O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador livro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador livro. Mostrar todas as postagens

domingo, 3 de março de 2024

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Parece que o antissemitismo voltou à "moda" - Livro: The New American Anti-Semitism: The Left, the Right, and the Jews, Benjamin Ginsberg

 

The New American Anti-Semitism: The Left, the Right, and the Jews is a powerful call to action—one that boldly confronts one of the most pressing issue of our day. 

This NEW RELEASE is for anyone and everyone concerned with the rising threat of bigotry and hatred in our country. It’s a harsh but necessary wake up call… not only for Jews, but for all Americans.
 
Surprisingly, the most virulent form of anti-Semitism today is the result of toxic identity politics and anti-Israeli sentiment coming from today’s political Left.
 
Perhaps the most persecuted people in all of history, Jews have stood tall in the face of unprecedented persecution in all places, at all times. Their culture’s rigorous emphasis on education and achievement catapults them to the upper echelons of the societies in which they live.
 
But their success too often breeds resentment and jealousy, leading to an ugly anti-Semitism that has led, historically, to unspeakable violence.
 
In this urgent new work, Dr. Benjamin Ginsberg—political scientist, professor, and bestselling author—exposes the ugly face of this new, progressive anti-Semitism (which is also thriving in Europe).
 
To combat it, he urges American Jews to form new political alliances, particularly with evangelical Christians.
 
The stakes of not doing so, says Ginsberg, are horrifically high—not only for the survival of the Jewish people, but for America’s survival.
 
Jews have been good for America; and America has been good to the Jews.
 
But things can change ... and Jews can never afford to forget their history.


segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Livro: O movimento da Independência: homens e mulheres na conquista da autonomia nacional - André Heráclio do Rego (coord). Lançamento

Recebido do meu amigo e colega André Heráclio do Rego, coordenador deste livro, no qual colaborei com um capítulo. (PRA)

Prezados amigos, tenho a satisfação de convidá-los para o lançamento do livro que organizei, "O movimento da Independência: homens e mulheres na conquista da autonomia nacional", no próximo dia 22 de fevereiro, no IHG-DF, 19hs.

Independência resgata heróis para a História
 
Organizada pelo diplomata André Heráclio do Rêgo, coleção de 11 ensaios reúne especialistas que mostram a amplitude do 7 de Setembro de 1822.
 
Diplomata, escritor e historiador André Heráclio do Rêgo lança "O Movimento da Independência - Homens e Mulheres na Conquista da Autonomia Nacional”. A obra reúne ensaios de especialistas com visão plural sobre os processos históricos como os da Revolução Pernambucana, da guerra de independência na Bahia e do decisivo empoderamento feminino de que foram protagonistas a arquiduquesa Leopoldina e a primeira militar brasileira, Maria Quitéria.
 A obra nasceu de um seminário realizado na Câmara dos Deputados em comemoração ao bicentenário da independência do Brasil , em 2022. “O movimento da Independência, expressão criada pelo historiador e diplomata Oliveira Lima, não se limitou ao episódio do grito do Ipiranga ou às negociações políticas na corte. Trata-se de um processo muito mais complexo e longo, que envolveu inclusive projetos diferentes de Independência, como foi o caso da Revolução de 1817”. Quem explica é André Heráclio, doutor em Estudos Portugueses, Brasileiros e da África Lusófona pela Universidade de Paris Nanterre e sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.
 O livro, que reúne 11 textos, é uma contribuição às raras iniciativas para comemorar uma das mais importantes datas, assevera o organizador.   No primeiro, “A política joanina no Brasil, centralização e consolidação do estado”, de autoria de Arno Wehling, presidente de honra do IHGB e acadêmico da ABL, o foco é a centralização e a consolidação do Estado. O segundo, do diplomata Paulo Roberto de Almeida, é dedicado a “Hipólito da Costa: o primeiro estadista do Brasil”, que se destacou por suas ideias pioneiras sobre a construção do Estado.
 “Dom João VI entre a história e a memória nos 200 anos da nação”, terceiro ensaio, é da autoria de Jurandir Malerba, professor de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e mostra como Dom João VI atuou decisivamente para a solução monárquica e centralizadora que se adotou com a Independência. 
Já a Revolução Pernambucana de 1817 é tratada no ensaio “José Bonifácio e outro projeto para o Brasil”, de autoria do organizador. O Patriarca da Independência foi uma figura central na construção do Brasil, mas seu projeto não é era o único. “Havia outro, anterior ao dele, o dos revolucionários pernambucanos de 1817, que propugnava uma outra Independência, caracterizada pela República e pelo federalismo”, destaca André Heráclio.
Os dois ensaios seguintes têm como personagem principal a imperatriz Leopoldina, e projetam a mulher não apenas na Independência do Brasil, mas na sociedade de seu tempo. O primeiro, de autoria de Maria Celi Chaves Vasconcelos é também uma busca pela participação feminina na política nacional. O ensaio seguinte, também sobre Leopoldina, é de autoria da historiadora Denise G Porto: “A imperatriz austríaca e a viajante inglesa: entre cartas e tristezas, a história de uma amizade nos tempos da Independência”.
Dom Pedro I, marido de dona Leopoldina, centraliza o que Theodoro Menck, doutor em História das Relações Exteriores pela Universidade de Brasília (UnB),  chama “diversas independências”, e que contraria a crença de que a independência raiou apenas no dia 7 de setembro de 1822 às margens do Ipiranga. Outro ensaio sobre Dom Pedro I é de Luiz Carlos Villalta, doutor e mestre em História Social e professor da UFMG.
O incipiente poder feminino também aparece nos ensaios subsequentes. O primeiro, do doutor em História Ibérica pela École des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS-Paris) Paulo de Assunção, “Amélia de Leuchtenberg, a nobre imperatriz do Brasil”, busca resgatar a trajetória dessa personagem feminina da elite, quase desconhecida no século 19 e nos dias atuais. O segundo, do pesquisador e dramaturgo Maurício Melo Júnior, traz a epopeia de Maria Quitéria, que fugiu de casa, disfarçou-se de homem e alistou-se no Exército para lutar. O livro se conclui com um ensaio do renomado jurista Ives Gandra Martins, professor de Direito da Universidade Mackenzie, que resume o percurso histórico do período da Independência até os dias de hoje.
 
Sobre André Heráclio do Rêgo – diplomata, historiador e escritor, é graduado em Diplomacia pelo Instituto Rio Branco, tem mestrado em Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos pela pela Universidade de Paris Nanterre, doutorado em Estudos Portugueses, brasileiros e da África Lusófona pela mesma universidade e pós-doutorado na Universidade Católica de Lisboa, em História Social, e no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Universidade de São Paulo. Sócio de várias instituições acadêmicas, entre as quais o IHGB, o IAHGP, o IHGSP, o IHGDF, o IHGP e a Sociedade de Geografia de Lisboa.


sábado, 17 de fevereiro de 2024

Edgard Telles Ribeiro: O Punho e a Renda (2010) - resenha de Paulo Roberto de Almeida

 Um romance "histórico" dos tempos em que alguns, no Itamaraty, colaboraram com o regime militar. Não  foi o caso agora, quando das tentativas de golpe de um inepto desonesto e tresloucado ex-militar, que queria ter a 'sua ditadura'. Teria sido uma ditadura dos imbecis. A de 1964-1985 não, foi de militares preparados – para todo o mal que fizeram, mas também para a construção tentativa do "Brasil grande potência" – o que pode ter seduzido alguns oportunistas. 

Resenha antiga, mas ainda interessante, quando falam de um outro golpe e tentativa de implantar uma ditadura.

Paulo Roberto de Almeida, 17/02/2024

Rendas faustianas, punhos wagnerianos... 

Paulo Roberto de Almeida

 

Edgard Telles Ribeiro

O Punho e a Renda

(Rio de Janeiro: Editora Record, 2010, 560 p.; ISBN: 978-85-01-09162-8)  

 

O autor adverte, em sua nota inaugural, que este livro “é obra de ficção”. Acredito. Mas, como ocorre com certas declarações de diplomatas, talvez se deva dar um desconto em afirmação tão peremptória, algo como 50% em relação ao seu valor de face. É uma obra de ficção em grande parte de seu enredo essencial, mas que tem muito de verdade, no que se refere à fundamentação dos personagens e situações. Trata-se de um “romance” verossímil, de uma história plausível, com a vantagem de ter sido concebida e modelada por um “insider”, um diplomata distinguido, que calha ser também um excelente escritor, autor de vários outros romances e livros de contos. 

Eu começaria dizendo que se trata do “romance” (ou da história real) de uma geração: a dos diplomatas – estereotipicamente os de “punhos de renda” – que atravessaram os anos de chumbo do regime militar – feito quase só de punhos – e que conseguiram sobreviver, cada qual a seu modo. Diga-se, desde já, que quase todos “sobreviveram”, sem maiores percalços, e que os “sacrificados” foram poucos. Muitos outros brasileiros não sobreviveram, e é isto que interessa, talvez, não tanto ao Itamaraty, enquanto tal; mas aos brasileiros que saíram da anarquia “democrática” em vigor no início dos anos sessenta, enfrentaram mais de vinte anos de regime militar, e que ainda hoje tentam entender o que, afinal, aconteceu no Brasil, e na região, durante a longa noite de regimes autoritários na América Latina. 

Mas obra não é exatamente o “romance” de uma geração, ou sequer de toda uma casta de servidores públicos, o que são, indiscutivelmente, os diplomatas. Trata-se, mais apropriadamente, de uma “biografia não-autorizada”, talvez goethiana, de uma parte dessa casta de servidores do Estado, em um dos ministérios mais respeitados da burocracia federal. Tudo gira em torno de Max, o codinome, se poderia dizer, que se deixa aprisionar pelos novos tempos e é envolvido em suas tramóias mais sórdidas – quando o Brasil, não contente em consolidar o domínio autoritário no interior de suas fronteiras, ajudava a “corrigir” os desmazelos das democracias populistas nos países vizinhos, ali patrocinando golpes militares violentos. Ele consegue, inclusive, sobreviver à derrocada do regime, sempre apostando nas “pessoas certas”, nas personalidades influentes (a começar por um beijo no anel do cardeal brasileiro, pouco antes do golpe de 1964). Max tem um nome ficcional: Marcílio Andrade Xavier. Mas, na verdade, ele é um amálgama de diversos diplomatas que existiram, realmente, ao longo do regime militar (e mais além...).

O estilo é brilhante, e o leitor atravessa esse “romance-história” sem parar, do começo ao fim de suas 550 páginas, sempre com o personagem principal no centro ou em surdina ao enredo. Este é talvez goethiano, mais exatamente faustiano, pelo menos em partes da obra. Em outras partes, a obra vira um itinerário de descoberta, um pouco como nos romances de John Le Carré, em que os personagens do submundo da inteligência civil, têm de lidar com sentimentos e frustrações, com as emoções humanas, aquilo que Graham Greene chamou, em um dos seus livros, “the human factor”. Parafraseando aquela velha canção sobre os desafinados, pode-se dizer que os homens de inteligência também têm um coração. Pode até ser, mas não propriamente Max, que apenas tem como objetivos poder e prestígio, o tempo todo mirando no futuro, e não apenas no presente de luta surda (e aberta) contra as ameaças comunistas na América Latina em plena era da Guerra Fria.

O personagem principal aparece como um intelectual brilhante. Ele poderia, assim, ter tido sucesso apenas fazendo um pouco mais do que recomendaria o estrito dever funcional; ou então, como muitos outros na carreira, por meio de um desempenho “correto” numa profissão certamente exigente em qualidades pessoais, mas também marcada por tarefas aborrecidamente burocráticas na maior parte do tempo; em qualquer hipótese, ele teria tido a chance de se distinguir no cumprimento de suas “missões” e, dessa forma, ser promovido antes dos seus colegas de turma.

Max, no entanto, dotado de uma ambição desmedida, acaba fazendo um pacto faustiano: cercado, ou encurralado, por um manipulador de carreiras, aceita servir ao SNI, cooperar com a CIA e colaborar com a inteligência britânica, o MI6 (excusez du peu, como diriam os franceses). Sim, tudo isso por motivações puramente pessoais, sem qualquer desejo de vingança; menos ainda por amor ao dinheiro ou qualquer outro motivo mais mesquinho. Apenas um gosto inexplicável por uma vida de dupla, ou tripla, personalidade. Traço de caráter que, aliás, permanece não explicado ao longo do “romance”, o que acrescenta ao mistério (e que poderia ter sido explorado psicanaliticamente, como conviria, talvez, nessa espécie de Bildungsroman).

Todos os personagens têm nomes próprios no “romance”, ainda que ligeiramente trocados, por simples precaução do autor, como o agente da CIA morto pelos Tupamaros no Uruguai, por exemplo. Menos o personagem que introduziu Max no submundo da inteligência brasileira, alegadamente seu chefe em Montevidéu, um antigo embaixador por demais conhecido (dos mais velhos) na carreira, como um anticomunista profissional, e que deixou dois volumes de memórias até interessantes pela sinceridade com que revelou seus “golpes” contra os comunistas da carreira e os de fora dela. O “homem da capa preta” fica sem nome, mas não é difícil descobrir quem seja, e seria até interessante reler, hoje, certas passagens de suas memórias.

Os diplomatas também se precipitarão sobre alguns currículos de colegas, vivos ou “desaparecidos”, para saber o quanto existe de coincidências ou de similitudes, em termos de postos, datas e situações, com colegas que eles possam ter conhecido e que imaginam “retratados” no romance. Muitos se sentirão frustrados, mais, talvez, pelas não-coincidências do que por estas, que são todas absolutamente plausíveis, até mesmo possíveis, tomadas globalmente, ao longo de um itinerário de descobertas muito bem encadeado na competente e absorvente escrita do autor.

Como especialista em cinema – tendo, aliás, servido duas vezes em Los Angeles e dado aulas de cinema na UnB – ele traça um roteiro, um script, melhor dizendo, impecável, com flashbacks e cenas paralelas que prendem a atenção de qualquer leitor, ainda mais se este for da carreira e estiver interessado em conhecer um pouco mais do submundo em que o Itamaraty se envolveu durante os chamados anos de chumbo. O personagem Max, obviamente, confunde os colegas de carreira do autor, pois não corresponde a um diplomata em particular, mas sim a um “compósito literário”, elaborado a partir daqueles poucos que atuaram nas sombras e nos cenários cinzentos que marcaram os anos mais duros do regime militar: poucos desses, aliás, estariam em condições de assumir completamente a figura faustiana que emerge nesta obra, aspecto que se encontra na trama de alguns grandes “romances” clássicos. 

Curiosamente, é um livro de Thomas Mann que oferece ao MI6 britânico a chave, involuntária e inconscientemente fornecida por Max, para penetrar nos segredos do programa nuclear brasileiro, ainda em gestação no início dos anos 1970 – quando o Brasil colaborava com a CIA na montagem dos golpes militares no Uruguai e no Chile – mas cuja interface tecnológica alemã já deixava de cabelos em pé os “não-proliferadores” de Washington. Não, não se trata do Doktor Faustus (que só veio à luz nos anos 1950), mas de uma primeira edição autografada pelo autor de Der Zauberberg (A Montanha Mágica, publicado pela primeira vez em 1924), da qual o embaixador em Montevidéu jamais se separava (mas eu deixo esse spy-catch para os leitores do livro). Este aspecto talvez seja o “detalhe” mais realista – ainda que ficcional – do “romance”, pois se as perseguições a comunistas há muito ficaram para trás, determinadas “opções” nucleares continuam rigorosamente atuais (um pouco como uma baleia que emerge de vez em quando para respirar, segundo uma imagem, hors-roman, do autor). 

Hoje, aliás, os perseguidos dos anos 1970 se encontram em grande medida no poder – alguns até pretendendo se vingar de seus antigos torturadores – e revelações de arquivos diplomáticos (muito antes do Wikileaks) já demonstraram algumas facetas da colaboração de diplomatas com os antigos serviços de repressão. Max, quaisquer que sejam suas encarnações reais, continuou, no romance, atuando nas entrelinhas desses tempos sombrios, sempre com as cautelas necessárias, para emergir depois, aparentemente impoluto, e se adaptar aos novos tempos de república dos companheiros. Ele sobreviveu de um jeito ou de outro, até ver os antigos perseguidos do regime no comando do novo Estado, em uma situação de poder à qual ele mesmo aspirava chegar, como uma espécie de Santo Graal meritório, por suas grandes qualidades intelectuais (também reconhecidas pelos agentes da CIA e do MI6).

Diplomatas e leitores externos ficarão perturbados, por diferentes razões, pelo desenvolvimento geral da trama deste “romance verdadeiro”, que refaz, por assim dizer, o itinerário dessa geração de diplomatas que teve de conviver, suportar ou então se aproveitar – no caso de muitos – das novas condições criadas pelo regime militar no Brasil. Ainda não existe uma história – por algum insider ou por um historiador profissional – de como o Itamaraty “conviveu” com – e se adaptou a – esses tempos sombrios, embora eu mesmo tenha tentado reconstituir uma parte da história neste capítulo de um livro coletivo: “Do alinhamento recalcitrante à colaboração relutante: o Itamaraty em tempos de AI-5”, In Oswaldo Munteal Filho, Adriano de Freixo e Jacqueline Ventapane Freitas (orgs.), “Tempo Negro, temperatura sufocante": Estado e Sociedade no Brasil do AI-5 (Rio de Janeiro: PUC-Rio, Contraponto, 2008; p. 65-89). Sem se lograr, contudo, a colaboração dos envolvidos, é virtualmente impossível reconstituir as tramas mais importantes desse período que muitos querem esquecer.

Os próprios diplomatas que viveram esses tempos – o que não foi o meu caso, para aquela fase precisa da “diplomacia blindada”, digamos assim – ainda não escreveram sobre isso e duvido que venham a empreender a dolorosa tarefa de falar sobre as pequenas e grandes misérias do período. Que Edgard Telles Ribeiro o tenha feito – ainda que sob a forma de um “romance verdadeiro” – oferece uma prova de sua coragem, depois de tantos romances e livros de contos, em lançar-se no que poderia ser chamado de “revisão intelectual” de alguns dos personagens mais emblemáticos do ancien régime militar.

Um livro perturbador para uns e outros da carreira, certamente curioso, ou mais do que isso, para os de fora, em todo caso inédito para os padrões reservados ou circunspectos da Casa de Rio Branco. Os interessados na História, a real, tentarão estabelecer onde termina a realidade e onde começa a ficção; uma separação muito difícil de se fazer, dado o próprio envolvimento do autor com alguns dos que “colaboraram” – involuntariamente, por certo – para a montagem do personagem principal. Algum psicanalista talvez diga que a obra representou a forma de seu autor “matar” uma parte de seu passado, o que também é legítimo, sobretudo para os que viveram intensa e preocupadamente aqueles anos de escolhas difíceis e de futuros incertos. Nem todos os “sobreviventes” o fizeram com tanta dignidade e honestidade intelectual quanto o autor deste “romance”.

Para todos nós, leitores, o importante é saber que o “romance” – quaisquer que sejam suas partes de verdade e ficção – nos prende do começo ao fim, tão absorvedora é a “história” e tão cativantes são a escrita e o estilo do autor: dá para ler, em menos de 24 horas, uma trama de meio século...

 

Paulo Roberto de Almeida

[Brasília, 6 de fevereiro de 2011; 2ª versão: 8/02/2011]

Versão reduzida desta resenha foi publicada neste formato:  

1025. “Diplomacia de capa e espada? Quase...”, Boletim ADB (ano 17, n. 72, jan-fev-mar 2011, p. 29-30; link: www.adb.org). Relação de Originais n. 2243b.

 

2243. “Rendas faustianas, punhos wagnerianos...”, Brasília, 6 fevereiro 2011, 5 p. Resenha de Edgard Telles Ribeiro: O Punho e a Renda (Rio de Janeiro: Editora Record, 2010, 560 p.; ISBN: 978-85-01-09162-8). Revista em 8/02/2011, com base em observações do autor. Feita versão reduzida, sob o título “Diplomacia de capa e espada? Quase...”, publicada no Boletim ADB (ano 17, n. 72, jan-fev-mar 2011, p. 29-30; link: www.adb.org). Versão completa publicada na Revista de Economia e Relações Internacionais (FAAP-SP; vol. 10, n. 19, julho de 2011, p. 183-186; ISSN: 1677-4973; link: http://www.faap.br/faculdades/economia/ciencias_economicas/pdf/revista_economia_19.pdf). Versão da ADB Divulgado no blog Diplomatizzando (24/12/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/12/o-punho-e-renda-romance-verdade-de.html). Postado novamente no blog Diplomatizzando, 17/02/2024: link: ). Relação de Publicados n. 1025 e 1057. 

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Daniel Buarque, livro: Brazil's International Status and Recognition as an Emerging Power: inconsistencies and complexities (Palgrave)

Tenho o prazer de apresentar este livro, publicado pela prestigiosa Palgrave MacMillan, do jornalista-acadêmico (ou vice versa) Daniel Buarque, mais um dele sobre o Brasil, este em inglês, resultado de seu doutoramento no King's College de Londres, focando no Brasil como país emergente e candidato a potência média mundial.


O livro tem uma apresentação do conhecido brasilianista da Universidade de Carleton (Canadá), Sean Burges, que transcrevo abaixo, e que faz a pergunta relevante: O que um país como o Brasil precisa fazer para tornar-se um grande poder mundial, com uma cadeira permanente nas mesas relevantes da governança global?

Esta é a pergunta que Daniel Buarque se empenha em responder, e pelo seu prefácio (e numa consulta à bibliografia), percebe-se que ele desenvolveu uma metodologia apropriada, e muniu-se de dados empíricos adequados para ver como o Brasil é percebido no mundo, daí o subtítulo: inconsistências e complexidades.

Transcrevo igualmente seu prefácio ao livro, que condensa uma vasta experiência em temas brasileiros, para o público nacional e estrangeiro.

Daniel Buarque is a post-doctoral researcher at the Instituto de Relações Internacionais of Universidade de São Paulo (IRI/USP—Brazil). He holds a joint Ph.D. in international relations from King’s College London (KCL—UK) in partnership with USP and also holds an M.A. in Brazil in Global Perspective from KCL and a B.A. in Social Communication (Journalism) from Universidade Católica de Pernambuco (Brazil). His research focuses on the study of international status of states from an intersubjective external perspective, working towards a theory of how nations can increase their level of prestige and gain recognition from the established great powers. He has published widely in Third World Quarterly, Carta Internacional, Place Branding and Public Diplomacy, International Journal of Communication, Revista Brasileira de Política Internacional, Brasiliana, Interesse Nacional and more. A journalist with more than 20 years of experience in Brazilian news outlets, has also published six books, including Brazil, um país do presente (2013) and O Brazil é um país sério? (2022).

Reproduzo o sumário do livro aqui abaixo: 







 Apresentação e prefácio: 

Foreword

 

The first two presidencies of Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) were accompanied by an unprecedented surge in Brazil’s international presence. Everywhere you turned there appeared to be a Brazilian delegation putting forward alternate language in treaty negotiations, proposing new models of development cooperation, negotiating new corporate take overs, or working to calm simmering tensions between contending parties. From Haiti through Geneva and Doha to the Democratic Republic of Congo, Brazil was there. As commentators and pundits quipped, Brazil had arrived.

 

Brazil’s global influence also prompted a cottage industry in the academy with scholars seeking to explain Brazil’s rise. The big questions dominating this literature were hardly surprising. What was it about the 2000s that allowed Brazil to assume such influence in the global and regional system? How might we characterize the role Brazil saw for itself in world affairs? Was there something particular about the Brazilian approach to foreign policy that marked a new era? Could we argue that Brazil’s approach to South-South Cooperation required a fundamental rethink of international relations theory with a specific look to thinking from the South? Thousands of pages of high-quality research were published answering these and many other related questions about Brazil in the world. Yet, almost all of this literature side-stepped a critical question: what did the established powers think about Brazil’s rise? Perhaps more importantly, much of this scholarship did not quite explain ‘what went wrong’ and why Brazil faded with the impeachment of Dilma Rousseff in 2016.

 

An obvious, but largely unanswered question has been left lingering: what does a country like Brazil have to do in order to become a major world power with a permanent seat at key global governance decision tables? To date the attempts to answer this question have largely relied on theoretical and analytical frameworks to support inductive hypotheses. Although there have been a few publications by decision-makers in other countries musing on Brazil’s place in the world and some academic papers informed by conversations about Brazil’s rise, deep and systematic research is absent. This is where Daniel Buarque’s book steps in. 

 

Rather than relying on the traditional tropes and inductive techniques, Buarque has undertaken the hard task of developing a methodological framework for collecting the empirical research necessary to answer the question of how Brazil is actually perceived. Moreover, Buarque chose to focus his research on the key gate keepers to lasting power and influence in the international system. After all, it is the Permanent Five in the UN Security Council that ultimately will decide who has power and influence in global affairs, even if such acceptance is grudgingly given.

 

The result in this book is a careful exploration of what key power-broking countries saw Brazil doing well during its boom years in the 2000s and where the country failed. For the specialist in Brazilian foreign policy the wealth of elite interview data and accompanying analysis is of obvious interest. Yet, the lessons from this book extend far beyond the specific case of Brazil to offer deeper insights into how status changes in the international system and what exactly the dominant actors expect to see in a country that would be their equal in practice and not just legal name. Copious reference to elite interviews with experienced diplomatic and government officials from the P5 countries paints a detailed picture of what sort of behaviour is expected from a would-be global power. In itself this betrays much of the underlying preconception and prejudice about what makes a country important and worth listening to, which in turn offers further avenues for understanding why new ideas in the global system may stutter and fragment. It also serves as a diagnostic for how Brazil or any other aspirant to global powerdom might want to shape their behaviour and approach going forward.

 

As this book is being published policy and scholarly circles are devoting a tremendous amount of energy to exploring the question of potential hegemonic transition, shifts in global power structures, and the possible end of the liberal international order. Brazil under newly re-elected Lula clearly wants to be a major player in this process. Whether you are studying the wider macro questions of change in the global system or the specifics of evolution in Brazilian foreign policy, Buarque’s book is of enormous value. Per Giovanni Sartori’s arguments about the ‘ladder of abstraction’, the detailed single case study provided by Buarque here offers us an ideal platform for opening up new questions and formulating new, testable hypotheses about status and change in world order. Moreover, his research methodology points us back to an important lesson sometimes lost in modern political science, namely the need to patiently sit down and speak with the people who populate the institutions mediating power and influence in world order.

 

Sean Burges

Carleton University

July, 2023


 

Preface – Brazil, show your face

 

 

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto

Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto

É que Narciso acha feio o que não é espelho[1]

 

(But when I first met you face-to-face and didn’t see my own face

I wrote it all off as just more of the city’s bad taste

You know Narcissus likes only what he sees when he looks in the mirror)[2]

 

 

 

In the late 1980’s, as the country turned the corner after more than two decades of an oppressive military dictatorship, one of its most popular singers asked Brazil to introduce itself and explain to its population, and the world, who it was. “Brazil, show your face”, sang Cazuza[3]. For the following three decades, the then established democratic state would work hard to understand and consolidate this identity that it was developing, as well to present itself to the rest of the planet and to try to be recognised as the important global player it had long wanted to be.

 

Trying to know oneself is one of the most pressing questions of humankind, however, and great philosophers have since Ancient Greece thought about and discussed the importance of self-knowledge. Achieving that is a challenge. When we think about the real world, this interrogation might be fundamental to understanding the very identity not only of individuals, but also of entire countries. In international relations, states have a need to know themselves and the type of recognition they get from others in order to understand their place in the world. And that is particularly true for those nations that want to be among the ‘greatest of all’, as Brazil does.

 

For more than a century in its not so long history, Brazil has believed it was destined to greatness and tried to project itself to the rest of the world as an important, modern, developed nation, worth of admiration and respect. Long has it believed it deserved to be seen as it saw itself and tried find out what was the image reflected, what the others in the world thought about it. 

 

Mirrors can help with this search for self-knowledge. They allow one to see oneself on his own as well as to closer perceive what others see. Even the wicked woman of the fairytale would need to use magic to find out how beautiful she really was in comparison to the others in her realm. ‘Mirror, mirror, on the wall, Who in this land is fairest of all?’[4], she would ask to be convinced of her own grace. 

 

This appeal to a reflection is a result of one of the two traditional paths to trying to know oneself. There is the introspective (thinking in first person) and extrospective (thinking in the third person). The first one might appear easier, since it comes from inside, but self-distancing, viewing oneself from an external perspective, can be more conducive to wisdom. It appears to be imperative to learn about oneself from the outside in order to fully develop one’s own identity. 

 

But in international relations there are no magic mirrors. And while it might be possible to develop and introspective understanding about this identity as well as interests and aspirations, seeing a state’s own image from the outside may be even more difficult. 

 

This is the challenge that this book has tried to solve. Even without magic, it applies a systematic research method to go beyond what Brazil believes itself to be and what it tries to project. The study presented here wanted to learn about the other side of the mirror, what is seen of the country and reflected back. What kind of recognition can such a rising state get from others. Not what Brazil wants to be, but what it is perceived as being.

 

The book is the result of over four years working on a PhD at King’s College London (in partnership with Universidade de São Paulo, in Brazil), but it also comes from more than a decade researching and writing about the foreign perceptions of Brazil both as an academic and as a journalist. It all began in the early 2000s, writing articles for the Brazilian newspaper “Folha de São Paulo” about how the world was watching one of the waves of violence in the country. It has long been very common for all the national media to publish articles alluding to what was said about the country abroad. Brazilians often pay attention to the work of Brazilianists, academics studying the country with a foreign perspective, as well as to what the international media says about whatever is happening in Brazil and its ‘repercussions’ abroad. And I wrote a good share of articles like that not only for “Folha”, but also for “G1”, “Terra”, “Valor Econômico”, “BBC News Brazil”, “UOL” and many other outlets – and these foreign perspectives ended up becoming several other reports, two books, a masters and doctoral research, academic articles and this book.

 

In 2010, I travelled to the US and spent six months conducting interviews and developing independent research that would be published as the book “Brazil, um país do presente” (Brazíl, a country of the present). Based on over a hundred interviews conducted while living in New York and traveling to ten states, It surfed on the wave of optimism about Brazil and argued that the country “had arrived”. It didn’t take long for that to change, however, and by 2013 I was abroad again, living in London and doing a MA in Brazil in global perspectives at KCL and watching the positive images about the country crumble under a wave of protests, political and economic crisis. The dreamed “future” seemed to be far away once again.

 

But there was something in that oscillation that deserved more attention. It was clear that Brazil wanted to be seen as an important country in the world and valued seeing its reflection in the mirror of international opinion. One problem, though, was that there was not a consolidated image reflected. There were interpretations of the international media, there were anecdotal evidence from interviews, there were several different global surveys repeating stereotypes related to the country, but there was not a clear image that represented the reflection of Brazil. Especially when thinking about international relations and the actual role the country plays in the world.

 

This is part of what motivated the research presented in this book. I started my PhD trying to develop an understanding of Brazil's reflection in the mirror of international relations. I’ve tried to do so by conducting interviews with foreign experts from great powers of the world. These are the countries that decide the paths of global politics, this is the group that Brazil wants to be a part of, so it would be important to reveal their perceptions about the country. It would be a means to achieve the necessary self-distancing in order to think extrospectively about the country so that it would be possible for it to know itself better. 

 

And the study ended up going beyond that and developing an important understanding about what any state that have the same aspirations as Brazil can do in order to achieve international recognition for a high level of prestige. Based on the perceptions of elites from the top of the global hierarchy, it analyses the challenges to change the status quo and provides a typology about possible (albeit difficult) paths emerging countries can follow in order to attempt to gain recognition from the established great powers.

 

As in the fairytale, the reply from the mirror might not be what the person/country looking at it wants to hear. The reality of what is perceived from the outside can be frustrating. But in the real world, instead of going ‘wicked’ and trying to get rid of rivals as in ‘Snow White’, it is important to understand this feedback, learn from it, align the expectations and develop an actual strategy to work out how to improve the reality so that the reflection can be more suited to what one wants. 

 

This book offers an analysis that can help in this process and allow Brazil to learn about itself and how it is seen from the outside so that it can know its itself a little better and think about its identity, its place and its aspirations in the world. This may surely help the country show its face to the world and try to find the best place for itself in global relations. 

 

As the Rolling Stones would say: You can't always get what you want, But if you try sometimes you just might find, You just might find that you, You get what you need’[5].



[1] Caetano Veloso. 1978. “Sampa.”Track 7 on MuitoPhilips Records.

[2] Rogow, Zack. “Translating ‘Sampa’ by Caetano Veloso”. World Literature Today (blog), 2014. https://www.worldliteraturetoday.org/blog/translation/translating-sampa-caetano-veloso.

[3] Cazuza. 1988. "Brasil." Track 6 on Ideologia. Philips Records.

[4] Walt Disney’s Snow White and the seven dwarfs. 1st ed. Disney Princess. New York: Disney Press, 2005.

[5] The Rolling Stones. 1969. "You Can't Always Get What You Want." Track 9 on Let It Bleed. Decca.





sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Livro: O movimento da Independência: homens e mulheres na conquista da autonomia nacional, André Heráclio do Rêgo; lançamento

Recebi do amigo historiador e colega diplomático o anúncio do lançamento do livro que ele organizou e com o qual colaborei com um capítulo. Tem um largo espaço para as mulheres que foram cruciais no processo de independência:

Paulo Roberto de Almeida



Prezados amigos, tenho a satisfação de convidá-los para o lançamento do livro que organizei, "O movimento da Independência: homens e mulheres na conquista da autonomia nacional", no próximo dia 22 de fevereiro.

Independência resgata heróis para a História
 
Organizada pelo diplomata André Heráclio do Rêgo, coleção de 11 ensaios reúne especialistas que mostram a amplitude do 7 de Setembro
 
Diplomata, escritor e historiador André Heráclio do Rêgo lança "O Movimento da Independência - Homens e Mulheres na Conquista da Autonomia Nacional”. A obra reúne ensaios de especialistas com visão plural sobre os processos históricos como os da Revolução Pernambucana, da guerra de independência na Bahia e do decisivo empoderamento feminino de que foram protagonistas a arquiduquesa Leopoldina e a primeira militar brasileira, Maria Quitéria.
 A obra nasceu de um seminário realizado na Câmara dos Deputados em comemoração ao bicentenário da independência do Brasil , em 2022. “O movimento da Independência, expressão criada pelo historiador e diplomata Oliveira Lima, não se limitou ao episódio do grito do Ipiranga ou às negociações políticas na corte. Trata-se de um processo muito mais complexo e longo, que envolveu inclusive projetos diferentes de Independência, como foi o caso da Revolução de 1817”. Quem explica é André Heráclio, doutor em Estudos Portugueses, Brasileiros e da África Lusófona pela Universidade de Paris Nanterre e sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.
 O livro, que reúne 11 textos, é uma contribuição às raras iniciativas para comemorar uma das mais importantes datas, assevera o organziador.   No primeiro, “A política joanina no Brasil, centralização e consolidação do estado”, de autoria de Arno Wehling, presidente de honra do IHGB e acadêmico da ABL, o foco é a centralização e a consolidação do Estado. O segundo, do diplomata Paulo Roberto de Almeida, é dedicado a “Hipólito da Costa: o primeiro estadista do Brasil”, que se destacou por suas ideias pioneiras sobre a construção do Estado.
 “Dom João VI entre a história e a memória nos 200 anos da nação”, terceiro ensaio, é da autoria de Jurandir Malerba, professor de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e mostra como Dom João VI atuou decisivamente para a solução monárquica e centralizadora que se adotou com a Independência. 
Já a Revolução Pernambucana de 1817 é tratada no ensaio “José Bonifácio e outro projeto para o Brasil”, de autoria do organizador. O Patriarca da Independência foi uma figura central na construção do Brasil, mas seu projeto não é era o único. “Havia outro, anterior ao dele, o dos revolucionários pernambucanos de 1817, que propugnava uma outra Independência, caracterizada pela República e pelo federalismo”, destaca André Heráclio.
Os dois ensaios seguintes têm como personagem principal a imperatriz Leopoldina, e projetam a mulher não apenas na Independência do Brasil, mas na sociedade de seu tempo. O primeiro, de autoria de Maria Celi Chaves Vasconcelos é também uma busca pela participação feminina na política nacional. O ensaio seguinte, também sobre Leopoldina, é de autoria da historiadora Denise G Porto: “A imperatriz austríaca e a viajante inglesa: entre cartas e tristezas, a história de uma amizade nos tempos da Independência”.
Dom Pedro I, marido de dona Leopoldina, centraliza o que Theodoro Menck, doutor em História das Relações Exteriores pela Universidade de Brasília (UnB),  chama “diversas independências”, e que contraria a crença de que a independência raiou apenas no dia 7 de setembro de 1822 às margens do Ipiranga. Outro ensaio sobre Dom Pedro I é de Luiz Carlos Villalta, doutor e mestre em História Social e professor da UFMG.
O incipiente poder feminino também aparece nos ensaios subsequentes. O primeiro, do doutor em História Ibérica pela École des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS-Paris) Paulo de Assunção, “Amélia de Leuchtenberg, a nobre imperatriz do Brasil”, busca resgatar a trajetória dessa personagem feminina da elite, quase desconhecida no século 19 e nos dias atuais. O segundo, do pesquisador e dramaturgo Maurício Melo Júnior, traz a epopeia de Maria Quitéria, que fugiu de casa, disfarçou-se de homem e alistou-se no Exército para lutar. O livro se conclui com um ensaio do renomado jurista Ives Gandra Martins, professor de Direito da Universidade Mackenzie, que resume o percurso histórico do período da Independência até os dias de hoje.
 
Sobre André Heráclio do Rêgo – diplomata, historiador e escritor, é graduado em Diplomacia pelo Instituto Rio Branco, tem mestrado em Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos pela pela Universidade de Paris Nanterre, doutorado em Estudos Portugueses, brasileiros e da África Lusófona pela mesma universidade e pós-doutorado na Universidade Católica de Lisboa, em História Social, e no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Universidade de São Paulo. Sócio de várias instituições acadêmicas, entre as quais o IHGB, o IAHGP, o IHGSP, o IHGDF, o IHGP e a Sociedade de Geografia de Lisboa.


 

 

domingo, 21 de janeiro de 2024

Guerra na Ucrânia: análises e perspectivas, livro de Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Pereira Cabral, Pedro Silva Drummond (Editor)

 Guerra na Ucrânia: Análises e Perspectivas. O Conflito Militar que Está Mudando a Geopolítica Mundial 

Iniciada muito antes do dia 24 de fevereiro de 2022, a guerra na Ucrânia está a mudar o mundo e nossas vidas - se para melhor ou para pior somente o tempo dirá, mas conhecê-la em toda sua complexidade é fundamental para entender e assimilar essas inevitáveis transformações. Essa tarefa não é fácil, pois diante dos enormes interesses econômicos e geopoliticos envolvidos no conflito, tornou-se muito difícil encontrar informações desenviesadas nos grandes meios de comunicação. Com denso conhecimento do assunto não apenas no campo militar mas também no tocante aos meandros da complicada e violenta reviravolta política ucraniana que se inicia na revolução de 2013, ambos os autores desvendam a guerra com uma clareza, rigor factual e simplicidade que tornam muito agradável (e apaixonante) a leitura deste livro. Poucas pessoas conseguiriam explicar esse cenário caótico com tanta maestria e altivez. Trata-se, portanto de um trabalho sério, técnico e, sobretudo, elaborado com dois atributos raros nos dias de hoje: dignidade e respeito aos acontecimentos, sem paixões ou polarizações. Que o leitor extraia lições para os sérios e negligenciados perigos que o mundo atual expõe para a sobrevivência da humanidade.

Do prefácio de Robinson Farinazzo

  • Editora ‏ : ‎ Editora D'Plácido; 1ª edição (28 agosto 2023)
  • Idioma ‏ : ‎ Português
  • Capa comum ‏ : ‎ 494 páginas
  • ISBN-10 ‏ : ‎ 6555898186
  • ISBN-13 ‏ : ‎ 978-6555898187
Adquiri este livro e fiquei muito bem impressionado pelo conteúdo, pois os autores são especialistas em conflitos militares, segurança e estratégias militares. Animam o site História Militar em Debate: https://historiamilitaremdebate.com.br/

Sumário 
Prefácio por Robinson Farinazzo 13 
Introdução 17 
1. As causas históricas da Guerra Russo-Ucraniana 21
     Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
2. O Conflito no Leste Europeu: Um balanço de um mês de operações militares 33 
    Ricardo Pereira Cabral 
3. O Realinhamento Estratégico-Operacional Militar da Rússia diante do Fracasso da Operação de Demonstração de Força 43 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
4. A Marcha da Insensatez 55 
    Ricardo Pereira Cabral 
5. O Grupo Wagner 59 
    Ricardo Pereira Cabral 
6. 45 dias de conflito no Leste Europeu 63
7. As transformações geopolíticas na Europa e o conflito no Leste Europeu 71 
    Ricardo Pereira Cabral 
8. 63º dia da Guerra da Ucrânia 77 
    Ricardo Cabral 
9. Uma abordagem geopolítica sobre Rússia e a Finlândia 81 
    Ricardo Pereira Cabral 
10. O 80º Dia de Operações Russas na Ucrânia 85 
    Ricardo Pereira Cabral 
11. Uma abordagem geopolítica sobre Rússia e a Suécia 93 
    Ricardo Pereira Cabral 
12. As Batalhas em Cidades-Fortificações em Donbass 101 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
13. 90º Dia do Conflito no Leste Europeu 107 
    Ricardo Pereira Cabral 
14. 100º Dias de Conflito no Leste Europeu 113 
    Ricardo Pereira Cabral 
15. 124 Dias de Guerra no Leste Europeu: Contexto Atual e Perspectivas Próximas 121 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
16. A importância estratégica da Batalha da Ilha da Serpente no Conflito do Leste Europeu 135 
    Rodolfo Queiroz Laterza
17. Análise Tático-Operacional dos Fronts de Kharkiv, Kherson e Vuhledar 143 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
18. 160 Dias de Conflito Militar na Ucrânia 151 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Pereira Cabral 
19. O futuro da Ucrânia, segundo Dmitry Medvedev 161 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
20. “Grupo Brave” e o Batalhão “Somália” na Guerra do Leste Europeu 167 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
21. A situação pré-guerra e as perspectivas da Força de Blindados da Ucrânia 171 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
22. Operações de Sabotagem do Serviço de Segurança Ucraniano na Guerra do Leste Europeu 181
    Rodolfo Queiroz Laterza 
23. Algumas considerações estratégicas sobre a ofensiva ucraniana em Kharkhi-Izium 197 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
24. Uma análise sobre o baixo efetivo das unidades de combate russas na Guerra da Ucrânia 205 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
25. 7 meses da Guerra no Leste Europeu 215 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
26. A Ofensiva Ucraniana em Kherson 223 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
27. A VKS e a Defesa Aérea Ucraniana 229 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
28. As operações ucranianas em Kherson 241 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
29. O emprego de UAV pelas Forças Armadas Ucranianas 247 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
30. Os principais drones russos empregados na Guerra da Ucrânia 255 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral
31. As variáveis tático-operacionais na Guerra da Ucrânia e seus desdobramentos políticos e estratégicos 265 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
32. A importância dos sistemas C4ISR na Guerra da Ucrânia 271 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
33. Um balanço das últimas semanas da Guerra na Ucrânia (Dezembro 2022) 283 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
34. As modificações táticas e na estratégia militar russa introduzidas pelo General Segei Surovikin no Teatro de Operações da Ucrânia 289 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
35. Breve análise sobre os ataques de mísseis de cruzeiro e drones kamikaze ao sistema energético ucraniano 295 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
36. As diversas perspectivas das ofensivas da Ucrânia 303 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
37. A Batalha de Soledar 311 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
38. Unidades DRG na Guerra da Ucrânia: Como são usados e o que são? 321 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
39. O que são Companhias Militares Privadas? 329 
    Ricardo Cabral 
40. A PMC Wagner Group: O que realmente são, Características, Perfil, Operacional 333 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
41. Breves considerações sobre a Modernização do MBT T-62M para a Guerra da Ucrânia 345 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
42. Sobre a formação de novas tropas nas Forças Armadas da Ucrânia 353 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
43. Estudo sobre a Batalha de Vuhledar no curso da Guerra da Ucrânia 359 
    Rodolfo Queiroz Laterza 44. Um ano de Guerra na Ucrânia 367 
    Ricardo Cabral e Rodolfo Queiroz Laterza 
45. A Guerra de Drones da Ucrânia contra a Rússia 383 
    Ricardo Pereira Cabral 46. Possíveis Cenários sobre a Ofensiva de Primavera Ucraniana 389 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
47. O Desenvolvimento da Batalha de Avdeevka 397 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
48. Uma análise crítica dos Grupos Táticos de Batalhão do Exército Russo 403 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
49. A Eficácia dos Drones Kamikaze Lancet-3 na Guerra da Ucrânia 415 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
50. A primavera europeia: a ofensiva russa e o contra-ataque ucraniano 421 
    Ricardo Cabral 
51. Análise das Fortificações Russas no Perímetro Operacional da Guerra na Ucrânia 429 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
52. Breve Análise do Ataque de Mísseis à Base de Khmelnytsky e suas possíveis consequências para a Ofensiva Ucraniana 437 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
53. Um primeiro balanço das lições apreendidas da Guerra da Ucrânia 441 
    Ricardo Pereira Cabral 
54. A Batalha de Bakhmut 449 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
55. Análise da Ofensiva de Verão Ucraniana em 2023 465 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
56. Cenários sobre o fim do conflito militar na Ucrânia 479 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
Agradecimentos e apresentação dos autores e organizador da obra 491