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sábado, 28 de janeiro de 2023

Itaipu: um grande rolo para Lula destrinchar — Alexa Salomão (FSP)

 Pelos padrões lulistas, tudo valeria como concessão ao Paraguai se o governo fosse de esquerda; sendo o governo de direita, vai ainda decidir como fazer. Em qualquer hipótese, valem os instintos populistas regionais. PRA

Paraguai usa energia paga por brasileiros a Itaipu e já deve R$ 9 bi

Alexa Salomão

Folha de S. Paulo, 28/01/2023


Os brasileiros estão pagando na conta de luz parte da energia de Itaipu consumida pelo Paraguai. Por esse uso considerado irregular da cota de energia do Brasil, o país vizinho já acumula com o Brasil uma dívida de US$ 1,8 bilhão (R$ 9,2 bilhões).


Isso acontece porque, desde 2018, a Ande (Administração Nacional de Eletricidade), estatal responsável pela compra de energia do país vizinho, erra para menos a projeção da energia que vai consumir, e entra na cota reservada e paga pelo Brasil.


A EnbPar (Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional), responsável pela compra da energia do lado brasileiro, afirma que o procedimento do parceiro desrespeita o tratado que rege as relações bilaterais em Itaipu.


O alerta sobre o débito está em uma carta enviada em 29 de dezembro a Itaipu pela EnbPar assinada pelo presidente, vice-almirante Ney Zanella dos Santos, e destinada a cada diretor-geral da usina, o vice-almirante Anatalicio Risden Junior, pelo Brasil, e Manuel Maria Cáceres Cardozo, pelo Paraguai.


O novo diretor-geral de Itaipu, deputado federal Enio Verri (PT-PR), anunciado nesta quinta-feira (26) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vai encontrar detalhado material sobre a questão.


O documento, a que a Folha teve acesso, é acompanhado por uma extensa nota técnica de 39 páginas que trata da evolução dessa conta. Ela traz detalhes para explicar como a Ande faz subcontratações —ou seja, pede menos energia do que efetivamente sabe que vai consumir.


Pela regra, essa empresa avisa no final de todo ano quanto vai consumir no ano seguinte, e o restante passa a ser a cota do Brasil.


A subcontratação de energia pela Ande, associada ao uso de parte da cota brasileira, é apontada por especialistas como um dos fatores para explicar a diferença no preço da energia para o consumidor final em cada lado da fronteira, sempre mais cara no Brasil.


Em 2017, o MWh (megawatt-hora) da energia custava para os brasileiros US$ 38,22 (R$ 195) e US$ 27,04 (R$ 138) para os paraguaios. No ano passado, quando ocorreu a primeira redução tarifária em 13 anos, os paraguaios voltaram a pagar valor similar ao de cinco anos antes, US$ 27,57 (R$ 140). O brasileiros, apesar da redução, pagaram US$ 50,49 (R$ 257).


O princípio essencial do tratado binacional é que tudo em Itaipu é dividido meio a meio entre Brasil e Paraguai. Como o Paraguai consome menos energia, o Brasil compra a parte que sobra do parceiro. Atualmente, o Brasil fica com cerca de 85% da energia de Itaipu —os seus 50% a que tem por direito, mais o pedaço que o Paraguai não consome.


Dentro desse contexto, a invasão da cota de energia brasileira é considerada um despropósito maior ainda pelos especialistas que acompanham o tema.


A raiz primordial do embate está na energia excedente da usina binacional.


Itaipu não gera lucro. A venda de sua energia deve cobrir apenas os custos da usina e o pagamento da dívida para a construção. Quando a usina começou a gerar energia acima do que precisava para pagar as contas, ficou acertado que esse excedente, quando ocorresse, custaria menos.


A partilha desse excedente gerou debates. Brasileiros queriam que ela fosse proporcional à cota. Ou seja, se o Brasil consumisse 90% da energia, assim, teria direito a 90% do excedente. Os paraguaios insistiram, e levaram, a divisão meio a meio, alegando que assim seriam preservados os princípios do tratado.


Com o passar dos anos, a economia do Paraguai foi crescendo, atraindo indústrias, precisando de mais energia. A Ande, no entanto, não fez alterações expressivas no pedido de cota anual. O Paraguai simplesmente passou a usar parcelas crescentes do excedente, até consumi-lo totalmente. Foi, então, que invadiu a cota brasileira.


A Ande, no entanto, nega a irregularidade. Afirma consumir a energia excedente porque Itaipu tem excedente na potência. Como o consumo é feito em fluxo de energia, essa discussão de cunho técnico alimenta um interminável debate e, por tabela, a conta bilionária relatada pela EnbPar.

RENÚNCIAS, DENÚNCIAS E TENTATIVA DE IMPEACHMENT


O fato de a EnbPar apresentar o levantamento neste momento recebeu diferentes interpretações entre quem teve acesso ao documento.


Alguns acreditam que ele funciona como uma proteção contra uma eventual responsabilização da empresa e de sua equipe. Itaipu, por ser binacional, não pode ser questionada por qualquer autoridade em nenhum lado da fronteira. A EnbPar, ao contrário, pode ser responsabilizada por permitir um prejuízo bilionário aos consumidores brasileiros.


Outros acreditam que o documento faz parte de um movimento para municiar Itaipu na negociação do Anexo C do tratado bilateral.


A possibilidade de revisão será aberta a partir de março, após a quitação da última parcela da dívida contratada para a construção da usina. Como o Paraguai está em período eleitoral, a perspectiva é que os parceiros venham a se encontrar a partir do segundo semestre. A avaliação é que o Brasil terá um trunfo ao comprovar que tem a receber quase US$ 2 bilhões (R$ 10 bilhões).


Segundo especialistas que conhecem Itaipu por dentro, as particularidades dos paraguaios e os detalhes dessa divergência, o governo Lula deve se preparar não apenas para uma negociação dura do Anexo C e de outras questões, mas ficar atento à divulgação do processo pelos paraguaios.


Segundo a Folha ouviu de quem acompanhou o processo, o Brasil identificou a invasão da cota no segundo semestre de 2018. Alertado pela área técnica, o presidente da Eletrobras, na época, Wilson Ferreira Júnior, comunicou a Itaipu que o Paraguai consumia volumes maiores que os projetados pela Ande. Para deixar claro que considerava o comportamento do parceiro grave, avisou que não pagaria pela energia que não recebesse.


A Ande, então presidida por Pedro Ferreira, deu início à argumentação sobre uso de energia excedente.


Como Wilson não arredou o pé, o destino da fatura precisou ser debatido internamente em Itaipu. Não houve solução na diretoria, e a questão subiu para o conselho. O impasse se mostrou intransponível. O caso, então, foi levado à área diplomática. No jargão de Itaipu, esse fórum superior se chama Altas Partes.


A conta do desbalanceamento em 2018 foi orçada em US$ 54,9 milhões (R$ 279,7 milhões).


Nesse meio tempo, Jair Bolsonaro (PL) ganhou a eleição e trocou cargos de comando. O general Joaquim Silva e Luna foi empossado em fevereiro de 2019 na diretoria-geral de Itaipu prometendo redução na tarifa. Informado sobre a pendência com o Paraguai, ajudou a mobilizar a nova chancelaria, e a negociação foi agilizada.


Em março, o presidente Mario Abdo Benítez visitou Bolsonaro e deu sinal verde para um acordo. Em um gesto de boa vontade, os representantes do Brasil nem forçaram a mão para receber o valor devido. Foi definida uma mudança na contabilidade, com a criação de um sistema pós-pago. Mensalmente, haveria um acerto de contas entre a energia projetada no ano e a realmente consumida em cada mês.


O acordo foi sacramentado e registrado em ata de 24 maio, assinada pelos ministros das relações exteriores. Eram duas páginas objetivas. O conteúdo seria, então, transferido para contratos a serem assinados por Ande e Eletrobras.


Os paraguaios, porém, pediram um tempo antes do anúncio, alegando que o seu governo precisava de tempo para criar uma peça publicitária explicando as razões da mudança. Semanas depois, um vídeo começou a ser divulgado na TV local. Explicava que o Paraguai precisava ser honesto na compra da energia de Itaipu e mal ficou no ar.


Em julho, ocorreu uma reviravolta. O acordo se tornou público no Paraguai na forma de uma denúncia sobre "a ata secreta de 24 maio".


Todas as versões divulgadas foram variações sobre um ato autoritário do Brasil contra o Paraguai. Pressionado por Bolsonaro, Benítez teria permitido mudanças nas regras de pagamento da energia que elevariam os custos locais, anualmente, em US$ 200 milhões (R$ 1 bilhão). O ambiente político local degringolou.


Cinco envolvidos nas negociações pelo Paraguai pediram demissão, entre eles o ministro das Relações Exteriores, o diretor-geral de Itaipu e o presidente da Ande.


Ao mesmo tempo, começaram a vazar informações de que a ata seria parte de um esquema em que energia barata de Itaipu, do lado paraguaio, seria vendida para uma comercializadora no Brasil ligada à família do presidente Bolsonaro. O Ministério Público abriu investigação.


Em 31 de julho, a oposição avisou que pediria impeachment. No Paraguai, o procedimento pode ser feito em poucos dias. Em 2012, o então presidente Fernando Lugo foi destituído em apenas 36 horas.


No dia seguinte, 1º de agosto, Benítez reagiu. Autoridades posaram assinando um documento que cancelava a ata. Ele fez pronunciamento ao lado da esposa. O clima era de comoção nacional.


O risco de impeachment só terminou quando Bolsonaro concordou que o Brasil anularia a ata. Margeado por governos de esquerda, o movimento foi interpretado como estratégia política para preservar o apoio de Benítez e de seu partido conservador, o Colorado. Os dois se tratam cbomo amigos.


Com as portas fechadas para defenderem os consumidores no Brasil, Eletrobras e Itaipu foram orientadas a contabilizar e divulgar as eventuais futuras invasões da cota brasileira. Os números consolidados pela EnbPar demonstram que a prática não apenas foi mantida como as quantias aumentaram.


MARGEM DIREITA NEGA IRREGULARIDADES E DÍVIDA


Procuradas pela reportagem, EnbPar, Ande e a Margem Esquerda de Itaipu, como é chamado o lado brasileiro, não se manifestaram até a publicação deste texto.


A assessoria da Margem Direita, como é conhecido o lado do rio em que se encontra o Paraguai, enviou nota afirmando que rechaça as análises da EnbPar. Segundo os representantes do Paraguai não existe nenhuma dívida que tenha sido gerada pelo não cumprimento de regras contratuais que regem a venda de energia na empresa binacional.


"A Margem Direita cumpre todas as cláusulas do contrato de prestação de serviços de energia elétrica com ambas as entidades compradoras, razão pela qual afirma ser inadmissível, o pedido da EnbPar que se baseia em interpretações errôneas."


O texto diz ainda que a EnbPar não seguiu os melhores critérios para embasar suas conclusões.


"A abordagem da EnbPar foi realizada unilateralmente e sem consulta por meio de ofício e se baseia em cálculos e premissas errôneas, que não contempladas nos contratos de prestação de serviços de energia elétrica de Itaipu", afirma a nota.


O texto diz ainda ser importante destacar que a contratação com as atuais condições de potência e não de energia contempla o Acordo Operacional do ano de 2007, que confere preeminência à Ande na retirada preferencial dos serviços de energia elétrica.


"Portanto, cumpridas integralmente todas as cláusulas contratuais, não caberá qualquer tipo de dívida do ponto de vista do fornecimento e serviços de energia elétrica de Itaipu Binacional para ambas as entidades compradoras", afirma a nota.

DICIONÁRIO TÉCNICO DO CONTROVERSO BRASIL-PARAGUAI

    EnbPar (Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional): Estatal responsável pela comercialização da energia de Itaipu no mercado brasileiro. Vinculada ao Ministério de Minas e Energia, foi criada para substituir a privatizada Eletrobras na realização de políticas públicas no setor e assumir as atividades da Itaipu Binacional e da Eletronuclear, que responde pelas usinas Angra 1, 2 e 3

    Ande (Administração Nacional De Eletricidade): É a estatal responsável pela comercialização da energia de Itaipu no Paraguai

    Energia vinculada à potência total: volume de energia que gerada que pode ser contratada a partir de uma potência instalada de 12.153 MW, que é de 75 milhões de MWh. Grosso modo, no jargão do setor, esse tipo de energia equivale ao que se chama de energia garantida. Detalhe. Itaipu tem potência de 14.000 MW, mas ficou acordado retirar no cálculo 2 turbinas e a energia da operação, então, para uso prático, ficaram definidos os 12.135 MW

    Energia vinculada à potência contratada: parcela da energia que é definida para os compradores de cada lado da fronteira. Na prática, no final de cada ano, a paraguaia Ande define a cota de energia que vai consumir, e o restante automaticamente passa a ser a cota da brasileira da EnbPar

    Energia suprida: Equivale a energia realmente consumida por cada uma das partes

    Energia não vinculada: Toda energia gerada acima dos 75 milhões de MWh. No seu melhor momento, a produção chegou a 113 milhões de MWh. No mercado brasileiro, ela equivale ao que se chama de energia excedente. Como essa energia não está diretamente associada aos custos da usina, o seu preço é inferior. Equivale basicamente ao custo pelo pagamento de royalties, e geralmente fica na casa de US$ 6. O Brasil chegou a reivindicar que o excedente fosse proporcional a energia vinculada (a cota) anual de cada parte. No entanto, inicialmente, ficou acertado que seria dividida meio a meio. Na prática, porém, o Paraguai passou a ficar com todo o excedente. Assim, o preço final da energia no Brasil é sempre mais alto que no Paraguai.

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

As florestas da Europa estão queimando, mas os europeus estão acumulando madeira para se aquecer no inverno - Ishaan Tharoor (WP)

 


segunda-feira, 8 de novembro de 2021

A crise energética no Brasil e no mundo: entrevista de Paulo Roberto de Almeida ao jornal A União, da Paraíba

 Na semana passada, dei uma entrevista ao jornalista Luiz Carlos Nascimento Sousa, do jornal A União, da Paraíba, sobre crise energética no Brasil e no mundo. Acabo de receber um arquivo pdf do jornal, com minha entrevista resumida, publicada neste domingo 7 de novembro de 2021.

Reproduzo apenas as partes que interessam ao tema selecionado pelo jornalista que tratou apenas de energia, mas nem tudo o que eu disse foi integrado nesta seleção.

Paulo Roberto de Almeida








sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Debate: Política energética no Brasil e no mundo - livro organizado por Alexandre Hage, 19/10. 14hs.

 Convidamos o público interessado para o lançamento de livro:


Política Energética no Brasil: sua participação no desenvolvimento econômico e no relacionamento internacional. (Editora Appris, 2020)

O livro foi organizado pelo professor José Alexandre Altahyde Hage da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

Teremos como expositores deste debate alguns autores de capítulos:

Alexandre Hage (UNIFESP)
Paulo Roberto de Almeida (MRE)
Alencar Chaves (Petrobrás)
Vanessa Matijascic (USP)

O evento acontecerá virtualmente: 19/10/2020, segunda-feira, 14h.


A partir dos e-mails informados, enviaremos as informações de acesso a sala para o evento.

Atenciosamente,

Vanessa Matijascic
Professora Colaboradora e Pós-doutoranda do Departamento de Ciência Política da USP
Pesquisadora do NUPRI

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

5G: uma opinião bem informada e negativa - Hamilton Carvalho

Não dá para caracterizar a opinião deste articulista como luddita ou malthusiana, pois ele fornece os dados técnicos quanto à sua percepção negativa, em termos de energia, cabeamento, equipamentos em excesso e outros inconvenientes.
Mas o fato é que essa tecnologia virá, para o bem e para o mal.
Acredito que a tecnologia vai evoluir para minimizar ou eliminar certos efeitos negativos.
Mas eu não sou um expert.
Paulo Roberto de Almeida

5G é insanidade, escreve Hamilton Carvalho

5G é a promessa do momento
Aumentará emissões de gases
Gerará demanda por energia elétrica
Segundo a Anatel, a oferta do 5G deve ter início poucos meses após a assinatura dos contratos Anatel

O avanço da tecnologia vai fazer você trabalhar menos e ter mais tempo livre para o que importa na vida. Quantas vezes você já não ouviu isso?

A ideia de que as máquinas trabalhariam no lugar do ser humano é antiga, mas começou a decolar especialmente depois da Revolução Industrial.
Já no final do século 19, o pioneiro da geração e transmissão de energia elétrica Lucien Nunn aplaudiria os benefícios da então revolucionária tecnologia, que passou a ser aplicada em suas minas de carvão nos EUA. Finalmente, disse ele, os trabalhadores teriam tempo e recursos para cuidar de suas famílias, de seu país e de si.

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Outro exemplo conhecido é o do influente economista John Maynard Keynes, que vislumbrava um futuro com semanas de trabalho de apenas 15 horas. Para ele, o aumento na produtividade proporcionado por novas tecnologias seria capaz de dar conta de todas as necessidades humanas. O tempo livre seria usado para o lazer.
É óbvio que nada disso aconteceu. Continuamos trabalhando pelo menos 40 horas por semana e assim continuaremos, pelo menos os que ainda têm emprego. Na média, a vida melhorou bem, mas os ganhos privados com o aumento de produtividade fluíram para o bolso de poucos.
A promessa do momento é a tecnologia 5G de telefonia celular. Já não se fala mais na perspectiva de menos trabalho e mais lazer. O discurso agora é outro: teremos cidades inteligentes, carros autônomos, fábricas com robôs que conversam entre si, geladeiras que encomendam comida diretamente ao supermercado. Alguns até falam que você vai trabalhar mais comprometido, direto da sua casa. Glorioso.
O discurso mudou e, sem dúvida, tem muita coisa boa que dá para ser feita com o 5G. O problema é que a tecnologia tem um inconveniente que não dá pra esconder em um mundo que já vive em emergência climática: ela vai aumentar bastante as emissões de gases do efeito-estufa.
Não existe almoço grátis. O 5G vai gerar uma forte demanda adicional por energia elétrica. E por mais que se espere rápida disseminação das fontes renováveis nas próximas décadas, as tomadas do mundo ainda vão continuar dependendo dos combustíveis fósseis por um longo tempo.
O pessoal da indústria certamente vai argumentar que estamos indo na direção correta. Dirão eles que essa tecnologia está associada com estações de transmissão mais eficientes em termos de consumo de energia e que o 5G pode diminuir as emissões de CO2 em cidades “inteligentes”.
Mas há duas verdades inconvenientes fora dessa narrativa. A primeira tem relação com aquelas bases com antenas de celular que costumam ficar no topo de edifícios. A questão é que o 5G, na sua versão mais poderosa (de frequência mais alta), requer muito mais antenas por mastro –de 10 a 30 vezes mais. E requer muito mais dessas estruturas– um mastro a cada 100 ou 200 metros. O conjunto da obra vai consumir mais eletricidade do que o sistema atual.
A segunda verdade inconveniente –e a mais importante– é o tsunami de dados que estamos encomendando com o 5G. Na medida em que bilhões de equipamentos e quinquilharias (como fraldas e escovas de dentes) passarem a embutir chips que conversam entre si, essa tagarelice precisará ser transmitida e processada à custa de muita energia elétrica adicional (fala-se em aumento de 1.000%).
Tem ainda um outro ponto de interrogação, menos relevante para o argumento aqui apresentado. Cientistas sérios têm alertado para o salto no escuro que estamos dando com o banho adicional de radiação trazido pelo 5G. Há muita pressa para movimentar os negócios e pouca precaução.

O jogo mudou 

Devemos muito à tecnologia, que transformou a experiência humana na Terra. Na longa escala de tempo planetário, foi em um piscar de olhos que passamos a viver em pequenas cidades, inventamos a agricultura, a imprensa, chegamos à Revolução Industrial, ao telefone, aos mainframes, aos computadores pessoais, aos smartphones. E agora desembocamos no que parece ser um novo paradigma, que inclui, além do 5G, a inteligência artificial.
Essas mudanças ficaram mais aceleradas, isto é, na nossa história os paradigmas foram sendo quebrados em intervalos de tempo cada vez mais curtos. Isso é consistente com o fenômeno que a literatura chama de crescimento superexponencial.
Infelizmente, uma consequência inevitável desse fenômeno é o colapso –no caso, dos nossos sistemas socioeconômicos. É como correr em uma esteira que fica cada vez mais rápida.
Outra consequência desse aumento de velocidade é a dificuldade de perceber que as regras do jogo estão mudando. A humanidade continua jogando damas em um mundo que virou um tabuleiro de xadrez pegando fogo.
Mas nesse ponto sou otimista: acho que esta década vai marcar uma reviravolta na percepção coletiva, refletindo os efeitos cada vez mais dramáticos das mudanças climáticas. Com sorte, vamos perceber que virtualmente toda política pública ou privada, como o 5G, tem efeitos diretos no estrago que estamos fazendo no planeta.
E que nem sempre dá para acreditar em promessas utópicas.


terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Energy Statecraft of Brazil - Book by Klaus Guimarães Dalgaard (disponivel na Funag)



FUNAG publica o livro “The Energy Statecraft of Brazil - The Rise and Fall of Brazil's Ethanol Diplomacy”
O livro “The Energy Statecraft of Brazil - The Rise and Fall of Brazil's Ethanol Diplomacy”, do professor-assistente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Klaus Guimarães Dalgaard, analisa o desenvolvimento da política energética do Brasil entre 2012 e 2017. Originalmente apresentada como tese de doutorado defendida na London School of Economics and Political Science (LSE) em 2012, a obra foi atualizada com análise em novas entrevistas com fontes primárias e secundárias. A apresentação é feita pelo diretor do Departamento de Energia, ministro João Genésio de Almeida Filho.
O livro já está disponível para download gratuito na biblioteca digital da FUNAG.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Churrasco de passarinho: ecologistas querem impedir centra fotovoltaica

Como os passarinhos podem virar churrasco, os ecologistas querem impedir a construção de usinas deste tipo:

Maior torre de energia solar do mundo é construída em Israel

Image captionUsina de Ashalim ficará pronta no primeiro trimestre de 2018 | Foto: Divulgação
Na paisagem das areias do deserto do Negev, no sul de Israel, uma torre de 250 metros de altura - o equivalente a um prédio de 50 andares - se destaca. Trata-se da torre da usina solar de Ashalim, parte do esforço das autoridades israelenses para produzir, até 2020, 10% de sua energia através de fontes renováveis; hoje, este porcentual é de 2,5%.
A mais alta do mundo em um projeto de energia solar térmica concentrada (Concentrating Solar Power - CSP, em inglês), a torre de Ashalim é circundada por 50.600 espelhos controlados por computador (heliostatos), distribuídos por uma área de 3 km². Esses espelhos acompanharão a movimentação do sol de modo a refletir luz sobre uma caldeira localizada no alto da torre, durante o maior tempo possível ao longo do dia.
A radiação solar infravermelha capturada pelos espelhos e refletida sobre a caldeira criará um processo térmico de vapor que moverá enormes turbinas, gerando energia elétrica "limpa". Quando pronta, no primeiro trimestre de 2018, a usina de Ashalim produzirá 121 megawatts de energia solar, suficientes para iluminar 125 mil casas, evitando a emissão anual de 110 mil toneladas de dióxido de carbono. 
"A eletricidade será gerada a partir do vapor da mesma forma que geraria uma usina de gás ou de carvão, mas a energia não vem de combustíveis fósseis e sim do sol. É uma obra de porte para quem quer investir em energia limpa", diz o engenheiro uruguaio Jacinto Durán-Sanchez, diretor-geral da usina solar.
Espelhos podem ser controlados remotamente e ficam próximos a torres de wi-fi, para garantir conexão sem interrupção | Foto: Felipe Wolokita
Os espelhos serão controlados remotamente até mesmo por telefones celulares dos engenheiros e diretores. Diariamente, a areia do deserto acumulada sobre eles terá de ser retirada. 
"Os heliostatos vão estar inclinados, levando os raios de sol e o calor até a caldeira para levar a água a um vapor de 600 graus. Cada heliostato tem seu comando individual e remoto. Entre os espelhos há torres de wi-fi para assegurar que estejam conectados 24h por dia", explica o engenheiro argentino Claudio Nutkiewicz, outro latino-americano envolvido no projeto.
No mundo, existem atualmente apenas 10 usinas heliotérmicas com capacidade superior a 121 MW. A maior é a de Ivanpah, no deserto do Mojave (EUA), inaugurada em 2014, com capacidade projetada de 392 MW. Mas ela conta com três torres de 190 metros de altura cada uma (40 andares), que recebem luz de 173.500 heliostatos.

Usina de Ashalim tem custo estimado de US$ 570 milhões | Foto: Daniela Kresch
O projeto de Israel é mais humilde no número de espelhos (um terço), mas inova ao contar com apenas uma torre dez andares mais alta - que teria potencial maior na produção energética com custo menor do que o de erguer diversas torres. Novos megaprojetos com torres altíssimas (ao invés de várias mais baixas) estão em andamento. Uma delas, na Austrália, chegará perto da de Ashalim. A Aurora Solar Energy terá uma torre de 227 metros de altura (48 andares).
A usina solar (ou heliotérmica) de Ashalim tem custo estimado de US$ 570 milhões e, faz parte de um projeto mais amplo, o Megalim, uma joint-venture entre a General Electric (GE), a BrightSource (empresa americana de energia solar que também construiu a usina de Ivanpah) e o fundo israelense Noy (que investe em infraestrutura, com participação do Banco Hapoalim, o maior do país).
No total, o projeto é estimado, em US$ 820 milhões, incluindo mais duas obras complementares: uma para armazenamento de energia solar de noite e outra de uma usina com tecnologia fotovoltaica para produzir ainda mais energia. Juntos, os três projetos solares gerarão cerca de 310 MW - cerca de 2% das necessidades de Israel. 
Mas as usinas heliotérmicas também têm críticos. Nos Estados Unidos, ambientalistas apontam para o fenômeno de aves mortas encontradas nas proximidades dessas centrais elétricas. Eles afirmam os pássaros são incinerados pela luz refletida pelos espelhos, que pode alcançar 600° centígrados.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Energia: a visao americana, e a visao russa; falta a chinesa, a brasileira e a da Europa...

Por acaso, chegam dois relatórios sobre energia no mesmo dia, um informado pelo Wilson Weekly, o boletim semanal do Woodrow Wilson Center for International Studies, o outro pelo magazine Russia Direct.
Ainda não li nenhum dos relatórios, mas vou procurar obter o dos EUA, que me parece mais confiável, pelos dados, do que o de Russia Direct (a despeito dos consultores contratados para fazer o relatório), uma vez que o setor de energia é o exemplo típico da capitalismo promíscuo (ou claramente mafioso) que vigora nas terras do czar.
Paulo Roberto de Almeida


Secretary of Energy Ernest Moniz
U.S. Secretary of Energy Ernest Moniz on 2015 Global Policy Outlook    Gold Angle
"In doing this quadrennial energy review, what has come into much sharper focus is the question of not just the energy infrastructure----the pipes and wires that move electricity or fuels--but also what we might term the shared infrastructure that moves many, many commodities including energy," said Secretary of Energy Ernest Moniz.

Secretary of Energy Ernest Moniz on 2015 Global Policy Outlook

January 07, 2015 // 10:30am12:00pm
Secretary of Energy Ernest Moniz will keynote an event at the Wilson Center entitled “2015 U.S. Energy Policy Outlook: Opportunities and Challenges”. An additional panel of experts from academia, government and the private sector will discuss current global challenges and opportunities in energy markets and politics.
Location: 
6th Floor, Woodrow Wilson Center
Event Speakers List: 
  • United States Secretary of Energy
  • International Lawyer and founding partner, Palacio y Asociados, and former Minister of Foreign Affairs of Spain
  • Professor of International Affairs, George Washington University and former National Security Adviser to Vice President Al Gore
  • President, Goldwyn Global Strategies LLC, former State Department Coordinator for International Energy Affairs, and Co-Editor, Energy & Security: Strategies for a World in Transition
  • Jan H. Kalicki // Public Policy Scholar
    Lead, Regional and Global Energy Issues; former Counselor for International Strategy, Chevron, and Co-editor, Energy & Security: Strategies for a World in Transition
  • Head of Global Commodities Research, Citigroup, and former Deputy Assistant Secretary of State for International Energy Policy 
     
     January 9, 2015

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    Russian Energy Sector: Beyond Sanctions
    By Natasha Udensiva, Marat Terterov, Ben McPherson,   Ka-ho Yu

    The report offers a look at the current state of the Russian energy sector and includes an overview of Russia's energy ambitions in Europe and Asia. The issue also contains a commentary from the Russian Ministry of Energy explaining the government’s position on the most pressing issues and sheds some light on what to expect in 2015.

    The bite of sanctions, falling oil prices and Europe’s yearning for energy independence have forced Russia to look for new business models, new markets and new customers. The question is how Russia’s much-touted pivot to Asia will impact the prospects of Russia’s energy sector.