Dica de (re)leitura : 'A fábula das abelhas', de Bernard Mandeville
Clássico de Bernard Mandeville
Destaco como recomendação da semana a reedição do livro de Bernard Mandeville: A fábula das abelhas: ou ou vícios privados, benefícios públicos. A obra da sátira britânica do século XVIII desencadeou uma grande controvérsia social ao rejeitar uma visão positiva da natureza humana e argumentar pela necessidade do vício como fundamento de uma economia capitalista emergente.
O filósofo, médico, economista, político e satirista, Bernard de Mandeville nasceu em Rotterdam, Países Baixos, passou a maior parte de sua vida na Inglaterra e escreveu quase todos os seus trabalhos em inglês. Sua obra magna, A fábula das abelhas, causou forte impacto no século XVIII, suscitando ataques e elogios, e contribuiu fortemente para lançar as bases da chamada ciência da natureza humana.
Com tradução de Bruno Costa Simões, o texto de Mandeville causou escândalo na época e recobre uma contribuição decisiva ao pensamento das Luzes, segundo Pedro Paulo Pimenta, que assina as orelhas da obra. Em um tom de fábula, o autor passeia pela questão dos defeitos e corrupções apontados em diversas profissões para, a seguir, examinar de que forma esses “vícios, de cada pessoa em particular, por uma hábil destreza, são postos a serviço da grandiosidade e da felicidade mundana de todos”.
“[O]s que examinam a natureza do homem, dispensando a arte e a educação, podem observar que aquilo que o torna um animal sociável consiste não no seu desejo de companhia, bondade, piedade, afabilidade e outras encantos de bela aparência, mas sim no fato de que as suas qualidades mais vis e odiosas são as aptidões mais necessárias para ajustá-lo nas maiores e, conforme anda o mundo, nas mais felizes e prósperas sociedades”, escreve Mandeville.
Segundo Pedro Paulo Pimenta, a leitura de A fábula das abelhas, hoje mais pertinente do que nunca, pode servir, entre outras coisas, para atenuar nossa ingenuidade em relação a valores que a nossa época costuma tomar como definitivos, mas que, como todos os valores, são impostos por quem tem interesse e força para torná-los correntes.