Calma pessoal: nenhuma mudança em vista, repito: NENHUMA.
O artigo abaixo, retirado das catacumbas de meus arquivos eletrônicos, reflete apenas um momento de otimismo indevido: quando a candidata sustentável parecia imbatível e já se começava a pensar em uma outra política externa.
O artigo é dessa época, e abaixo dele seguem os comentários de um embaixador, falando da diplomacia do lulo-petismo.
Depois disso os companheiros se recompuseram, esmagaram a trator, a caneladas, a tiros de canhão e a mísseis teleguiados a dita candidata, até conseguir tirá-la do páreo. Depois fizeram o mesmo com o candidato oposicionista. Os mafiosos usaram dos mesmos recursos, insistindo na calúnio, nas mentiras e também no terrorismo eleitoral para conseguir ganhar mais quatro anos de roubos, malfeitos, malversações, deterioração da economia, erosão das instituições e retrocessos mentais.
Enfim, o artigo é de quando se pensava que algo iria mudar.
Não custa sonhar...
Paulo Roberto de Almeida
Diplomacia
de oposição
COLUNA
Helena
Celestino
O
Globo, 07/09/2014
“O
Itamaraty poderia ter sido mais valorizado nos últimos anos, foi esvaziado com
a partidarização e ideologização da política externa”. A frase de Marina Silva,
em destaque no seu programa de governo, soou como música nos ouvidos dos
diplomatas brasileiros, a maioria convicta de que a presidente Dilma Rousseff
não gosta nada de relações internacionais e tem um olhar atravessado para os
punhos de renda que enxerga no ritual da diplomacia. Quatro anos de governo
Dilma transformaram o Itamaraty num poço de mágoas por causa das inúmeras
trombadas com o Planalto, reforçadas pela decisão de impor uma redução de 40%
nas verbas, entendida como sinal de desprestígio.
O
programa de Marina é mais verde e tem mais verve, o de Aécio Neves tem uma
visão mais comercial e financeira da política externa, mas nesta diplomacia de
oposição há muitos pontos em comum.
Política
externa, a gente sabe, não elege ninguém. Nem no Brasil nem nos EUA, o país
onde cada geração tem uma guerra para chamar de sua. O discurso pacifista de
Obama empolgou os americanos, mas provavelmente foram a crise econômica, as
milhões de casas retomadas pelos bancos por falta de pagamento e as falcatruas
no mercado financeiro que derrotaram os republicanos nas eleições americanas de
2008 e 2012. Não por acaso, o papel do Brasil neste enlouquecido mundo está
fora dos palanques, até agora relegado aos palavrosos programas de partido e a
uma longa entrevista na revista “Política Externa” — Dilma não mandou resposta
às perguntas.
Duas
certezas para o próximo governo se a oposição ganhar. As relações com os EUA
vão recuperar o espaço perdido, e o Brasil tentará se livrar das correntes
pesadas do Mercosul — como define um embaixador. Tentará ficar só com o lado
bom de pertencer ao bloco, apostando também em acordos bilaterais e com a União
Europeia. “Marina desenha uma política externa mais equilibrada, admitindo que
o Brasil tem vários eixos de interesse”, diz ele. Numa tradução livre,
significa que acabará o alinhamento automático com os governos de esquerda da
América Latina e a paciência irrestrita com a Argentina.
Outra
barbada: o verde será a cor dominante no governo se a candidata do PSB for
eleita. Marina tem prestígio internacional como ambientalista; na ONU é
recebida com reverência, nas Olimpíadas de Londres de 2012 estava ao lado do
secretário-geral Ban Ki-moon, reconhecida como uma das personalidades que fazem
diferença no mundo. Ela certamente fará da defesa do meio ambiente a marca do
Brasil nos fóruns internacionais, um pouco no estilo do presidente Lula quando
o Brasil virou referência nos programas contra a fome e de redução de pobreza.
Uma
novidade bacana trazida por Marina é a criação de um conselho, nos moldes do
British Council, para promover a cultura brasileira e a língua portuguesa no
exterior. Num momento em que programações do Itamaraty são canceladas por falta
de dinheiro, parece delírio de candidato, mas é o simples reconhecimento do
poder do soft power, a capacidade de um país influenciar pessoas e fazer amigos
sem recorrer à força. A ideia é dar incentivos fiscais para atividades
culturais no exterior, numa espécie de Lei Rouanet com alcance internacional. “
Seria ótimo. A China vem investindo muito nisso, o Brasil também tem muitas
iniciativas culturais, mas nada coordenado”, diz o professor Anthony Pereira,
diretor do Instituto Brasil no King’s College.
A outra
promessa de Marina é obvia, mas sempre reconforta: atualizar as posições do
Brasil no Conselho de Direitos Humanos da ONU e no tratamento dos conflitos
regionais. Todo candidato ou recém-eleito faz isso: Dilma, ao assumir, deu uma
entrevista ao “Washington Post”, em que contou que o Brasil votaria na ONU a
condenação do Irã pelo apedrejamento da adúltera Sakineh — lembram? —,
criticando Lula por ter optado pelas relações com o aliado em vez da defesa dos
direitos humanos. Depois, o assunto direitos humanos ficou adormecido, e o país
acabou de receber os presidentes da China e Rússia na reunião dos Brics sem
levantar questões incômodas.
Aécio
defende especificamente a missão de paz do Brasil no Haiti — como modelo para
uma participação maior do país no mundo — e critica o governo Dilma pela
condução do caso do asilo ao senador boliviano Pinto Molina, que teve
salvo-conduto negado por Evo Morales e acabou sendo retirado escondido da
Bolívia.
Independentemente
de quem ganhar a eleição, está na hora de reconhecer a competência técnica e
visão estratégica dos profissionais treinados para isso. Quando a política
externa vai bem, a imagem do Brasil no exterior nos conforta, o comércio
cresce, a solidariedade com países em dificuldades recompensa, os conflitos
viram acordos, o cidadão comum se sente acolhido quando precisa de ajuda no
exterior.
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Enviada: Quinta-feira, 11 de Setembro de
2014 22:50
Para:
Assunto: Artículo de periódico O Globo sobre
Itamaraty.
Comentários
em alguns aspectos interessantes e válidos. Mas o diagnóstico de Marina, citado
pela Helena Celestino (de quem sou leitor " fanático"), sofre de um
defeito básico: ignora todos os graves desvios, equívocos e êrros cometidos já
durante a era Lula. Foi àquela época que teve início, e de forma por assim
dizer dramática, a dita " partidarização e ideologização" de nossa
política externa - para o quê, cumpre dizer, não faltaram recursos ao Itamaraty,
que foi amplamente "valorizado" em troca de seu então incansável
empenho por servir aos desígnios do lulopetismo em questões de política externa.
Falo de "lulopetismo" porque sim houve um outro element a distorcer
nossa política externa, que foi o da submissão do Itamaraty aos desígnios de
engrandecimento, mundo afora, da " persona" de Lula. O charisma de
Lula foi, inegavelmente, de valia para os interesses do país em alguns casos.
Isso
merece uma avaliação serena e objetiva. Mas o hiperativismo por isso estimulado
levou a um excesso de protagonismo nem sempre saudável.
Nem tudo
o que era bom para o Presidente resultaria bom para os objetivos do país.
O
problema, assim, não é o de proceder-se a uma "revalorização" do
Ministério.O que urge é uma ampla reformulação da própria política externa,
começando pela revisão de suas bases conceituais e doutrinárias. E incluindo a extinção
da dualidade de comando herdada por Dilma de Lula, com a presença, em paralelo
ao Chanceler, de um assessor presidencial munido de vôo próprio. Voando mesmo,
não poucas vezes, bem mais alto do que o titular do MRE.
A esta
altura, com a possibilidade de mudança de rumos em nossa política exterior, é
inevitável um voltar de olhos para os últimos quase quatorze anos. Mas as
referências à plataforma de Marina - e o que pensam sobre as questões de
política externa os outros candidatos - naturalmente requerem reflexão detida
sobre o que convém fazer em termos de " aggiornamento" de nossas
posturas, e de calibragem de nossa atividade, num mundo que hoje se apresenta
substancialmente diferente daquele em que surgiu, e ao longo do tempo desdobrou-se,
a era "lulopetista" de nossa política externa.
Há muito
mais o que dizer sobre o assunto.
Volto
depois ao tema. Se fizer sentido, eu talvez até tente colocar algo a respeito na
imprensa.
[Xxxxx]