Como prometido no post anterior, reproduzo aqui as mini-resenhas do último trimestre de 2014, que devem estar sendo publicadas incessantemente, como diriam os franceses.
Prata da Casa -
Boletim ADB: 4ro. trimestre 2014
Hartford, 1 outubro 2014, 3 p.
Notas sobre os
seguintes livros: (1) Mesquita, Paulo Estivallet de: A Organização Mundial
do Comércio (Brasília: Funag, 2013, 105
p.; ISBN 978-85-7631-472-1; Coleção Em Poucas Palavras); (2) Mariz, Vasco: Nos bastidores da diplomacia: memórias diplomáticas (Brasília: Funag, 2013, 296 p.; ISBN
978-85-7631-471-4; Coleção Memória Diplomática); (3) Florencio, Sergio: Os Mexicanos (São Paulo: Contexto, 2014, 240
p.; ISBN 978-85-7244-827-7); (4) Goertzel, Ted; Almeida, Paulo Roberto de (eds.): The Drama of Brazilian Politics: From Dom
João to Marina Silva (Amazon; Kindle Book, 2014, 278 p.; ISBN: 978-1-4951-2981-0); (5) Almino, João: Free City (Londres: Dalkey Archive
Press, 2013, 206 p.; ISBN 978-1-56478-900-6; trad. De Rhett McNeil, de Cidade Livre; Rio de Janeiro: Record, 2010);
(6) Escorel, Lauro: Introdução ao Pensamento Político de
Maquiavel (3a. ed.; Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, FGV, 2014,
344 p.; ISBN: 978-85-88777-59-0). Publicado no Boletim da Associação dos
Diplomatas Brasileiros – ADB ano 21, n. 87, outubro-novembro-dezembro 2014, p.
xx-xx; ISSN: 0104-8503). Relação de Originais n. 2682.
Prata da Casa - Boletim ADB: 4ro.
trimestre 2014
Paulo Roberto de Almeida
Boletim da Associação dos Diplomatas
Brasileiros
(ano
21, n. 87, outubro-novembro-dezembro 2014, p. xx-xx; ISSN: 0104-8503)
(1) Mesquita, Paulo Estivallet de:
A Organização Mundial
do Comércio
(Brasília: Funag, 2013, 105 p.; ISBN 978-85-7631-472-1; Coleção Em Poucas
Palavras)
Parece difícil
resumir em menos de 100 pequenas páginas a teoria do comércio internacional, a
evolução prática do próprio, o estabelecimento do sistema multilateral de
comércio, desde o Gatt e seus caminhos tortuosos, até chegar na OMC e todos os
seus acordos e funcionamento. Uma proeza realizada por este engenheiro agrônomo
que se fez diplomata, e que aplica o rigor da sua ciência de origem à análise
dos problemas das relações econômicas internacionais, com ênfase no comércio e
nos seus conflitos. O sistema parece uma bicicleta: é preciso avançar, pois
qualquer parada pode significar retrocesso, não estabilidade. A interrupção da
Rodada Doha, o recuo no protecionismo em alguns grandes países (alguns até
próximos) são desafios graves, mas os acordos de livre comércio não são a
resposta ideal. Só faltou a bibliografia para uma obra perfeita.
(2) Mariz, Vasco:
Nos bastidores
da diplomacia: memórias diplomáticas
(Brasília: Funag, 2013, 296 p.; ISBN 978-85-7631-471-4; Coleção Memória Diplomática)
Livro
saborosíssimo, sem ser memórias, estrito senso, mas causos de uma vida rica em
episódios, encontros e desencontros com grandes e pequenos atores da cena internacional
e da vida diplomática brasileira: nada menos do que oito páginas de índice
onomástico, com referências à crème de la
crème da política mundial e à “feijoada” brasileira de quem já esteve nas
colunas sociais. Ele também assinou ou organizou 66 livros, certamente o
diplomata mais prolífico de todos os tempos e, provavelmente, o mais longevo: 93
anos e ainda ativo. Serviu na segunda metade do século 20, mas também estaria
bem na belle époque, no Renascimento,
ou em qualquer época, pela sua cultura universal e pelos dotes de musicólogo e
historiador. Deve ter histórias ainda mais picantes e sensíveis do que as
reveladas aqui: oxalá deixe escritos pós-publicáveis.
(3) Florencio, Sergio:
Os Mexicanos
(São Paulo: Contexto, 2014, 240 p.; ISBN 978-85-7244-827-7)
Você sabia que os mexicanos têm uma
lista dos mais amados (Benito Juarez e Pancho Villa, entre eles), mas também
dos mais odiados (Cortez, obviamente, e também Porfírio Díaz) personagens da
sua história? Sabia que somos parecidos com eles? Este livro, por quem foi
embaixador no México, apresenta uma história diferente do país que é
apresentado como competidor do Brasil; de fato é, mas não como esperado: buscam
os dois a prosperidade, a partir de bases sociais e comportamentos econômicos
similares. Uma análise exemplar, feita do ponto de vista de um brasileiro que é
fino observador das qualidades e idiossincrasias de um povo dotado de uma rica
história de realizações, mas também de frustrações. Os desafios parecem
semelhantes; serão também as soluções? Descubra um México diferente num livro
em que o Brasil está presente.
(4) Goertzel, Ted; Almeida, Paulo Roberto de (eds.):
The Drama of Brazilian
Politics: From Dom João to Marina Silva
(Amazon; Kindle Book, 2014, 278 p.; ISBN: 978-1-4951-2981-0)
O ebook, editado por um
brasilianista, já autor de biografias dos presidentes FHC e Lula, e por um
diplomata conhecido por seus muitos outros livros, parece aproveitar a conjuntura
para reunir artigos sobre a política brasileira. Não é bem assim; a despeito da
maioria dos capítulos tratar da situação presente, desde as manifestações de
2013, o capítulo inaugural por Goertzel cobre o que o subtítulo promete: o
drama político brasileiro desde o Império até as eleições atuais. O segundo
capítulo, pelo diplomata Almeida, segue as mudanças de regime econômico em
função das políticas econômicas adotadas desde a abertura dos portos até o
atual baixo crescimento. De certa forma, constitui uma continuidade de seus
outros trabalhos de pesquisa histórica sobre as relações econômicas
internacionais do Brasil, aliás, um país muito introvertido.
(5) Almino, João:
Free City
(Londres: Dalkey Archive Press, 2013, 206 p.; ISBN 978-1-56478-900-6; trad. De Rhett
McNeil, de Cidade Livre; Rio de
Janeiro: Record, 2010)
Depois de ter
iniciado uma carreira de “escritor” de ciência política, João Almino enveredou
pela arte da novela (As Cinco Estações do
Amor) e pelo ensaísmo literário – Escrita em contraponto: ensaios
literários, por exemplo – mas é
nos romances semi-biográficos que ele se expressa melhor, como nesta tradução
de seu aclamado relato em torno da construção de Brasília. Trata-se, na
verdade, de uma ampla obra, enfeixada sob o rótulo comum de Quarteto
de Brasília,
talvez para aproximá-lo do autor do Quarteto
de Alexandria. Free City é o
terceiro do ciclo, um romance vibrante, no qual coexistem tanto os modestos
construtores da cidade quanto personagens da política mundial ou do universo
literário (vinculadas de alguma forma a Brasília), em idas e vindas entre o
passado e o presente. Um dos melhores novelistas diplomatas...
(6) Escorel, Lauro:
Introdução
ao Pensamento Político de Maquiavel
(3a. ed.; Rio de Janeiro: Ouro
Sobre Azul, FGV, 2014, 344 p.; ISBN: 978-85-88777-59-0)
Escrito em
1956, publicado pela primeira vez em 1958, novamente em 1979, este clássico da
maquiavelística brasileira é agora apresentado por um acadêmico e complementado
por uma conferência de 1980 do autor, que se tornou “maquiavélico” ao servir na
capital italiana em meados dos anos 1950. Para Escorel, “as observações de
Maquiavel sobre a política externa dos Estados continuam a apresentar... uma
extraordinária atualidade” (329-30). O florentino foi o primeiro grande teórico
da política do poder. Mas no plano
interno também, Escorel segue Maquiavel em que a política é um “regime de
precário equilíbrio entre as forças do bem e as forças do mal, em que estas
muitas vezes superam aquelas...” (34). Os dois colocam o “problema cruciante
das relações da política com a moral”, que está no centro da obra do italiano.
Paulo
Roberto de Almeida
Hartford,
1 Outubro 2014
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