primeiro com a Rússia, depois com a China.
Os europeus estão desorientados. Eles se acostumaram a viver sob o guarda-chuva americano moral, militar e econômico. Quando de repente chega um presidente americano e diz 'eu vou cuidar do meu interesse, vocês que se virem', eles ficam totalmente perplexos, impactados
O multilateralismo tem um pouco de teatro, e Trump está acabando com ele? O [francês François de] La Rochefoucauld dizia que a hipocrisia é uma homenagem que o vício presta à virtude. Ela às vezes vale a pena, porque é civilizatória.
Quando há soluções compatíveis com as regras, a situação sempre melhora. Os EUA acabavam aceitando as regras. Não vejo isso acontecer com o Trump.
É a verdade nua e crua. É a verdade nua e crua. Ele não faz parecer que defende a Ucrânia porque defende a democracia no mundo, o que era discutível: os EUA defendiam a democracia quando interessava.
Essa política, digamos assim, um pouco missionária [dos EUA] não existe mais. Ele [Trump] vai defender os interesses dos EUA de maneira deslavada, e nós temos que nos reorganizar diante disso.
EUROPA
Como a Europa também está sendo obrigada a fazer? Os europeus estão desorientados. Eles se acostumaram a viver sob o guarda-chuva americano moral, militar e econômico. Quando de repente chega um presidente americano e diz "eu vou cuidar do meu interesse, vocês que se virem", eles ficam totalmente perplexos, impactados.
A Europa, se fosse esperta e menos apegada a certos conceitos, assinava o acordo Mercosul- União Europeia. Seria importante. Mostraria que ela ainda tem uma presença no mundo, que atua independentemente.
O Brasil sempre teve a pretensão de ser a ponte entre o Ocidente e o sul global, e agora isso está virando de ponta-cabeça. Como fica o país nesse novo contexto? O Sul Global não virou de ponta cabeça. O Sul Global está se fortalecendo.
O senhor acredita que os EUA vão mesmo renegar o seu papel de única potência mundial? A percepção de que eles não são mais a única potência é correta. É um fato. A China já ultrapassou os EUA em muitas questões, no PIB, no poder de compra, até em número de estudantes que fazem doutorado.
MUNDO MULTIPOLAR
E o Brasil agora? Nós temos que aprender a viver nesse mundo multipolar. Brasil, Índia, não somos todos iguais. A gente tem que saber jogar com alianças variáveis, temos que ser capazes de ter amizades com vários países
É difícil porque existe muita diversidade, mas nós temos que fortalecer a América do Sul. E, ao mesmo tempo, nos relacionarmos de maneira inteligente com as superpotências —que são duas do ponto de vista econômico [EUA e China] e três do ponto de vista militar [as duas e mais a Rússia]. Em seguida vem a Europa. Temos que saber jogar com isso.
Há analistas que acreditam que Donald Trump, dos EUA, Xi Jinping, da China, e Vladimir Putin, da Rússia, vão se entender e dividir o mundo, embora muitas partes dele não caibam nessa divisão. O senhor acha que isso vai acontecer? Eu não posso dizer que essa é a visão do presidente Trump, porque eu não sei. Ele não falou isso. Mas às vezes dá a impressão de que é isso.
[Nesse contexto] O Brasil pode ser uma potência grande, que será mais forte se estiver unida com a América do Sul. Mas o Brasil fez uma opção de não ter arma nuclear, então isso, de certa maneira, muda...
Nos enfraquece? Eu não sei se nos enfraquece porque podemos ter mais meios de negociar.
Por que a China não lançou sozinha a proposta de seis pontos pela paz na Ucrânia? Porque ela precisa do soft power, que o Brasil tem, e muito. É um país pacífico, que tem fronteiras com dez países e está há 150 anos sem guerra. Eu não quero valorizar demais o soft power, mas ele dá credibilidade.
Nós temos que ter uma relação muito forte com a China.
Trump respeita o poder. Pessoas que são capazes de agir. Ele acaba de dizer que gosta do Putin. E pode até não gostar, mas ele respeita o Putin. Respeita o Xi Jinping. Agora, se ficar lá querendo adular, como [fizeram] o Zelenski e alguns europeus, ele não respeita
Mas já temos, não? Sim, mas ela tem que se fortalecer. Temos que jogar com as três [superpotências]. E com a Europa. Se ela se associa à América do Sul, já seremos uma massa maior de países.
Está claro que a Europa, por exemplo, vai ter que se reinventar... [interrompendo] A Europa vai ter que se libertar da obsessão de que vai ser invadida pela Rússia. Eu até entendo que a Polônia, os países ali fronteiriços [tenham essa preocupação].Mas quando eu vejo dizerem que a Rússia tem um DNA expansionista, eu penso: foi Napoleão que invadiu a Rússia [em 1812], ou foi o contrário?
E a França tem a força da dissuasão da bomba nuclear, certo? [O general e ex-presidente da França Charles] De Gaulle não tinha essa obsessão, e na época dele a União Soviética era muito mais forte.
Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, o que sempre criticamos, muitos [países] disseram "vamos destruir a Rússia".É impensável. E seria desastroso. A Rússia unificada é também um fator de estabilidade para o mundo e para a Europa.
O senhor diz que o fortalecimento da América do Sul é importante, mas o continente hoje está dividido. Argentina e Venezuela, por exemplo, estão distantes do Brasil. Eu concordo. Sempre digo que o primeiro mandato [de Lula, em 2002] era um mundo de oportunidades. Agora, é um mundo de desafios.
É claro que há casos extremos [de comportamentos de países] que fogem a qualquer regra. Mas acho que, a médio prazo, a maioria dos países da América do Sul vai voltar a se unir.
Na votação da OEA [Organização dos Estados Americanos], o candidato [à presidência da entidade] que foi lá tirar fotografia com o presidente Trump, por exemplo, não foi aceito [foi derrotado na eleição].
A gente não pode ficar... o meu temor com relação aos EUA não é que eles vão invadir [algum país do continente sul-americano]. [É com o fato de que] Os trumpistas falam muito em Western Hemisphere [Hemisfério Ocidental]. A visão deles é a de que "aqui é nosso".
Essas coisas não ficavam tão claras antes do Trump? Não. Porque os democratas eram mais educados. Muitos deles são nossos amigos, tiveram um papel importante aqui na transição [do governo Bolsonaro para o de Lula], a gente sabe disso.
Mas o nosso grande desafio, resumindo, qual é? O nosso grande desafio é, nessa divisão do mundo, não ser colônia de ninguém.
O senhor não acha que deveríamos fazer um esforço maior de aproximação com Trump? Vê possibilidade de ele aderir à tese bolsonarista de que vivemos sob uma ditadura judicial? Trump está com o foco em outras questões. Eu acho que agora, com as tarifas [de importação que o governo norte-americano está impondo ao Brasil], a gente vai ter que falar um pouco mais com o governo dele. Vamos ter que agir da maneira normal, que é a da reciprocidade.
Mas o Brasil tem força para isso? A reciprocidade não pode trazer mais prejuízos do que benefícios para o Brasil? Acho que não.
Você não pode dar um tiro no pé, colocar taxa em um produto essencial para o país, como o carvão siderúrgico, por exemplo. Mas há áreas no setor de serviços, de propriedade intelectual, de remessa de lucros, que, se o Brasil morder, eles vão pensar duas vezes antes de botar tarifa contra nós.
[Sobre as big techs] Elas estão mais ou menos entendendo que o jogo é complexo, que o Brasil não vai abrir mão de sua soberania. Se quiserem atuar aqui, têm que ser de acordo com as nossas regras, que não são arbitrárias. São para todos, são para proteger os cidadãos
BOLSONARISMO
O ministro Alexandre de Moraes tem afirmado que a soberania brasileira corre risco pelo fato de as big techs estarem partindo para o tudo ou nada, desrespeitando inclusive a jurisdição de outros países que não os EUA. O senhor concorda com ele? O Alexandre de Moraes está fazendo um trabalho muito importante.
Os americanos sempre tiveram a visão da extraterritorialidade da lei americana. Mas agora eles têm a possibilidade técnica para [efetivar] isso.
E as big techs estão no coração dos EUA. A posse de Trump, com os donos de diversas delas, como Elon Musk, mostrou isso, não? Em algum momento pode haver algum choque. São egos muito grandes ali. Eu acho que vai acabar havendo uma diferença entre as big techs, que têm um interesse puramente econômico, e a política.
Há avaliações, inclusive no Supremo Tribunal Federal (STF), de que os bolsonaristas estão pegando carona em uma briga maior, que é a das big techs contra o nosso Judiciário. O senhor concorda com elas? O Bolsonaro ficou pequeno diante das grandes questões do mundo hoje.
Há alguns anos, certamente ter um governo de extrema-direita no Brasil era importante. Hoje é um pouco diferente.
[Sobre as big techs] Elas estão mais ou menos entendendo que o jogo é complexo, que o Brasil não vai abrir mão de sua soberania. Se quiserem atuar aqui, têm que ser de acordo com as nossas regras, que não são arbitrárias. São para todos, são para proteger os cidadãos. A Europa tem uma visão parecida com a nossa.
O senhor acha que para o Trump tanto faz se o presidente é Bolsonaro ou Lula? Eu não sei se tanto faz. Mas hoje em dia não tem mais sentido você dizer "sou contra ele porque ele é comunista". Não tem mais isso. É o interesse [que prevalece]. Essa coisa muito ideológica do bolsonarismo eu acho que talvez se esvazie.
Trump respeita o poder. Pessoas que são capazes de agir. Ele acaba de dizer que gosta do Putin. E pode até não gostar, mas ele respeita o Putin. Respeita o Xi Jinping.
Agora, se ficar lá querendo adular, como [fizeram] o Zelenski e alguns europeus, ele não respeita.