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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

5G: uma opinião bem informada e negativa - Hamilton Carvalho

Não dá para caracterizar a opinião deste articulista como luddita ou malthusiana, pois ele fornece os dados técnicos quanto à sua percepção negativa, em termos de energia, cabeamento, equipamentos em excesso e outros inconvenientes.
Mas o fato é que essa tecnologia virá, para o bem e para o mal.
Acredito que a tecnologia vai evoluir para minimizar ou eliminar certos efeitos negativos.
Mas eu não sou um expert.
Paulo Roberto de Almeida

5G é insanidade, escreve Hamilton Carvalho

5G é a promessa do momento
Aumentará emissões de gases
Gerará demanda por energia elétrica
Segundo a Anatel, a oferta do 5G deve ter início poucos meses após a assinatura dos contratos Anatel

O avanço da tecnologia vai fazer você trabalhar menos e ter mais tempo livre para o que importa na vida. Quantas vezes você já não ouviu isso?

A ideia de que as máquinas trabalhariam no lugar do ser humano é antiga, mas começou a decolar especialmente depois da Revolução Industrial.
Já no final do século 19, o pioneiro da geração e transmissão de energia elétrica Lucien Nunn aplaudiria os benefícios da então revolucionária tecnologia, que passou a ser aplicada em suas minas de carvão nos EUA. Finalmente, disse ele, os trabalhadores teriam tempo e recursos para cuidar de suas famílias, de seu país e de si.

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Outro exemplo conhecido é o do influente economista John Maynard Keynes, que vislumbrava um futuro com semanas de trabalho de apenas 15 horas. Para ele, o aumento na produtividade proporcionado por novas tecnologias seria capaz de dar conta de todas as necessidades humanas. O tempo livre seria usado para o lazer.
É óbvio que nada disso aconteceu. Continuamos trabalhando pelo menos 40 horas por semana e assim continuaremos, pelo menos os que ainda têm emprego. Na média, a vida melhorou bem, mas os ganhos privados com o aumento de produtividade fluíram para o bolso de poucos.
A promessa do momento é a tecnologia 5G de telefonia celular. Já não se fala mais na perspectiva de menos trabalho e mais lazer. O discurso agora é outro: teremos cidades inteligentes, carros autônomos, fábricas com robôs que conversam entre si, geladeiras que encomendam comida diretamente ao supermercado. Alguns até falam que você vai trabalhar mais comprometido, direto da sua casa. Glorioso.
O discurso mudou e, sem dúvida, tem muita coisa boa que dá para ser feita com o 5G. O problema é que a tecnologia tem um inconveniente que não dá pra esconder em um mundo que já vive em emergência climática: ela vai aumentar bastante as emissões de gases do efeito-estufa.
Não existe almoço grátis. O 5G vai gerar uma forte demanda adicional por energia elétrica. E por mais que se espere rápida disseminação das fontes renováveis nas próximas décadas, as tomadas do mundo ainda vão continuar dependendo dos combustíveis fósseis por um longo tempo.
O pessoal da indústria certamente vai argumentar que estamos indo na direção correta. Dirão eles que essa tecnologia está associada com estações de transmissão mais eficientes em termos de consumo de energia e que o 5G pode diminuir as emissões de CO2 em cidades “inteligentes”.
Mas há duas verdades inconvenientes fora dessa narrativa. A primeira tem relação com aquelas bases com antenas de celular que costumam ficar no topo de edifícios. A questão é que o 5G, na sua versão mais poderosa (de frequência mais alta), requer muito mais antenas por mastro –de 10 a 30 vezes mais. E requer muito mais dessas estruturas– um mastro a cada 100 ou 200 metros. O conjunto da obra vai consumir mais eletricidade do que o sistema atual.
A segunda verdade inconveniente –e a mais importante– é o tsunami de dados que estamos encomendando com o 5G. Na medida em que bilhões de equipamentos e quinquilharias (como fraldas e escovas de dentes) passarem a embutir chips que conversam entre si, essa tagarelice precisará ser transmitida e processada à custa de muita energia elétrica adicional (fala-se em aumento de 1.000%).
Tem ainda um outro ponto de interrogação, menos relevante para o argumento aqui apresentado. Cientistas sérios têm alertado para o salto no escuro que estamos dando com o banho adicional de radiação trazido pelo 5G. Há muita pressa para movimentar os negócios e pouca precaução.

O jogo mudou 

Devemos muito à tecnologia, que transformou a experiência humana na Terra. Na longa escala de tempo planetário, foi em um piscar de olhos que passamos a viver em pequenas cidades, inventamos a agricultura, a imprensa, chegamos à Revolução Industrial, ao telefone, aos mainframes, aos computadores pessoais, aos smartphones. E agora desembocamos no que parece ser um novo paradigma, que inclui, além do 5G, a inteligência artificial.
Essas mudanças ficaram mais aceleradas, isto é, na nossa história os paradigmas foram sendo quebrados em intervalos de tempo cada vez mais curtos. Isso é consistente com o fenômeno que a literatura chama de crescimento superexponencial.
Infelizmente, uma consequência inevitável desse fenômeno é o colapso –no caso, dos nossos sistemas socioeconômicos. É como correr em uma esteira que fica cada vez mais rápida.
Outra consequência desse aumento de velocidade é a dificuldade de perceber que as regras do jogo estão mudando. A humanidade continua jogando damas em um mundo que virou um tabuleiro de xadrez pegando fogo.
Mas nesse ponto sou otimista: acho que esta década vai marcar uma reviravolta na percepção coletiva, refletindo os efeitos cada vez mais dramáticos das mudanças climáticas. Com sorte, vamos perceber que virtualmente toda política pública ou privada, como o 5G, tem efeitos diretos no estrago que estamos fazendo no planeta.
E que nem sempre dá para acreditar em promessas utópicas.


quinta-feira, 28 de abril de 2016

Efeitos psiquicos da Revolucão Chinesa: meio século depois, um psicanalista americano investiga - Tomas Plankers

Asia Pacific

Q. and A.: Tomas Plänkers on the Psychic Legacy of the Cultural Revolution

sábado, 22 de março de 2014

Salario minimo nacional: um equivoco economico, uma demagogia politica- o debate nos EUA

Este debate demonstra uma coisa importante: um salario minimo nacional e homogêneo é um erro.
Paulo Roberto de Almeida 


All Economics Is Local



In the face of congressional inaction, the debate on raising the minimum wage is moving to the local level. As more cities and counties consider setting their own wage standards, they can learn from the policy experiments already underway.
Since the mid-1980s, states in every region of the country have raised the local minimum wage, often numerous times. Twenty-one states (and Washington, D.C.) currently have wage floors above the federal level ($7.25), and 11 of these raise them every year to account for inflation. Washington State currently has the highest, at $9.32; California’s is set to increase to $10 on July 1, 2016.
More than 120 cities and counties have adopted living wage laws that set pay standards, many of them in the $12 to $15 range. These higher standards usually apply only to employees of city service contractors, like security guards, landscapers and janitors. In some cities, living wage laws cover workers at publicly owned airports or stadiums, as well as at shopping malls subsidized by local development funds. While the impact on the individual workers covered under these laws is often quite significant, their reach is rarely broad enough to affect the local low-wage labor market as a whole.
For this reason, cities and counties are now enacting higher local minimum wage policies that cover all work performed in the area. Cities as varied as Albuquerque, San Francisco, San Jose, Calif., Santa Fe, N.M., and Washington, D.C., have minimum wages ranging from $8.60 in Albuquerque to $10.74 in San Francisco. The District of Columbia, which is raising its minimum wage to $11.50 in 2016, wisely joined with two neighboring Maryland counties to create a regional standard.
Many more cities are getting ready to follow suit. Richmond, Calif., Oakland and Seattle are seriously considering setting their own minimum wage. The Richmond City Council just voted an increase that will go to $12.30 by 2017. Advocates in Oakland are aiming for $12.25. Seattle is discussing $15. Prodded by its new mayor, New York City is seeking the right to set its own minimum wage rate, instead of using New York State’s.
A Seattle group held a march last Saturday calling for raising the minimum wage to $15 per hour.Stuart Isett for The New York TimesA Seattle group held a march last Saturday calling for raising the minimum wage to $15 per hour.
With the national debate stuck in the same old rut, states and cities have again become laboratories of democracy. Are they on the right path? For the last 15 years we have been doing research on just this question.
One city we have studied in detail, San Francisco, has passed a dozen labor standards laws since the late 1990s. After adding the effects of other local laws mandating employers to pay for sick leave and health spending, the minimum compensation standard at larger firms in San Francisco reaches $13. Our studies show that the impact of these laws on workers’ wages (and access to health care) is strong and positive and that none of the dire predictions of employment loss have come to pass. Research at the University of New Mexico on Santa Fe’s floor (now $10.66) found similar results.
These are not isolated cases. Research on the effects of differing minimum wage rates across state borders confirms the results of the city studies. But how can minimum wage increases not have negative effects on employment? After all, according to basic economic theory, an increase in the price of labor should reduce employer demand for labor.
That’s not the whole story, though. A full analysis must include the variety of other ways labor costs might be absorbed, including savings from reduced worker turnover and improved efficiency, as well as higher prices and lower profits. Modern economics therefore regards the employment effect of a minimum-wage increase as a question that is not decided by theory, but by empirical testing.
Our research and that of other scholars illuminates how businesses actually absorb minimum wages at low-wage industries. Higher standards have an immediate effect in reducing employee turnover, leading to significant cost savings. Minimum wage increases do lead to small price increases, mainly in restaurants, which are intensive users of low-paid workers. How much? A 10 percent minimum wage increase adds 0.7 cents on the dollar to restaurant prices. Price increases in most other sectors, like retail, are too small to be visible, partly because retail pays more than restaurants.
RELATED
Interactive Feature: Can You Live on the Minimum Wage?
75 ThumbnailCalculate the hard choices that have to be made living on the smallest paychecks.
Even if Congress finally acts to raise the federal minimum wage, higher standards at the state and local level still make sense. It will surprise no one that living costs are generally higher in cities than in rural areas. They often vary among cities in the same state. The New York City metro area is 26 percent more expensive than upstate Utica; costs in the San Jose metro area are 30 percent higher than in El Centro, in southeastern California. Policy makers need to take these variations into account. This is not just a theoretical idea. It has long been policy in Japan. Minimum wages in Tokyo and Osaka are as much as 30 percent higher than they are in regions with the lowest cost of living.
Here’s another way to think about it. One measure of employers’ latitude to absorb higher wages compares the minimum wage to the median wage. From the 1960s into the 1970s, the minimum-median ratio in the United States varied between 41 and 55 percent. Since the mid-1980s, it has been much lower, varying between 33 and 39 percent. A minimum wage increase to $10.10 by 2016, as President Obama proposed earlier this year, would restore the national ratio to 50 percent. By comparison, San Francisco’s $10.74 minimum wage is 40 percent of the city’s median wage. In other words, although some of the proposed rates may seem high by national standards, they look more reasonable when measured against local wage levels.
Local minimum wages also represent a response to growing inequality within cities, in too many of which a growing army of low-paid workers — maids, gardeners, janitors, restaurant and security workers — provide personal services to an increasingly well-heeled minority.
The record is clear. Employers can afford to pay higher wages that raise families out of poverty and bear a closer relation to local living costs. And there’s a moral value, too. An increase in the local minimum wage restores, on a very personal level, some of our notion of fairness.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Efeito Argentina sobre o Brasil

Se acercan días difíciles para el exportador brasileño que tiene a los argentinos como mercado consumidor. Tras la crisis cambiaria de esta semana, que ha llevado al equipo de Cristina Fernández a reducir las restricciones para la adquisición de dólares para evitar un nuevo agujero en las precarias reservas internacionales, el próximo paso es limitar aún más las importaciones del país. Será una medida desesperada para preservar la moneda extranjera, pero tendrá consecuencias para argentinos y brasileños.
“Comenzarán a faltar productos en Argentina”, dice Josefina Guedes, de la GBI Consultora de Comercio Exterior, que comienza a percibir la preocupación de los exportadores brasileños. “Antes teníamos problemas puntuales para la liberación de la entrada de productos, una cuestión que se negociaba caso por caso. Pero ahora, la situación comienza a generalizarse”, explica.Argentina es el tercer socio comercial de Brasil, solo por detrás de China y Estados Unidos. En 2013, Brasil exportó al mercado argentino el equivalente a 242.000 millones de dólares, en máquinas, partes y piezas, electrodomésticos y coches, entre otros. Por eso, cualquier movimiento brusco en la tierra de Cristina Fernández preocupa a Brasil.
Para Roberto Gianetti da Fonseca, director de Relaciones Internacionales de la Federación de las Industrias del Estado de São Paulo, hay dos canales de contaminación por la crisis cambiaria argentina. Uno de ellos en el campo comercial: “La devaluación argentina encarece los productos brasileños allí en un momento en que la población pierde poder adquisitivo”, explica. En la cuestión financiera, la volatilidad lleva a los inversores globales a ser más cautelosos. “Si hubiera un índice de riesgo del Mercosur, estaría alto tanto por Argentina como por Venezuela puesto que estos países están interrelacionados”, explica Fonseca.
“Todo indica que se trata del comienzo de un problema”, dice Luís Eduardo Assis, exdirector del Banco Central de Brasil. “Lo siguiente será que la devaluación del peso se reflejará en la inflación de Argentina”, explica Assis.
A lo largo de este viernes, la tensión en los mercados por la situación de Argentina - sumada a los bajos resultados de China - influyó en la tasa de cambio de Brasil, que superó los 2,40 reales por dólar. El Banco Central brasileño hizo varias intervenciones para evitar una mayor escalada del real. Pero la crisis en sí no llegará a Brasil, mantiene Assis. “La posibilidad es muy pequeña. Solo quien está realmente desinformado puede confundir la situación macroeconómica de Argentina con la nuestra”, dice.
Hace algunos días, The Wall Street Journal reprodujo la frase de un economista brasileño anónimo que preveía que Brasil estaba transformándose en una Argentina, una idea que imperó en el Brasil de los años 80 y 90. Hoy, dice Assis, esa proyección no tiene ningún sentido. “Tenemos más de 370.000 millones de dólares en reservas, nuestro cambio fluctúa con intervenciones puntuales, no viene al caso esa comparación”, afirma. Las reservas en Argentina estaban por debajo de los 30.000 millones de dólares.
Para Gianetti da Fonseca, Brasil va a perder parte de sus exportaciones con la crisis en el país vecino. “Por lo tanto, es hora de buscar mercados alternativos. Mirar hacia Asia y México para redireccionar nuestros productos a otros mercados".

domingo, 5 de janeiro de 2014

Salario minimo reduz a pobreza? Discutivel, em todo caso...

Fui ler o estudo citado na matéria do NYTimes (vide dois posts abaixo) sobre redução da pobreza como efeito da elevação do salário mínimo, aqui linkado:


Minha tendência é a de achar que certos economistas são manetas, ou seja, só veem um lado da questão.
By the other hand, seria preciso medir os efeitos que essa elevação teria sobre a empregabilidade, ou seja, a capacidade de pequenos negócios e particulares continuarem a manter, ou empregar novas pessoas, quando suas rendas não se elevam por decreto governamental.
E se o desemprego aumentar?
As pessoas que antes estavam sob um salário menor, ficam sem qualquer renda, certo?
Seria a melhor solução?
Continuo achando que um país sem salário mínimo oficial se aproximaria do pleno emprego (isto é, apenas 3 a 5% de desemprego, que é estrutural) mais facilmente do que um cheio de regulamentações e obrigatoriedades.
Sinceramente, falando do Brasil: se houvesse total liberdade contratual, todos estaríamos melhor, contratando quem a gente quisesse, quantas vezes quisesse, mediante um pagamento livre e reciprocamente acertado, correto?
Liberdade é sempre a melhor solução, para todos.
Paulo Roberto de Almeida 

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Maravilhas do cambio depreciado: neofitos e ingenuos sempre esquecem o outro lado...

Economistas ingênuos -- como o Sr. Bresser Pereira, por exemplo -- e industriais dotados de um olho só -- como os da Fiesp, por exemplo -- sempre dizem que o câmbio não é favorável. Bresser Pereira sempre bate na tecla de que um câmbio favorável andaria aí pelas alturas de 3,5 ou pelo menos pouco abaixo de 3. Para os industriais, o câmbio, qualquer que seja seu valor, está sempre defasado em 25%.
Pois bem, se fôssemos nos guiar pelas receitas desses gênios econômicos, a situação das empresas, já por si difícil em vista do "custo Brasil" e um inferno regulatório constante, ficaria ainda mais difícil, como se pode constatar pela matéria e pelo editorial abaixo.
Paulo Roberto de Almeida

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Dólar caro pode corroer 44% do lucro de empresas

Cálculo da consultoria Economática foi feito com base no resultado de 104 empresas com ações negociadas em Bolsa no segundo trimestre de 2013

21 de agosto de 2013 | 2h 03
Mauro Zanatta - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - A alta do dólar provocou em 104 empresas com ações negociadas em Bolsa um aumento de custos equivalente a 44% do lucro efetivo obtido no segundo trimestre deste ano. O retrato da despesa financeira, com a corrosão causada pelo câmbio, é parte de levantamento feito pela consultoria Economática a pedido do 'Estado'. Entre 30 de junho e 19 de agosto - período em que o cálculo foi feito com base nos balanços divulgados -, o câmbio valorizou 8,23%.
Embora tenha havido um aumento potencial de R$ 8,17 bilhões na parcela da dívida em moeda estrangeira dessa listagem, a maioria das empresas consultadas afirma ter contratado proteção em mercados futuros (hedge) para neutralizar essa variação cambial.
A Oi, por exemplo, afirma ter "99% da dívida bruta" com proteção cambial. A Fibria informa ter "93% da dívida em dólar", mas receita na moeda americana e 80% dos custos em reais. A Suzano alega ter 55,1% da dívida em dólar, mas um "hedge natural" porque 50% das receitas são exportações. A Eletrobrás afirma ter dívida de R$ 10 bilhões em dólar, mas R$ 12,4 bilhões em "recebíveis indexados ao dólar" por créditos concedidos à Itaipu. A JBS disse que faz proteção "acima de 80%" e que "se prejudica a dívida, favorece as exportações e traz mais reais para o balanço". Consultada, a BRF informou não dispor de um porta-voz para o tema.
Quando incluída a Petrobrás na conta, essa variação potencial da dívida roubaria 75% do chamado Ebit, índice que mede o lucro antes de juros e tributos, como Imposto de Renda e Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL). Somada a parcela da Petrobrás, a elevação desse endividamento chegaria a R$ 22,54 bilhões. A estatal informa que "cerca de 70% do total das dívidas líquidas expostas à variação cambial, protegendo cerca de 20% das exportações, por um período de sete anos".
A amostragem aponta que a dívida total em moeda estrangeira de 103 empresas da lista teria passado de R$ 99,3 bilhões, no fim de junho, para R$ 107,5 bilhões, em 19 de agosto. Com a Petrobrás, a conta aumenta. Sozinha, a estatal somaria R$ 188,8 bilhões em agosto. O levantamento inclui só as empresas que informaram ter dívidas em moeda estrangeira de curto e longo prazos.
"A despesa financeira por causa da alta do dólar poderá corroer 43% do lucro Ebit de todas essas empresas. Na Petrobrás, poderia até levar a um prejuízo. Com ela na conta, 75% do lucro poderá ser corroído pela despesa financeira devido à variação cambial", avalia o gerente de Relações Institucionais da Economática, Einar Rivero. "Isso se as empresas não tiverem feito hedge, a dívida da moeda não tiver sido modificada, com pagamentos ou novas dívidas, ou se toda dívida for mesmo em dólares, já que pode haver uma cesta de moedas."
Para fazer a conta, a consultoria converteu a dívida em moeda estrangeira pelo dólar de 30 de junho e reconverteu pelo dólar de 19 de agosto.
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O dólar e a desconfiança

21 de agosto de 2013
Editorial O Estado de S.Paulo
Desejada por muitos industriais como alavanca da exportação e barreira protetora do mercado interno, a desvalorização do real é acima de tudo, neste momento, um fator de incerteza e de agitação financeira. Quando o câmbio se acomodar, ninguém sabe onde, será possível um balanço mais claro dos ganhos e perdas. O País poderá estar um pouco mais competitivo, pelo menos por algum tempo, mas as pressões inflacionárias terão aumentado. Problemas de custos serão mais graves tanto para produtores como para consumidores. Mas a instabilidade cambial ainda poderá durar meses. A insegurança continuará, com intensidade variável, mas sempre com estragos, enquanto se esperam as prometidas alterações na política americana de afrouxamento monetário.
Alguma nova indicação sobre a mudança poderá surgir hoje, com a divulgação da ata da última reunião do comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). A emissão de dólares deve ser reduzida quando os dirigentes do Fed julgarem bastante firme a recuperação econômica dos Estados Unidos. Ninguém pode dizer com certeza quando isso ocorrerá.
Enquanto a agitação continua, as autoridades brasileiras tentam, em primeiro lugar, conter a excessiva instabilidade do câmbio e limitar seus efeitos sobre a inflação, ainda muito longe da meta de 4,5%. O governo tenta evitar um novo estouro do limite de tolerância, de 6,5%.
Da perspectiva do Palácio do Planalto, é muito importante conter, em primeiro lugar como estratégia eleitoral, a crise de confiança em relação à política econômica e às perspectivas da economia. A alta de preços é um dos principais fatores de desconfiança dos investidores e o Executivo sabe disso, embora continue pouco disposto a adotar uma política séria de estabilização. Isso envolveria, entre outros pontos, um controle efetivo dos gastos públicos.
Com reservas na vizinhança de US$ 370 bilhões, o Banco Central (BC) tem bom estoque de munição para intervir no mercado, mas, como sempre, com resultado muito incerto. No fim das negociações de ontem, o dólar comercial era vendido a R$ 2,394. Depois de dois leilões promovidos pelo BC com oferta de US$ 4 bilhões, a cotação havia caído para R$ 2,396, voltado a R$ 2,40 e novamente baixado. No fechamento do dia anterior, a moeda americana havia sido vendida a R$ 2,414. Mesmo com algum recuo, o dólar ainda acumulava ontem uma alta considerável, cerca de 7% em apenas 30 dias.
Apesar da depreciação do real neste ano e mesmo nos últimos 12 meses, as contas externas continuaram em deterioração. De janeiro até a terceira semana de agosto, o País acumulou um déficit de US$ 4,731 bilhões no comércio de mercadorias. As exportações renderam US$ 146,693 bilhões e as importações custaram US$ 151,424 bilhões. Pela média dos dias úteis, o valor exportado foi 1,6% menor que o de igual período do ano anterior. O valor importado, 10,4% maior.
O descompasso é indisfarçável. Parte das importações de combustíveis do ano passado só foi contabilizada em 2013 e isso afetou o resultado geral. Mas, se esse valor tivesse entrado nas contas de 2012, o superávit do ano teria sido muito menor. De qualquer forma, a piora do comércio exterior do País estaria bem caracterizada.
Para este ano, especialistas consultados no fim da semana passada pelo BC, em sua pesquisa Focus, projetam saldo comercial de US$ 4,35 bilhões, 77,6% menor que o de 2012. Essa é a mediana das estimativas coletadas pelos pesquisadores. O mesmo levantamento indica a expectativa de um déficit de US$ 77 bilhões na conta corrente do balanço de pagamentos.
A firme deterioração dessas contas é um dos fatores de insegurança dos investidores financeiros e dos empresários industriais. Com a esperada mudança no mercado financeiro - dólares mais escassos e mais caros -, especialistas mostram-se preocupados com o financiamento das contas externas brasileiras. Somem-se a isso a desconfiança em relação às contas públicas e o temor de mais inflação e o quadro torna-se facilmente compreensível. A mudança na política do Fed é só um componente a mais de um cenário ruim.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Divida Publica e Crescimento - um estudo do FMI

Já se sabia, empiricamente, que o aumento da dívida pública reduz o crescimento econômico, por diversas razões, todas muito conhecidas. Um estudo dotado do necessário rigor científico vem corroborar essa "impressão". Não se sabe por que, no Brasil, tantos economistas acham que o Estado vai "impulsionar" o crescimento atuando de forma desequilibrada em relação às contas públicas...
Paulo Roberto de Almeida

Public Debt and Growth
MANMOHAN KUMAR, International Monetary Fund (IMF) - Research Department
JAEJOON WOO, DePaul University - Department of Economics
IMF Working Paper No. 10/174

This paper explores the impact of high public debt on long-run economic growth. The analysis, based on a panel of advanced and emerging economies over almost four decades, takes into account a broad range of determinants of growth as well as various estimation issues including reverse causality and endogeneity. In addition, threshold effects, nonlinearities, and differences between advanced and emerging market economies are examined. The empirical results suggest an inverse relationship between initial debt and subsequent growth, controlling for other determinants of growth: on average, a 10 percentage point increase in the initial debt-to-GDP ratio is associated with a slowdown in annual real per capita GDP growth of around 0.2 percentage points per year, with the impact being somewhat smaller in advanced economies. There is some evidence of nonlinearity with higher levels of initial debt having a proportionately larger negative effect on subsequent growth. Analysis of the components of growth suggests that the adverse effect largely reflects a slowdown in labor productivity growth mainly due to reduced investment and slower growth of capital stock.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

2025) O Bolsa-Familia e seus impactos negativos sobre o mercado de trabalho: um debate metodológico e empiricamente fundamentado

Uma leitora habitual deste blog, Glaucia, comentou em outro post meu,

quinta-feira, 15 de abril de 2010
2022) A parabola do samaritano, revisitada, e novamente corrigida

que, por sua vez, começou tratando dos efeitos nefastos do BF sobre o mercado de trabalho, neste post inicial ao debate da questão:

terça-feira, 13 de abril de 2010
2096) Efeitos nefastos do Bolsa Familia sobre o mercado de trabalho

e que acabou derivando para uma pretensa parábola do “bom samaritano” sobre virtudes cívicas e morais – como se a caridade, a benemerência e o assistencialismo oficial (e politicamente motivado) fossem um substituto à boa política econômica ou ao bom ordenamento de uma economia produtiva, funcionando em bases normais – que “qualquer pesquisa rápida sobre os números do emprego no Brasil desmonta a tese de que o Bolsa-Família bloqueia o emprego, ou impede a formalização das relações de trabalho.”
Desconheço “qualquer pesquisa rápida” que tenha dito isso e convido minha leitora a trazer-me essas pesquisas rápidas, para minha informação e dos leitores.

Mas, de molde a poder oferecer um debate amplo sobre essa questão importante, num espaço aberto ao debate de boa qualidade (nem sempre) como o oferecido neste espaço, com base na honestidade intelectual, na consistência dos argumentos e no simples atendimento de algumas poucas regras de boa convivência e de lógica elementar – ou seja, evidências consistentes, não contradição intrínseca dos argumentos, boa fé dos argüidores – vou retomar cada um dos pontos do debate, começando pela transcrição completa do que disse minha leitora:

Glaucia deixou um novo comentário sobre a sua postagem "2022) A parabola do samaritano, revisitada, e nova...":

Apenas reitero: qualquer pesquisa rápida sobre os números do emprego no Brasil desmonta a tese de que o Bolsa-Família bloqueia o emprego, ou impede a formalização das relações de trabalho.

IBGE, FIESP, CNI, Dieese, google, cada um pode escolher sua fonte. O essencial é substituir o senso comum, anedotas e ditados populares por dados estatisticamente relevantes e, de preferência, agregados. Ao menos foi o que aprendi nas aulas de metodologia.


Agora, meus comentários (PRA):
1) Pois bem, estou à espera dessas “pesquisas rápidas” que provariam o que eu venho argumentando aqui, com base em evidências prima facie – ou seja, que não se apóiam em pesquisas de terreno e em números imediatamente verificáveis – mas que apresentam alguma consistência teórica e prática, qual seja: o BF diminui sim, a oferta de mão-de-obra não qualificada no mercado de trabalho, com impactos setoriais que podem ser importantes, diminui a empregabilidade geral do sistema econômica, distorce as condições de concorrência no mercado de trabalho, sobretudo no plano dos custos da mão-de-obra, e introduz um viés anti-mercado no comportamento geral da economia e da sociedade brasileira, sem mencionar seus custos fiscais e tendências perversas do ponto de vista da psicologia social, que se aproxima da cultura da assistência pública, em lugar da cultura do trabalho e da inserção produtiva nos mercados.
Estes são os meus argumentos, que não vêm, por certo, apoiados em qualquer pesquisa de terreno, rápida ou lenta, que agora caberia desmentir.

2) Então ficamos assim: a Glaucia nos apresenta suas pesquisas rápidas que desmentiriam o que venho afirmando na linha do que está escrito acima. Podem ser pesquisas longas também, à condição que sejam consistentes e compatíveis com a metodologia científica. Tenho certa desconfiança, confesso, dos trabalhos atuais do IPEA, depois que esse instituto, outrora sério, descobriu uma metodologia genial para “provar” que a produtividade do trabalho no setor público no Brasil era fantasticamente maior do que a do setor privado, e que estados periféricos, como Roraima, eram 150 vezes mais eficientes do que estados neoliberais como São Paulo.
O importante é que essas pesquisas -- pode ser IBGE, FIESP, CNI -- “desmontem” as minhas teses, como ela nos promete. Se elas forem fiáveis e desmentirem minhas percepções, vou oferecer aqui uma contrição pública, um mea culpa por ser tão maldoso em relação ao BF.

3) Senso comum não é o mesmo que falácia, embora muitas falácias sejam de senso comum. Senso comum pode ser até verdadeiro, desde que embasado na realidade, e não corresponder a mitos.
O que eu pretendo destacar em relação ao BF é isto: o programa criado pelos tucanos se prendia ao Bolsa-Escola, limitando os pagamentos a contrapartidas escolares. Parece uma solução genial – mas é a confissão de nossas mazelas – e pode ser um expediente temporário, até que pais tenham renda suficiente para manter seus filhos na escola e não retira-los para trabalhar (pode demorar, dai que o Bolsa-Escola é temporariamente aceitável).
Ao se criar o BF – volto a repetir, por motivos basicamente políticos – se introduziu um “free-ride” para todos: ou seja, basta ser pobre para desfrutar da benesse (com contrapartidas vagamente implementadas). As evidencias prima-facie são de que isso impacta significativamente o mercado de trabalho, por uma série de mecanismos que não é preciso descrever aqui, sumariamente inserido naquilo que os economistas chamam de “wrong incentives”.
Se a renda aparece caindo do céu, por que é que eu vou me dar ao trabalho de fazer algo duro – como são todos os trabalhos de baixa qualificação – por um pagamento que se aproxima do mínimo, ou fica abaixo disso?
E quanto ao capitalista, como ele vai fazer? Paga duas vezes o mínimo para atrair os BFs da vida, e corre o risco de ficar pouco competitivo? Capitaliza a sua indústria, serviço, plantação? Paga por fora (porque assim exigem os contemplados do BF, diga-se claramente), correndo o risco de ser multado pelo Ministério do Trabalho?
Se isso não é um conjunto de distorções, então eu não sei o que são distorções.
Aguardo as pesquisas rápidas para tirar minhas conclusões.

terça-feira, 13 de abril de 2010

2096) Efeitos nefastos do Bolsa Familia sobre o mercado de trabalho

Eu nunca tive dúvidas de que isso iria acontecer. Mais até do que algum impacto fiscal ou orçamentário -- tanto porque o custo do Bolsa Família, em si, não é alto, sendo muito mais importante o dinheiro que o governo repassa aos capitalistas e aos banqueiros -- os efeitos mais significativos do "curral eleitoral" que o governo produziu com o Bolsa Família seriam exercidos no mercado de trabalho, todos de forma altamente negativa, não apenas em termos de sistema produtivo, mas sobretudo para as contas futuras da Previdência e para a criação de uma cultura nefasta de assistencialismo e dependência.
Esta matéria tem alguns meses, mas ela é relevante pelo seu efeito demonstração.

Alguem tinha alguma dúvida de que isso iria acontecer?
14 de Agosto de 2009

Como o setor têxtil é de vital importância para a economia do Ceará, a demanda por mão de obra na indústria têxtil é imensa e precisa ser constantemente formada e preparada. Diante disso, o Sinditêxtil fechou um acordo com o governo para coordenar um curso de formação de costureiras. O governo exigiu que o curso deveria atender a um grupo de 500 mulheres que recebem o Bolsa Família. De novo: só para aquelas que recebem o Bolsa Família.

O importante acordo foi fechado dentro das seguintes atribuições: o governo entrou com o recurso; o Senai com a formação das costureiras, através de um curso de 120 horas/aula; e, o Sinditêxtil com o compromisso de enviar o cadastro das formandas às inúmeras indústrias do setor, que dariam emprego às novas costureiras. Pela carência de mão obra, a idéia não poderia ser melhor.

Pois bem. O curso foi concluído recentemente e com isto os cadastros das costureiras formadas foram enviados para as empresas, que se prontificaram em fazer as contratações. E foi nessa hora que a porca torceu o rabo, gente. Anotem aí: o número de contratações foi ZERO.

Entenderam bem? ZERO, gente.

Enquanto ouvia o relato, até imaginei que o número poderia ser baixo, mas o fato é que não houve uma contratação sequer.

ZERO, sem qualquer exagero.

O motivo? Simples, embora triste e muito lamentável, como afirma com dó, o diretor do Sinditêxtil.

Todas as costureiras, por estarem incluídas no Bolsa Família, se negaram a trabalhar com carteira assinada.

Para todas as 500 costureiras que fizeram o curso, o Bolsa Família é um beneficio que não pode ser perdido. É para sempre.

Nenhuma admite perder o subsidio. SEM NEGÓCIO - Repito: de forma uníssona, a condição imposta pelas 500 formandas é de que não se negocia a perda do Bolsa Família. Para trabalhar como costureira, só recebendo por fora, na informalidade.

Como as empresas se negaram, nenhuma costureira foi aproveitada.

A RAZÃO DE LULA - O que sobrou nisso tudo? Muita coisa. O custo alto para formar as costureiras foi desperdiçado. E pelo que foi dito no ambiente da FIEC, casos idênticos do mesmo horror estão se multiplicando em vários setores. Considerando que a região nordeste do país contempla o maior número de beneficiados com o Bolsa Família, aí está a razão para sermos todos imbecis e idiotas. Lula tem razão. Toda razão.