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quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

A nossa extrema-direita – e as deles - Demétrio Magnoli (Interesse Nacional)

Uma única correção a este artigo de Demetrio Magnoli: o artigo de Ernesto Araujo, Trump e o Ocidente”. Cadernos de Política Exterior, v. 3, n. 6, IPRI/FUNAG, Brasília, é de 2017, não de 2018. Eu era editor dos Cadernos nessa época, mas retirei o meu nome do expediente, não por causa da bizarrice, mas de outra questão.

Paulo Roberto de Almeida


A nossa extrema-direita – e as deles

Demetrio Magnoli

Interesse Nacional, janeiro de 2024

 

 Demétrio Magnoli é sociólogo, conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, colunista dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo, comentarista internacional na GloboNews.

 

 

O triunfo eleitoral de Donald Trump, em 2016, ativou os alarmes: as democracias ocidentais enfrentavam o desafio da ascensão do populismo de direita. Na Europa, partidos populistas de direita obtiveram, em 2018, perto de 15% dos votos totais, contra menos de 5% em 1998 – e alguns deles tinham forte presença nos gabinetes de governo. Por isso, naquele ano, a vitória do extremista Jair Bolsonaro parecia significar a inserção do Brasil numa tendência mais geral.

Sem surpresa, fixou-se uma narrativa predominante que inscreve a extrema-direita bolsonarista no panorama internacional do avanço da direita populista. O argumento deve ser divido em duas teses distintas: 1) o bolsonarismo articula-se politicamente com correntes internacionais da extrema-direita; 2) as raízes ideológicas do bolsonarismo são similares às das principais correntes internacionais da extrema-direita.

A primeira tese é factualmente comprovável – mas tende a superestimar a relevância dessas articulações. A segunda tese é basicamente equivocada: o bolsonarismo não é mera expressão nacional das ideias que movem o populismo de direita nos EUA ou na Europa.

 Deus e Pátria

“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. A invocação da fé religiosa pontilhou os discursos oficiais do governo Bolsonaro, do presidente à ministra dos Direitos Humanos, passando por Ernesto Araújo, seu primeiro ministro das Relações Exteriores. Paralelamente, o governo insistiu nos ícones da nacionalidade. Como esquecer a frustrada iniciativa do ministro da Educação de solicitar às escolas vídeos de professores e alunos entoando o hino nacional, durante o hasteamento do auriverde pendão da esperança? Ou a conclamação do porta-voz presidencial, general Otávio Rêgo Barros, para “toda a sociedade prostrar-se diante da bandeira ao menos uma vez por semana”?

É um equívoco transferir a ladainha carola e “nacionalisteira” para o arquivo morto dos anacronismos. Há um sentido mais profundo no recurso exaustivo a tais referências: nos EUA, primeiro, e no Brasil, depois, o populismo de direita encontrou uma refutação eficaz do multiculturalismo.

Há décadas, as elites políticas liberais e de esquerda substituíram o discurso universalista (cidadãos) pelo discurso multiculturalista (minorias). A diferença converteu-se em valor supremo, enquanto dissolvia-se a aspiração à igualdade (de direitos, de oportunidades). A nação deu lugar a uma miríade de grupos singulares (negros, mulheres, gays). A ideia de direitos universais (educação, saúde, previdência, transportes) deu lugar à chamada discriminação positiva (leis e regras específicas, cotas de gênero ou de “raça”). Deus e a pátria fazem seu caminho no espaço aberto por essa abdicação histórica.

A estratégia manipula poderosos signos de igualdade. O “Brasil acima de tudo” cumpre dupla função. Na sua face oculta, tenta identificar a pátria ao governo, um expediente autoritário clássico. Mas, na sua face pública, veicula uma mensagem inclusiva: todos – ricos e pobres, homens e mulheres, “brancos” e “negros” – pertencem igualmente à comunidade nacional. O nacionalismo da direita populista carrega as sementes da xenofobia (diante do imigrante) e da intolerância política (diante das oposições). Ao mesmo tempo, oferece um abrangente manto comum – e, com ele, a promessa de resgate dos fracos e humilhados.

As religiões monoteístas deitaram raízes pois ofereciam uma base pétrea de legitimidade aos governantes (um Deus no céu, um imperador na Terra) e, simultaneamente, a esperança de justiça aos desamparados (todos são filhos do mesmo Deus). O “Deus acima de todos” também desempenha dois papeis. Numa ponta, corrói a laicidade estatal e propicia o acesso das igrejas à mesa do poder. Na outra, apela ao sentido popular de igualdade: nenhuma ovelha do rebanho será deixada para trás.

Deus, a bandeira e o hino são chaves narrativas compartilhas por Trump, nos EUA, Vladimir Putin, na Rússia, Recep Erdogan, na Turquia, Viktor Orbán, na Hungria, e a coalizão Meloni/Salvini, na Itália. Nesse plano mais genérico, Bolsonaro participa do movimento geral da direita populista.

Num artigo de ressonâncias místicas, publicado em novembro de 2018, Ernesto Araújo encontrou no “Deus de Trump” o motor da história.[1] O “pan-nacionalismo”, a identidade cristã, Spengler e a xenofobia unem-se como escudos contra o “cosmopolitismo” e o “liberalismo”. Três meses depois, Eduardo Bolsonaro tornou-se o “representante na América Latina” do movimento de partidos populistas de direita articulado por Steve Bannon. Era o ensaio de uma “Internacional dos nacionalistas”, uma contradição em termos fadada ao insucesso.

A geringoça andou um pouco. Na visita presidencial aos EUA, em março de 2019, a comitiva brasileira ofereceu um jantar que teve Bannon como convidado especial. Depois, em abril, Eduardo Bolsonaro fez um giro europeu de encontros com líderes da direita nacionalista, iniciado por uma visita ao então co-primeiro-ministro italiano Matteo Salvini. Mas o Movimento de Bannon logo desandou, esbarrando nas divergências entre os líderes da direita europeus e na resistência de vários deles a se submeterem ao ideólogo americano.

Sob o patrocínio de Trump e de Orbán, no lugar da “Internacional dos nacionalistas”, nasceu uma “Internacional cristã”: a International Religious Freedom (Belief Alliance).[2] Sob o manto da liberdade de crença, a aliança reuniu, além das lideranças políticas cristãs que a conceberam, correntes religiosas conservadoras hindus, muçulmanas e judaicas. Araújo participou de sua estruturação, em 2020.[3] Entretanto, suas atividades só deslancharam após a demissão do ministro, no início do ano seguinte. A articulação contou com a entusiasmada adesão do Brasil – mas basicamente a cargo de Damares Alves, do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, com discreta participação do Itamaraty.[4]

O “Deus de Trump” produziu escassos frutos, do ponto de vista dos alinhamentos geopolíticos internacionais. A política externa bolsonarista, enunciada aos brados por Araújo, praticamente limitou-se a visitas, encontros e conferências sectárias, além de frequentes votos antiliberais em fóruns internacionais. Muita fumaça, pouco fogo.

 Ideia fora de lugar

O bolsonarismo foi descrito como expressão brasileira da onda nacionalista e populista que varre o Ocidente. No fundo, porém, o bolsonarismo é uma exceção.

A poesia épica do populismo de direita nasce na gramática do medo. Nos EUA e na Europa, a angústia, a insegurança diante do futuro alimentou a onda populista em curso, que ainda não dá sinais consistentes de retrocesso. Nesse sentido genérico, o Brasil acompanhou a tendência internacional. Bolsonaro foi catapultado ao Planalto por eleitores temerosos, inseguros, indignados. Mas, por aqui, os eleitores não foram seduzidos pela narrativa ideológica do bolsonarismo. O voto negativo, não a adesão política, definiu o triunfo de um líder carente de bases sociais sólidas. Aí reside nossa excepcionalidade.

O grande tropeço da globalização, iniciado em 2008, deflagrou a ascensão do populismo nacionalista. Trump venceu no Colégio Eleitoral apoiando-se na baixa classe média branca submetida à corrosão da indústria tradicional. A crise do euro, seguida por longos programas de austeridade econômica, inflou o balão dos partidos da nova direita europeia. Dos megafones de Trump, Salvini, Le Pen, Farage, Orbán e tantos outros emanaram as conclamações antiliberais do nativismo, da xenofobia e do protecionismo.

No Brasil, Bolsonaro também emergiu do caos: a depressão econômica armada pelas estratégias fiscais do lulo-dilmismo. A campanha bolsonarista apertou as teclas sensíveis da corrupção e da criminalidade, mas o triunfo eleitoral derivou do colapso catastrófico do sistema político. Lá fora, uma corrente histórica profunda impulsiona a nova direita nacionalista. Aqui, um cruzamento de circunstâncias fortuitas colocou um político obscuro na cadeira presidencial.

A extrema-direita brasileira é uma ideia fora de lugar: a imitação sem disfarce de um discurso elaborado nos EUA ao longo de mais de dois séculos. Lá, a noção de liberdade foi moldada em oposição aos conceitos de democracia e igualdade perante a lei. A “liberdade dos estados” funcionou como oposição à existência de uma Constituição nacional, depois como alicerce do sistema escravista e, finalmente, como moldura das leis de segregação racial. Hoje, reciclada, a reivindicação fundamenta as legislações destinadas a restringir o acesso às urnas em estados controlados pelos republicanos.

No Brasil, uma semana antes do 7 de setembro de 2021, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) publicou o manifesto do bolsonarismo.[5] A Fiesp e a Febraban haviam ensaiado discurso da democracia, curiosamente definida como “harmonia entre os Poderes”. Em contraponto, a Fiemg intitulou sua declaração com a senha de combate da extrema-direita: Manifesto pela Liberdade.

Um centro de comando único, uma espécie de Comitê Central, esculpiu os discursos do bolsonarismo. Assim como o texto da Fiemg, as bandeiras dos atos bolsonaristas daquele 7 de setembro sofreram uma padronização, organizando-se em torno da senha principal. Tudo – os ataques ao STF, as injúrias contra governadores e parlamentares, a contestação das urnas eletrônicas – foi recoberto por uma mão de tinta fresca que exibia a palavra liberdade.

“Assistimos a uma sequência de posicionamentos do Poder Judiciário que acabam por tangenciar, de forma perigosa, o cerceamento à liberdade de expressão no país”, escreveram os industriais mineiros para condenar o inquérito das fake news – e, de passagem, oferecer um apoio implícito ao pedido de impeachment do juiz Alexandre de Moraes. Liberdade, desdobrada em “liberdade de expressão” e “liberdades individuais”, era esta a mensagem.

A senha emergiu, igualmente, em textos assinados pelo ministro da Defesa, Braga Netto, um expoente da agitação bolsonarista entre os militares. Na nota de repúdio às declarações do senador Omar Aziz (7 de julho), o general proclamou que “as Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”.[6] Duas semanas depois, em nota de desmentido de ameaças de golpe (22 de julho), expressou o compromisso das Forças Armadas com “a manutenção da democracia e da liberdade do povo brasileiro”.[7]

A Constituição atribui às Forças Armadas as missões de “defesa da Pátria”, “garantia dos poderes constitucionais” e, por iniciativa de um deles, proteção “da lei e da ordem”. A “liberdade do povo brasileiro” era uma invenção (in)constitucional de Braga Netto –  ou melhor, dos mestres ideológicos que o controlavam. Mas, aqui, o que importa é registrar a consistência do discurso bolsonarista.

Liberdade – não democracia. A opção tem significado e implicações. O conteúdo da liberdade depende do ponto de vista do sujeito do discurso. Democracia, porém, tem conteúdo objetivo: o sistema de governo baseado na vontade da maioria filtrada por leis e instituições que limitam o poder dos governantes, asseguram os interesses permanentes da sociedade e protegem os direitos da minoria. Fora da democracia, liberdade é privilégio de uma minoria que tem poder. Os arautos bolsonaristas da “liberdade” são os saudosistas da ditadura militar que acalentaram o sonho de um golpe contra as liberdades democráticas.

 Aliança profana

Paulo Guedes, o superministro da Economia,  definiu o governo Bolsonaro como uma aliança entre conservadores e liberais.[8] Era, claro, um álibi destinado a justificar sua própria adesão ao presidente extremista – mas também um duplo equívoco conceitual. A extrema-direita bolsonarista não é conservadora, mas reacionária: defende uma ruptura com a democracia e um retrocesso à “idade de ouro” da ditadura militar. Já o liberalismo econômico do governo resumia-se a uma fantasia destinada a recobrir políticas fiscais populistas que desmoralizaram o teto de gastos e tentativas de subordinar a Petrobras às necessidades reeleitorais do presidente.

A “santa aliança” de Guedes deflagrou um debate público sobre as relações entre liberalismo e democracia. “É natural que a Fiesp assine um manifesto em defesa da democracia, já que não existe liberalismo, economia de mercado ou propriedade privada, valores tão caros à entidade e ao setor industrial, sem que exista segurança jurídica, cujo pilar essencial é a democracia e o Estado de Direito”, declarou Josué Gomes da Silva, presidente da entidade empresarial paulista no início da campanha eleitoral de 2022.[9]

O manifesto cumpria um papel positivo, mas a justificativa continha uma imprecisão conceitual: o liberalismo não precisa, necessariamente, da democracia.

O liberalismo tomou de assalto o Ocidente no século XIX, antes do advento das democracias contemporâneas. Os princípios liberais clássicos – os direitos individuais, as liberdades civis e políticas, o secularismo, o livre mercado – estabeleceram-se em regimes políticos aristocráticos ou oligárquicos. A democracia chegou depois.

Democracia supõe o direito universal de voto, algo que só se difundiu ao longo do século XX. Os sistemas pioneiros de governo liberais baseavam-se no consentimento de uma minoria que gozava do privilégio de plenos direitos políticos. Durante um longo período, massas de pobres eram excluídas do voto por muralhas ligadas à propriedade ou à renda e as mulheres simplesmente não tinham direito de voto.

O rótulo democracia liberal indica uma ruptura. O liberalismo sofreu uma revolução interna para adaptar-se ao advento da democracia de massas. Nesse passo, tornou-se menos “puro” na esfera econômica, pois teve que admitir as intervenções estatais destinadas a combater a pobreza extrema e as mais clamorosas desigualdades sociais.

Nem todos curvaram-se aos novos tempos. Uma corrente de economistas liberais, aferrada ao dogma da absoluta liberdade de mercado, enxergou na democracia liberal um malévolo disfarce do socialismo. Dessa crença nasceu uma atração por regimes autoritários dispostos a conduzir programas de radical liberalização econômica.

No ponto de partida, o pensamento liberal enxergava as liberdades políticas e econômicas como partes indissociáveis de uma mesma doutrina. Milton Friedman, pai-fundador da Escola de Chicago, desafiou essa tradição ao operar como conselheiro do ditador chileno Augusto Pinochet e do regime totalitário chinês. A liberdade, imaginava Friedman, floresce na esfera econômica, alastrando-se mais tarde pela esfera política.

A dissociação teórica entre as duas esferas propiciou um álibi político à corrente de liberais que enxergam a democracia como valor secundário ou mesmo como obstáculo à promoção irrestrita da liberdade de mercado. A adesão de significativa parcela do empresariado brasileiro à candidatura de Bolsonaro em 2018 encontra aí uma base ideológica.

Guedes falou em “democracia responsável”, conectando-se a uma extensa tradição autoritária de adjetivação da democracia.[10] Nesse passo, reuniu-se com personagens como Oliveira Salazar (“democracia orgânica”), Erdogan (“democracia conservadora”) e Putin (“democracia soberana”). Os falsos liberais brasileiros, sempre dispostos a conciliar com o populismo econômico, aliaram-se aos reacionários saudosistas da ditadura militar. A aliança profana entre Bolsonaro e Guedes ilumina a singularidade brasileira: nos EUA e na Europa, a direita nacionalista e a extrema-direita abominam o liberalismo.

A atual direita republicana nos EUA, ainda liderada por Trump, deita raízes no nativismo, na xenofobia e no isolacionismo. Contudo, no plano econômico, prega o protecionismo comercial e aponta a globalização (às vezes, nas formas da China e do México) como responsável pelas agruras que afligem o “americano esquecido”.

Os partidos da direita populista europeia que ascenderam recentemente deitam raízes em correntes profundas das histórias nacionais. A Reunião Nacional francesa deriva tanto da nostalgia do regime colaboracionista de Vichy quanto do neocolonialismo poujadista. O Vox, na Espanha, nutre-se da memória do franquismo. O Irmãos da Itália, de Giorgia Meloni, engaja-se na atualização do mussolinismo. Todos eles, porém, encontram-se no pátio da “democracia iliberal” pregada por Orbán.

Aliança entre liberais de araque e reacionários saudistas. A extrema-direita bolsonarista é, em parte, uma imitação. Mas, no fundo, é uma colcha de retalhos incongruentes e um fenômeno singular.   n


[1]. “Trump e o Ocidente”. Cadernos de Política Exterior, v. 3, n. 6, IPRI/FUNAG, Brasília, 2018.

[2]. https://bit.ly/3xMH3Hk

[3].  https://bit.ly/3ZdmdMZ

[4]. https://bit.ly/3ZcVbFD

[5].  Manifesto pela Liberdade, FIEMG. https://bit.ly/3KEK3NI

[6].  Nota Oficial – Ministério da Defesa, 7/7/2021. https://bit.ly/3Z2TQRW

[7]. Nota Oficial – Ministério da Defesa, 22/7/2021. https://bit.ly/3ZnzYci

[8]. O Estado de S. Paulo, 22/2/2022. https://bit.ly/3SroO3T

[9]Folha de S. Paulo, 4/8/2022. https://bit.ly/3ZmKJeU

[10]Valor, 26/11/2019. http://glo.bo/41ugLaH

 

 

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Intelectuais na cultura e na diplomacia, no mundo e no Brasil - Paulo Roberto de Almeida (Revista do IHG-DF)

Mais recente artigo publicado: 

1532. Intelectuais na cultura e na diplomacia, no mundo e no Brasil”, revista do IHG-DF (n. 13, 2º semestre 2023, p. 131-168; ISSN: 2525-6653). Relação de Originais n. 4485.


Intelectuais na cultura e na diplomacia, no mundo e no Brasil

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

. revista do IHG-DF (n. 13, 2º semestre 2023, p. 131-168; ISSN: 2525-6653). Relação de Originais n. 4485; Relação de Publicados n. 1532.

 

Resumo: Ensaio sobre o papel de intelectuais nos campos da cultura e da diplomacia, no âmbito global e no caso especificamente brasileiro, com base em ampla literatura em torno da temática do papel formador de opiniões dos intelectuais públicos. A partir de evidências históricas de caráter geral, o ensaio se debruça sobre intelectuais brasileiros desde o Império à atualidade, e tanto diplomatas de carreira quanto personalidades que desempenharam funções diplomáticas eventualmente. Sua contribuição para a elevação da oferta cultural, no Brasil ou no mundo, é inegável, talvez bem mais no campo do conhecimento do que propriamente no âmbito de atividades diplomáticas.


Sumário:

O que é o intelectual? Qual o seu papel social?

(...) 

Os intelectuais e o poder: relações sempre ambíguas

(...)

Intelectuais no Brasil: papel político e institucional

(...)

Intelectuais brasileiros na diplomacia: o que precede o que?

(...)

A produção intelectual dos diplomatas: o mercado dos livros

(...)


O que é o intelectual? Qual o seu papel social?

Uma primeira definição do que seja um intelectual é oferecida da maneira mais direta possível por um intelectual público brasileiro: 

Os ‘intelectuais’ são um subconjunto muito maior, integrado por todas as pessoas de alta escolaridade. De fato, entre a posse de uma escolaridade elevada e a efetiva assunção do papel de intelectual, há uma distância que poucos letrados, doutos, savants se dispõem a percorrer. A exigência de uma dedicação genuína a valores public regarding é um primeiro fator de redução do conjunto inicial; o seguinte é o engajamento público na defesa de tais valores. A plena configuração do papel intelectual acontece à medida que o letrado se desloca em direção a uma fronteira imaginária que separa a vida cultural ou científica da vida pública.[1]

 

Intelectuais são personagens indissociáveis das sociedades organizadas em Estados, ou até de comunidades dotadas de religiões oficiais, desde a mais remota antiguidade. Já nesses tempos remotos, pessoas dotadas de certa sensibilidade para o sagrado refletiam sobre o universo, sobre os segredos da natureza e sobre as normas que deveriam governar suas sociedades. Os primeiros intelectuais, no sentido mais elementar do termo, constituíam uma fração diminuta dessas comunidades, pessoas capazes de assessorar líderes religiosos, políticos ou militares na elaboração de um discurso capaz de substituir, ou de complementar a força bruta na manutenção da ordem pública; eles necessariamente tinham de possuir alguma capacidade de ler e de redigir textos religiosos e políticos, ou escritos de cunho pedagógico, servindo ademais para registrar a memória de sociedades minimamente estáveis e funcionais.

(...)



[1] Cf. Bolivar Lamounier, Tribunos, profetas e sacerdotes: intelectuais e ideologias no século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 23-24. Os “tipos ideais” de intelectuais que Lamounier distingue são três: “O tribuno é motivado por um desejo de realizar a justiça de forma incidental, ou seja, em casos concretos. (...) O profeta é um iluminado, um visionário. Apresenta-se como portador de uma mensagem de salvação. (…) Por último, o sacerdote. Na comunidade religiosa ele é o intérprete autorizado dos livros sagrados.”; p. 25.


Íntegra do artigo disponível na plataforma Academia.edu, link: https://www.academia.edu/109125465/Intelectuais_na_cultura_e_na_diplomacia_no_mundo_e_no_Brasil

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

O destino da Ucrânia é o destino da Europa e do mundo - Volodymyr Zelensky

From an interview with the Ukrainian president:

 We had a frozen conflict in the east of Ukraine for years after Russia’s occupation of Crimea in 2014. We tried to speak with Russia. But we heard nothing but lies from them. No truth. We can’t trust them.

They just want to destroy and kill all of us. In 2022 we saw them attack us again. And this wasn’t just war, but terrorism. Clear terrorism. They killed not only the army, but people. They committed horrible atrocities.

Russia must leave our territory. After that the world can switch to diplomacy. And our Peace Formula provides a good opportunity for that. 

What is the alternative? To give Putin the possibility to kill all of us? To destroy our nation and all that we have?

This is not only a matter of Ukraine. This is a matter of security in Europe. The matter of NATO unity. Because after Ukraine, Russia will attack NATO countries.

Some people say the alternative is to give Putin what he wants and stop the war. What does that mean? Giving him 30 percent of our land? What to do with the people in the temporary occupied territories? Or with the thousands of people who have been killed by Putin and his army? Forget about them? No accountability? No tribunal? 

I know what to do. We have to be strong. I believe that European countries and the United States believe in our power, our humanity, our attitude toward people and democracy.

The alternative is to give a pass to autocrats, give a chance to tyranny, give them the opportunity to destroy democracy and the world. 

I don’t see any alternative to Ukrainian victory. And I do believe in the unity of the world and its support for Ukraine and democracy. I do believe and trust our people and our warriors.

Watch my full interview with @kwelkernbc at @MeetThePress.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Reforma tributária e carga fiscal, no Brasil e no mundo - Ricardo Bergamini

 A reforma tributária aprovada é um conjunto vazio sem números, gráficos e tabelas (RICARDO BERGAMINI)

 

Prezados Senhores

 

Somente um país de transloucados seria capaz de ser contra ou a favor da reforma tributária aprovada pela câmara, tendo em vista o abaixo colocado:

 

1 – Não foi definida a taxa do IVA.

 

2- Não sabemos as regras para distribuição desses recursos entre os entes federativos.

 

3 – Somente nos próximos dez anos conheceremos essas informações.

 

4- O aprovado até o momento foi apenas para concorrer ao “OSCAR DE EFEITOS ESPECIAIS”.

 

5 – Após aprovação final desse esqueleto será iniciado o exaustivo debate sobre a reforma tributária. 

 

6 – Reforma tributária sem reforma administrativa é o mesmo que fé sem obras: é morta.

 

7 - Reformas não corrigem imoralidades reinantes no poder público, conforme abaixo:

 

- No Brasil sabemos que 47,21% da carga tributária são destinadas para apenas 13,5 milhões de servidores públicos (união, estados, municípios, civis e militares, ativos e inativos). 


Carga Tributária Brasileira (CTB) - COMPARAÇÃO INTERNACIONAL – Fonte ME

Base: Ano de 2020

 

As comparações dos valores de carga tributária nacional com as de outros países devem ser feitas com cuidado, pois algumas espécies tributárias existentes em um país podem não existir em outros. Um exemplo é a previdência, que em alguns países é privada, não fazendo parte da carga tributária. O gráfico abaixo apresenta, a título ilustrativo, uma comparação da carga tributária nacional com a de alguns países da OCDE para o ano de 2020.

 

Em 2020, a Dinamarca possuía a maior carga tributária (46,5% do PIB); a menor foi do Chile (19,3% do PIB); a média da OCDE foi de (33,5% do PIB), e o Brasil ficou abaixo da média da OCDE (31,5% do PIB).

 

É óbvio e ululante que apenas a apuração nominal do percentual da carga tributária em relação ao PIB de uma nação, não traduz a realidade dessa nação, haja vista que, devemos aprofundar os estudos para cada nação, a fim de apurar o retorno dessa carga tributária para a sociedade. No Brasil sabemos que 47,21% dessa carga tributária são destinadas para apenas 13,5 milhões de servidores públicos (união, estados, municípios, civis e militares, ativos e inativos). 



domingo, 11 de dezembro de 2022

Futuro da energia, no Brasil e no mundo, por Adriano Pires

 Grato a Walmyr Buzatto pela transcrição:

“ Discordo da observação de que o discurso ambientalista tenha sido açodado. O tempo é precioso na conjuntura atual: cada ano perdido na substituição dos combustíveis fósseis compromete cada vez mais o futuro da humanidade. O que não foi previsto (e, portanto, ninguém antecipou algum movimento para conter Putin) foi a guerra na Ucrânia. Agora temos que viver com isso e mininizar o estrago. De resto, muito bons comentários de Adriano Pires.

(WB)

**********

Sem compromisso com o passado

Adri­a­no Pi­res

 Di­re­tor do Cen­tro Bra­si­lei­ro de In­fra­es­tru­tu­ra (CBIE)

O Estado de S. Paulo, 10 de dez. de 2022

Se o ano de 2021 foi marcado pelo sucesso das vacinas contra covid, criando uma expectativa do retorno do crescimento econômico, 2022 tem a marca da guerra Rússia-ucrânia, que trouxe de volta um cenário de instabilidade e pessimismo.

A guerra que todos apostavam que seria resolvida de forma rápida já dura dez meses, sem previsão de término. A ausência de grandes líderes mundiais tem feito com que a diplomacia não tenha sucesso em apresentar soluções que determinem acordos de paz e o fim do conflito. A guerra trouxe uma nova geopolítica da energia, traduzida numa volta do empoderamento da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e da Rússia, com a criação da chamada Opep+.

A guerra mostrou a fragilidade e os erros da política energética na Europa, que apostou nas fontes renováveis e no gás russo e descomissionou usinas nucleares na Alemanha. O preço do gás natural explodiu, chegando a números inimagináveis de US$ 60/MMBTU, e a Alemanha voltou a consumir carvão. Isso tem levado a duas constatações.

A primeira é que o discurso ambientalista de demonizar os combustíveis fósseis e a energia nuclear foi açodado, e a Europa está pagando uma conta cara. A segunda é que a globalização na oferta de energia foi colocada em xeque, e os países começam a olhar uma política de diversificação do fornecimento de energia à procura de uma autossuficiência, incentivando soluções locais.

Para 2023, com a continuidade da mudança da política de covid zero na China, teremos um novo boom de commodities e o preço do petróleo tende novamente a superar os US$ 100. Portanto, tudo leva a crer que em 2023 teremos um prosseguimento da crise de energia e é bem possível que o inverno de 2023/2024 na Europa possa ser pior que o atual em termos de escassez de energia. Outro movimento é a migração de empresas para países que possuem estabilidade política e matrizes energéticas limpas, como é o caso brasileiro.

E no Brasil? O ano de 2022 foi marcado pela campanha eleitoral polarizada, levando Lula da Silva de volta à Presidência da República. A grande notícia de 2022 foi a privatização da Eletrobras e o início do processo de transformar a Copel numa corporation.

O ano de 2023 ainda está em aberto, mas certas notícias não são boas, como a ideia de criar fórmulas de preço para os combustíveis, paralisar a venda de refinarias e rever a Lei da Eletrobras, que determinou leilões de 8 GW de térmicas.

Em 2023, a bola da vez deveria ser o gás natural, e o desafio será criar políticas e legislações que incentivem o crescimento da infraestrutura e reduzam a reinjeção, aumentando a oferta nacional. Diante do novo cenário geopolítico e geoeconômico mundial, não podemos perder a oportunidade de atrair investimentos para o Brasil. Portanto, não podemos ter compromisso com o passado. •

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Livro de Francisco Razzo: Minha contribuição para tornar o mundo um lugar ainda pior (sim, é isso...)

 


"A resposta não está na política e muito menos nos políticos"

Entrevista com o autor: Francisco Razzo

Razzo, que história é essa de contribuir para um mundo ainda pior?

Minha contribuição para tornar o mundo um lugar ainda pior se refere ao título de um texto do livro que, no conjunto, traz uma coletânea de textos que escrevi a partir de um problema que me persegue: a impotência humana diante das incertezas da vida. Trago comigo um princípio ético conjugado com uma visão cosmológica muito particular: é preciso saber agir como um mortal. Tudo no livro gira em torno do reconhecimento dessa condição. No próprio texto Minha contribuição para tornar o mundo um lugar ainda pior, faço uma reflexão a respeito de quão trágica pode ser a pretensão humana em propor, para toda humanidade, justamente o contrário.  

É por isso que você diz que gostaria que este livro fosse um “Tratado sobre as incertezas humanas”? 

Exatamente. Um tratado, em filosofia, diz respeito a um gênero literário que busca cobrir a totalidade dos temas fundamentais de um determinado assunto. Ou seja: o alfa e o ômega de toda abordagem racional. Comparado ao tratado, um gênero objetivo e sistemático, o ensaio aborda o assunto numa perspectiva mais experimental, no limite do pessoal. Portanto, seria quase uma contradição nos termos a ideia de “tratado sobre as incertezas humanas”. Ora, diante das incertezas, sobra apenas a aventura de se arriscar, sem a possibilidade de dar uma palavra final ao problema. Meu desejo de ter escrito um tratado não passa de uma pretensão assumidamente fracassada. Inspiro-me muito no poema Tratado geral das grandezas do ínfimo, do Manoel de Barros. 

Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogio

Você acha, então, que precisamos abandonar essa mania de se procurar salvadores do mundo, com soluções mirabolantes para todos os problemas…

No meu primeiro livro, A imaginação totalitária, estudei os perigos da política como esperança. Para mim, estava claro que o maior problema político é a incapacidade de lidarmos com a nossa natureza humana. A mente totalitária, fruto dos poderes da imaginação, busca corrigir o homem porque não suporta a ideia de viver como mortal. Políticos salvadores são consequências de teologias substitutas. Matamos Deus para cultuar homens ou qualquer outra bobagem – como diria Chesterton. Só há um problema que realmente interessa: encontrar sentido numa realidade aparentemente sem sentido. Fiquei convencido de uma coisa: a resposta a esse problema não está na política e muito menos nos políticos.

Nessas crônicas você está bem mais literário: narra lembranças da vida, fala de redes sociais, dos problemas do mundo e até traz um belo trecho de um romance que você ainda não terminou de escrever… foi difícil organizar os textos ou a coisa se deu de forma espontânea?

Tudo o que escrevi nos meus últimos quatro anos, que é o tempo que cobre a produção dessas crônicas, podem ser colocados em quatro eixos: a alegria e, às vezes, as tristezas das banalidades cotidianas; a destruição do senso de comunidade na era redes sociais; polêmicas diárias e eternamente infrutíferas da nossa sociedade; e onde encontro meu refúgio intelectual e moral: meu trabalho como professor, a experiência estética e a vida filosófica. Também me interesso muito por temas como religião e política, e espero, quem sabe, publicar um livro a respeito. Em Minha contribuição para tornar o mundo um lugar ainda pior, tentei responder a seguinte pergunta: nessa massa multiforme de experiências, é possível encontrar sentido? Mas respondendo a sua pergunta: não, não se deu de forma espontânea! Mas foi bem divertido montar esse quebra-cabeça. 

A impressão ao ler este livro é que se trata de uma espécie de autobiografia em crônicas. Através delas é possível conhecer um pouco de como você foi se formando como escritor e pensador, como você foi depurando suas ideias não apenas por leituras e estudos, mas também pelas experiências de vida… como a tentativa de assalto e o acidente de automóvel que viraram reflexões. Enfim, diga-nos o que o leitor pode esperar desse novo livro? 

Sim, bom resumo. Bom, eu sou muito agostiniano em minha forma de pensar a experiência filosófica – isto significa fazer da narrativa de vida um lugar fundamental para a experiência filosófica. No caso do Agostinho, um caminho pessoal para se colocar diante de Deus. Neste livro, traço um caminho inverso e não pretendo chegar a Deus – pelo menos não será o tema deste livro. Para ser preciso, não gostaria de chegar a lugar nenhum. Hoje, uma filosofia que não promete levar a lugar nenhum talvez seja a melhor forma de evitarmos contribuir para que o mundo se torne um lugar ainda pior. Nesse sentido, espero que o leitor também se divirta com o prazer dessa aventura um pouco pretensiosa de pensar a partir de qualquer lugar e, principalmente, sem o compromisso de encontrar grandes soluções para os problemas do mundo. 


segunda-feira, 8 de novembro de 2021

A crise energética no Brasil e no mundo: entrevista de Paulo Roberto de Almeida ao jornal A União, da Paraíba

 Na semana passada, dei uma entrevista ao jornalista Luiz Carlos Nascimento Sousa, do jornal A União, da Paraíba, sobre crise energética no Brasil e no mundo. Acabo de receber um arquivo pdf do jornal, com minha entrevista resumida, publicada neste domingo 7 de novembro de 2021.

Reproduzo apenas as partes que interessam ao tema selecionado pelo jornalista que tratou apenas de energia, mas nem tudo o que eu disse foi integrado nesta seleção.

Paulo Roberto de Almeida








quinta-feira, 14 de outubro de 2021

O Brasil e o mundo em 1822 (e nos 200 anos que se seguiram) - projeto de livro, Paulo Roberto de Almeida

 Um projeto feito cinco anos atrás e ainda não levado adiante. Será que dá para fazer para o ano que vem?


O Brasil e o mundo em 1822

(e nos 200 anos que se seguiram)

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

 [Esquema de livro, história de dois séculos]

Brasília, 24/07/2016

 

 

Esquema de livro para ser produzido paulatinamente e ficar pronto para 2020 ou 2021:

 

Prefácio

1. Dois séculos de grandes transformações e algumas coisas que nunca mudaram

            (rupturas e permanências numa trajetória de dois séculos)

 

2. O mundo e o Brasil na virada do século XIX

            (descrição política, econômica, diplomática do mundo, Portugal e Brasil)

 

3. Como o hemisfério americano se tornou independente 

            (da revolução americana de 1776 às independências latino-americanas)

 

4. A Europa ocidental ainda manda e desmanda no mundo

            (a dominação europeia de quatro séculos renovada na era imperialista)

 

5. Democracia e capitalismo nas origens das mudanças globais

            (da primeira revolução industrial à globalização do século XXI)

 

6. Como a Europa criou a sua própria derrocada nos assuntos planetários

            (dos conflitos estatais às guerras globais do século XX)

 

7. Alexis de Tocqueville e Raymond Aron, os pensadores da modernidade

            (como pensar o mundo do século XIX ao terceiro milênio?)

 

8. O Brasil e o mundo na terceira década do século XXI

            (resumo de uma trajetória exitosa, mas incompleta; o que falta fazer?)

 

 

Projeto de livro por Paulo Roberto de Almeida 

Esquema: Brasília, 24/07/2016

 

 

terça-feira, 2 de junho de 2020

COVID-19: estatísticas comparáveis, no Brasil e no mundo

Um amigo meu, que é um matemático que conheço há muitos anos e trabalha na administração federal, sempre me abastece com os dados mais recentes e comparáveis. Ele o faz ironicamente: 
"Never trust statistics you didn't manipulate yourself"
As informações foram atualizadas no último domingo (31/05/2020):




Todos os números vêm de dois sites: Johns Hopkins e Worldometers

https://coronavirus.jhu.edu/map.html

https://www.worldometers.info/coronavirus/


Hora de atualizar a tabela para o novo período de quatro dias, de 27/5 a 31/5. Como hoje é domingo, temos duas atualizações, a do crescimento do número total de mortes notificadas por CV19 (Brasil, EUA, Mundo), que procura medir o ritmo da epidemia com duas ou três semanas de atraso (porque as mortes notificadas hoje refletem, possivelmente, o estado do contágio há 2 ou 3 semanas). Fazemos isso a cada quatro dias. 

Em seguida, como todos os domingos, atualizamos a tabela de de mortes notificadas por milhão nos países mais afetados, os com mais de 100 mortes notificadas por milhão de habitantes (0,01% da população), para ter uma idéia da evolução comparativa das famosas "curvas" da epidemia e do impacto em diferentes Estados.

Abril e Maio. Média diária do crescimento do número de mortes notificadas por CV19. 

Total de abril (1/4 a 1/5): Brasil +12% ao dia, EUA +9,5% ao dia, Mundo +6% ao dia.

Primeira quinzena de abril (1/4 a 16/4): Brasil +16% ao dia, EUA +15% ao dia, Mundo +8% ao dia.

Segunda quinzena de abril (16/4 a 1/5): Brasil: +8,5% ao dia, EUA +5% ao dia, Mundo +3% ao dia.

Total de maio (1/5 a 31/5): Brasil +4,9% ao dia, EUA +1,6% ao dia, Mundo +1,5% ao dia. 

Primeira quinzena de maio (1/5 a 16/5): Brasil + 6,3% ao dia, EUA +2,2% ao dia, Mundo +1,9% ao dia. 

Segunda quinzena de maio (16/5 a 31/5): Brasil +4,4% ao dia, EUA +1,1% ao dia, Mundo +1,2% ao dia. 

De 1/4 a 5/4: Brasil +22% por dia, EUA +22% por dia, Mundo +11% por dia.

De 5/4 a 9/4: Brasil +16% por dia, EUA +13% por dia, Mundo +7% por dia.

De 9/4 a 13/4: Brasil +11% dia, EUA +11% por dia, Mundo +7% por dia.

De 13/4 a 17/4: Brasil +11% ao dia, EUA +10% ao dia, Mundo +6% ao dia.

De 17/4 a 21/4: Brasil +7% ao dia, EUA +6% ao dia, Mundo +4% ao dia.

De 21/4 a 25/4: Brasil +9% ao dia, EUA +5% ao dia, Mundo +4% ao dia.

De 25/4 a 29/4: Brasil +8% ao dia, EUA +2% ao dia, Mundo + 2% ao dia.

De 29/4 a 3/5: Brasil +7% ao dia, EUA +2,5% ao dia, Mundo +3% ao dia.

De 3/5 a 7/5: Brasil +6% ao dia, EUA +2,6% ao dia, Mundo +2% ao dia.

De 7/5 a 11/5: Brasil +7% ao dia, EUA +2% ao dia, Mundo +1,8% ao dia.

De 11/5 a 15/5: Brasil +6% ao dia, EUA +2% ao dia, Mundo +1,8% ao dia.

De 15/5 a 19/5: Brasil +4,4% ao dia, EUA +1,2% ao dia, Mundo +1,3% ao dia.

De 19/5 a 23/5: Brasil +5,6% ao dia, EUA +1,6% ao dia, Mundo +1,1% ao dia.

De 23/5 a 27/5: Brasil +3,9% ao dia, EUA +0,9% ao dia, Mundo +0,9% ao dia.

De 27/5 a 31/5: Brasil +4,1% ao dia, EUA +1,0% ao dia, Mundo +1,2% ao dia.

Brasil, média de mortes notificadas por CV19, 7-day rolling average, tomada a cada quatro dias desde o começo de abril. O "efeito fim-de-semana" e os "picos" e "vales" são evitados. 

2/4 a 9/4: 84 / dia

6/4 a 13/4: 112

10/4 a 17/4: 142

14/4 a 21/4: 175

18/4 a 25/4: 215

22/4 a 29/4: 331

26/4 a 3/5: 386

30/4 a 7/5: 438

4/5 a 11/5: 594

8/5 a 15/5: 697

12/5 a 19/5: 738

16/5 a 23/5: 857

20/5 a 27/5: 913

24/5 a 31/5: 974

A média de crescimento diário do número total de mortes notificadas no Brasil, nas quatro quinzenas de abril e maio, evoluiu assim: +16%, +8,5%, +6,3%, +4,4%. Nos EUA: +15%, +5%, +2,2%, +1,1%. No mundo: +8%, +3%, +1,9%, +1,2%. Como se vê, a epidemia cresce mais lentamente (é da natureza das epidemias reduzir o ritmo de crescimento quase desde o começo), mas essa freagem é bem mais lenta no Brasil. Nossa explosão inicial foi menor, mas em compensação passamos mais tempo com um ritmo relativamente alto de crescimento do número de mortes notificadas. Por isso, não atingimos, aparentemente, o teto do número diário de mortes notificadas (o principal indicador a que a mídia presta atenção) na segunda quinzena de maio, como esperávamos (a não ser que caia na semana que vem). Esse número continuou subindo, até atingir 974 na última semana de maio, com vários dias acima do número simbólico de 1000/dia. Fechamos maio, assim, com cerca de 29.000 mortes notificadas totais (não incluídos os números do final do dia de hoje, que entrarão nas nossas contas amanhã, como sempre). Para que se cumpra nossa estimativa (40.000, com mínima de 20.000 e máxima de 80.000 até o final do ano) é preciso que essa média diária comece a cair logo. Senão, entramos em algo mais parecido com o modelo do IHME (126.000 até o começo de agosto; eles não estimam até o final do ano). Veremos. Nos EUA e no mundo como um todo, o ritmo de crescimento está oscilando em torno de 1% ao dia, o que indica uma epidemia razoavelmente sob controle (o que não exclui que ela esteja ainda crescendo em determinados locais).

Hora de atualizar a tabela de mortes notificadas por milhão de habitantes, como todo domingo.

Situação em 31/5, comparada com 24/5. Só considerados países com mais de 100 mortes notificadas por milhão (0,01% da população). Acrescento o aumento em uma semana para dar uma ideia do ritmo semanal de cada um.

1. San Marino - 1.050 / M (1050) - 0
2. Bélgica - 830 / M (814) - +2%
3. Andorra 637 / M (637) - 0
4. Espanha - 580 / M (613) - (-5%) *
5. UK - 579 / M (554) - +4,5%
6. Itália - 553 / M (543) - +1,8%
7. Suécia 435 / M (396) - +9,8%
8. França - 429 / M (423) - +1,4%
9. Holanda - 346 / M (338) - +2,4%
10. Irlanda - 337 / M (328) - +2,7%
11. EUA - 324 / M (303) - +6,9%
12. Suíça - 226 / M (224) - +0,9%
13. Equador 195 / M (181) - +7,7%
14. Canadá 191 / M (172)  - +11%
15. Luxemburgo 183 / M (183) - 0
16. Brasil 141 / M (109) - +29%
17. Portugal 137 / M (128) - +7%
18. Peru 136 / M (105) - +30%
19. Alemanha 104 / M (101) - +3%
20. Mônaco 102 / M (102) - 0

* A Espanha fez uma revisão estatística que resultou na reclassificação de mais de 1.500 óbitos, antes notificados como devidos a CV19, e na redução líquida de 5% da estimativa de mortos por milhão, de uma semana para a seguinte. O que serve para lembrar como a estimativa do número real de mortos por CV19 (e muito mais a de casos médicos, e muito mais a de contágios) não é uma ciência exata, e depende de critérios que variam de país para país.

Mudanças: a Suécia ultrapassou a França, chegando ao 7o lugar. Equador (13o) e Canadá (14o) ultrapassaram Luxemburgo (que caiu para 15o). Brasil (16o) ultrapassou Portugal (17o). Alemanha (19o) ultrapassou Mônaco (20o). O estranho caso da revisão estatística espanhola, explicado acima, fez que Espanha (4o) e UK (5o) ficassem praticamente num empate técnico, levando em conta a margem de erro. Nenhum Estado novo superou os 0,01% de mortes (100 por milhão) nessa semana.

O Brasil passou de 109 para 141 / M, aumento de +29% (menor que os 42%, +48%, +58% e +65% das quatro semanas anteriores, mas demonstrando uma desaceleração muito lenta). 

O mundo passou de 45 para 49 / M, aumento de 8,9% (ritmo um pouco superior aos 7,1% da semana anterior, mas dentro da margem de erro). 

Os quatro menores Estados da lista (S Marino, Andorra, Luxemburgo e Mônaco) não registraram nenhuma morte por CV19.

Entre os países mais afetados, os únicos com crescimento semanal acima de 10% são Peru (+30%), Brasil (+29%) e Canadá (+11%). 

Dentre os demais, os únicos acima de 5% são Suécia (+9,8%), Equador (+7,7%), Portugal (+7%) e EUA (+6,9%).

Sem contar os quatro pequenos, onde não houve mortes notificadas, e o caso da revisão estatística da Espanha, que torna impossível fazer estimativa de variação semanal, 11 dos 20 países mais afetados mostraram redução no ritmo da epidemia. As quatro exceções, todas plausivelmente dentro da margem de erro, são Canadá (de 10% para 11%), Suécia (de 8,8% para 9,8%), Holanda (estável em 2,4%) e França (de 0,7% para 1,4%). A Suíça substitui a França no quadro que recebe a estrelinha de ouro (abaixo de 1%).

A seguir, quadro que permite visualizar a evolução da epidemia nos 17 Estados mais afetados (os 20 da lista acima menos (San Marino, Andorra e Mônaco). É interesse iluminar a curva do Brasil e compará-la com as demais.

https://ourworldindata.org/grapher/daily-covid-deaths-per-million-7-day-average?country=BEL~BRA~CAN~ECU~FRA~DEU~IRL~ITA~LUX~NLD~PER~PRT~ESP~SWE~CHE~GBR~USA