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quarta-feira, 8 de junho de 2022

Livro de Francisco Razzo: Minha contribuição para tornar o mundo um lugar ainda pior (sim, é isso...)

 


"A resposta não está na política e muito menos nos políticos"

Entrevista com o autor: Francisco Razzo

Razzo, que história é essa de contribuir para um mundo ainda pior?

Minha contribuição para tornar o mundo um lugar ainda pior se refere ao título de um texto do livro que, no conjunto, traz uma coletânea de textos que escrevi a partir de um problema que me persegue: a impotência humana diante das incertezas da vida. Trago comigo um princípio ético conjugado com uma visão cosmológica muito particular: é preciso saber agir como um mortal. Tudo no livro gira em torno do reconhecimento dessa condição. No próprio texto Minha contribuição para tornar o mundo um lugar ainda pior, faço uma reflexão a respeito de quão trágica pode ser a pretensão humana em propor, para toda humanidade, justamente o contrário.  

É por isso que você diz que gostaria que este livro fosse um “Tratado sobre as incertezas humanas”? 

Exatamente. Um tratado, em filosofia, diz respeito a um gênero literário que busca cobrir a totalidade dos temas fundamentais de um determinado assunto. Ou seja: o alfa e o ômega de toda abordagem racional. Comparado ao tratado, um gênero objetivo e sistemático, o ensaio aborda o assunto numa perspectiva mais experimental, no limite do pessoal. Portanto, seria quase uma contradição nos termos a ideia de “tratado sobre as incertezas humanas”. Ora, diante das incertezas, sobra apenas a aventura de se arriscar, sem a possibilidade de dar uma palavra final ao problema. Meu desejo de ter escrito um tratado não passa de uma pretensão assumidamente fracassada. Inspiro-me muito no poema Tratado geral das grandezas do ínfimo, do Manoel de Barros. 

Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogio

Você acha, então, que precisamos abandonar essa mania de se procurar salvadores do mundo, com soluções mirabolantes para todos os problemas…

No meu primeiro livro, A imaginação totalitária, estudei os perigos da política como esperança. Para mim, estava claro que o maior problema político é a incapacidade de lidarmos com a nossa natureza humana. A mente totalitária, fruto dos poderes da imaginação, busca corrigir o homem porque não suporta a ideia de viver como mortal. Políticos salvadores são consequências de teologias substitutas. Matamos Deus para cultuar homens ou qualquer outra bobagem – como diria Chesterton. Só há um problema que realmente interessa: encontrar sentido numa realidade aparentemente sem sentido. Fiquei convencido de uma coisa: a resposta a esse problema não está na política e muito menos nos políticos.

Nessas crônicas você está bem mais literário: narra lembranças da vida, fala de redes sociais, dos problemas do mundo e até traz um belo trecho de um romance que você ainda não terminou de escrever… foi difícil organizar os textos ou a coisa se deu de forma espontânea?

Tudo o que escrevi nos meus últimos quatro anos, que é o tempo que cobre a produção dessas crônicas, podem ser colocados em quatro eixos: a alegria e, às vezes, as tristezas das banalidades cotidianas; a destruição do senso de comunidade na era redes sociais; polêmicas diárias e eternamente infrutíferas da nossa sociedade; e onde encontro meu refúgio intelectual e moral: meu trabalho como professor, a experiência estética e a vida filosófica. Também me interesso muito por temas como religião e política, e espero, quem sabe, publicar um livro a respeito. Em Minha contribuição para tornar o mundo um lugar ainda pior, tentei responder a seguinte pergunta: nessa massa multiforme de experiências, é possível encontrar sentido? Mas respondendo a sua pergunta: não, não se deu de forma espontânea! Mas foi bem divertido montar esse quebra-cabeça. 

A impressão ao ler este livro é que se trata de uma espécie de autobiografia em crônicas. Através delas é possível conhecer um pouco de como você foi se formando como escritor e pensador, como você foi depurando suas ideias não apenas por leituras e estudos, mas também pelas experiências de vida… como a tentativa de assalto e o acidente de automóvel que viraram reflexões. Enfim, diga-nos o que o leitor pode esperar desse novo livro? 

Sim, bom resumo. Bom, eu sou muito agostiniano em minha forma de pensar a experiência filosófica – isto significa fazer da narrativa de vida um lugar fundamental para a experiência filosófica. No caso do Agostinho, um caminho pessoal para se colocar diante de Deus. Neste livro, traço um caminho inverso e não pretendo chegar a Deus – pelo menos não será o tema deste livro. Para ser preciso, não gostaria de chegar a lugar nenhum. Hoje, uma filosofia que não promete levar a lugar nenhum talvez seja a melhor forma de evitarmos contribuir para que o mundo se torne um lugar ainda pior. Nesse sentido, espero que o leitor também se divirta com o prazer dessa aventura um pouco pretensiosa de pensar a partir de qualquer lugar e, principalmente, sem o compromisso de encontrar grandes soluções para os problemas do mundo.