Saindo do Forno agora...
Paulo Roberto de Almeida
1170. “Prata da Casa, Boletim ADB – 1ro. trimestre 2015”
Notas
sobre os seguintes livros:
1) Diogo Ramos Coelho: Mundo em crise: a história da
crise financeira, seus impactos nas relações internacionais e os atuais
desafios (Brasília: Editora Universidade de Brasília,
2014, 324 p.; ISBN 978-85-230-1137-6);
2) Elias Luna Almeida Santos: Investidores
soberanos, política internacional e interesses brasileiros (Brasília:
Funag, 2013, 345 p.; ISBN: 978-85-7631-426-4);
3) Celso Amorim: Breves Narrativas Diplomáticas (São
Paulo: Benvirá, 2013, 168 p.; ISBN: 978-85-8240-025-8);
(4) Watanabe
Patriota, Erika Almeida: Bens Ambientais, OMC e o Brasil (Brasília:
Funag, 2013, 452 p.; ISBN 978-85-7631-476-9; Coleção
CAE);
5) Santos, Luís Cláudio Villafañe G.:
A América do Sul no discurso diplomático
brasileiro (Brasília : FUNAG, 2014, 248 p.; ISBN 978-85-7631-525-4; Coleção
CAE);
6) Centro de História e Documentação Diplomática:
II Conferência da Paz, Haia, 1907: a
correspondência telegráfica entre o Barão do Rio Branco e Rui Barbosa (Brasília
: FUNAG, 2014, 272 p.; ISBN 978-85-7631-508-7).
Boletim da Associação dos Diplomatas
Brasileiros – ADB
(ano 22, n. 88, janeiro-fevereiro-março 2015, p. 30-32; ISSN:
0104-8503).
Relação de Originais n. 2773.
Prata da Casa - Boletim ADB: 1ro.
trimestre 2015
Paulo Roberto de Almeida
Boletim da Associação dos Diplomatas
Brasileiros - ADB
(ano
22, n. 88, janeiro-fevereiro-março 2015, p. 30-32; ISSN: 0104-8503)
(1) Diogo Ramos Coelho:
Mundo em
crise: a história da crise financeira, seus impactos nas relações
internacionais e os atuais desafios
(Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2014,
324 p.; ISBN
978-85-230-1137-6)
O
capitalismo está em crise, à beira da morte? Muitos pensam assim. O livro trata
da crise financeira e das reações dos governos; o autor acha que as democracias
não têm sabido realizar as reformas necessárias, pois existem custos políticos
e sociais, que também atingem países em desenvolvimento. A diversidade de
interesses dificulta uma globalização plena e a coordenação de respostas. Quais
são os desafios? Conciliar democracia e mercados, o que não é fácil, como
demonstra cada nova crise. E o Brasil? Se ele não sofreu tanto com a crise de
2008 (a despeito da queda em 2010), sofre agora com erros de política econômica
doméstica. Mas o Brasil aparece mais no prefácio de Matias Spektor, e
brevemente na introdução do autor, do que no resto do texto. Trata-se, em todo
caso, de excelente introdução ao estudo da grande depressão que anda por aí.
(2) Elias Luna Almeida Santos: Investidores soberanos, política
internacional e interesses brasileiros (Brasília: Funag, 2013, 345 p.;
ISBN: 978-85-7631-426-4)
O trabalho tem
qualidades inegáveis, ao apontar as inúmeras dificuldades no tratamento dos
fundos soberanos. Mas, à diferença do que diz o prefaciador, o FSB não está
voltado para o gerenciamento das reservas brasileiras (tarefa a cargo do Banco
Central), e sim tem sido usado mais para fins de economia doméstica (como a
sustentação da Petrobras). O Brasil, aliás, tem todas as condições para NÃO ter
um fundo desse tipo, já que não tem excedentes fiscais ou de transações
correntes. Seja como for, esta tese de CAE ilumina o funcionamento desses
fundos e os problemas a eles associados. Se e quando o Brasil dispuser de um
fundo verdadeiro, a obra oferece desde já um panorama muito claro de como se
movimentar no intrincado cenário de ganhos econômicos e ambições políticas que
caracteriza sua existência corrente.
(3) Celso Amorim: Breves Narrativas Diplomáticas (São
Paulo: Benvirá, 2013, 168 p.; ISBN: 978-85-8240-025-8)
Dos cadernos do
ex-ministro, notas sobre momentos cruciais, de 2002 a 2004 (e alguns
desdobramentos ulteriores), da diplomacia “ativa e altiva”, como ele designa a
sua gestão; mais adiante se acrescentou “soberana” à dita política externa.
Trata-se de uma explicação e uma justificativa, pro domo sua, de alguns episódios desses anos: a invasão do Iraque
pelos EUA, as tribulações do coronel Chávez, a implosão da Alca, o golpe de
truco em Cancun, a aliança com a Índia e a África do Sul, as origens da Unasul
e as andanças pela África. A história completa ainda vai ser contada, mas os
escritos do ministro, entre eles Conversas
com Jovens Diplomatas (2011), podem ser fontes primárias, desde que se
confronte interpretações pessoais com análises independentes: a historiografia
serve, justamente, para filtrar tais tipos de relatos.
(4) Watanabe Patriota, Erika Almeida:
Bens
Ambientais, OMC e o Brasil
(Brasília: Funag,
2013, 452 p.; ISBN 978-85-7631-476-9; Coleção CAE)
Bens ambientais parecem estar no
centro das angústias comerciais das próximas décadas, já que o planeta agora,
para estar politicamente correto, precisa se guiar pelas regras do
desenvolvimento sustentável. O Brasil tem, justamente, uma grande interface com
o assunto, pelo seu potencial produtor e exportador desses bens (ainda que
existam dúvidas sobre sua competitividade e avanços tecnológicos em energia
solar e eólica). A tese mapeia as discussões multilaterais a respeito, a
atuação da China e da Índia, as posições assumidas pelo Brasil e as implicações
da regulação no lado doméstico da equação. A autora acha que as premissas da
OCDE, entre elas a liberalização comercial, tendem a prejudicar os países em
desenvolvimento: seria mais uma manifestação da velha teoria conspiratória que
sempre coloca os ricos contra os interesses dos pobres?
(5) Santos, Luís Cláudio Villafañe G.:
A
América do Sul no discurso diplomático brasileiro
(Brasília : FUNAG, 2014, 248 p.; ISBN
978-85-7631-525-4; Coleção CAE)
A América do Sul é a nossa
circunstância regional, imposta pela geografia; nem sempre essa evidência foi
traduzida na agenda diplomática, mas desde a criação do Mercosul a região foi
sendo incorporada ao discurso e nas prioridades nacionais, com altos e baixos
no processo de integração regional, que assume, aliás, variadas formas. Esta
tese de CAE, defendida em 2005, e agora publicada com nova introdução, percorre
a evolução do conceito e seus aspectos práticos no relacionamento externo do
Brasil. A região, como projeto político, também sofre o efeito das mudanças de
orientação política no contexto interno, o que ficou amplamente evidenciado a
partir de 2003, quando se fez tudo para afastar a região do Big Brother ao
norte e deixá-la circunscrita aos próprios vizinhos do Sul: foi uma boa
escolha? O livro deixa a questão em aberto.
(6) Centro de
História e Documentação Diplomática:
II Conferência da Paz, Haia, 1907: a
correspondência telegráfica entre o Barão do Rio Branco e Rui Barbosa
(Brasília : FUNAG, 2014, 272 p.; ISBN
978-85-7631-508-7)
Carlos Henrique Cardim, que
apresentou tese e tem livro publicado sobre Rui diplomata, assina um prefácio
de 18 páginas para introduzir o intercâmbio mantido a propósito do que ele
chama de “estreia do Brasil no mundo”, consubstanciada na defesa da “dignidade
da nação”, nas palavras de Rio Branco, que Rui interpretou como defesa
intransigente da igualdade soberana das nações, entrando por isso em choque com
as posições das nações mais poderosas. Seguem 240 páginas de telegramas entre
os dois homens, desde 13 de março, ainda no Brasil, até 26 de dezembro, no
Recife, a caminho do Rio, depois dos meses passados em Scheveningen, com trocas
diárias de mensagens, informações e impressões de ambos sobre as posições dos
demais participantes e sobre a que convinha ao país adotar. Matéria prima
indispensável para os estudiosos.
Paulo
Roberto de Almeida
Hartford,
15 de fevereiro de 2015