Ney Iared Reynaldo
Caros leitores, 2025 celebra e não se comemora o fim de uma guerra tão devastadora como a ocorrida na II Guerra Mundial, destaco aqui os 80 anos passados da participação da Força Expedicionária Brasileira nesse conflito.
Oficialmente, o Brasil entrou na II Guerra em agosto de 1942. Inicialmente, Vargas, sob o Estado Novo, até então este nutria simpatia pelo fascismo italiano. Nos anos iniciais do conflito, a política externa brasileira foi hesitante, pois ambos os envolvidos eram economicamente atraentes aos interesses nacionais: EUA e Alemanha se posicionavam como primeiro e segundo principais parceiros comerciais do país na época.
Porém, uma série de ataques de submarinos a navios mercantes na costa brasileira produziu uma pressão maior por uma decisão de Governo para que lado apoiar ao entrar na guerra. Segundo Victor em O Brasil vai à guerra: a inserção brasileira em um conflito global, 21 submarinos alemães e dois italianos torpedearam e afundaram 36 navios mercantes brasileiros, causando 1.074 mortes (TEMPONE, 2007). Esse fato levou ao rompimento da “neutralidade oportunista” a dar lugar a uma adesão. O país fornecia matérias-primas importantes para os EUA e tinha uma posição estratégica, a ser utilizada como base americana, no nordeste do país.
Em janeiro de 1943, o governo brasileiro reúne com o presidente norte-americano Franklin Roosevelt, em Natal, para tratar da parceria dos países no conflito. Era um contexto geopolítico, na qual se fazia delinear um futuro pós-guerra, com organismo internacional, como a Organização das Nações Unidas. Já em agosto de 1943, era criada a Força Expedicionária Brasileira, cuja divisão contava com cerca de 25,9 mil homens.
A princípio, seu recrutamento deu início ao programa de alistamento voluntário, mas não teve êxito, o Governo então recorreu a uma convocação compulsória. A solução veio dos assim conhecidos reservistas, os homens com mais de 18 anos que haviam prestado o serviço militar obrigatório. Os integrantes da FEB, na maioria, eram “soldados de baixa patente e civis”. Mas, havia um problema inicial: quem mandar para a guerra? Na época, as Forças Armadas do Brasil contavam com pouco mais de 70 mil homens. Enviá-los ao front significaria ficar desprotegido, dada ao contexto de guerra mundial.
Conforme Edison, esses homens eram submetidos e “treinados às pressas para a guerra, de forma inadequada para o front e sem uma coordenação clara, no início houve dificuldade para integrar os pracinhas”. O termo pracinha designa os soldados cunhado pela mídia da época. O vocábulo “praça”, já fazia parte do “jargão” militar como eram chamados os ingressantes na caserna, os que haviam “sentado praça”. (VEIGA, 2025). Essa expressão carinhosa nasce no seio da sociedade brasileira, no final da II Guerra. Os brasileiros sequer conheciam a intensidade do inverno europeu, participaram do conflito sob condições precárias em sua maioria, eram civis com pouco treinamento.
A presença do país no conflito foi oficializada em 1944, quando mais de 25 mil militares foram enviados à Europa para integrar as forças aliadas. Nossas tropas foram reunidas em solo italiano, enfrentaram desafios que iam além do inimigo no campo de batalha. O rigoroso inverno europeu citado, relevo acidentado e a falta de experiência inicial impuseram dificuldades aos nossos combatentes. No entanto, a FEB provou seu patriotismo, conquistando respeito e admiração de aliados e inimigos. Sob o comando do gen. Mascarenhas de Moraes, responsável tático da conquista de Monte Castello, próximo a Bolonha, na Itália, então dominado pelas forças do Eixo, que era base estratégica para os germânicos, pois sua altitude permitia controle visual da região, dificultando o avanço dos aliados.
Entre novembro de 1944 e fevereiro de 1945, diversas ataques foram coordenadas pelos brasileiros, que enfrentaram resistência obstinada da 148ª Divisão Alemã e do 4º Regimento de tropas de elite nazistas. Após avanços e recuos, no dia 21 de fevereiro, com apoio da artilharia aliada, os pracinhas capitularam Monte Castello, obtendo novas vitórias da campanha italiana. Essa vitória mudou a reputação da FEB entre os aliados. Se a princípio pairava dúvidas sobre a sagacidade e competência dos soldados brasileiros, a conquista da montanha revelou sua eficiência, determinação e coragem no campo de batalha. Os aliados destacaram a resiliência e a capacidade de adaptação das tropas do Brasil, que conquistaram respeito como verdadeiros combatentes. O feito dos pracinhas contribuiu a consolidar a imagem das Forças Armadas brasileiras, no exterior e fortaleceu a identidade militar do país.
De setembro de 1944 a maio de 1945, quase 26 mil militares brasileiros lutaram no front contra os nazifascistas, sob o comando dos EUA. O Brasil foi o único país sul-americano a enviar tropas para atuar na guerra. A mestre em relações internacionais Carolina Pavese (2007), no Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) concorda que: “a batalha tem um peso muito secundário. Mas para o Exército nacional foi um episódio relevante na história moderna, marcando um divisor de águas, rompendo o isolamento, antes restrito a atuações no continente americano.” Oito décadas se passaram, a memória dos combatentes permanece viva. No total, 478 brasileiros morreram em combate, cerca de dois por dia.
Monumentos, museus e associações de veteranos reforçam a importância desse episódio para a história nacional, destacando o papel dos soldados brasileiros na luta pela liberdade. No Brasil e na Itália, cerimônias e homenagens ocorrem para lembrar a coragem dos pracinhas. A celebração dos 80 anos do fim da II Guerra Mundial é um marco para que não esqueçamos do horror de carnificina, que foi esse conflito e reafirmar seu compromisso com a paz e a democracia. A Tomada de Monte Castelo é mais do que um feito militar é um símbolo do espírito de resistência e bravura da nação brasileira. O legado dos pracinhas, lembra que, mesmo diante das adversidades, a determinação e a raça do povo brasileiro não foge a luta.
(*) Ney Iared Reynaldo, doutor em História da América, docente do Curso de Graduação em Ciências econômicas/FACAP/UFR. E-mail: ney.iared@ufr.edu.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário