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segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Manual de diplomacia, 7: parcerias estratégicas - Paulo Roberto de Almeida

(continuidade Manual de Diplomacia, 6)

Manual de diplomacia prática, 7: parcerias estratégicas

Paulo Roberto de Almeida

Há uma tendência, em certos países, a multiplicar o número de “parcerias estratégicas”, o que reflete o mesmo cálculo equivocado já visto na questão das prioridades: havendo muitas, não se percebe como separar as que são efetivamente importantes daquelas que a retórica diplomática coloca na lista dos “relacionamentos indispensáveis”. 

Parcerias estratégicas: possibilidades e limites
Mas pior do que colecionar um volume não administrável de parcerias estratégicas é o procedimento que consiste em defini-las a priori; ou seja, a partir da suposição do relacionamento estratégico com base em afinidades estabelecidas prima facie, não com base num cuidadoso exame técnico de identidade de agendas em bases relacionais, não de maneira unilateral.
A começar pelo caráter supostamente “estratégico” da relação, tais parcerias costumam inflacionar o mercado diplomático com um hiper-ativismo multidirecional, levando à dispersão de recursos escassos e focando em objetivos secundários, posto que os “parceiros” definidos de maneira leviana precisam encontrar um mínimo denominador comum (e ele é realmente mínimo). Se existisse um “imposto vocabular” cada vez que diplomatas e outros tomadores de decisão empregassem indevidamente a noção de “parceria estratégica”, seu uso seria provavelmente mais restrito, reservado apenas aos casos efetivamente relevantes e prioritários. O exagero terminológico constitui, provavelmente, um dos mais notórios pecados da linguagem diplomática através dos tempos. 
Uma parceria efetivamente estratégica é aquela que permite uma inflexão de agendas, tanto bilaterais, quanto regionais ou multilateral, ou seja, uma mudança na relação de forças do xadrez internacional. Mas essa possibilidade tem de ser examinada com extremo cuidado, uma vez que o consenso em torno de objetivos mutuamente acordados precisa ser claro e explícito. Proclamações retóricas por ocasião de visitas de cúpula não são a melhor ocasião para se definir uma nova parceria estratégica, uma vez que o entusiasmo de governantes temporários costuma obscurecer sua capacidade de julgamento quanto aos interesses de médio e de longo prazo do país, o que só um estudo ponderado, tecnicamente embasado e empiricamente apoiado, tem condições de recomendar. 
Em resumo, parcerias estratégicas devem ser o resultado final de uma análise abrangente pelo policy planning staff, antes de serem sequer cogitadas no terreno prático.  
     (Continua)

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