Todo final de ano, como muitos já sabem, eu, atrevendo-me a competir com os astrólogos, videntes e outros seres preparados para o que der e vier, costumo fazer as minhas previsões imprevidentes.
Elas têm essa peculiaridade, e bizarrice, de serem concebidas para justamente não se realizar. Fico totalmente realizado quando todas elas falham, pois isso significa que eu acertei pelo contrário, ou
al revés, como diria o finado presidente Hugo Chávez, que também praticava, à sua maneira, a economia política ao contrário, de que é mostra o brilhante estado da economia venezuelana.
Mas, o mundo, o Brasil em especial, sempre nos prega surpresas, e algumas previsões imprevidentes acabam se realizando, contra qualquer racionalidade.
Que seja, nem todo astrólogo acerta e este "previsor" por vezes acerta sem querer, ou seja, algumas coisas boas acabam acontecendo sem que as intenções iniciais fossem essas.
Mas, como todo cidadão honesto, também tenho de prestar contas do que acertei, e do que errei.
Nada melhor, neste sentido, do que colocar aqui as previsões feitas no final de 2012, válidas para 2013, para que todos e cada um possam verificar como eu me desempenhei e qual seria, exatamente, minha "taxa de sucesso".
Pelo que ouso chutar, acho que acertei (no caso, desacertei) 70% das previsões, o que me parece uma taxa razoável de desacertos, maior, em todo caso, do que a maioria dos videntes e astrólogos.
Quero, neste momento, agradecer ao governo dos companheiros e todos os seus aliados aloprados, que muito fizeram para aumentar a minha taxa de desacertos, sobretudo nos terrenos da corrupção, da economia, das políticas setoriais improvisadas, que continuam tão confusas quanto sempre foram.
Só faltou acertar que o pequeno Uruguai seria o país do ano, por tentar legalizar a maconha de todos os dias. Vai dar certo em 2014, ou seja, o programa vai ser um fracasso monumental. Acrescento, portanto, o experimento da maconha estatal, na lista das previsões imprevidentes de 2014.
Boa sorte, podem conferir o que escrevi no ano passado, e aguardem mais previsões imprevidentes que elas estão sempre se manifestando espontaneamente, com a ajuda do governo companheiro.
Paulo Roberto de Almeida
Minhas Previsões Imprevisíveis para 2013
(não custa continuar tentando, para ver
se em algum ano dá certo...)
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 20 de dezembro de 2012.
Como faço a cada ano (salvo nos
bissextos), vou continuar meu tresloucado exercício de fazer previsões ao
contrário, isto é, minhas expectativas para o que não tem nenhuma chance de
acontecer no ano que pronto se iniciará. É claro que, dada a múltipla natureza
bizarra, sempre inovadora, criadora, simpática e decepcionante, e até mesmo
surpreendente deste país surrealista que se chama Brasil, corremos o sério
risco de sermos desmentidos, e sairmos humilhados, pela absolutamente
inacreditável realização de algumas dessas previsões malucas. As surpresas
podem ocorrer, especialmente as vindas de certas esferas da alta política,
previsíveis na sua imprevisibilidade, e que costumam confirmar aquela máxima do
Barão de Itararé: de onde menos se espera é que não sai nada mesmo. Mas isso
fica pela conta do seguro contra acidentes não previstos, que renovo a cada ano
nessa época, para evitar, justamente, ser processado por algum leitor, e aí
cair naquela previsão ainda mais imprevisível de ter o caso julgado por um
“auto” tribunal em menos de 20 anos, o que atrapalharia sobremaneira minha
aposentadoria.
Sem mais delongas e tergiversações,
vamos pois à lista atualizada das previsões imprevisíveis para 2013. Se algumas
delas se realizar, os leitores podem me cobrar a conta, mas apenas em 2014,
quando terei um estoque inteiramente novo de ofertas do impossível.
Começo pelo mais comum, frequente e
corriqueiro: corrupção. Se não sobreviver o fim do mundo antes, vamos ficar
inteiramente livres de qualquer novo caso de “malfeitos” em 2013. Tendo
aprendido com sua própria experiência, na carne, por assim dizer, os
companheiros vão inaugurar uma tecnologia inteiramente nova de combate à
corrupção, pela simples razão de que – como a nova nota fiscal que já declara
os impostos – a corrupção já virá integrada a todos os negócios públicos. O Partido
dos Companheiros está criando uma Secretaria Especial de Negócios
Não-Contabilizados, aqui se antecipando ao financiamento público das campanhas
eleitorais, o que vai facilitar tremendamente as coisas. Transpondo a
tecnologia para o nível estatal, vai ser possível nos livrarmos inteiramente da
corrupção, em virtude do expediente já referido de sua integração oficial,
formal e carimbada, em todas as transações que envolvem instituições e agentes
públicos. Vai ser assim uma espécie de CPMF destinada inteiramente ao caixa 2,
mas de forma explícita. Resolvido o problema, não é mesmo?
Fim do Mundo: parece que não deu
certo desta vez, mas não custa apostar mais um pouco, inclusive porque esta
catástrofe natural – ou dos deuses? – vai resolver todos os outros problemas,
inclusive a obrigação deste escriba ficar perdendo tempo neste tipo de
besteirol. As apostas ficaram um pouco mais caras, dada a frustração com as
últimas cinco previsões e meia. Também: os maias têm aquela escrita complicada,
impossível de ler, e números que não são em base decimal. Mais passons...
Economia: depois do insucesso dos quinze
últimos pacotes de estímulo à economia, o governo promete que não vai mais
fazer pacotinhos de estímulo à economia; pode ser um pacotão, de tempos em
tempos, mas essa coisa de a presidente e o ministro da Fazenda anunciarem, a
cada semana, que “estão tomando medidas para estimular a economia” vai
finalmente sair de moda. E não tem mais essa coisa de improvisações setoriais;
doravante só terão direito a pacotes de estímulos, pacotões, na verdade, os
setores minoritários, que já gozam de várias cotas de favor. Isso muda! Os
afrodescendentes, por exemplo: com base na auto-declaração, eles já são mais de
55% da população brasileira. Todos os pacotes de favor serão agora para setores
minoritários e prejudicados nas políticas dos últimos anos, como os loiros de
olhos azuis, coitados.
Política: o Congresso proclama sua
independência, enfim! Só vai trabalhar para o governo nas quartas-feiras,
quando o expediente é total. Nas terças e quintas, e só em regime de meio
expediente, trabalhará para ele mesmo, que ninguém é de ferro. Estão abolindo o
14o. e o 15o. salários, mas vão criar a semana de
expediente ainda mais reduzido. E já avisaram; só vão cassar companheiros
legisladores em anos bissextos. O Stalin Sem Gulag, aliás, aproveita para
mandar dizer que a luta continua, agora dentro da cadeia, com o apoio do PCC,
que é um partido quase alinhado com suas teses.
Justiça: o Supremo diz vai parar de
se meter na vida dos demais poderes; mas já avisou que não quer nenhum
parlamentar se metendo na fixação dos seus próprios salários, que devem ser
proporcionais aos quatro milhões de casos “a julgar”, parados há mais de oito
anos nos escaninhos dessas varas que já viraram palácios de papel. Também vão
modernizar o figurino: aquelas togas incomodas ficam sempre caindo e
atrapalhando o movimento dos braços; vão adotar um simples avental, com os
dizeres mais do que atuais: A justiça é cega...
Esporte: a Seleção de futebol da
França se exila por completo na Bélgica, por razões fiscais. Os integrantes da seleção
da Bélgica, por sua vez, fazem greve para não ter de pagar imposto de renda e
ameaçam se exilar no vizinho Luxemburgo. A seleção brasileira adota um uniforme
mais largo e mais comprido, daqueles antigos, para acomodar todas as mensagens
publicitárias que a CBF negociou com importantes empresas multinacionais e
várias estatais tupiniquins. Alguns jogadores vão negociar tatuagens
publicitárias na barriga e no bum-bum (este mais caro). Mas, na copa das
confederações, a seleção brasileira perde da seleção do Burundi por 1 a 0.
Pano...
Economia mundial: a gangorra
continua. Depois que o Brasil perdeu a condição de sexta economia mundial, para
se converter na oitava economia, o governo reagiu e, via flutuação cambial do
Banco Central, conseguiu trazê-la de volta para a sétima posição; os mercados
reagem, fazem dois ataques especulativos e levam o Brasil à nona posição, mas o
governo faz novo pacote e consegue trazer a economia para a oitava posição outra
vez; os mercados, só de birra, provocam fuga de capitais e arrastam o Brasil
para a décima-segunda posição; governo, emburrado e amuado desiste de brincar
de gangorra cambial. Enquanto isso, a China e os Estados Unidos criam um
programa conjunto de manipulações cambiais: pronto, era o que faltava para o
governo brasileiro se enfurecer de vez; mas o seu tsunami financeiro não passa
de uma marolinha...
Economia doméstica: o Ministério do
Planejamento cria o PAC-III, com taxa de realização pré-programada em 35,7% dos
recursos empenhados (incluídos restos a pagar...); o TCU também criou um
software novo, de embargo preventivo das obras suspeitas de irregularidades:
ele também vem pré-programado para embargar metade das obras, inclusive
retroativamente, do PAC-I e do PAC-II, mas aí se descobre que as obras paradas
são mais do que 75% do total dos volumes empenhados;
Economia sentimental: o governo cria
o plano Brasil Amoroso, para distribuir beijos e abraços a quem vive sem
companhia; Senadores mais sentimentais que outros, como Suplicy e Buarque, pensam
instituir uma Bolsa Carinho, de meio salário de senador, para os contemplados
no programa; executivo reage e cria o vale-beijo.
Cultura: as editoras brasileiras
pedem proteção contra a Amazon, e querem taxa especial sobre o livro
eletrônico, para compensar os custos que tem de estocar um monte de papel
impresso que não vende; a Amazon resolve diversificar suas operações nacionais e
começa a vender tapioca express-delivery. Deputado Aldo Rebelo reage, e diz que
só pode se estiver escrito em língua nacional.
Política Externa: Cuba decide ingressar
no Mercosul, antes do Paraguai voltar, e diz que tem direito a receber metade
das verbas do Fundo de Recuperação e Apoio à Correção das Assimetrias Sociais
Socialistas (FRACASSO), criado na cúpula do meio do ano. Guiana e Suriname
reagem e dizem que também querem entrar no Mercosul para se beneficiar do maná
brasileiro, à razão de 70% do total. Ministros decidem então criar uma Casa da
Moeda do Mercosul (CMM), o mais novo órgão do vasto empreendimento
integracionista, que não cessa de se ampliar no continente e surpreender o
mundo pela sua criatividade e versatilidade. Obama diz que EUA consideram se
tornar membro associado do Mercosul. É a apoteose...
Fim do Mundo, outra vez: guru de
Cabrobó da Serra diz que ele descobriu um erro de cálculo no calendário maia, e
atrasa do fim do mundo para meados de 2014, o que permite passar o fim de ano
sem maiores preocupações com seguro de vida.
Bom ano a todos...
Brasília, 20 de dezembro de 2012.
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