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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Mudancas na politica externa: quando tudo parecia possivel - Helena Celestino (O Globo)

Calma pessoal: nenhuma mudança em vista, repito: NENHUMA.
O artigo abaixo, retirado das catacumbas de meus arquivos eletrônicos, reflete apenas um momento de otimismo indevido: quando a candidata sustentável parecia imbatível e já se começava a pensar em uma outra política externa.
O artigo é dessa época, e abaixo dele seguem os comentários de um embaixador, falando da diplomacia do lulo-petismo.
Depois disso os companheiros se recompuseram, esmagaram a trator, a caneladas, a tiros de canhão e a mísseis teleguiados a dita candidata, até conseguir tirá-la do páreo. Depois fizeram o mesmo com o candidato oposicionista. Os mafiosos usaram dos mesmos recursos, insistindo na calúnio, nas mentiras e também no terrorismo eleitoral para conseguir ganhar mais quatro anos de roubos, malfeitos, malversações, deterioração da economia, erosão das instituições e retrocessos mentais.
Enfim, o artigo é de quando se pensava que algo iria mudar.
Não custa sonhar...
Paulo Roberto de Almeida

Diplomacia de oposição
COLUNA
Helena Celestino
O Globo, 07/09/2014

“O Itamaraty poderia ter sido mais valorizado nos últimos anos, foi esvaziado com a partidarização e ideologização da política externa”. A frase de Marina Silva, em destaque no seu programa de governo, soou como música nos ouvidos dos diplomatas brasileiros, a maioria convicta de que a presidente Dilma Rousseff não gosta nada de relações internacionais e tem um olhar atravessado para os punhos de renda que enxerga no ritual da diplomacia. Quatro anos de governo Dilma transformaram o Itamaraty num poço de mágoas por causa das inúmeras trombadas com o Planalto, reforçadas pela decisão de impor uma redução de 40% nas verbas, entendida como sinal de desprestígio.
O programa de Marina é mais verde e tem mais verve, o de Aécio Neves tem uma visão mais comercial e financeira da política externa, mas nesta diplomacia de oposição há muitos pontos em comum.
Política externa, a gente sabe, não elege ninguém. Nem no Brasil nem nos EUA, o país onde cada geração tem uma guerra para chamar de sua. O discurso pacifista de Obama empolgou os americanos, mas provavelmente foram a crise econômica, as milhões de casas retomadas pelos bancos por falta de pagamento e as falcatruas no mercado financeiro que derrotaram os republicanos nas eleições americanas de 2008 e 2012. Não por acaso, o papel do Brasil neste enlouquecido mundo está fora dos palanques, até agora relegado aos palavrosos programas de partido e a uma longa entrevista na revista “Política Externa” — Dilma não mandou resposta às perguntas.
Duas certezas para o próximo governo se a oposição ganhar. As relações com os EUA vão recuperar o espaço perdido, e o Brasil tentará se livrar das correntes pesadas do Mercosul — como define um embaixador. Tentará ficar só com o lado bom de pertencer ao bloco, apostando também em acordos bilaterais e com a União Europeia. “Marina desenha uma política externa mais equilibrada, admitindo que o Brasil tem vários eixos de interesse”, diz ele. Numa tradução livre, significa que acabará o alinhamento automático com os governos de esquerda da América Latina e a paciência irrestrita com a Argentina.
Outra barbada: o verde será a cor dominante no governo se a candidata do PSB for eleita. Marina tem prestígio internacional como ambientalista; na ONU é recebida com reverência, nas Olimpíadas de Londres de 2012 estava ao lado do secretário-geral Ban Ki-moon, reconhecida como uma das personalidades que fazem diferença no mundo. Ela certamente fará da defesa do meio ambiente a marca do Brasil nos fóruns internacionais, um pouco no estilo do presidente Lula quando o Brasil virou referência nos programas contra a fome e de redução de pobreza.
Uma novidade bacana trazida por Marina é a criação de um conselho, nos moldes do British Council, para promover a cultura brasileira e a língua portuguesa no exterior. Num momento em que programações do Itamaraty são canceladas por falta de dinheiro, parece delírio de candidato, mas é o simples reconhecimento do poder do soft power, a capacidade de um país influenciar pessoas e fazer amigos sem recorrer à força. A ideia é dar incentivos fiscais para atividades culturais no exterior, numa espécie de Lei Rouanet com alcance internacional. “ Seria ótimo. A China vem investindo muito nisso, o Brasil também tem muitas iniciativas culturais, mas nada coordenado”, diz o professor Anthony Pereira, diretor do Instituto Brasil no King’s College.
A outra promessa de Marina é obvia, mas sempre reconforta: atualizar as posições do Brasil no Conselho de Direitos Humanos da ONU e no tratamento dos conflitos regionais. Todo candidato ou recém-eleito faz isso: Dilma, ao assumir, deu uma entrevista ao “Washington Post”, em que contou que o Brasil votaria na ONU a condenação do Irã pelo apedrejamento da adúltera Sakineh — lembram? —, criticando Lula por ter optado pelas relações com o aliado em vez da defesa dos direitos humanos. Depois, o assunto direitos humanos ficou adormecido, e o país acabou de receber os presidentes da China e Rússia na reunião dos Brics sem levantar questões incômodas.
Aécio defende especificamente a missão de paz do Brasil no Haiti — como modelo para uma participação maior do país no mundo — e critica o governo Dilma pela condução do caso do asilo ao senador boliviano Pinto Molina, que teve salvo-conduto negado por Evo Morales e acabou sendo retirado escondido da Bolívia.
Independentemente de quem ganhar a eleição, está na hora de reconhecer a competência técnica e visão estratégica dos profissionais treinados para isso. Quando a política externa vai bem, a imagem do Brasil no exterior nos conforta, o comércio cresce, a solidariedade com países em dificuldades recompensa, os conflitos viram acordos, o cidadão comum se sente acolhido quando precisa de ajuda no exterior.

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De:
Enviada: Quinta-feira, 11 de Setembro de 2014 22:50
Para:
Assunto: Artículo de periódico O Globo sobre Itamaraty.

Comentários em alguns aspectos interessantes e válidos. Mas o diagnóstico de Marina, citado pela Helena Celestino (de quem sou leitor " fanático"), sofre de um defeito básico: ignora todos os graves desvios, equívocos e êrros cometidos já durante a era Lula. Foi àquela época que teve início, e de forma por assim dizer dramática, a dita " partidarização e ideologização" de nossa política externa - para o quê, cumpre dizer, não faltaram recursos ao Itamaraty, que foi amplamente "valorizado" em troca de seu então incansável empenho por servir aos desígnios do lulopetismo em questões de política externa. Falo de "lulopetismo" porque sim houve um outro element a distorcer nossa política externa, que foi o da submissão do Itamaraty aos desígnios de engrandecimento, mundo afora, da " persona" de Lula. O charisma de Lula foi, inegavelmente, de valia para os interesses do país em alguns casos.
Isso merece uma avaliação serena e objetiva. Mas o hiperativismo por isso estimulado levou a um excesso de protagonismo nem sempre saudável.
Nem tudo o que era bom para o Presidente resultaria bom para os objetivos do país.
O problema, assim, não é o de proceder-se a uma "revalorização" do Ministério.O que urge é uma ampla reformulação da própria política externa, começando pela revisão de suas bases conceituais e doutrinárias. E incluindo a extinção da dualidade de comando herdada por Dilma de Lula, com a presença, em paralelo ao Chanceler, de um assessor presidencial munido de vôo próprio. Voando mesmo, não poucas vezes, bem mais alto do que o titular do MRE.
A esta altura, com a possibilidade de mudança de rumos em nossa política exterior, é inevitável um voltar de olhos para os últimos quase quatorze anos. Mas as referências à plataforma de Marina - e o que pensam sobre as questões de política externa os outros candidatos - naturalmente requerem reflexão detida sobre o que convém fazer em termos de " aggiornamento" de nossas posturas, e de calibragem de nossa atividade, num mundo que hoje se apresenta substancialmente diferente daquele em que surgiu, e ao longo do tempo desdobrou-se, a era "lulopetista" de nossa política externa.
Há muito mais o que dizer sobre o assunto.
Volto depois ao tema. Se fizer sentido, eu talvez até tente colocar algo a respeito na imprensa.
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