O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 17 de agosto de 2024

Desafios no combate ao antissemitismo - Sofia Débora Levy (Casa Stefan Zweig, Petrópolis, RJ)

 

Diretora Educacional do Memorial às Vítimas do Holocausto do Rio de Janeiro, Sofia Débora Levy é psicóloga clínica, bacharel e licenciada em Psicologia e em Letras Português-Hebraico, professora, consultora, mestre em Psicologia (UFRJ), doutora em História das Ciências, Técnicas e Epistemologia (UFRJ) com pós-doutorado em Memória Social (Unirio). Localizado no Morro do Pasmado em Botafogo, no Rio de Janeiro, o Memorial às Vítimas do Holocausto tem por objetivo preservar e tornar conhecidas as histórias das vítimas da perseguição e do genocídio cometidos pelo regime nazista que atingiu judeus, negros, pessoas com deficiência física e mental, comunidade LGBTQIAP+, Testemunhas de Jeová, maçons e outros grupos. No subsolo do monumento de 20 metros que representa os Dez Mandamentos abriga uma exposição permanente com memórias e relatos de vítimas e sobreviventes do Holocausto.

 

Em setembro, o tema será "Combate ao racismo", e o palestrante é Filipe Graciano, do Museu da História Negra de Petrópolis.

 

Venham participar. A participação dá direito a certificado, para quem precisar.


quarta-feira, 19 de junho de 2024

Stefan Zweig e o país que não chegou ao futuro in: Stefan Zweig no caleidoscópio do tempo - Paulo Roberto de Almeida

 Mais recente capítulo de livro publicado, este ensaio sobre Stefan Zweig e sua obra sobre o Brasil, de 1941, que eu havia escrito um ano e meio atrás: 


4294. “Stefan Zweig e o país que não chegou ao futuro”, Brasília, 22 dezembro 2022, 10 p. Colaboração a livro sob a coordenação da Casa Stefan Zweig e do Laboratório de Estudos Judaicos da Universidade Federal de Uberlândia. Publicado in: Kristina Michahelles, Geovane Souza Melo Junior e Kenia Maria de Almeida Pereira (orgs.), Stefan Zweig no caleidoscópio do tempoReflexões sobre o autor de Brasil, um país do futuro (Rio de Janeiro: Passaredo Edições, 2024, 294 p.; ISBN: 978-65-983721-0-1; p. 131-146). Relação de Publicados n. 1561


Trecho inicial de minha contribuição: 


Stefan Zweig e o país que não chegou ao futuro

  

Paulo Roberto de Almeidaa

Diplomata, professor.

 

"Antes que, por livre vontade e na plena possessão de meus sentidos, eu abandone a vida, me sinto obrigado a cumprir um último dever: agradecer, desde o meu mais íntimo, a este maravilhoso país, Brasil, que nos ofereceu a mim e a minha obra um lugar tão magnífico e acolhedor. Cada dia passado aqui contribuiu a querer ainda mais a este país, em nenhum outro lugar teria desejado reconstruir a vida novamente, depois que o mundo de meu próprio idioma se derrubou e que o meu lar espiritual, a Europa, se autodestruiu. Mas, depois de cumprir sessenta anos fazem falta forças para começar totalmente de novo. E as minhas estão esgotadas, depois de tantos anos a errar sem pátria. Por isso considero melhor cerrar em seu devido tempo e com uma alta atitude uma vida que o trabalho intelectual e a liberdade pessoal me deram as maiores alegrias e me parecem o mais elevado bem desta terra. Saúdo a todos os meus amigos. Oxalá cheguem a ver a aurora depois desta larga noite. Eu, excessivamente impaciente, me adianto a todos eles."

“Declaração”, Stefan Zweig (Petrópolis, 22/02/1942)

 

 

Como nasceu a ideia de escrever sobre o “país do futuro”?

Nas memórias que começou a conceber desde sua saída apressada da Áustria, após que Hitler alcançou o poder na Alemanha, mas que só foram terminadas por ocasião de sua vinda definitiva para o Brasil, Stefan Zweig descreve seus sentimentos ao atravessar o Atlântico em 1936, a partir da Inglaterra, onde se encontrava exilado desde 1934: 

Era apenas com o meu corpo, e não com toda a minha alma, que eu vivia na Inglaterra naqueles anos. E foi justamente a preocupação que me causava a Europa, essa angústia que pesava dolorosamente sobre os nervos, que me fez viajar bastante, e mesmo atravessar duas vezes o oceano, durante os anos que se estendem da tomada do poder por Hitler e o começo da Segunda Guerra Mundial. Eu estava impulsionado talvez pelo pressentimento de que era necessário me abastecer de impressões e de experiências, tantas quanto o coração poderia conter, enquanto o mundo permanecia aberto e que ainda era permitido aos barcos navegar tranquilamente pelos mares, talvez mesmo pela suspeita ainda muito vaga de que o nosso futuro, o meu em especial, estava além dos limites da Europa. Uma sequência de conferências nos Estados Unidos me ofereceu a oportunidade desejada de ver, de leste a oeste, de norte a sul, esse grande país em toda a sua diversidade, combinada, entretanto, a uma profunda unidade. Mas, talvez ainda mais forte foi a impressão que me deu a América do Sul, na qual aceitei de boa vontade participar de um congresso convidado pelo PEN-Club Internacional: nunca antes me pareceu tão importante quanto esse momento de fortificar o sentimento da solidariedade espiritual acima das fronteiras dos países e das línguas. (1993, p. 461)

 

Sua primeira estada na América do Sul, com uma curta passagem pelo Rio de Janeiro, entre o final de agosto e o início de setembro, foi relatada numa coleção de impressões de viagem que o próprio Stefan Zweig publicou separadamente ao retornar à Inglaterra no outono de 1936. Zweig concebeu escrever um livro sobre o Brasil logo depois dessa primeira passagem pelo país, a caminho de Buenos Aires. Eles foram reunidos em 1937 e publicados numa editora vienense com vários outros textos do autor: Begegnungen mit Menschen, Büchern, Städten (Encontros com homens, livros, cidades). Em 1981, foram novamente reunidos na coletânea Länder, Städte, Landschaften (Países, cidades, paisagens).

Zweig já estava, então, planejando escrever um livro mais alentado sobre o Brasil e por isso recusou, no final de 1937, uma proposta de seu editor brasileiro, Abraão Kogan, para publicar uma edição traduzida, o que não se realizou de imediato. Ainda assim, Kogan juntou os relatos a outros textos do livro Begegnungen e publicou-a em 1938, numa edição uniforme de sua obra, sob um título similar: Encontros com homens, livros e países. Apenas oitenta anos depois de sua primeira viagem ao Brasil, os textos foram novamente publicados sob o título de Kleine reise nach Brasilien, traduzido e publicado como Pequena Viagem ao Brasil (2016). Vários trechos da Pequena Viagem foram de fato incorporados ao País do Futuro, que se beneficiou, assim, daquele projeto inicial necessariamente sintético, dada a brevidade de sua passagem em 1936, numa travessia atlântica durante a qual ele também começou a escrever a biografia de Fernão de Magalhães, na epopeia da primeira volta ao mundo (obra terminada e publicada em 1937).

A primeira estada de Zweig no Brasil se dá, portanto, sob o governo constitucional de Getúlio Vargas – eleito em 1934 pela Assembleia Constituinte –, mas já depois da Intentona Comunista de novembro de 1935, sob a vigência da Lei de Segurança Nacional, e dois anos antes das eleições previstas para 1938, quando deveria ser eleito, por voto direto e secreto (pela primeira vez), o próximo presidente. Zweig certamente tomou conhecimento do golpe do Estado Novo, em novembro de 1937, por acaso o mesmo nome já adotado pela ditadura portuguesa quase dez anos antes, na esteira de diversos outros regimes autoritários, geralmente de direita, que estavam se multiplicando na Europa e na América Latina. Já estabelecido na Inglaterra desde 1934, quando fugiu apressadamente de Salzburg, Zweig teve o “privilégio” de ver os seus livros queimados pelos nazifascistas duas vezes: em 1933, em Berlim, e novamente na Áustria em 1938, depois do Anchluss, a anexação ao Terceiro Reich. 

(...)

===========

O livro pode ser adquirido junto à Casa Stefan Zweig: 

Contato: casastefanzweig@gmail.com

https://casastefanzweig.org.br/

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Stefan Zweig no caleidoscópio do tempo: Reflexões sobre o autor de Brasil, um país do futuro - Lançamento do Livro Casa Stefan Zweig, Petrópolis, 22/06/2024

 Stefan Zweig no caleidoscópio do tempo: Reflexões sobre o autor de Brasil, um país do futuro

Este é o livro que será lançado sábado dia 22/06, na Casa Stefan Zweig de Petrópolis.

Tenho um capítulo no livro: Stefan Zweig e o país que não chegou ao futuro”, in: Kenia Maria de Almeida Pereira; Kristina Michahelles e Geovane S. M. Junior (orgs.), Stefan Zweig no caleidoscópio do tempo: Reflexões sobre o autor de Brasil, um país do futuro (Editora Passaredo, 2024)

quarta-feira, 13 de março de 2024

Simon Wiesenthal Prize 2023 - Casa Stefan Zweig

 

Nominations for the Simon Wiesenthal Prize 2023

We are pleased to announce the nominees for the 2023 award:

The following entries have been nominated by the jury for the Main Prize for Civic Engagement to Combat Antisemitism and Educate the Public about the Holocaust (listed in alphabetical order):

  • AMCHA (Israel)
  • CASA STEFAN ZWEIG (Brazil)
  • JAN GRABOWSKI (Canada)
  • LIKRAT - LET'S TALK! (Austria & Switzerland)

The following entries have been nominated by the jury for the Prize for Civic Engagement to Combat Antisemitism (listed in alphabetical order):

  • ASOCIACIÓN CULTURAL MOTA DE JUDÍOS (Spain)
  • ELNET (Germany)
  • SOS MITMENSCH (Austria)

The following applications have been nominated by the jury for the Prize for Civic Engagement to Educate the Public about the Holocaust (listed in alphabetical order):

  • ALOIS AND ERNA WILL (Austria)
  • CENTROPA (Austria)
  • HEIDEMARIE UHL, deceased 2023 (Austria)

The jury was particularly keen to pay tribute to the contemporary witnesses nominated for the award. By talking about their experiences, these survivors provide the most compelling and valuable testimonies of all in the efforts to come to terms with the Holocaust and take a stand against antisemitism. Their work and dedication should and must be an example to us all.

The following contemporary witnesses will receive special recognition and be honoured at the event:

  • HELGA FELDNER-BUSZTIN (Austria)
  • JENO FRIEDMANN (USA)
  • OCTAVIAN FÜLÖP (Romania)
  • NAFTALI FÜRST (Israel)
  • MARIA GABRIELSEN (Norway)
  • VIKTOR KLEIN (Austria)
  • OTTO NAGLER (Israel)
  • KATHARINA SASSO (Austria)
  • LIESE SCHEIDERBAUER (Austria)
  • MARIAN TURSKI (Poland)

The Board of Trustees of the National Fund chose the winners of the Simon Wiesenthal Prize 2023 from the jury shortlist at the beginning of December. One winner will be announced in each of the three categories.

The winners will be announced in a ceremony held at the Parliament on 12 March 2024.


sexta-feira, 22 de julho de 2022

Casa Stefan Zweig de Petropolis comemora seus primeiros dez anos - Alberto Dines, Kristina Michahelles, Israel Beloch

Querid@s amig@s da Casa Stefan Zweig,

Uma "pequena usina de quimeras" começou a funcionar a pleno vapor há mais de 10 anos, nas palavras do fundador e idealizador da CSZ, Alberto Dines (veja abaixo discurso inaugural de 2012),
E já vamos assoprar as velinhas no final deste mês.
Fizemos muita coisa nessa década e já somos hoje parte integrante da paisagem cultural de Petrópolis.
Venha comemorar conosco no sábado, 30 de julho, a partir das 11h. 

O presidente da CSZ, Israel Beloch, fará uma breve alocução, e o mais recente integrante do nosso Conselho, o artista plástico Luiz Áquila, vai falar sobre a exposição em versão "pocket" da fantástica Eleonore Koch, uma das milhares de refugiadas do nazifascismo.
Para dar um toque especial de alegria, convidamos a saxofonista Daniela Spielmann a dar uma canja.
VENHAM TODOS! 
VAMOS CELEBRAR!

Kristina Michahelles, diretora executiva, e equipe da CASA STEFAN ZWEIG

Íntegra do discurso inaugural de Alberto Dines em 28/7/2012: https://casastefanzweig.org.br/sec_texto_view.php?id=118


quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Livros sobre refugiados do nazismo no Brasil - Casa Stefan Zweig e embaixadas do Brasil

 Embaixada do Brasil em Washington: 

November 27, 2021
Embassy donates publications on refugees who sought protection in Brazil at the time of World War II
The material, which focuses on the refugees' contributions to Brazilian society, are being incorporated into the collections of major libraries in D.C.
German jeweller Hans Stern (1922-2007) in Copacabana Beach in 1939, soon after his arrival in Brazil. A renowned figure in Brazilian jewelry design, he founded the first gemological laboratory in South America. Photo: Stern Family archive / The Legacy of Exile

The Embassy of Brazil in Washington donated a number of publications to the U.S. Holocaust Memorial Museum, the Library of Congress and the Ralph J. Bunche Library of the Department of State that highlight the contributions of European refugees of World War II to Brazilian society and culture. 

The publications resulted from a partnership between Casa Stefan Zweig, in Petrópolis, in the state of Rio de Janeiro, and the Consulate General of Brazil in Geneva, headed by Ambassador Susan Kleebank. 

Coinciding with the November 9 decision by the International Holocaust Remembrance Alliance to admit Brazil as an observer country, the gift to American institutions "celebrates a commitment shared by Brazil and the United States to combat anti-Semitism and preserve Holocaust remembrance for future generations," says Brazilian Ambassador in Washington, Nestor Forster Jr., in a letter accompanying the donation.

One of the publications, The Legacy of Exile (1933-1945): How Refugees Fleeing World War II Contributed to Brazil, is the catalogue for an eponymous exhibition organized by Casa Stefan Zweig and the Consulate General of Brazil in Geneva. It features biographical entries along with photographs of refugees, including the Polish graphic artist Fayga Ostrower, German translator Herbert Caro, Austrian literary critic Otto Maria Carpeaux, and Czech philosopher Vilém Flusser.

Cover of The Legacy of Exile, a catalog published for an exhibition portraying the lives of refugees who contributed to Brazilian society in several fields.
This and the other donated material serve to honor and tell the story of refugees who, fleeing oppression, found a welcome home in Brazil, where they could rebuild their lives.

Through this donation, the Embassy also wishes to pay tribute to the alliance between Brazil and the United States that took shape during World War II, when troops from both countries fought side by side on European soil to defend human dignity, freedom and democracy—principles that, to this day, constitute the foundation of the partnership between the two largest democracies in the Hemisphere.
List of donated publications
  • Biographical Dictionary of Refugees of Nazi Fascism in Brazil (English version published by Casa Stefan Zweig with the support of the Brazilian Consulate in Geneva).
  • The Legacy of Exile (1933-1945): How Refugees Fleeing World War II Contributed to Brazil, a catalog of the eponymous exhibition.
  • Two brochures (one in French and Portuguese and one in English and German) containing the biographies of the refugees depicted in the above-referenced exhibition.
  • A catalog of Le Brésil dans l’expressionisme de Wilhelm Wöller exhibition (Wöller was a German painter of Die Brücke movement who fled to Brazil in 1939).
  • A catalog of Le Brésil dans les archives de la famille Scheier exhibition (Peter Scheier was a German refugee who became an acclaimed photographer).
  • The catalog of the Fayga Ostrower: 100 Years exhibition (Ostrower, a Polish refugee, became one of the leading graphic artists of her generation).

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Casa Stefan Zweig: 140 anos do nascimento do autor de "Brasil, um país do futuro" - Webinar (5/05/2021)

140 anos do nascimento do autor de "Brasil, um país do futuro".

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Fernão de Magalhães e Stefan Zweig: o navegante e o biógrafo - Casa Stefan Zweig (30/11/2021, 17hs)

Não posso perder: 



Sobretudo por que eu já me ocupei bastante dos dois, do navegante e do biógrafo, tentando determinar, por exemplo, quanto teria custado a viagem do navegador. Acho que consegui, como demonstrei na minha segunda postagem, como abaixo, da qual transcrevo a parte final: 

"... pode-se calcular que o custo total da viagem de Fernão de Magalhães foi, em preços atualizados de hoje (um ducado espanhol do início do século XVI equivalente aproximadamente a US$ 150), de 3 milhões e setecentos mil dólares.
Se aceitarmos que o valor da carga que trouxe o Victoria era de 7.888.684 maravedis, e que essa moeda poderia equivaler a 50 centavos de dólar por maravedi, teríamos então um retorno de US$ 3.994.342,00, ou, seja, um “lucro” aparente de 250 mil dólares. Não estamos computando, obviamente a perda dos homens e dos navios, pois dos cinco navios apenas um retornou, e dos 240 homens partidos apenas 18 retornaram a Sevilha. Uma empresa de seguros poderia fazer o cálculo do valor humano da primeira viagem de volta ao mundo? Os navios ficam pela amortização em 3 anos..."

Eis as postagens: 

3265. “Fernão de Magalhães: quanto custou a primeira viagem de volta ao mundo?”, Brasília, 8 abril 2018, 3 p. Informação e questionamento sobre os valores atuais das despesas com a frota de Fernão de Magalhães, partindo em 20 de setembro de 1519, para a primeira viagem de circum-navegação, com cinco navios. Postado no blog Diplomatizzando (https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2018/04/fernao-de-magalhaes-quanto-custou.html).

3394. “Projeto Fernão de Magalhães – leituras de livros”, Brasília, 12-16 janeiro 2019, 10 p. Resumos seletivos de livros (especialmente sobre os custos) relativos à viagem de circunavegação iniciada pelo navegador português convertido em súdito espanhol, com base nas seguintes obras: 1) José Maria Latino Coelho: Fernão de Magalhães (com um prefácio de Júlio Dantas; 4a ed.; Lisboa: Empresa Literária Fluminense, 1921); 2) Visconde de Lagoa: Fernão de Magalhães: a sua vida e a sua viagem (Lisboa: Seara Nova, 1938, 2 vols.); 3) Queiroz Velloso: Fernão de Magalhães: a vida e a viagem (Lisboa: Editorial Império, 1941); 4) Stefan Zweig: Fernão de Magalhães: história da primeira circunavegação (Rio de Janeiro: Editora Guanabara, s.d.; tradução de Elias Davidovich), este último aproveitando postagem anterior feita no blog Diplomatizzando (em 9/04/2018: http://diplomatizzando.blogspot.com/2018/04/fernao-de-magalhaes-quanto-custou.html), acrescida de comentários sobre os valores atualizados dos curstos da viagem feitos pelo economista Leonidas Zelmanovitz, Senior Felow do Liberty Fund (Indiana, USA; em 10 de janeiro de 2019). Postado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2019/01/fernao-de-magalhaes-livros-sobre.html).

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Casa Stefan Zweig lança o “Dicionário dos Refugiados do Nazifascismo no Brasil” - Euler de França Belém

 Euler de França Belém 

Casa Stefan Zweig lança o “Dicionário dos Refugiados do Nazifascismo no Brasil”

Livro cita Ziembinski, Edoardo de Guarnieri, Georges Bernanos, Otto Maria Carpeaux, Frans Krajcberg, Ida Gomes, Berta Loran, Fayga Ostrower, Fritz Oliven, Stefan Zweig

Leitores brasileiros “escalaram” o romance “A Montanha Mágica”, do escritor alemão Thomas Mann (filho de uma brasileira), aprenderam a pensar sobre os tempos modernos com “Massa e Poder”, do filósofo e escritor búlgaro (de expressão alemã) Elias Canetti graças à perícia do tradutor alemão Herbert Moritz Caro e ficaram bem-informados sobre a literatura transnacional devido a competência e ao enciclopedismo do austríaco Otto Maria Carpeaux. O húngaro Paulo Rónai trouxe para o deleite patropi a literatura da Hungria, de outros países e, inclusive, a obra completa do escritor francês Honoré de Balzac. O alemão Anatol Rosenfeld se tornou um crítico notável e um guia cultural seguro, dada sua formação filosófica e literária rigorosa. Stefan Zweig, ao se mudar para o Brasil, notou que se tratava do “país do futuro”. Ante o temer da expansão nazista, se matou no país do fascista Plínio Salgado, em 1942, aos 60 anos. Vários judeus contribuíram para robustecer as artes e a ciência no Brasil.

Stefan Zweig e Lotte, sua mulher: ambos se mataram no Brasil | Foto: Reprodução

Há um livro valioso que conta a história dos que fugiram da serpente nazista para o Brasil, a partir de 1933, quando Adolf Hitler, um austríaco, assumiu o comando da Alemanha, e, surpreendentemente, pela via legal. Trata-se de “Exílio e Literatura — Escritores de Fala Alemã Durante a Época do Nazismo” (Edusp, 291 páginas, tradução de Karola Zimber), de Izabela Maria Furtado Kestler.

Otto Maria Carpeaux: uma ponte da cultura universal que muito beneficiou o leitor brasileiro | Foto: Reprodução

Agora surge um livro que, aparentemente, será igualmente valioso (e mais amplo): “Dicionário dos Refugiados do Nazifascismo no Brasil” (Casa Stefan Zweig, 832 páginas), edição de Israel Beloch, com o apoio de Fábio Koifman, Kristina Michaelis e mais de dez pesquisadores.

Paulo Rónai: judeu, perseguido pelo nazismo, veio para o Brasil | Foto: Reprodução

O livro conta a história de 300 pessoas que, para escapar do nazifascismo, fugiram para o Brasil e aqui se destacaram em vários setores.

Ida Gomes: atriz

A obra lista, entre outros, Fayga Ostrower, Fritz Oliven, Stefan Zweig, Nydia Lícia (atriz), Ida Gomes (Ida Szafran, atriz), Berta Loran (atriz), Edoardo de Guarnieri (músico, pai de Gianfrancesco Guarnieri — este chegou ao Brasil com 2 anos de idade e se tornou ator e diretor), Louis Jouvet, Ziembinski (Zbigniew Marian), Georges Bernanos, Otto Maria Carpeaux, Anatol Rosenfeld, Herbert Caro, Frans Krajcberg, Paulo Rónai.

Herbert Caro: tradutor de Thomas Mann e Elias Canetti | Foto: Reprodução

A obra nasce como referência incontornável. Porque, se havia informação dispersa, agora há informações concentradas sobre os refugiados.

Berta Loran: atriz | Foto: Reprodução

O livro, que já está à venda nas livrarias — por 118 reais —, pode abrir as portas para outras obras sobre o tema. Porque, a rigor, muito mais de 300 judeus — e não judeus — fugiram para o Brasil para escapar do totalitarismo nazista.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Stefan Zweig e o Brasil: exílio e integração, Kristina Michahelles - livro da Casa Stefan Zweig, 2020


 

Stefan Zweig e o Brasil: exílio e integração

Livro da Casa Stefan Zweig, 2020

A Casa Stefan Zweig recebe o apoio da KAS para publicar a cartilha Stefan Zweig e o Brasil: exílio e integração. A publicação apresenta e estimula o debate sobre várias das questões mais em evidência na atualidade, como migração, refúgio e exílio. A obra é dedicada a um amplo público, incluindo jovens, alunos de nível médio e estudantes universitários.

Coordenação editorial: 

Kristina Michahelles

Projeto gráfico: Ruth Freihof, Passaredo Design


Sumário: 


Apresentação, 6 

O viajante, de Luiz Aquila, 8

Artigo: Exílios - Renato Lessa, 11

Exposição | Legado do exílio, 15

Livro: Dicionário dos refugiados do nazifascismo no Brasil, 28

Perfil: Lore Koch, única discípula de Volpi, 35

Grupo de Estudos: Stefan Zweig no país do futuro, 40

Download: 

https://www.kas.de/documents/265553/265602/Stefan+Zweig+-+Ex%C3%ADlio+e+Integra%C3%A7%C3%A3o.pdf/69c28c71-5df3-efd1-cb7f-f2a08d3d9a6f?version=1.1&t=1607529230018


Grupo de estudos

Stefan Zweig no país do futuro


O Grupo de Estudos Stefan Zweig foi criado em junho de 2020 com o objetivo de ampliar a rede de especialistas na obra e a vida do autor austríaco nas universidades brasileiras. Coordenado por Kristina Michahelles, o encontro inicial contou com a presença de Larissa Fumis, Marina de Brito e Carlos Eduardo do Prado. 

Mariana Holms acaba de se juntar ao grupo.

Larissa Fumis é de São José do Rio Preto, SP. Fez mestrado em Literatura com uma tese dissertação sobre Stefan Zweig e seu livro Brasil, um país do futuroNo doutorado, fará uma análise contrapondo o mesmo livro ao Romanceiro Brasileiro, do também exilado Ulrich Becher. 

Marina Brito mora em Viena. Em sua tese de mestrado, fez um estudo comparativo das traduções para o português - em um intervalo de sete décadas - das duas obras icônicas de Zweig, Brasil, um país do futuro e a autobiografia O mundo de ontem.

Carlos Eduardo do Prado é professor de francês da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e se doutorou em Estudos de Literatura – Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense com um estudo comparativo entre as biografias de Balzac e Zweig, com base na obra Balzac, eine Biographiede Zweig.

Mariana Holms é doutoranda em Língua e Literatura Alemã pela Universidade de São Paulo. Depois de focar em Stefan Zweig no mestrado, atualmente concentra sua atenção na vida e obra da escritora e pintora austríaca Paula Ludwig, exilada no Brasil entre 1940 e 1953. 

As reuniões serão trimestrais. O site da CSZ (www.casastefanzweig.org) criou uma nova seção para abrigar trabalhos acadêmicos sobre Stefan Zweig no Brasil. 




terça-feira, 16 de abril de 2019

Personagens obscuros que ocupam a linha de frente da História: Joseph Fouché, por Stefan Zweig

De vez em quando, personagens perfeitamente obscuros, que jamais deveriam ter saído dos bastidores (ou das catacumbas) da História, conseguem a ocupar posições de relevo em determinadas circunstâncias e em momentos excepcionais de processos dramáticos de transformação social e política de uma nação, como foi o caso, por exemplo, da Revolução francesa e dos momentosos episódios que se lhe seguiram: Assembleia Constituinte, Convenção, Diretório, Comitê de Salvação Pública no Termidor, consulado, primeiro cônsul, Império, Waterloo, Cem Dias (êpa!), Restauração, fracasso dos Bourbons, nova realeza (e depois a monarquia burguesa, antes de 1848 e sua segunda República, logo substituída por um novo Império).
Tal foi o caso de Fouché, que atravessou pelo menos cinco regimes políticos franceses, entre o Ancien Régime e a monarquia medíocre dos Bourbons – aqueles que, como disse Talleyrand, "nada esqueceram, nada aprenderam" –, e a todos eles serviu de forma subserviente, como muito bem descrito na genial biografia de Stefan Zweig sobre um dos mais execráveis personagens da história da França moderna e contemporânea. A genialidade de Zweig consiste justamente nisso: ter focado num personagem obscuro – que só tinha sido reconhecido como relevante pelo outro genial escritor que foi Balzac – e, através dele, seguir toda a trajetória da França do Antigo Regime até a Restauração. A sua biografia tem validade universal, pois podemos também encontrar na história do Brasil, até recente, personagens tão medíocres, traiçoeiros e nefastos, ainda que menos relevantes, quanto Fouché. Vocês sabem de quem estou falando (mas ele não é chefe da Polícia, ainda bem).
Leiam o Prefácio de Zweig à biografia de um dos maiores personagens menosprezados da história da França, texto que recolhi no site da Casa Stefan Zweig de Petrópolis, que visitei numa rápida estada na cidade serrana do Rio de Janeiro.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 16 de abril de 2019


Prefácio de Joseph Fouché – retrato de um homem político

Stefan Zweig

Joseph Fouché, um dos homens mais poderosos de sua época, um dos mais notáveis de todos os tempos, encontrou pouca simpatia entre os contemporâneos e ainda menos justiça na posteridade. Napoleão em Santa Helena, Robespierre entre os jacobinos, Carnot, Barras, Talleyrand em suas Memórias, a pena de todos os historiadores franceses, sejam monarquistas, republicanos ou bonapartistas, enche-se de fel quando escreve seu nome. Traidor nato, intrigante miserável, réptil escorregadio, desertor profissional, alma pequena de policial, amoralista deplorável, não lhe poupam nenhum insulto, e nem Lamartine, nem Michelet ou Louis Blanc tentam seriamente desvendar seu caráter, ou melhor, sua admiravelmente obstinada falta de caráter. Seu retrato em contornos reais aparece pela primeira vez naquela monumental biografia de Louis Madelin, ao qual o presente estudo, como qualquer outro, deve a maior parte do material factual. Com esta exceção, a história empurrou silenciosamente para a última fileira dos figurantes insignificantes um homem que, numa guinada da história, liderou todos os partidos e foi o único a sobreviver a eles, que no duelo psicológico venceu um Napoleão e um Robespierre. Vez por outra, seu espectro ainda ronda numa peça de teatro ou numa opereta sobre Napoleão, porém geralmente como a caricatura gasta de um chefe de polícia astuto, de um Sherlock Holmes anterior à sua época, pois uma caracterização pouco profunda sempre relega a um papel secundário um ator que está em segundo plano, mas é essencial. 

Um único homem vislumbrou a dimensão desta figura ímpar do alto de sua própria grandeza: Balzac. Este espírito elevado e ao mesmo tempo perscrutador, que não observava apenas a cena da época, mas espiava também sempre atrás dos bastidores, reconheceu Fouché sem reservas como a personalidade psicologicamente mais interessante de seu século. Habituado, na sua química dos sentimentos, a contemplar todas as paixões, não só as chamadas heróicas como as consideradas baixas,como elementos de igual valor, habituado a admirar da mesma forma um criminoso perfeito como Vautrin e um gênio como Louis Lambert, sem jamais distinguir entre moral e falta de moral, mas sempre medindo apenas a energia de uma pessoa e a intensidade de suas emoções, Balzac fez sair de sua penumbra intencional este homem que está entre os mais desprezados e difamados da Revolução e do Império. "O único ministro que Napoleão teve", diz ele sobre este "gênio singular", depois “la plus forte tête que je connaisse" [a cabeça mais forte que conheci] e, em outro trecho, "um daqueles personagens com tanta profundidade sob a superfície, que no momento em que agem permanecem impenetráveis e só depois podem ser compreendidos".

Eis uma interpretação bem diferente das ofensas dos moralistas! E no seu romance Une ténébreuse affaire dedica uma página especial a esse"espírito sombrio, profundo e extraordinário, tão pouco conhecido": "Seu gênio particular", escreve ele, "que suscitou uma espécie de temor em Napoleão, não se revelou de uma vez. Este obscuro membro da Convenção, um dos homens mais extraordinários e ao mesmo tempo mais erroneamente julgados de seu tempo, cresceu em meio às crises. No Diretório, alcançou uma altura de onde homens profundos conseguem divisar o futuro por saberem julgar corretamente o passado. Depois, de repente dava mostras de seu talento durante o 18 Brumário, assim como certos atores medíocres que, iluminados por uma súbita inspiração, tornam-se excelentes. Este homem de semblante pálido, educado na disciplina monacal, conhecia todos os segredos da Montanha, facção à qual pertenceu inicialmente, como os dos monarquistas, por cima dos quais finalmente passou. Este homem estudou gradual e silenciosamente as pessoas, as coisas e as práticas do cenário político; descobriu os segredos de Bonaparte, deu-lhe conselhos úteis e informações preciosas (... ) nem os novos nem os antigos colegas suspeitavam então da extensão de seu gênio, que era essencialmente um gênio de governo: exato em todas as previsões e de uma argúcia inacreditável."

Assim escreveu Balzac. Tal homenagem chamou minha atenção para Fouché, e há anos que me interesso por esse homem de quem Balzac dizia ter "mais poder sobre as pessoas do que o próprio Napoleão". Mas, tanto em vida quanto na história, Fouché sempre conseguiu permanecer nos bastidores: não gostava que lhe vissem o rosto ou as cartas. Quase sempre estava no meio dos acontecimentos, no seio dos partidos, invisivelmente ativo e escondido atrás do véu anônimo de suas funções como o mecanismo de um relógio. Raramente consegue-se fisgar-lhe a silhueta fugidia no tumulto dos acontecimentos e nas curvas mais fechadas de sua trajetória. E o que é mais estranho: à primeira vista,nenhum dos retratos fugazmente apanhados de Fouché combina com outro. Custa algum esforço imaginar que a mesma pessoa, com a mesma pele e os mesmos cabelos, tenha sido professor eclesiástico em 1790, já em 1792 saqueador de igrejas, em 1793 comunista, cinco anos depois multimilionário e outros dez anos mais tarde duque de Otranto. Porém, quanto mais ousadas suas transformações, mais interessante me pareceu o caráter, ou melhor, a total falta de caráter desse mais perfeito Maquiavel da era moderna, mais atraente se me afigurou sua vida política passada nos bastidores e na clandestinidade, mais singular e demoníaca me pareceu sua figura. Foi assim que, de maneira inesperada, por puro prazer psicológico, comecei a escrever a história de Joseph Fouché como contribuição para um estudo biológico ainda inexistente porém necessário dos diplomatas, esta raça intelectual ainda não totalmente examinada, das mais perigosas do nosso mundo.

Sei que uma tal descrição de um homem sem nenhuma moral, de alguém tão singular e importante como Joseph Fouché, vai de encontro ao desejo evidente de nosso tempo. Nossa época quer e ama biografias heróicas, pois, diante da carência de lideranças politicamente criativas, busca no passado exemplos mais elevados. Não desconheço o poder das biografias heróicas de elevar as almas, intensificar as forças, levantar o espírito. Desde Plutarco, elas são necessárias para cada geração em ascensão, para cada nova juventude. Mas é precisamente no âmbito político que elas correm o risco de falsificar a história, ao levar a crer que – naquela época e sempre – os verdadeiros líderes também determinam o destino do mundo. Sem dúvida, por sua própria existência, uma natureza heróica domina a vida intelectual durante décadas e séculos, mas apenas a intelectual. Na vida real, verdadeira, na esfera do poder político – e isto deve ser frisado como alerta contra toda a credulidade política –, raramente são as figuras superiores, as pessoas das idéias puras que decidem, e sim uma categoria muito inferior, porém mais hábil: os personagens dos bastidores.

Em 1914 e 1918, vimos como as decisões de importância histórica universal sobre guerra e paz foram tomadas não conforme à razão ou à responsabilidade, mas por indivíduos ocultos, de caráter duvidoso e inteligência limitada. A cada dia verificamos que, no jogo ambíguo e muitas vezes pecaminoso da política, ao qual os povos ainda confiam cegamente seus filhos e seu futuro, não são os homens de visão ética e de convicções inabaláveis que vencem, mas sim aqueles aventureiros profissionais que chamamos diplomatas, esses artistas de mãos gatunas, palavras ocas e nervos gélidos. Se, como já disse Napoleão há cem anos, a política realmente se tornou "la fatalité moderne", o novo Destino, tentemos reconhecer, em nossa defesa, os homens que estão por trás do poder e, com isso, o segredo perigoso da sua força. Que esta história da vida de Joseph Fouché seja uma contribuição para a análise do homem político.

Salzburgo, outono de 1929

in Joseph Fouché, retrato de um homem político. Rio de Janeiro: Editora Record, 1999. Tradução de Kristina Michahelles. (publicado com expressa autorização da editora)

Fonte: Site da Casa Stefan Zweig de Petrópolis; link: http://www.casastefanzweig.org/sec_texto_view.php?id=22