O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53
Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

quarta-feira, 31 de outubro de 2018
Grande Guerra: 100 anos - seminario na FAAP-SP, 5/11
1918: DA GUERRA À PAZ
SÃO PAULO E A GRANDE GUERRA
Seminário em 5 de novembro de 2018,
em parceria com a Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP)
Local: FAAP, Campus São Paulo - Sede
rua Alagoas, 903, Consolação, São Paulo - SP
Coordenador-geral do seminário: Ministro Antonio de Moraes Mesplé (MRE)
09:00 Abertura(mesa a determinar)
Apresentação do programa
09:30 Conferência de abertura:
“O Brasil e a Grande Guerra (1914-1918)”– Embaixador Rubens Ricupero (FAAP), autor deA Diplomacia na Construção do Brasil: 1750-2016.
10:30 Combatentes ítalo-brasileiros na Grande Guerra - Professor Emilio Franzina (Universidade de Verona), autor de Entre Duas Pátrias. A Grande Guerra dos imigrantes ítalo-brasileiros.
11:20 O movimento pacifista em São Paulo –Professor Francisco Foot Hardman (UNICAMP), autor de Nem Pátria, Nem Patrão.
12:10 Debate: Embaixador Rubens Ricupero, Professor Emilio Franzina, Professor Francisco Foot Hardman, Sr. Anísio Ciscotto Filho (mestre em História, UFMG), co-autor de Entre Duas Pátrias. A Grande Guerra dos imigrantes ítalo-brasileiros.
12:45 Almoço
14:00 A neutralidade argentina– Professor Ricardo Weinmann (Escuela Normal no. 10 “Juan Bautista Alberdi”, Buenos Aires), autor de Argentina en la Primera Guerra Mundial: neutralidad, transición politica y continuísmo económico.
14:50A imprensa paulista e a Grande Guerra– Jornalista Oscar Pilagallo, autor de História da Imprensa Paulista.
15:40 A gripe espanhola em São Paulo e no Brasil – Professora Liane Maria Bertucci (UFPR), autora de Influenza, a medicina enferma.
16:30 Apresentação: O papel da Marinha do Brasil na Grande Guerra (a definir)
17:00 Intervalo
17:30 Debate de encerramento: O Primeiro Pós-guerra e a Nova Ordem Mundial:
Debatedores: Embaixador Rubens Ricupero, Professor Ricardo Weinmann, Professor Celso Lafer (USP), ex-Ministro de Estado das Relações Exteriores.
Mediador: Embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima, presidente da FUNAG.
18:30 Encerramento
PARCEIROS: INSTITUTO ITALIANO DE CULTURA-SP; O ESTADO DE SÃO PAULO; EMBAIXADA DA ITÁLIA; CONSULADO-GERAL DA ITÁLIA EM SÃO PAULO; FUNCEB; INCAER; CENTRO CULTURAL DA MARINHA EM SÃO PAULO; ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS; ABI/SÃO PAULO; ACADEMIA PAULISTA DE MEDICINA; ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA MILITAR; CÍRCULO MILITAR DE SÃO PAULO; SOCIEDADE DE AMIGOS DA MARINHA; CÍRCULO ITALIANO; ESG; INSTITUTO PANDIÁ CALÓGERAS; EsPCEX.
Reservas internacionais do Brasil: qual o melhor uso? (jornais)
Matérias da imprensa nesta quarta-feira, 31/10/2018:
O Estado de S. Paulo – Guedes e as reservas / Coluna / Monica de Bolle
Em
junho deste ano escrevi nesse espaço artigo intitulado “Reservas, para
que te quero”. Tratava do volume de nossas reservas internacionais e de
propostas sobre como utilizá-las caso houvesse julgamento de que estavam
em patamar além do considerado “adequado”. O FMI tem uma metodologia
para calcular o nível adequado de reservas para cada país, levando em
conta diversas variáveis, inclusive os juros internacionais e o ambiente
para os mercados emergentes. De acordo com as contas mais recentes,
aponta o Fundo que o nível das reservas brasileiras está cerca de 1,6
vez mais elevado do que o patamar que o FMI consideraria adequado. Isso
significa que já podemos começar a usar os US$ 140 bilhões para alcançar
algum objetivo?
Na
época em que escrevi o artigo supracitado, argumentei que as reservas
poderiam ser usadas para recomprar uma parte da dívida brasileira, o que
ajudaria a reduzir seu custo de carregamento. Contudo, alertei que tal
medida não poderia ser feita de forma isolada: importante seria pensar
no uso das reservas para esse propósito como um dos elementos de uma
agenda mais ampla de ajustes que incluísse as medidas fiscais cabíveis
para reduzir o déficit público e as reformas que não podem mais esperar,
como a da Previdência. Evidentemente, sair vendendo reservas antes de
consertar os graves problemas fiscais que tem o Brasil seria medida
absolutamente inconsequente, sobretudo tendo em vista o ambiente externo
menos favorável para mercados emergentes e a crise que se abateu sobre a
vizinha Argentina.
Por
que se fala em um nível adequado de reservas? A razão é que há um
cálculo de custo-benefício para mantê-las: de um lado, volumes maiores
de reservas servem como um seguro contra crises externas e episódios de
extrema turbulência nos mercados internacionais. De outro, quanto mais
reservas tem um país, maior o custo de carregá-las – isso porque, para
que sirvam como um seguro em momentos de fortes oscilações externas, é
preciso investi-las em ativos de alta liquidez, que naturalmente têm
taxas de rendimentos menores. A alternativa seria investir esses
recursos em ativos com taxas de retorno mais elevadas, porém abrindo mão
da possibilidade de usálos em qualquer momento, isto é, da liquidez.
Há
diversos estudos interessantes sobre o nível adequado das reservas
internacionais. Em um deles (Kim e Lee, 2017, Asymmetric Stabilizing
Impact of International Reserves), os autores mostram como muda o nível
adequado em função do ambiente interno e externo.
Durante
períodos de calmaria, o patamar adequado poderia ser menor, pois
predomina o impacto do custo de carregar reservas sobre o benefício de
tê-las. Em momentos de turbulência, seja externa ou interna, predomina o
efeito do benefício – o seguro – sobre o custo potencial de carregar
mais reservas. O Brasil não enfrenta calmaria alguma, por mais que
tenham reagido bem os mercados à eleição de Jair Bolsonaro. Ainda temos
um ambiente de instabilidade política interna, um presidente eleito que
pouca clareza deu aos seus planos econômicos, e uma equipe econômica que
não parece ainda estar falando com uma só voz.
Desde
domingo, por exemplo, proliferaram informações contraditórias sobre o
posicionamento de diferentes membros do círculo íntimo de Bolsonaro
sobre a reforma da Previdência. Além disso, o ambiente externo exige
cautela, não apenas por causa das dúvidas sobre os efeitos da guerra
comercial
Surgem as consequências de uma campanha sem qualquer discussão sobre a agenda de medidas e reformas
entre
China e Estados Unidos, como também em razão da maior desconfiança de
investidores estrangeiros em relação aos países emergentes, haja vista a
situação da Argentina e da Turquia. Some-se a isso o quadro de elevação
das taxas de juros nos EUA e a falta de clareza sobre o ajuste fiscal
brasileiro e o que temos é um ambiente em que qualquer discussão sobre o
uso das reservas deveria estar, no mínimo, postergada.
Contudo,
noticiou o jornal Valor Econômico que Paulo Guedes e sua equipe flertam
abertamente com a ideia de usar as reservas para reduzir os juros da
dívida sem que exista qualquer condição de fazer isso agora. Estão aí as
primeiras consequências de termos passado por campanha inteira sem
nenhuma discussão sobre a agenda de medidas e reformas econômicas para o
País. O resultado disso é muito ruído e pouco sinal em uma economia que
exige clareza para se reerguer, evitar uma crise mais profunda, e dar
algum consolo aos cerca de 13 milhões de desempregados.
ECONOMISTA, PESQUISADORA DO PETERSON INSTITUTE FOR INTERNATIONAL ECONOMICS E PROFESSORA DA SAIS/JOHNS HOPKINS UNIVERSITY
Valor Econômico – Guedes usaria reserva em caso de ataque à moeda
Por Cristiane Agostine | Do Rio
Futuro
ministro da Economia de Jair Bolsonaro (PSL), o economista Paulo Guedes
disse ontem que o governo poderia vender hipoteticamente US$ 100
bilhões das reservas internacionais, aproveitando para, com isso,
reduzir a dívida interna. "Se [o dólar] chegar a R$ 4,20, R$ 4,30, R$ 5,
vai ser muito interessante, porque vamos vender US$ 100 bilhões de
reservas, que são R$ 500 bilhões", afirmou o economista, ressaltando a
importância de um "regime fiscal robusto" para se adotar essa
estratégia. Isso permitiria ao país ter um volume menor de reservas -
hoje, elas estão na casa de US$ 380 bilhões, e têm um custo fiscal
elevado.
"Se
houver especulação e jogarem o dólar para cima, não tem problema
nenhum, não temos receio nenhum", reiterou Guedes, por diversas vezes,
em entrevista ontem no Rio. "Pode vir, pode especular contra, não tem
problema nenhum", repetiu. "Se tiver crise e botarem o dólar lá em cima,
a R$ 4, R$ 5, será ótimo. Quem quiser dólar nós vamos vender e depois
vamos reduzir a dívida interna."
Guedes
deu essas declarações ao comentar a manchete do Valor de ontem, que
relata que ele havia proposto a redução das reservas em discussões
internas com a equipe que elabora o plano econômico de Bolsonaro. O
futuro ministro da Economia disse que o tema surgiu quando o dólar bateu
em R$ 4,10, há cerca de um mês, e acrescentou a informação de que falou
num valor de US$ 100 bilhões.
Em
entrevista a jornalistas, Guedes deu ontem mais detalhes sobre o
assunto. "Eu comentei com o time [que elabora as propostas econômicas
para Bolsonaro]: É interessante como faz falta o ajuste fiscal. Quando
existe um regime fisal robusto, não existe essa necessidade de carregar
tantas reservas, porque isso é um seguro muito caro", afirmou ele.
"Quando entra dinheiro de fora, você acumula reservas e emite reais.
Depois você emite dívida interna para esterilizar esse dinheiro que
entrou de fora." O volume elevado de reservas e o baixo déficit em conta
corrente são fatores que reduzem a vulnerabilidade da economia
brasileira, num momento em que a situação das contas públicas é
delicada.
Segundo
Guedes, a venda de reservas seria feita apenas em um cenário de crise.
"O dólar está a R$ 3,60. Para que vou vender dólar? Para derrubar
exportação? Para empurrar para baixo?", disse ele, ao chegar à casa do
empresário Paulo Marinho, no Rio. De acordo com ele, não haverá meta
para câmbio.
"Se
houver uma crise especulativa, não tem problema nenhum. Isso vai
acelerar o ajuste fiscal", disse Guedes. Ele enfatizou que, se o dólar
chegar a R$ 5 e forem vendidos US$ 100 bilhões das reservas, isso
equivale a R$ 500 bilhões, que seriam usados para abater a dívida
interna. "Eu vendo as reservas, reduzo a dívida de R$ 3,5 trilhões para
R$ 3 trilhões e depois sigo a vida. Isso já é um ajuste fiscal em si.
Isso já me economiza", afirmou Guedes, que tem como um de seus objetivos
principais reduzir o endividamento público e, com isso, diminuir os
gastos com juros.
"Qualquer
economista bem preparado conhece o que nós chamamos de política de
esterilização. Há um ataque cambial, você reduz um pouco as reservas e
esteriliza esse efeito recomprando a dívida interna", disse Guedes aos
jornalistas.
O
futuro ministro afirmou ainda que o próximo governo vai aprovar um
projeto que garanta autonomia ao Banco Central, com mandatos não
coincidentes com o de presidente da República. De acordo com ele, a
permanência de Ilan Goldfajn no BC seria natural. No entanto, disse que
ainda não conversou com o atual presidente do BC. Guedes ressaltou que
não quer falar com alguém que não tenha o desejo de ficar. "A motivação é
fundamental." Guedes citou ainda que Ilan assumiu o cargo "por
acidente".
"Ilan
ficou dois anos com Temer. O desenvolvimento natural qual seria? Eu
defendo há 30 anos um BC independente. O Ilan tem uma proposta de BC
independente. O que seria a coisa mais natural do mundo? Eu dar um
abraço no Ilan e falar que defendo há 30 anos BC independente. Ele
falaria que tem um projeto de BC independente. A gente vai junto, aprova
o projeto, você ficou dois anos e ficaria mais dois anos", afirmou ele.
De acordo com Guedes, essa eventual permanência do presidente do BC
teria que ser combinada com a equipe de Bolsonaro e com Ilan.
Guedes
destacou a relevância do projeto de independência do BC para eliminar
as incertezas em relação à autoridade monetária em época de eleição. Com
mandatos não coincidentes para a diretoria do BC, essa fonte de
indefinição seria eliminada.
Ao
comentar a ideia de vender reservas para abater a dívida pública, o
diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), Felipe
Salto, diz que qualquer mudança a respeito precisa ser feita com muito
cuidado. "Teoricamente faz sentido, mas é necessário avaliar o risco
macroeconômico", afirma Salto, ressaltando a importância de o governo se
concentrar em medidas para melhorar o resultado primário (que não
inclui gastos com juros), com prioridade para o controle das despesas. É
preciso avaliar com muita cautela o impacto que a medida teria sobre o
câmbio, diz ele. A venda de um volume muito expressivo de reservas pode
causar uma valorização muito rápida do real, ao colocar "uma montanha de
dólares na economia", diz Salto.
Há
um ganho fiscal, que se daria com a redução das operações
compromissadas, pelas quais o BC vende no mercado títulos do Tesouro com
o compromisso de recomprá-los depois de um prazo determinado, afirma
Salto. Elas fazem parte da dívida bruta, tendo um prazo médio inferior a
30 dias. O fundamental, segundo ele, é avançar na melhora estrutural
das contas públicas. Uma eventual venda das reservas para reduzir a
dívida deve ser muito cuidadosa, sendo "precedida ou acompanhada" por
mudanças no gasto primário, diz Salto. (Colaborou Sergio Lamucci, de São
Paulo)
Valor Econômico – Mercado mostra dúvidas sobre a venda de reservas
Por Cristiane Agostine, Estevão Taiar, Lucinda Pinto, Lucas Hirata, Silvia Rosa e Ribamar Oliveira | Do Rio
A
ideia do governo Jair Bolsonaro de vender parte das reservas
internacionais para reduzir a dívida pública, antecipada ontem pelo
Valor, provocou discussões no mercado financeiro. O futuro ministro da
Economia, Paulo Guedes, explicou que a venda de reservas, hoje em US$
380 bilhões, será feita apenas em um cenário de crise especulativa sobre
o câmbio no país. "Se botarem o dólar lá em cima, a R$ 4 ou R$ 5, será
ótimo. Vamos reduzir dramaticamente a dívida interna". Segundo ele,
seria possível vender US$ 100 bilhões com o dólar a R$ 5, o que
reduziria a dívida interna em R$ 500 bilhões.
Cândido
Bracher, presidente do Itaú, disse que a ideia é interessante, porque
teria impacto fiscal positivo. Mas sugeriu que a venda teria de ser
gradual. Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, tem a mesma
opinião, com a ressalva de que antes de vender reservas é preciso
aprovar as reformas e "mostrar uma trajetória de sustentabilidade
fiscal". Gustavo Loyola, ex-presidente do BC, lembrou que essa discussão
não é muito relevante no momento, porque as reservas representam "um
seguro" para o país, cujo custo diminuiu em função da redução da
diferença entre o juro brasileiro e o americano. Para Luis Costa, do
Citi em Londres, o ideal seria reduzir reservas apenas depois de o Banco
Central zerar o estoque de swaps cambiais, hoje em US$ 68,8 bilhões.
Há
no mercado relativo consenso sobre o excesso de reservas no momento, em
razão do custo fiscal que elas impõem. Mas entende-se que sua redução
seria arriscada, porque poderia piorar a percepção de risco do
investidor em relação ao país. Argumenta-se, também, que vender reservas
num momento de ataque especulativo, com o dólar em disparada, seria o
mesmo que "discutir o seguro quando a casa estiver pegando fogo".
As
explicações de Guedes também deixaram duas perguntas no ar: haverá no
novo governo um teto para o câmbio? Qual seria essa cotação?
The Wall Street Journal sobre Bolsonaro
O WSJ foi praticamente o único grande jornal internacional a não cair na onda idiota — em grande medida criada pela propaganda viciada e viciosa, mentirosa, do PT, em direção dos seus “mortadelas” estrangeiros — sobre a tal de ameaça fascista e o retorno a uma ditadura militar.
Manteve-se o grande jornal equilibrado que sempre foi.
Bolsonaro’s Hope and Change
Brazilians wanted new leadership after years of recession and graft.
By The Editorial Board - The Wall Street Journal
Oct. 29, 2018 6:51 p.m. ET
‘Bolsonaro threatens the world, not just Brazil’s fledgling democracy,” declared a headline last week in the Guardian, referring to presidential candidate Jair Bolsonaro. And that was one of the milder warnings in the international press. Yet Brazilians elected him anyway on Sunday with 55% of the vote. Maybe the world should show a decent respect for Brazilian democracy and try to understand what happened.
Start with the fact that this was a transparent, competitive and fair contest. Mr. Bolsonaro didn’t steal the election. He won it by persuading voters. A 27-year member of the legislature, Mr. Bolsonaro was also fortunate to be running against Fernando Haddad, the hand-picked candidate of the Worker’s Party (PT) that has ruled Brazil for most of the last 15 years. Mr. Bolsonaro was able to run as the reformer against a legacy of economic and political failure.
Brazil has yet to recover from the leftwing populism of PT President Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) and successor Dilma Rousseff (2011-2016). Deficits, public debt and inflation soared, as the PT expanded the number of state-owned enterprises. It also squandered the opportunity to boost capital flows, most notably by failing to create attractive auction rules in the huge deepwater oil reserves discovered in 2007. By the time the Workers’ Party was done, Brazil was in a recession that lasted nearly three years.
The PT also built a legacy of graft. Construction companies padded bids and paid kickbacks to politicians, executives and the PT. The national development bank extended loans to facilitate the transactions, including to Cuba and Venezuela. The head of the bank said in September that the dictatorships in Havana and Caracas have outstanding loans of $1 billion and both are in arrears.
Many other politicians from other parties joined in the bribery schemes. Mr. Bolsonaro did not. That gave him credibility when he ran as the antidote to PT greed and promised to drain the swamp.
Now he has to deliver. One good sign is that his chief economic adviser is Paulo Guedes, who trained at the University of Chicago. Mr. Bolsonaro has a history of economic nationalism, which could be his downfall. But as a candidate he promised to privatize some industries, clean up the fiscal accounts and propose full independence for the central-bank. He has also promised to repair the state pension system. The best medicine would be a Chile-style privatization.
To achieve any of this Mr. Bolsonaro will have to confront an array of special interests in Brazil’s powerful business class. He must also deal with 30 separate parties in Congress’s lower house and 20 in the senate. Yet he has a mandate, which means he should act fast on his reform agenda.
Mr. Bolsonaro has often made offensive comments about race, homosexuality and women, and in the PT days he sometimes waxed nostalgic for an earlier era of military rule. But Brazilians went to the polls knowing all this, and knowing too that their democratic institutions proved their mettle resisting the corruption of Lula and the PT.
Brazilians didn’t vote for fascism or a military coup. They voted for hope and change, and they will throw Mr. Bolsonaro out if he fails to honor his promises.
Manteve-se o grande jornal equilibrado que sempre foi.
Bolsonaro’s Hope and Change
Brazilians wanted new leadership after years of recession and graft.
By The Editorial Board - The Wall Street Journal
Oct. 29, 2018 6:51 p.m. ET
‘Bolsonaro threatens the world, not just Brazil’s fledgling democracy,” declared a headline last week in the Guardian, referring to presidential candidate Jair Bolsonaro. And that was one of the milder warnings in the international press. Yet Brazilians elected him anyway on Sunday with 55% of the vote. Maybe the world should show a decent respect for Brazilian democracy and try to understand what happened.
Start with the fact that this was a transparent, competitive and fair contest. Mr. Bolsonaro didn’t steal the election. He won it by persuading voters. A 27-year member of the legislature, Mr. Bolsonaro was also fortunate to be running against Fernando Haddad, the hand-picked candidate of the Worker’s Party (PT) that has ruled Brazil for most of the last 15 years. Mr. Bolsonaro was able to run as the reformer against a legacy of economic and political failure.
Brazil has yet to recover from the leftwing populism of PT President Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) and successor Dilma Rousseff (2011-2016). Deficits, public debt and inflation soared, as the PT expanded the number of state-owned enterprises. It also squandered the opportunity to boost capital flows, most notably by failing to create attractive auction rules in the huge deepwater oil reserves discovered in 2007. By the time the Workers’ Party was done, Brazil was in a recession that lasted nearly three years.
The PT also built a legacy of graft. Construction companies padded bids and paid kickbacks to politicians, executives and the PT. The national development bank extended loans to facilitate the transactions, including to Cuba and Venezuela. The head of the bank said in September that the dictatorships in Havana and Caracas have outstanding loans of $1 billion and both are in arrears.
Many other politicians from other parties joined in the bribery schemes. Mr. Bolsonaro did not. That gave him credibility when he ran as the antidote to PT greed and promised to drain the swamp.
Now he has to deliver. One good sign is that his chief economic adviser is Paulo Guedes, who trained at the University of Chicago. Mr. Bolsonaro has a history of economic nationalism, which could be his downfall. But as a candidate he promised to privatize some industries, clean up the fiscal accounts and propose full independence for the central-bank. He has also promised to repair the state pension system. The best medicine would be a Chile-style privatization.
To achieve any of this Mr. Bolsonaro will have to confront an array of special interests in Brazil’s powerful business class. He must also deal with 30 separate parties in Congress’s lower house and 20 in the senate. Yet he has a mandate, which means he should act fast on his reform agenda.
Mr. Bolsonaro has often made offensive comments about race, homosexuality and women, and in the PT days he sometimes waxed nostalgic for an earlier era of military rule. But Brazilians went to the polls knowing all this, and knowing too that their democratic institutions proved their mettle resisting the corruption of Lula and the PT.
Brazilians didn’t vote for fascism or a military coup. They voted for hope and change, and they will throw Mr. Bolsonaro out if he fails to honor his promises.
Bolsonaro: entrevista antes da eleição - Washington Times
Uma entrevista que concedi ao jornal americano Washington Times, dois dias antes do segundo turno: https://www.washingtontimes.com/news/2018/oct/28/jair-bolsonaro-elected-brazil-president
Jair Bolsonaro declared next president of Brazil
'We have everything to be a great nation ... together, together we will change Brazil's destiny'
Brazilians on Sunday elected as their 38th president Jair Bolsonaro, the conservative firebrand whose anti-establishment message resonated with an electorate worn out by years of scandal.
Within moments of the polls closing, exit polls and projections confirmed Mr. Bolsonaro’s triumph which, though expected in final days of the victory, is sure to rock Brazil’s political class.
With almost 99 percent of votes counted, the candidate of the fringe Social Liberal Party came in at 55.3 percent of votes, while his Workers’ Party opponent, Fernando Haddad, captured 44.7 percent. The difference amounts to almost 11 million votes.
Early in the evening, as thousands of his supporters celebrating outside his house in Rio de Janeiro’s posh Barra de Tijuca neighborhood, Mr. Bolsonaro took to video streaming — his trademark channel — to thank voters, tout his “governability” and slam his media critics.
“We have everything to be a great nation,” he said after citing a Bible verse in an apparent nod to key backing from evangelical groups. “Together, together we will change Brazil’s destiny.
Later appearing outside his residence and reading from a lengthy prepared statement, Mr. Bolsonaro — who has embraced his “Brazil’s Trump” moniker — said he would “break paradigms” and make his country’s foreign policy “non-ideological.
In an evening news conference, a defiant Mr. Haddad acknowledged his defeat but failed to congratulate his opponent or even mention him by name. The leftist candidate instead promised a spirited opposition to “guarantee [our] institutions.”
Mr. Bolsonaro’s triumph marks the end of a dramatic campaign that, in a matter of weeks, saw the seven-term congressman rise from pesky fringe candidate to all-but-unbeatable front-runner.
The 63-year-old’s numbers shot up in mid-September when the courts vetoed former President Luiz Inacio Lula da Silva’s candidacy over his 12-year sentence on corruption charges. Until then, the iconic Workers’ Party founder had been the clear leader in the polls.
But Mr. Haddad, his replacement, tried to tap into considerable anti-Bolsonaro sentiment but ultimately proved unable to replicate Mr. da Silva’s traction and, worse, came to be viewed as a symbol of a corrupt establishment and a party drunk on power.
And after trailing his rival by nearly 17 percentage points and coming in a distant second in the Oct. 7 first round, the former Sao Paulo mayor failed to narrow the gap enough to lure Mr. Bolsonaro into a true head-to-head debate, televised or otherwise.
Still, Mr. Bolsonaro should know that Sunday’s vote was less a referendum on him than on the Workers’ Party, known by its Portuguese initials PT, Paulo Roberto de Almeida, who leads the Brazilian foreign ministry’s IPRI think tank, told The Washington Times.
“A large part of the votes that gave Mr. Bolsonaro the victory were not pro-Bolsonaro but anti-PT votes,” Mr. de Almeida said. “Much of what happens [now] will depend on whether the party adopts an aggressive attitude — or whether it pauses for a reflection.”
The winner’s controversial proposals and firebrand rhetoric — Mr. Bolsonaro has, at various times, spoken out in favor of torture, forced sterilizations and military rule — will likely put opposition leaders under intense pressure to stir away from any post-election detente.
“I see a Brazil of high tension, polarization, animosity, conflict, fake news — in a word, with rising tensions,” Mr. de Almeida said, cautioning that the post-election calm may not necessarily extend to both sides.
“I don’t know how [Mr. Bolsonaro’s opponents] will react — if they will be confused, frustrated, depressed,” he said, “or if they will retreat into a campaign of hostility, talking fascism, Nazism, racism, xenophobia, homophobia.”
And amid the election of two of Mr. Bolsonaro’s sons to Brazil’s House and Senate, respectively, critics like Jose Paulo Bandeira, a political scientist at Rio de Janeiro Federal University, are already warning of what they view as nepotism and oligarchy.
“There is a political desire to implement a presidential dictatorship,” Mr. Bandeira said. “It’s the Bolsonaro family that will govern Brazil.”
But while Mr. Bolsonaro undoubtedly cultivated a rough, anti-establishment image, caricaturing him as a “fascist” is simply untrue, Mr. de Almeida countered.
“In truth, he could be called an ‘opportunist,’” he said. “He felt a change in the flow of opinions, a need for a representative of conservatism — of certain values and concrete questions like security and anti-corruption.”
In addition, the transition period until Jan. 1, when he will be sworn in to replace outgoing President Michel Temer, now gives Mr. Bolsonaro time to “reconfigure” and soften some of his more extreme talking points and positions, Mr. de Almeida noted.
His challenge, he said, will be to get a team made up of military brass and nonestablishment figures up to speed to actually run South America’s most populous nation, which urgently needs an overhaul of its troubled tax, pension and healthcare systems.
“The Brazilian government is a huge government, and all of this will be very haphazard,” Mr. de Almeida said. “Before March or April, it will be very difficult to have an administration that works normally.”
terça-feira, 30 de outubro de 2018
Diplomacia de Bolsonaro: recomendações - Hélio V. Ramos Filho, Marcelo O. Dantas
Política externa sem pedaladas diplomáticas
O que, de fato, podemos esperar? A resposta ainda não é clara. Muito vai depender das escolhas que o presidente venha a fazer. Se quiser obter sucesso no front internacional, precisará cercar-se de equipe coesa e fiel
Correio Braziliense, 30/10/2018

Alguns aspectos do novo governo já estão delineados: a ênfase na agenda da segurança pública; a defesa da propriedade privada e dos valores familiares; o fomento ao empreendedorismo e à inovação; o apoio ao agronegócio e à exploração responsável das riquezas naturais; e a retomada de projeto de desenvolvimento abrangente, despojado de viés ideológico. Mas a diplomacia nacional e internacional, empresários, enfim, muitos se perguntam sobre a política externa.
O que, de fato, podemos esperar? A resposta ainda não é clara. Muito vai depender das escolhas que o presidente venha a fazer. Se quiser obter sucesso no front internacional, precisará cercar-se de equipe coesa e fiel. Não apenas nos cargos de chefia do Itamaraty, mas também na assessoria diplomática do Palácio do Planalto e no comando das principais missões do Brasil no exterior. A tarefa anuncia-se trabalhosa.
Sem prejuízo das escolhas a serem feitas, existem elementos indispensáveis para o realinhamento da ação diplomática brasileira, com base no interesse nacional.
O fator estruturante mais imediato é a necessidade de habilitar a economia brasileira a beneficiar-se dos estímulos externos. Compete à diplomacia criar oportunidades, atrair investimentos, negociar acordos comerciais e garantir a abertura de mercados para os produtos nacionais.
Continua depois da publicidade
A busca desses objetivos precisa ganhar maior protagonismo na agenda externa. Isso implicará, entre outros fatores: fortalecer a Apex e os setores de promoção comercial do MRE; adotar postura mais assertiva nas negociações da OMC; restabelecer a racionalidade econômica do Mercosul; e conferir a nosso país maior liberdade para aproximar-se dos EUA, da União Europeia e das economias asiáticas.
Na área político-diplomática, é fundamental que se volte a enfatizar a diplomacia bilateral. A ação externa deve estar centrada em diretrizes objetivas, que propiciem maior segurança para as fronteiras nacionais, melhores relações com a imediata vizinhança, diversificação de nossas parcerias internacionais, diálogo aprimorado com as principais potências e fortalecimento de uma imagem positiva do Brasil.
No campo da segurança internacional, devemos estar atentos para a crescente articulação entre crime organizado, terrorismo e regimes autoritários. A diplomacia, em coordenação com os órgãos de defesa e inteligência, terá de situar o país entre os protagonistas no combate a essa aliança explosiva.
Nesse esforço, cabe revigorar a atuação regional, construindo iniciativas para o fortalecimento da democracia e o combate ao narcotráfico na América Latina. Também a política para o Oriente Médio precisará de ajustes. Embora devamos seguir atentos aos interesses comerciais do Brasil, será importante adotar postura firme de condenação ao terrorismo e aos que o financiam.
Com respeito aos direitos humanos, ajuste cuidadoso da atuação internacional seria bem-vindo. Desde os anos 90, grupos de orientação liberal-progressista têm dominado esse segmento da política externa. Nesse exercício, aplicam o que poderíamos chamar de “bicicleta multilateral”: aprovam em foros multilaterais textos que contradizem ou vão muito além do disposto na legislação do país; em seguida, buscam internalizar esses textos, tornando-os parte do arcabouço legal brasileiro. Assim, vão contornando obstáculos ao avanço da agenda. É o caso dos grupos favoráveis à legalização do aborto.
Ao coibir a prática de “pedaladas diplomáticas”, o governo não deve incorrer no erro de romper com os mecanismos internacionais de promoção das liberdades civis. Pelo contrário, precisamos atuar com firmeza e serenidade nesses foros, promovendo iniciativas em sintonia com as aspirações da sociedade brasileira. Temos um papel importante a desempenhar na promoção dos direitos de deficientes físicos, idosos e crianças; na defesa da democracia, do pluralismo político e da liberdade de culto; e no combate a toda forma de extremismo.
Outra questão que exige cuidado é o tema da mudança do clima. Nas últimas décadas, o Brasil esforçou-se em assumir posição de destaque na defesa da agenda ambiental. Esse capital de credibilidade não deve ser desperdiçado. Em 2015, no Acordo de Paris, 174 países adotaram “contribuições nacionalmente determinadas” para conter o aquecimento global. As metas brasileiras serão atingidas com relativa tranquilidade em 2025 e 2030 graças à participação dos biocombustíveis e das novas fontes renováveis na matriz energética.
É indispensável, no entanto, que a atuação brasileira nos foros internacionais ambientais esteja alinhada com as prioridades nacionais. Devemos preservar nossa capacidade soberana de explorar o potencial do país em petróleo e gás, mineração, energia elétrica, infraestrutura de transportes e agronegócio. Tais setores serão fundamentais para o crescimento da economia nos próximos decênios e caberá ao Itamaraty proteger-nos de ingerências externas.
Uma diplomacia competente faz-se com constância, sobriedade e ajustes precisos. Como no lema de Rio Branco —– “Ubique Patriae Memor” —, devemos ter sempre presente o amor à pátria e a promoção do interesse nacional. Com a inauguração do novo ciclo político, teremos a oportunidade de trazer a política externa brasileira de volta às raízes lançadas por nosso insuperável barão.
segunda-feira, 29 de outubro de 2018
Relaciones Chile-Brasil, 1945-1964 - Angel Soto, Rogelio Nunez, Cristian Garay
Las relaciones chileno-brasileñas: de la amistad sin límites al pragmatismo del gigante (1945-1964)
Ángel Soto, Rogelio Núñez, Cristián Garay
SBN: 978-956-284-924-1
206 pp.
150 x 230 mm
304 grs.
2012
Construido como un relato de historia bilateral compleja, este libro incide en la idea del «juego de espejos», pero en la medida que tal juego de espejos es el de una visión asimétrica, donde la visión del gigante brasileño es lejana y pragmática respecto de los «compromisos» que el Estado chileno cree haber comprometido.Chile parece un actor que siempre quiere interpretar sus compromisos como un condicionante de la actividad internacional de Brasil y ello solo tiene un valor muy relativo y acaso coyuntural en momentos en que por necesidad ideológica o geopolítica lo requirió. Quizás tal idea contradiga algunos tópicos corrientemente ensayados para describir las relaciones exteriores chilenas o la propia percepción del rol del país en el siglo XX, pero establece un eje realista de la comprensión.Para los autores, la realidad internacional es lo que es y no lo que pretendamos que sea. El eje del relato no es otro que Brasil como actor determinante de la relación y Chile como un actor comprometido y expectante, con opiniones propias que no necesariamente convergen con las de su socio, y cuya máxima capacidad interviniente es la de limitar la capacidad o mirada de Brasil en su política exterior.

O que se pode esperar de Bolsonaro na Política Externa - O Globo
O que se pode esperar de Bolsonaro na Política Externa
Diplomatas avaliam que diplomacia poderá ser a mais alinhada aos EUA desde o governo do marechal Humberto Castelo Branco
Claudia Antunes e Henrique Gomes Batista, correspondente
O Globo, 28/10/2018 - 20:03 / 29/10/2018 - 08:57
RIO E WASHINGTON — A julgar por declarações da campanha, a política externa liderada por Jair Bolsonaro será a mais alinhada aos Estados Unidos desde o governo do marechal Humberto Castelo Branco, o primeiro depois do golpe de 1964, segundo analistas e diplomatas ouvidos pelo GLOBO. Essa orientação decorreria menos de cálculos estratégicos do que da associação que Bolsonaro e sua equipe buscaram com o ideário de Donald Trump, em especial no que diz respeito à retórica nacionalista e à desconfiança das instituições multilaterais.
— Trump quer que os Estados Unidos sejam grandes, eu também quero um Brasil grande — disse Bolsonaro em julho no programa Roda Viva.
O general Augusto Heleno Pereira, possível ministro da Defesa, já declarou ao GLOBO que as relações com os EUA “podem melhorar”, e criticou a “prevenção enorme” da esquerda em relação à superpotência. Na última sexta-feira, o presidente do PSL, Gustavo Bebbiano, reagindo a uma declaração da observadora eleitoral da OEA sobre fake news, disse que o organismo interamericano tem “zero credibilidade”, e que, como a ONU, tem “viés esquerdista, globalista”. Filho do capitão, Eduardo Bolsonaro, deputado federal por São Paulo, esteve em agosto com Steve Bannon, ideólogo da campanha de Trump.
O ocidentalismo ortodoxo
No início de outubro, em entrevista à agência Reuters, o cientista político Paulo Kramer, da assessoria de Bolsonaro, indicou como possível chanceler do próximo governo o embaixador Ernesto Araújo, diretor do Departamento de EUA, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty.
No segundo semestre de 2017, Araújo publicou em uma revista do centro de estudos do Itamaraty o ensaio "Trump e o Ocidente”, que se tornou referência no círculo bolsonarista. Nele, o embaixador afirma que o presidente americano assumiu a missão de resgatar a civilização ocidental, sua fé cristã e suas tradições nacionais forjadas "pela cruz e pela espada". Essa civilização, escreveu Araújo, está sendo corroída pelo “inimigo interno”, aqueles que esqueceram a própria identidade sob a influência do “marxismo cultural globalista”, cujo marco inicial seria a Revolução Francesa, anterior a Karl Marx.
O ensaio dá pistas para interpretações de obsessões de Trump, como seu desejo de se aproximar da Rússia (bastião do cristianismo ortodoxo) e seus reiterados ataques à Alemanha (que teria jogado fora a criança, o nacionalismo, junto com a água da bacia, o nazismo). Termina conclamando o Brasil a, sem desprezar sua tradição de política externa autônoma, “alinhar-se consigo mesmo” e integrar-se a ao projeto de “recuperação da alma do Ocidente”. Até porque, alega o embaixador Araújo, Trump não é imperialista, mas defende o respeito mútuo entre “nações soberanas e independentes”.
Embora ressalte que é difícil fazer previsões com base apenas no que foi declarado por Bolsonaro e seus colaboradores, o cientista político Dawisson Belém Lopes, professor de relações internacionais da UFMG, avalia que, se adotar o trumpismo como modelo, o presidente eleito tenderá a fazer uma política externa personalista e contrária ao multilateralismo.
Lopes explica que o Brasil sempre foi “ocidentalista”, com diferentes gradações, segundo classificação feita pelo embaixador Gelson Fonseca, autor de livros e ensaios sobre a política externa: "ortodoxa" nos governos Castelo e Eurico Gaspar Dutra; "matizada" com Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Juscelino Kubitschek; e "heterodoxa" com João Goulart, Ernesto Geisel e Luiz Inácio Lula da Silva.
— Bolsonaro deu indicações de que estará no primeiro grupo, mas é bom lembrar que em nenhum dos dois casos já ocorridos o alinhamento durou muito. É uma aposta equivocada, e não acho que o Brasil será tratado com a deferência que dão à Rússia, à Índia ou a Israel — disse o especialista da UFMG.
Descarte de propostas
Entre conhecedores da diplomacia, a expectativa é de que Bolsonaro nomeie um chanceler atento à trajetória diplomática brasileira, que o convença a descartar propostas inspiradas em iniciativas de Trump e que eles consideram temerárias para o país: questionar acordos ambientais (Bolsonaro já disse que desistiu de tirar o Brasil do Acordo do Clima de Paris); abandonar organismos de direitos humanos; transferir a embaixada em Israel para Jerusalém (além dos EUA, só a Guatemala o fez); ou antagonizar demais a China, maior parceiro comercial do país e membro dos Brics, cuja cúpula de 2019 será no Brasil (a visita de Bolsonaro a Taiwan, em fevereiro, motivou uma nota de protesto da embaixada chinesa).
— Os EUA fazem essas coisas, mas são uma superpotência. Se levar essas ideias adiante, Bolsonaro acentuaria o isolamento do país a um ponto enorme — diz o embaixador aposentado e ex-ministro de vários governos Rubens Ricupero, autor de “A diplomacia na construção do Brasil: 1750-2016”.
O também diplomata aposentado José Alfredo Graça Lima, que já representou o Brasil em organismos comerciais e hoje é conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), afirma que “determinadas frases [de Bolsonaro] terão que ser revistas à luz da realidade”:
— Haverá um processo educativo, que vai evoluir de acordo com a sua assessoria.
Nem Ricupero nem Roberto Abdenur — que foi vice-chanceler no governo FHC e embaixador na China, entre outros países — acreditam que o alinhamento com Washington possa automaticamente beneficiar o Brasil. Para Abdenur, o país “corre o risco de ser colocado em uma posição subalterna” e deve ter em mente que podem surgir contenciosos comerciais com Washington, já que Trump recentemente criticou o Brasil por ser “muito duro” nas negociações de comércio.
— Bolsonaro pode conseguir a simpatia retórica, mas Trump é América Primeiro. Ele só quer levar vantagem e já criticou as práticas comerciais do Brasil. Com esse tipo de amigo, não precisamos de inimigo — afirmou Ricupero.
Governo Trump prevê proximidade
No governo dos Estados Unidos, a eleição de Bolsonaro é vista como uma oportunidade. Ele seria um contraponto à eleição no México do esquerdista Andrés Manuel López Obrador, que toma posse em 1º de dezembro.
— Acreditamos que Bolsonaro pode ser tão próximo do governo Trump como é o premier israelense Benjamin Netanyahu — disse uma alta fonte da diplomacia americana.
Embora as posições do presidente eleito sobre China e Jerusalém agradem os encarregados da diplomacia trumpista, é pela questão da Venezuela que os americanos mais “torciam” por Bolsonaro. Eles acreditam que o Brasil adotará uma atitude mais drástica contra o regime de Nicolás Maduro, em contraste com a orientação atual do Itamaraty, que condena as violações de direitos humanos no país, mas tenta deixar uma porta aberta para o diálogo com Caracas.
Segundo representantes de países latino-americanos em Washington, Bolsonaro pode ser o incentivo que faltava para que outros governos da região, como a Colômbia — que recentemente se recusou a assinar uma carta criticando o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, por considerar o uso da força contra Caracas —, ampliem a pressão contra o governo venezuelano.
Bolsonaro vem engrossar uma onda de governos de direita na América do Sul, com presidentes dessa orientação política eleitos em Argentina, Chile, Colômbia e Paraguai. Para os analistas, isso não significa que ele terá apetite ou encontrará receptividade se pretender assumir um papel de liderança na região. Embora muitos apostem que Bolsonaro acabará "normalizado", mesmo com a má repercussão de suas declarações contrárias à democracia e aos direitos humanos, em países como Argentina e Chile o elogio a ditaduras continua sendo inadmissível para a maior parte da opinião pública.
Antecipa-se, além disso, uma certa “competição” para ver quem é o país sul-americano mais amigo dos Estados Unidos, posição que nas últimas décadas tem cabido à Colômbia.
Em outros centros de poder em Washington, o pessimismo é maior do que no governo. Organismos multilaterais temem retrocessos nos direitos humanos, com aumento da violência no campo, o avanço de milícias e de crimes de ódio.
Apostas para a a Chancelaria
Na campanha, Bolsonaro disse duas vezes que nomearia um diplomata chanceler. Além de Ernesto Araújo, citado por seu assessor Paulo Kramer, diplomatas mencionam outros nomes: o embaixador Luís Fernando Serra, que o presidente eleito conheceu em Seul (fala-se no Itamaraty que “rolou uma química” entre os dois); e Pedro Bretas, que está encerrando seu período como embaixador no Canadá e teria a simpatia do general Heleno Pereira.
Se preferir optar por nomes que provoquem menos resistência da maioria dos diplomatas, são mencionados embaixadores aposentados como Rubens Barbosa (ex-embaixador nos EUA) e Luiz Felipe de Seixas Corrêa (ex-vice-chanceler), que é sogro de Ernesto Araújo. De fora do quadro diplomático, o nome mais mencionado é o da senadora Ana Amélia (PP-RS), que concorreu a vice de Geraldo Alckmin, declarou voto no candidato do PSL na primeira hora e há poucos meses equiparou a rede de TV Al Jazeera, do Qatar, ao Estado Islâmico.
Assinar:
Postagens (Atom)