Um dos artigos mais recentes publicados, reproduzido abaixo:
1113. “A
política externa brasileira, pelos seus principais atores e pensadores”,
[Apresentação do livro “Pensamento Diplomático Brasileiro, formuladores e
agentes da política externa, 1750-1964” (Brasília: Funag, 2013, 3 vols., p.
1138; ISBN: 978-85-7631-462-2)],
Boletim ADB (Ano 20, n. 83,
outubro-novembro-dezembro 2013, p. 33-34; ISSN: 0104–8503). Relação
de Originais n. 2526.
Prata da Casa - Boletim ADB: 4to.
trimestre 2013
Seção Especial sobre obra coletiva da
FUNAG
Paulo Roberto de Almeida
Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros
(Ano 20, n. 83, outubro-novembro-dezembro
2013, p. 33-34; ISSN: 0104–8503).
A política externa brasileira, pelos seus
principais atores e pensadores
José Vicente
Pimentel (organizador):
Pensamento Diplomático Brasileiro:
Formuladores e Agentes da Política Externa (1750-1964)
(Brasília:
FUNAG, 2013, 1138 p. em 3 volumes; ISBN 978-85-7631-462-2)
A
Fundação Alexandre de Gusmão, a instituição vinculada ao Itamaraty que mais se
aproxima do conceito anglo-saxão de think
tank, montou um projeto à altura de suas responsabilidades intelectuais,
consistindo numa coletânea de estudos analíticos sobre as ideias e as ações de 26
personagens relevantes das relações internacionais do Brasil, entre diplomatas
de carreira, políticos e intelectuais, que moldaram o pensamento e a ação da
diplomacia brasileira ao longo de mais de dois séculos. Assinam as
colaborações, sob a coordenação do presidente da Funag, quinze diplomatas e
treze acadêmicos, todos especialistas nos personagens ou nos períodos enfocados
nas três partes da obra.
O
ponto de partida da obra antecede a constituição formal do Estado brasileiro,
em 1822, já que não se poderia excluir de uma obra de referência a contribuição
do chamado “avô da diplomacia brasileira”, o personagem que, aliás, dá o nome à
Fundação que se responsabilizou pelo projeto: Alexandre de Gusmão. Ele foi,
justamente, o foco do primeiro capítulo substantivo do livro, na parte que
tratou das concepções fundadoras da diplomacia brasileira. Essa parte ainda
abriga alguns dos “pais fundadores” da nação e do Estado brasileiro, assim como
da própria diplomacia: José Bonifácio, seguido de Paulino Soares de Souza,
Duarte da Ponte Ribeiro, Francisco Varnhagen, Honório Hermeto Carneiro Leão, o
Visconde do Rio Branco e o “mais longevo” secretário geral do ministério, Cabo
Frio.
A
segunda parte, voltada para a política internacional da Primeira República,
tratou de alguns grandes nomes que vieram do Império, mas que engrandeceram a
diplomacia republicana, começando por Joaquim Nabuco. O Barão do Rio Branco
ocupa papel de destaque nessa fase, mas também seus amigos, e eventuais
auxiliares, Ruy Barbosa e Euclides da Cunha, que também cumpriram missões
diplomáticas sem serem profissionais do serviço exterior. Dois outros
diplomatas, Manoel de Oliveira Lima, também historiador e articulista, e
Domício da Gama, completam esse primeiro ciclo republicano. Aqui entrou também
o jurista Afrânio de Melo Franco, que iniciou uma carreira diplomática, foi
para a política, exerceu diversas missões diplomáticas durante a República
Velha – entre elas a frustrada missão de colocar o Brasil no conselho da Liga
das Nações – mas que também foi o primeiro chanceler do novo regime, em 1930, e
que continuou no início do governo provisório de Getúlio Vargas.
A
terceira e última parte cobre toda a era Vargas e a República de 1946,
começando pela própria reforma do Estado e a modernização da diplomacia,
iniciada sob Afrânio de Melo Franco e continuada por Oswaldo Aranha, o homem
que terminou de unificar as carreiras do ministério, e que não só liderou a
revolução de 1930, como também manteve firmemente o Brasil no campo democrático
durante os tempos sombrios da ascensão do nazi-fascismo e do Estado Novo no
Brasil. O nome que primeiro representou a diplomacia multilateral do Brasil foi
o de Cyro de Freitas Valle, que teve em sua vertente econômica a importante
contribuição de Edmundo Penna Barbosa da Silva, ambos relativamente
desconhecidos, hoje, dos mais jovens. Outros nomes que ilustraram tanto a era
Vargas quanto o período democrático ulterior foram os do empresário e político
José Carlos de Macedo Soares (chanceler nos dois regimes) e o de um militar, o
Almirante Álvaro Alberto, bastante identificado tanto com o CNPq quanto com o
programa nuclear brasileiro.
O
final do período, cobrindo a fase otimista da presidência JK e os anos
turbulentos dos governos Jânio Quadros e João Goulart, está representado pelas
figuras do sociólogo Hélio Jaguaribe, do historiador José Honório Rodrigues,
pelo poeta Augusto Frederico Schmidt, e pelos juristas e políticos Afonso
Arinos e San Tiago Dantas. Finalmente, encerra o exame das grandes
personalidades, o nome do embaixador Araújo Castro, o último ministro de
Goulart e uma das cabeças que continuou a moldar a política externa brasileira
nos anos à frente, influente até nossos dias.
Esta
obra afirma-se como um dos mais sérios projetos de natureza intelectual
implementados pelo Itamaraty. Não apenas uma coleção de biografias sintéticas,
com muitas considerações analíticas sobre as ideias e ações dos personagens
selecionados, este empreendimento pode ser visto como um exemplo de história
intelectual, embora vários personagens tenham atuado mais pela prática do que
sob a forma de escritos. Todos eles produziram narrativas sobre como viam e
sobre como deveria ser a política externa, nos expedientes de serviço ou nas
obras e memórias produzidas. Foram estadistas, na concepção lata da palavra, no
sentido em que uma certa ideia do Brasil, geralmente grandiosa, estava sempre
presente nesses escritos, a guiar-lhes os passos nas decisões mais relevantes.
Foi
essa tradição que o projeto pretendeu resgatar e expor. Com as eventuais
limitações que ela possa conter, este livro constitui um esforço pioneiro de
identificação e de apresentação das ideias e dos conceitos que balizaram,
orientaram ou guiaram a formulação e a execução prática das relações exteriores
do Brasil, desde seu alvorecer, enquanto Estado autônomo, até quase o final do
segundo terço do século 20; espera-se que ela possa servir de inspiração para
outros empreendimentos do gênero ou para a continuidade do mesmo projeto.
Referência doravante indispensável para o estudo do pensamento diplomático
brasileiro, o projeto de fato merece continuar.
Paulo Roberto de Almeida
[Hartford, 7/11/2013]
Os três volumes podem ser acessados nestes links respectivos:
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