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quarta-feira, 26 de junho de 2024

Björn Höcke: O homem que prepara o terreno para uma Alemanha extremista - Erika Solomon (The New York Times, Estadão)

Quem disse que os alemães tinham se curado do nazismo? Se eles pareciam vacinados desde os anos 1960 até os 80, a unificação alemã, e os problemas que ela trouxe, levaram os alemães da antiga DDR, a República Democrática Alemã, onde eles eram oficialmente antinaziptas e antifascistas, a se voltarem para os seus antigos ídolos da época totalitária (cabe registrar que eles já viviam numa ditadura, teoricamente socialista e antifascista, mas não há nada mais parecido com um fascista do que um comunista da linha soviética). Pois é, eles votaram maciçamente pela extrema-direita, nas últimas eleições e prometem reincidir com mais força nas próximas, dando maioria aos fascistas, sim, aos fascistas-nazistas.

Acho que os alemães estão novamente divididos, entre democratas e autoritários, e cabe também registrar que o AfD é diretamente financiado por Putin, como o são outros partidos de direita da Europa.

Os companheiros, Lula em especial, têm certeza de que querem continuar apoiando Putin, só porque ele é teoricamente antiamericano? O seu antiamericanismo supera o seu antifascismo de extrema-direita? 

Se isso se registrar de fato, vou denunciar Lula e o PT como amigos e apoiadores da extrema-direita internacional. Prometido.

Paulo Roberto de Almeida


Estadão Internacional

O homem que prepara o terreno para uma Alemanha extremista

Björn Höcke tem feito mais que levar a extrema direita para o mainstream; ele está fazendo o mainstream pender para a extrema direita

Por Erika Solomon (The New York Times)

24/06/2024 | 22h00, Atualização: 25/06/2024 | 10h10

Em cima de um pequeno palco de um bar numa cidade de arquitetura enxaimel do leste alemão, o ideólogo de direita Björn Höcke contava para um grupo de seguidores, no ano passado, uma história sobre seu iminente julgamento. Ele tinha sido indiciado por dizer, “Tudo pela Alemanha” em um comício político — infringindo leis alemãs que proíbem a propagação de slogans nazistas.


Apesar da iminência daquele julgamento, ele olhou para os fãs e lhes abriu um sorriso maroto. “Tudo pela?”, perguntou ele.

“ALEMANHA!”, gritaram todos.

Depois de uma década colocando em teste os limites do discurso político na Alemanha, Höcke, um dos líderes do partido Alternativa para a Alemanha, ou AfD, não precisa mais passar dos limites sozinho. A multidão faz isso por ele.

Aquele momento amalgama o motivo pelo qual, segundo seus críticos, Höcke, além de representar um desafio para a ordem política, ameaça também a própria democracia alemã.

Por anos, Höcke tratou de desgastar proibições que a Alemanha impôs sobre si mesma para evitar ser tomada por extremistas novamente. A posição alemã a respeito da liberdade de expressão é mais dura que a de muitas democracias ocidentais, consequência das amargas lições dos anos 30, quando os nazistas se valeram de eleições democráticas para capturar os mecanismos do poder.

“Tudo pela Alemanha” era o slogan gravado nos punhais dos soldados nazistas. Ao ressuscitar frases como essa, afirmam os oponentes de Höcke, ele buscou tornar as ideias fascistas mais aceitáveis numa sociedade em que essas expressões não são apenas tabu, são ilegais.

Em maio, juízes consideraram Höcke culpado de usar um slogan nazista intencionalmente e lhe aplicaram uma multa equivalente a US$ 13 mil. Nesta segunda-feira, em razão desse discurso no bar, Höcke foi julgado pela mesma corte por usar o mesmo slogan — novamente.

Este é apenas um dos muitos processos na Justiça que Höcke enfrenta atualmente — e nenhum parece ter diminuído a ascensão de Höcke ou de seu partido. Nas eleições deste mês para o Parlamento Europeu, o AfD ficou em segundo lugar na Alemanha, superando os partidos que governam o país.

Não muito tempo atrás, Höcke se posicionava no extremo de um partido extremista. Ao longo do tempo, ele trouxe o partido cada vez mais para o seu lado, tornando-o ainda mais extremista — e, argumentam especialistas, influenciando todo o ambiente político de direita na Alemanha nesse processo.

Para os seus oponentes, Höcke personifica um esforço odioso da extrema direita de desestigmatizar o passado nazista da Alemanha.

Para seus apoiadores, Höcke é um defensor da liberdade linguística, um combatente que tenta reaver palavras difamadas injustamente e, de maneira mais ampla, preservar sua concepção de uma cultura alemã étnica.

No último dia de seu julgamento, em maio, Höcke, de 52 anos e cabelos grisalhos, vestiu um terno escuro para apresentar-se diante dos promotores de Justiça numa sala de tribunal lotada — e, apaixonadamente, declarou-se inocente.

Apesar de ser ex-professor de história, Höcke insistiu que não sabia que estava usando um slogan nazista. As palavras vieram à sua cabeça espontaneamente, afirmou o réu, ignorando o fato de que, desde que foi acusado, ele persuadiu em duas ocasiões multidões a pronunciarem a frase nazista em seu lugar.

“Nós queremos banir a língua alemã porque os nazistas falavam alemão?”, perguntou ele aos juízes. “Até onde isso deve chegar?”

Os julgamentos de Höcke, que recusou um pedido de entrevista para a elaboração desta reportagem, são parte de uma nova guerra de narrativas sobre a história recente da Alemanha e a respeito de quem pode exatamente se dizer alemão em um país cada vez mais diverso e ansioso em razão de novos desafios econômicos e estratégicos.

Se o objetivo seu é plantar as sementes de um etnonacionalismo, com seus ecos do fascismo, Höcke pode estar fazendo ganhos sutis.

Antes do julgamento, muitos alemães nunca tinham ouvido o slogan nazista “Tudo pela Alemanha”. Agora a frase tem sido repetida e debatida rotineiramente em programas de TV e reportagens em todo o país.

Jogando com a perseguição

A história desempenhou um papel determinante na vida de Höcke.

Höcke nasceu numa família conservadora de prussianos orientais, entre milhões de alemães que viviam na Europa Oriental e fugiram dos avanços do Exército Vermelho no fim da 2.ª Guerra e buscaram refúgio no que veio a se tornar a Alemanha Ocidental.

Essa história de deslocamento e perda na Alemanha foi, na visão de Höcke, ofuscada pelo acerto de contas nacional com os crimes de guerra dos nazista e o Holocausto.

Höcke tem se valido de uma amargura persistente entre os alemães — particularmente na região que pertenceu no passado à comunista Alemanha Oriental — que se sentem ludibriados pela história e consideram que lhes foi negado o direito ao orgulho nacional e à expressão.

Ele acusa os vitoriosos Aliados da 2.ª Guerra de furtar dos alemães suas raízes. “Deixou de haver vítimas alemãs”, afirmou ele num discurso, em 2017. “Havia apenas alemães perpetradores.”

Höcke se mudou para o Estado da Turíngia, no leste da Alemanha, em 2013. Por lá, ajudou a estabelecer um comitê do AfD. Desde então, ascendeu à proeminência em meio a uma série de controvérsias sobre terminologias.

Espelho em Berlim, em protesto contra a direita, mostra frase de Hocke: "O problema é que Hitler é retratado como mal absoluto." 

Espelho em Berlim, em protesto contra a direita, mostra frase de Hocke: "O problema é que Hitler é retratado como mal absoluto."  Foto: REUTERS/Christian Mang

Höcke qualificava as autoridades da ex-chanceler Angela Merkel como uma “Tat-Elite”, mesmo termo com que os oficiais da SS descreviam a si mesmos. Ele questionou repetidamente a razão da palavra “Lebensraum”, que define “espaço vital” e era empregada pelos nazistas no sentido de expansão territorial no Leste Europeu, ainda ser evitada pelos alemães. E chamou o memorial do Holocausto em Berlim de “monumento infame”.

As invocações às ideias da era nazista são tão numerosas que um tribunal decidiu que não é difamação críticos de Höcke descrevê-lo como fascista, mas um “julgamento de valor com base em fatos”.

Por anos, até seu próprio partido buscou escanteá-lo. Agora, seus aliados detêm dois terços das posições de liderança dentro da legenda.

A ascensão dos apoiadores de Höcke, afirmam analistas políticos, reflete a evolução do AfD, de um pequeno partido conservador cético em relação à União Europeia para uma legenda muito mais radical.

Seus líderes passaram a promover o argumento de que o estatuto alemão de nação tem base em linhagens sanguíneas e que somente duras políticas de deportação podem evitar que a Alemanha e outras sociedades ocidentais sejam sobrepujadas por imigrantes.

Hoje, o AfD considera a si mesmo antiglobalista. O partido desconfia das elites urbanas e do que percebe como esforços excessivos do governo nos combates à pandemia de covid e à mudança climática. Muitos de seus líderes propagam teorias conspiratórias que questionam a legitimidade do governo alemão no pós-2.ª Guerra.

A popularidade do AfD, afirmam especialistas, afetou discursos políticos em toda a Alemanha. No ano passado, políticos de todo espectro no mainstream adotaram a hostilidade à imigração promovida pelo AfD e até mesmo em relação a políticas ambientais.

Os líderes do AfD afirmam que os críticos entenderam errado.

“Não houve nenhuma reorientação para a direita”, afirmou o porta-voz do AfD na Turíngia, Torben Braga, que trabalhou para Höcke por anos e mantém uma foto do político sobre sua mesa no escritório. “Ocorreu que certas convicções — demandas políticas que sempre estiveram presentes na sociedade — encontraram uma voz depois de ser suprimidas por décadas.”

Os seguidores do AfD percebem os processos judiciais contra Höcke como uma caça às bruxas para impedir seu despertar.

Essa ideia de perseguição impregna a retórica de Höcke. Em um comício, no mês passado, ele comparou a si mesmo com Sócrates, Jesus Cristo e Julian Assange — colegas dissidentes “espancados pela clava da justiça”.

Coincidentemente ou não, a história também exerce um papel enorme sobre o Estado que Höcke representa.

Cem anos atrás, a Turíngia foi o primeiro lugar onde políticos de extrema direita alcançaram a maioria no Parlamento Estadual. Posteriormente, tornou-se o primeiro Estado em que os nazistas conquistaram o poder.

Em setembro, a previsão é que o AfD obtenha a maioria dos votos na eleição estadual da Turíngia.

“Um ano atrás, eu teria dito que seria impossível Höcke virar primeiro-ministro da Turíngia”, afirmou o historiador Jens-Christian Wagner, que trabalha no memorial do campo de concentração de Buchenwald, na Turíngia.

“Agora eu digo que é improvável”, afirmou ele. “Mas ‘improvável’ significa que é possível.”

Um alter ego?

Em 2012, o sociólogo alemão Andreas Kemper começou a estudar a ascensão da retórica anti-imigração na política alemã — o que despertou seu interesse no AfD e nos discursos do então relativamente desconhecido Björn Höcke.

Höcke usava o termo “economia orgânica de mercado”, que parecia ecoar a expressão “ordem orgânica”, usada pelos nazistas em sua reorganização da economia, em 1934.

Kemper afirmou que, buscando online por outros indivíduos que usavam a mesma terminologia que Höcke, obteve “apenas um resultado exato”: Landolf Ladig, o pseudônimo de um colaborador de uma revista neonazista.

Em um artigo, Ladig descreveu os nazistas como o “primeiro movimento antiglobalista” da história, que “teria se deparado com imitadores em todas as partes” caso tivesse sido bem-sucedido. Alguns, afirmou o autor, sustentam até hoje essas ideias: “As brasas ainda não se apagaram por aqui”.

Kemper encontrou outras similaridades entre as palavras dos homens. A mais estranha foi Ladig citando um livro mencionado por Höcke em um discurso — ambos cometeram exatamente o mesmo erro nas citações.

Kemper eventualmente publicou uma análise com uma acusação chocante: Landolf Ladig, afirmou ele, era na verdade Björn Höcke. “Havia coincidências demais.”

Em 2015, a liderança do AfD pediu que Höcke esclarecesse a controvérsia assinando uma declaração juramentada afirmando que nunca escreveu nem colaborou em artigos sob o pseudônimo de Landolf Ladig.

Höcke se recusou. “Não porque tenho algo a esconder”, disse ele a meios de imprensa alemães na época, mas porque se tratava de “uma tentativa de me difamar”. Ele insistiu que nunca escreveu sob nenhum pseudônimo.

O serviço doméstico de inteligência da Alemanha citou em 2021 o trabalho de Kemper quando classificou o ramo turíngio do AfD como uma organização extremista de direita.

Desde então, vários outros comitês do AfD, assim como a juventude do partido, foram classificados como extremistas. Os líderes do AfD contestam essas classificações, mas afirmam que elas não prejudicaram sua crescente popularidade. Braga, o porta-voz do partido na Turíngia, afirmou que elas podem até estar os ajudando.

“Minha resposta a essa asserção constantemente repetida seria: continuem escrevendo-a”, afirmou ele.

Antes de seu julgamento, Höcke participou de um debate televisionado, no qual insistiu que é difamado intencionalmente. Ele insistiu que deplora o nazismo. E, além disso, argumentou Höcke, muitos antes dele usaram equivocadamente a frase “Tudo pela Alemanha” — até mesmo anúncios da Deutsche Telekom.

Essa alegação chamou a atenção da empresa de telecomunicações — que negou a afirmação de Höcke e solicitou uma ordem de cessar e desistir contra ele.

A Deutsche Telekom compeliu Wagner, o historiador de Buchenwald, a voltar a pesquisar uma coleção de livros em seu escritório publicados pela editora de direita do escritor Götz Kubitschek, que é considerado o padrinho intelectual de Höcke e do AfD.

Um dos ensaios de Kubitschek, intitulado Autotrivialização, define uma estratégia para atrair apoiadores.

O primeiro passo é fazer “cabeças de ponte” verbais, usando palavras controvertidas. O segundo é “entrelaçar-se com o inimigo” — sublinhando exemplos de figuras do mainstream que usam essas mesmas palavras — para semear dúvidas sobre quão radical uma ideia é realmente.

O terceiro passo é “fazer-se inofensivo”, insistindo que essas regras estão dentro das normas do mainstream.

O ensaio termina com um alerta: o objetivo é parecer inofensivo — não se tornar.

Com tantos esforços fracassando em se contrapor ao AfD, Wagner considera os processos judiciais contra Höcke ainda mais importantes.

“Se os políticos não conseguirem definir o limite”, afirmou ele, “o Judiciário, pelo menos, definirá”.

Se houver um limite, contudo, Höcke o testará mesmo assim. No início de maio, ele pronunciou outro discurso na cidade de Hamm, no oeste da Alemanha, anteriormente às eleições europeias. Ele disse à multidão que os tempos estão mudando em sua pátria, acrescentando que “Os sinais apontam para uma tempestade”. Uma frase familiar para quem conhece a história alemã, usada por um jornal nazista em 1933, um dia antes de Hitler assumir o poder.

TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO


segunda-feira, 29 de abril de 2024

Tel-Aviv terá de decidir entre ser um pária internacional ou um parceiro no Oriente Médio - Thomas L. Friedman (The New York Times, Estadão)

 Tel-Aviv terá de decidir entre ser um pária  internacional ou um parceiro no Oriente Médio

Thomas L. Friedman

The New York Times É colunista e ganhador de três prêmios Pulitzer. Escreveu 'De Beirute a Jerusalém'
O Estado de S. Paulo, 29/04/2024

A diplomacia dos EUA para colocar um fim à guerra em Gaza e forjar um novo relacionamento com a Arábia Saudita vem convergindo para uma grande escolha diante do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu: o que Israel deseja mais, Rafah ou Riad? Israel prefere organizar uma invasão completa de Rafah para tentar acabar de vez com o Hamas, sem oferecer estratégia para a saída de Gaza ou horizonte político para uma solução de dois Estados? Ao escolher este caminho, o resultado será apenas a piora do isolamento de Israel, forçando uma ruptura real com o governo Biden.

Ou prefere a normalização das relações com a Arábia Saudita, uma força de paz árabe para Gaza e uma aliança de segurança liderada pelos EUA contra o Irã? Isso teria um custo diferente: um compromisso do seu governo de trabalhar para a criação de um Estado palestino com uma Autoridade Palestina reformada, mas com o benefício de incluir Israel na mais ampla coalizão de defesa americana, árabe e israelense que o Estado judaico já integrou, ao mesmo tempo criando alguma esperança de que o conflito com os palestinos não seja uma "guerra perpétua".

Esta é uma das decisões mais importantes que Israel já teve diante de si. E o que me parece ao mesmo tempo perturbador e deprimente é o fato de, seja na coalizão que governa o país, na oposição ou nas forças armadas, não haver hoje uma só liderança que ajude consistentemente os israelenses a compreender essa escolha, entre ser um pária global ou um parceiro no Oriente Médio, ou explicando por que a segunda alternativa é a correta.

TRAUMA. Reconheço o quanto os israelenses estão traumatizados por causa dos ignóbeis assassinatos, estupros e sequestros praticados pelo Hamas no dia 7 de outubro. Não me surpreende que muitos aqui simplesmente desejem vingança, e seus corações endureceram a tal ponto que não conseguem enxergar nem se importar com todos os civis, incluindo milhares de crianças, que foram mortos em Gaza enquanto Israel demole tudo para tentar eliminar o Hamas. Tudo isso foi dificultado ainda mais pela recusa do Hamas, até o momento, em libertar os reféns restantes.

Mas vingança não é estratégia. É pura insanidade o fato de Israel estar nessa guerra há mais de seis meses e a liderança militar israelense ter permitido que Netanyahu siga buscando uma "vitória total" ali, incluindo um provável mergulho em breve nas profundezas de Rafah, sem nenhum plano de saída ou parceiro árabe preparado para interceder uma vez que a guerra termine. Se Israel acabar envolvido em uma ocupação indefinida de Gaza e da Cisjordânia, isso exporia o país a tóxicos desgastes militares, econômicos e morais que seriam o deleite do mais perigoso adversário de Israel, o Irã, e afastaria seus aliados no Ocidente e no mundo árabe.

INTERESSE ÁRABE. No início do conflito, líderes israelenses diziam que líderes árabes moderados desejavam que Israel eliminasse o Hamas, um braço da Irmandade Muçulmana que todos os monarcas árabes detestam. É claro que eles gostariam de ver o fim do Hamas.

Agora está claro que isso é impossível, e prolongar a guerra não é do interesse dos Estados árabes moderados, particularmente a Arábia Saudita.

A partir das conversas que tive em Riad e em Washington, descreveria a visão atual do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman da invasão israelense nos seguintes termos: saiam assim que possível. No momento, tudo que Israel está fazendo é matar cada vez mais civis, voltando contra si os sauditas que eram favoráveis à normalização das relações, criando mais recrutas para a Al-Qaeda e o EI, aumentando o poder do Irã e seus aliados, fomentando a instabilidade e afastando da região um investimento estrangeiro muito necessário. A ideia de acabar com o Hamas "de uma vez por todas" é um sonho inalcançável, na visão dos sauditas.

Se Israel quiser prosseguir com operações especiais em Gaza para atingir a liderança do grupo, tudo bem. Mas nada de ocupação permanente. Por favor, vamos chegar a um cessarfogo pleno e à libertação dos reféns o quanto antes, para nos concentrarmos no acordo de normalização e segurança envolvendo americanos, sauditas, israelenses e palestinos.

Esse é o outro caminho que Israel poderia trilhar agora, aquele que nenhuma liderança importante da oposição israelense está defendendo como prioridade, mas aquele pelo qual torcem o governo Biden e os sauditas, egípcios, jordanianos, marroquinos e emiradenses. Nada garante o seu sucesso, mas o mesmo vale para a "vitória total" que Netanyahu está prometendo.

ABRIR MÃO. Este outro caminho começa com Israel abrindo mão de qualquer invasão militar a Rafah, que fica bem na fronteira com o Egito e consiste na principal rota de entrada da ajuda humanitária em Gaza.

A região tem mais de 200 mil moradores permanentes e, agora, mais de um milhão de refugiados. Também é ali que se diz que os últimos quatro batalhões mais intactos do Hamas estão protegidos e, quem sabe, até seu líder, Yahya Sinwar.

O governo Biden vem dizendo publicamente que Netanyahu não deve se envolver em uma invasão completa de Rafah sem ter um plano crível para retirar os civis. Mas, privadamente, eles são mais diretos ao dizer a Israel: não pode haver invasão maciça a Rafah, e ponto final.

Um funcionário do governo americano me explicou: "Não estamos dizendo a Israel para simplesmente deixar o Hamas em paz. Estamos dizendo que acreditamos haver uma forma mais precisa de ir atrás da liderança do grupo, sem demolir cada quarteirão de Rafah".

Os funcionários acreditam que, se Israel demolir agora toda a cidade de Rafah, depois de ter feito o mesmo com grande parte de Khan Yunis e da Cidade de Gaza, sem ter um parceiro palestino com credibilidade para aliviar o fardo de segurança de governar uma Gaza despedaçada, o país cometerá o tipo de erro cometido pelos EUA no Iraque, sendo obrigado a lidar com uma insurgência e uma crise humanitária permanentes.

Mas haveria uma diferença essencial: os EUA são uma superpotência que pôde falhar no Iraque e se recuperar. Para Israel, uma insurgência em Gaza seria um fardo pesadíssimo, especialmente sem ter amigos.

E é por isso que os americanos me dizem que, se Israel for adiante em Rafah, o presidente Biden pensará em limitar a venda de determinados armamentos a Israel.

Isso porque o governo Biden acredita que uma invasão total prejudicará as perspectivas de uma nova troca de reféns e destruirá três projetos vitais nos quais o governo vem trabalhando para melhorar a segurança de Israel no longo prazo.

PROJETOS. O primeiro é uma força de paz árabe que poderia substituir as forças israelenses em Gaza, para que Israel possa sair dali sem se ver encalhado com uma ocupação simultânea de Gaza e da Cisjordânia. Vários países árabes têm debatido o envio de forças de paz a Gaza para substituir os israelenses, desde que haja um cessar-fogo permanente, e a presença desta força seria formalmente abençoada por uma decisão conjunta da Organização pela Libertação da Palestina, o guarda-chuva que reúne a maioria das facções palestinas, e a Autoridade Palestina. Os países árabes muito provavelmente insistiriam em receber alguma assistência logística dos militares americanos. Nada foi decidido ainda, mas a ideia é ativamente considerada pelos envolvidos.

O segundo é o acordo diplomático de segurança entre americanos, sauditas, israelenses e palestinos, cujos termos o governo está perto de finalizar com o príncipe herdeiro saudita. Entre eles: 1) um pacto de defesa mútua entre EUA e Arábia Saudita que eliminaria qualquer ambiguidade a respeito do que os americanos fariam se o Irã atacasse a Arábia Saudita.

Os EUA viriam em defesa de Riad, e vice-versa; 2) facilitar o acesso saudita ao armamento americano mais avançado; 3) um acordo nuclear civil supervisionado que permitiria à Arábia Saudita reprocessar os próprios depósitos de urânio para uso no seu próprio reator nuclear civil.

CONTRAPARTIDA. Em troca, os sauditas limitariam o investimento chinês no país e quaisquer laços militares com Pequim, desenvolvendo seus sistemas de defesa da próxima geração usando somente armamento americano. A Arábia Saudita também normalizaria as relações com Israel, desde que Netanyahu assumisse o compromisso de trabalhar por uma solução de dois Estados com uma Autoridade Palestina reformada.

E, por fim, os EUA reuniriam Israel, Arábia Saudita, outros países árabes moderados e os principais aliados europeus em uma só arquitetura integrada de segurança para combater a ameaça dos mísseis iranianos.

Esta coalizão não poderá ser invocada sem que Israel saia de Gaza e assuma o compromisso de trabalhar por um Estado palestino. Os Estados árabes não aceitarão serem vistos como protegendo Israel do Irã se Israel estiver ocupando permanentemente Gaza e a Cisjordânia. Funcionários dos governos americano e saudita também sabem que, sem Israel no acordo, os componentes de segurança dificilmente conseguiriam a aprovação do Congresso.

A equipe de Biden quer concluir a parte americana e saudita do acordo para poder atuar como o partido de oposição que falta a Israel nesse momento, e dizer a Netanyahu: você pode ser lembrado como o líder que governava no momento da maior catástrofe militar de Israel no dia 7 de outubro, ou como o líder que tirou Israel de Gaza e abriu o caminho para a normalização das relações entre Israel e o país muçulmano mais importante. A escolha é sua. E essa proposta deve ser apresentada publicamente, para que todos os israelenses possam vê-la.

Os interesses de Israel no longo prazo estão em Riad, e não em Rafah. É claro que nenhuma dessas alternativas é uma certeza e ambas trarão riscos. E sei que não é tão fácil para os israelenses pesar os prós e os contras quando há atualmente tantos protestos globais criticando o país pelo seu comportamento em Gaza ao mesmo tempo em que ignoram a conduta do Hamas. Mas é esse o papel das lideranças: defender que o caminho para Riad traz vantagens muito maiores no fim do que o caminho para Rafah, que será apenas um mortal beco sem saída.

Respeito totalmente o fato de que serão os israelenses que terão de viver com a própria escolha. Só gostaria de me certificar de que eles sabem que há uma escolha. 

TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

sábado, 13 de abril de 2024

Como a Tesla, de Elon Musk, plantou na China as sementes de sua própria queda - The New York Times

Como a Tesla, de Elon Musk, plantou na China as sementes de sua própria queda

 

Instalação de fábrica em Xangai foi fundamental para salvar montadora americana de crise, mas também ajudou a impulsionar a indústria chinesa de carros elétricos

 

Por The New York Times

 

 — Nova York

 

10/04/2024 

 

Quando o bilionário americano Elon Musk instalou na China uma fábrica da Tesla, a fabricante de carros elétricos controlada por ele, fez uma aposta que garantiu à empresa peças e componentes mais baratos e operários qualificados, mas, ao mesmo tempo, pode ter criado a maior ameaça ao futuro de seus negócios, ou seja, a indústria chinesa de veículos elétricos.

 

A aposta salvou a Tesla. Da crise que vivia em meados dos anos 2010, a companhia se tornou a montadora mais valiosa do mundo após as cotações de suas ações dispararem, fazendo de Musk um dos homens mais ricos do planeta, conta a edição desta terça-feira, dia 9, do podcast The Daily, do jornal The New York Times.

 

Alguns anos antes de apresentar os primeiros carros produzidos na fábrica da China, com a Tesla à beira do fracasso, Musk havia apostado no gigante asiático em busca de peças baratas e trabalhadores capazes. Nos primeiros anos de atividade, a montadora americana enfrentava atrasos no desenvolvimento dos carros e desconfiança de investidores.

 

A China, por sua vez, precisava da Tesla como uma âncora para impulsionar sua incipiente indústria de veículos elétricos. Para os líderes chineses, uma fábrica da Tesla em solo doméstico era um prêmio.Inicialmente, Musk parecia ter a vantagem na relação, garantindo concessões da China que raramente eram oferecidas a empresários estrangeiros, mas a Tesla agora está cada vez mais em apuros, perdendo sua vantagem sobre os concorrentes chineses no próprio mercado que ajudou a criar.

 

A mudança de direção da Tesla na China também amarrou Musk a Pequim de uma maneira que está sendo examinada pelas autoridades dos EUA.

 

Entrevistas com ex-funcionários da Tesla, diplomatas e técnicos de governo feitas pelo The New York Times revelam como Musk construiu uma relação simbiótica incomum com Pequim, lucrando com a generosidade do governo chinês enquanto recebia subsídios nos EUA. 

 

Enquanto Musk explorava a construção da fábrica em Xangai, os líderes chineses concordaram com uma mudança crucial na política de regulamentações nacionais de emissões de gases do efeito estufa (GEE), após uma pressão política da Tesla que não foi relatada anteriormente.

 

Essa mudança beneficiou diretamente a montadora americana, trazendo centenas de milhões de dólares em lucros estimados à medida que a produção na China decolava, descobriu o The New York Times.

 

Musk também obteve acesso incomum a líderes de alto escalão do governo chinês. Ele trabalhou em estreita colaboração o primeiro-ministro Li Qiang, quando ele era um importante oficial de Xangai. A fábrica chinesa da Tesla foi construída em velocidade recorde e sem um parceiro local, um feito inédito para uma empresa automobilística estrangeira na China.

 

O bilionário, que já insinuou que os trabalhadores americanos são preguiçosos, aproveitou a unidade chinesa para fugir de problemas com legislações trabalhistas.

 

Em Fremont, na Califórnia, a primeira fábrica da Tesla enfrentou problemas com autoridades e sindicatos por causa de questões trabalhistas. Na China, após a morte de um trabalhador da Tesla em Xangai no ano passado, um relatório citando lacunas de segurança foi retirado do ar.

 

Além disso, Musk obteve a política de emissões de GEEs. Modelada a partir de um programa da Califórnia que tem sido um benefício para a Tesla, a política concede créditos aos fabricantes de automóveis por produzir carros limpos – o Sistema de Negociação de Emissões (ETS, na sigla em inglês) da Califórnia, um dos maiores do mundo, rendeu à Tesla, de 2008 a 2023, US$ 3,7 bilhões, segundo o gabinete do governador local.

 

Para pressionar pela mudança regulatória, a Tesla se aliou a ambientalistas da Califórnia, que estavam tentando limpar os céus poluídos da China e viam na exportação do modelo de ETS a confirmação de seu sucesso. A China introduziu o seu ETS em 2017.

 

Todo esse movimento ajudou a tornar a Tesla a empresa de automóveis mais valiosa do mundo, mas o sucesso da montadora americana por lá também forçou as marcas locais a inovar.

 

A China está agora produzindo carros elétricos baratos, mas bem feitos, enquanto o líder chinês Xi Jinping visa transformar o país em uma “potência automobilística”.

 

Fabricantes de automóveis chineses como BYD e SAIC estão avançando na Europa, ameaçando fabricantes estabelecidos como Volkswagen, Renault e Stellantis – dona das marcas Fiat, Peugeot, Citröen e Jeep. As montadoras americanas, como Ford e General Motors (GM), também estão correndo para acompanhar o ritmo.

 

— Há “antes da Tesla e depois da Tesla” — disse Michael Dunne, consultor automotivo e ex-executivo da General Motors na Ásia, sobre o efeito da empresa na indústria chinesa. — A Tesla foi a faz-tudo.

 

Musk agora está andando na corda bamba. Ele soou o alarme sobre os rivais da China, mesmo permanecendo dependente do mercado e da cadeia de suprimentos chineses e repetindo os pontos de vista geopolíticos de Pequim.

 

O bilionário alertou em janeiro que, a menos que as marcas automobilísticas chinesas fossem bloqueadas por barreiras comerciais, elas “praticamente demoliriam a maioria das outras empresas automobilísticas do mundo”. O preço das ações da Tesla despencou após vendas lentas na China, fazendo Musk perder o título de homem mais rico do mundo.

 

A montadora americana está tão enraizada na China que Musk não pode se desvincular facilmente, caso queira. Os carros da Tesla custam significativamente menos para serem fabricados em Xangai do que em outros lugares, uma economia-chave quando a empresa está em uma guerra de preços com seus concorrentes.

 

No Congresso americano, os legisladores estão estudando seus laços com a China e como ele equilibra a Tesla com seus outros empreendimentos. A SpaceX, outra empresa que ele possui, tem contratos lucrativos com as forças armadas dos EUA e detém quase total controle da internet via satélite do mundo através de sua rede Starlink.

 

Musk também é dono da plataforma de mídia social X, anteriormente Twitter, que a China usou para campanhas de desinformação.

 

— Elon Musk tem uma exposição financeira profunda à China, incluindo sua fábrica em Xangai — disse o senador Mark Warner, democrata da Virgínia, que preside o Comitê de Inteligência do Senado.

 

Na China, não está claro se o governo tentou exercer pressão sobre Musk, mas as autoridades locais têm alavancas que poderiam puxar. No ano passado, várias localidades chinesas proibiram carros da Tesla em áreas sensíveis, levando a empresa a enfatizar que todos os dados chineses são mantidos localmente.

 

Em fevereiro, depois que o Departamento de Comércio dos EUA anunciou uma investigação sobre a retenção de dados pelos veículos elétricos chineses, o Global Times, um jornal do Partido Comunista da China, alertou que os consumidores chineses poderiam retaliar contra a Tesla.

 

Tesla, SpaceX e Musk não responderam a uma lista detalhada de perguntas do The New York Times. Durante um evento do jornal em novembro, Musk disse que “todas as empresas automobilísticas” dependem em parte do mercado chinês. Ele também descartou preocupações sobre SpaceX e Starlink, dizendo que não operam na China e que suas empresas não devem ser confundidas.

 

Por outro lado, em uma conversa online com dois membros do Congresso americano em julho do ano passado, ele foi mais direto. O bilionário reconheceu ter “alguns interesses pessoais” na China e se descreveu como “um pouco pró-China”.


sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Joe Biden deveria renunciar à reeleição - The New York Times

Joe Biden é um presidente impopular e sem alguma recuperação ele poderia facilmente perder para Donald Trump em 2024. 

 THE NEW YORK TIMES, 13/09/2023

O que, em si, não é nenhuma surpresa: seus dois antecessores também eram impopulares neste ponto de suas presidências e também corriam perigo em suas postulações à reeleição. Mas com Trump e Barack Obama havia explicações razoavelmente simples. Para Obama, o índice de desemprego de 9,1% em setembro de 2011 e os ferimentos das batalhas do Obamacare. Para Trump, o fato dele jamais ter sido popular, tornando índices baixos de aprovação o padrão natural de sua presidência. 

 Para Biden, contudo, houve uma lua de mel normal, meses de índices de aprovação razoavelmente altos que terminaram apenas com a caótica retirada do Afeganistão, e desde então tem sido difícil condensar uma explicação para o que tem prejudicado sua popularidade. A economia está melhor do que no primeiro mandato de Obama, a inflação está baixando e a temida recessão não se materializou. As guerras lacradoras e as batalhas sobre a covid que prejudicaram os democratas não são mais fatores centrais, e as guerras culturais pós-Roe parecem um terreno mais amigável. A equipe de política externa de Biden tem defendido a Ucrânia sem uma escalada perigosa com os russos (até aqui), e Biden alcançou até legislações bipartidárias, cooptando promessas trumpistas sobre política industrial no caminho. Isso criou uma mistificação entre democratas sobre por que tudo isso não é suficiente para dar ao presidente uma vantagem decente nas pesquisas. Eu não compartilho dessa mistificação. 

Mas acredito que há uma incerteza real a respeito de quais são as forças mais importantes prejudicando os índices de Biden. Comecemos com a teoria de que os problemas de Biden ainda decorrem principalmente da inflação — que as pessoas simplesmente odeiam ver os preços aumentando e que o presidente não recebe crédito por evitar a recessão porque os aumentos de salários foram consumidos pela inflação até recentemente. Se for esta a questão principal, a Casa Branca não terá muitas opções além de paciência. O pecado original inflacionário do governo, o gasto excessivo no Plano Americano de Resgate Econômico, não se repetirá, e exceto pela possibilidade de um armistício na Ucrânia aliviar parte da pressão sobre os preços do gás, não há muitas outras alavancas políticas a se acionar. 

A esperança tem de ser que a inflação continue a baixar, os salários reais aumentem consistentemente e, em novembro de 2024, Biden receba o crédito que não está recebendo agora pela condição da economia. Um afastamento do centro Mas talvez não seja só a economia. Em várias pesquisas Biden parece estar perdendo apoio de eleitores de minorias, continuando uma tendência da era Trump. Isso levanta a possibilidade da existência de um repuxo para os democratas em relação a temas sociais, no qual mesmo que lacração não seja frontal e central, o fato de que o núcleo ativista do partido está posicionado tão à esquerda gradualmente empurra afro-americanos e hispânicos culturalmente conservadores para o Partido Republicano — num movimento muito parecido com o de democratas brancos conservadores que vaguearam gradualmente para a coalizão republicana entre os anos 60 e 2000. Bill Clinton conteve temporariamente esse movimento rumo à direita comprando brigas públicas com facções à sua esquerda. 

Mas a estratégia de Biden não é esta. Ele se moveu um pouco para a direita em temas como imigração, no qual a visão de políticas do progressismo vai mal. Mas Biden não faz alarde sobre suas diferenças com o flanco progressista. Eu não espero que isso mude — mas isso pode estar lhe cobrando de maneiras um tanto invisíveis para os progressistas neste momento. Um presidente idoso Ou talvez o grande problema seja apenas a ansiedade latente sobre a idade de Biden. Talvez seus índices de aprovação despencaram primeiro na crise do Afeganistão porque a retirada americana evidenciou o absentismo público que com frequência caracteriza sua presidência. 

Talvez alguns eleitores assumam agora que um voto por Biden é um voto na desafortunada Kamala Harris. Talvez exista simplesmente um vigor intensificado em campanhas presidenciais que dê vantagem a Trump. Em qualquer caso, um líder diferente com as mesmas políticas poderia ser mais popular. Sem nenhuma maneira de elevar um líder assim, porém, tudo o que os democratas podem fazer é pedir para Biden mostrar mais vigor público, com todos os riscos que isso pode implicar. Pelos menos é uma — espécie de — estratégia. 

O problema mais difícil para Biden abordar poderá ser o tormento da depressão privada e do pessimismo geral que paira sobre os americanos, especialmente os mais jovens, que foi piorado pela covid mas parece arraigado em tendências sociais mais profundas. Eu não vejo nenhuma maneira óbvia de Biden tratar dessa questão por meio de algum posicionamento normal. Eu não recomendaria atualizar o “discurso do mal-estar” de Jimmy Carter com a terminologia terapêutica do progressismo contemporâneo. E também não considero que o presidente seja o político adequado para travar uma cruzada contra o desarranjo digital ou algum arauto do reavivamento religioso. Biden elegeu-se, em parte, definindo a si mesmo como uma figura transicional, uma ponte para um futuro mais jovial e otimista. 

Agora ele precisa de alguma crença generalizada nesse futuro melhor para ajudá-lo a reeleger-se. Mas onde quer que os americanos venham a encontrar esse otimismo, nós provavelmente passamos bastante do ponto em que um presidente de aparência decrépita poderia esperar ser capaz de, ele próprio, gerá-lo. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

sábado, 28 de janeiro de 2023

Expansão da OTAN, 2004: quando a Rússia só rosnava - Steven Lee Myers (NYT)

 As NATO Finally Arrives on Its Border,

Russia Grumbles

Yola Monakhov/Panos Pictures for The New York Times

Four Belgian F-16's have been stationed at a former Soviet base in Lithuania to

police skies over new Baltic members of NATO, prompting Russia to contend that

the alliance still sees it as a potential enemy, not a partner.

By STEVEN LEE MYERS

NYTimes, Published: April 3, 2004

Yola Monakhov/Panos Pictures, for The New York Times

Meeting at Lithuania's First Air Base, from left: Col. Edvardas Mazeikis, the air

force commander; Maj. Devis Martusevicius, the base commander; and Maj.

Harry Van Pee of Belgium, the chief of a NATO unit.


VILNIUS, Lithuania, April 2 — The fighter jets that landed this

week at the airfield northwest of here do not pose much of a threat,

but their arrival at what was once one of the Soviet Union's largest

bases underlined in bold the new borders being drawn between

Europe and Russia.

The jets — four Belgian F-16's supported by 100 Belgian, Danish

and Norwegian troops — have come to police the skies over the

Baltic states of Lithuania, Latvia and Estonia, former Soviet

republics that officially joined NATO on Monday along with

Bulgaria, Romania, Slovakia and Slovenia.

The operation is purely defensive, NATO officials and military

commanders here say, but the territory being patrolled abuts some

500 miles of Russia's western frontier, including the isolated

enclave of Kaliningrad.


To Russia, at least, the meaning is clear: the alliance still views it

as a potential enemy rather than a partner.

While Russia has resigned itself to NATO's expansion, albeit

grudgingly, the reality of NATO forces being deployed in the

Baltics — on short notice — has deeply unsettled and angered its

politicians and commanders, prompting some of the sharpest

criticism of the alliance since its war against Serbia in 1999.

Russia's lower house of Parliament overwhelmingly adopted a

resolution on Wednesday denouncing NATO's expansion generally

and the deployment of the F-16's specifically.

Echoing warnings in Russia's new military doctrine set forth last

fall, the resolution called on President Vladimir V. Putin to

reconsider Russia's international agreements with NATO and its

own defense strategies, including its nuclear posture.

Few expect a new cold war to erupt in Europe, but NATO's

expansion has further chilled a not very warm peace, especially

between Russia and the Baltic states.

Lithuania and Estonia have recently expelled Russian diplomats

accused of spying on, among other things, NATO activities,

prompting tit-for-tat expulsions by Russia.

More alarmingly, Estonia last month accused a Russian fighter jet

of venturing into its airspace — exactly the kind of intrusion the

squadron of F-16's based here is meant to answer.

Meeting with NATO ministers in Brussels on Friday after a

ceremonial raising of the new members' flags, Russia's foreign

minister, Sergei V. Lavrov, called NATO's expansion a mistake.

"The presence of American soldiers on our border has created a

kind of paranoia in Russia," he said, according to Agence-France


Press, even though no American troops are taking part in the

operation in the Baltics.

In Moscow on Friday, Mr. Putin, meeting with Chancellor Gerhard

Schröder of Germany, played down NATO's expansion, though he

warned that Russia would closely monitor the deployment of

NATO forces and "build our defense and security policy

correspondingly."

Here in Lithuania the rising tensions have only underscored the

comfort and pride of joining NATO's warm embrace. More than

one official contrasted the welcome roar of the F-16's — heard on

Wednesday over this capital's richly preserved Old Town — to the

rumble of Soviet tanks that suppressed Lithuania's nascent

independence movement in January 1990.

The symbolism runs deep in a country forcibly occupied by the

Soviet Union in 1940, fought over in World War II and freed from

the Soviet stranglehold less than 13 years ago.

"For us, history is close," Col. Edvardas Mazeikas, commander of

Lithuania's air force, said in an interview at the base where the jets

are stationed, outside Siauliai. "We are in a very dangerous place.

All through our history war has passed through here, from

Napoleon to the Nazis to the Soviets. Lithuania is a very good

place for tanks. That's why collective security is so important to

us."

The ceremonies in Washington and Brussels marking the largest

expansion in the alliance's history officially culminated a military

integration that began years ago. Lithuania, Latvia and Estonia

have all trained with NATO forces, restructured their own forces to

NATO standards and contributed soldiers to NATO operations,

including those in Bosnia and Afghanistan.


None possess significant military forces — Lithuania's entire

armed forces total 13,000 troops, smaller than some United States

Army divisions. NATO in fact urged them not to invest heavily to

bolster their navies and air forces but to rely instead on collective

defense, particularly for air cover. Instead, the three countries have

invested in modernizing their ground forces and focusing on niche

fields like special operations.

Lithuania, whose air force has only a handful of trainer jets and

helicopters, has welcomed the offer, since neither it nor the other

Baltic states had sufficient forces to patrol their skies.

The current deployment, led by the Belgians, is scheduled to last

three months, but other NATO countries will continue to provide

around-the-clock air coverage, Lithuania's defense minister, Linas

Linkevicius, said in an interview on Friday.

Maj. Harry Van Pee, the Belgium commander of the force here,

described the operations as routine, even boring. The jets, armed

with cannons and air-to-air missiles, will be on standby to respond

not only to any intrusion, but also to commercial airliners in

distress or hijackings like those involved in the Sept. 11 attacks.

"It makes no sense to patrol 90, 95 percent of your borders and

leave the other 5 percent uncovered," Major Van Pee said when

asked about Russia's objections to the deployment.

He, like Lithuanian officials, emphasized that the patrols were not

directed against the Russians, but such assurances have done little

to ease Russia's strong displeasure with what it views as a

provocation.

When NATO sent an AWACS reconnaissance aircraft to Rumbula

Airfield in Latvia on Feb. 23 and then to Siauliai two days later on


what NATO called a demonstration flight, Russian officials angrily

protested that the plane's sophisticated radar equipment could peer

deep into European Russia.

NATO's expansion may not amount to a new containment of

Russia, as many in Russia fear, but it has nonetheless created an

armed divide from the Baltic Sea to the Black Sea that has left

Russia on the other side.

Although Russia has a seat at NATO's headquarters in Brussels,

allowing it to discuss areas of cooperation and concern, it remains

outside the alliance's decision-making process.

While NATO has significantly reduced its forces in Europe and

shifted its focus to new threats like terrorism and weapons

proliferation, Russian officials have said deployments like the one

here betray a sense of mistrust.

"In admitting the Baltic states and arranging guarantees for their

security, many in NATO apparently proceeded from previous

perceptions that a war is possible in Europe," the spokesman for

Russia's Foreign Ministry, Aleksandr V. Yakovenko, said on

Monday.

He and other officials have complained in particular that Lithuania,

Latvia, Estonia and Slovenia are not covered by the Conventional

Forces in Europe Treaty, a cold-war-era agreement that imposed

limits on tanks, aircraft and other military equipment.

They did not exist as independent states when the treaty was

negotiated, but in Russia's view the failure to include them leaves

open the possibility of a significant military buildup on its borders.

Russian politicians and commanders have vowed to increase their

forces in Kaliningrad and northwestern Russian in response.


Mr. Linkevicius, the Lithuanian defense minister, brushed aside

Russia's complaints as "political rhetoric," some of which he

ascribed to those in Russia who "are sad to lose territory of the old

empire."

"We have no list of enemies," Mr. Linkevicius said, seeking to

reassure the Russians. "We're talking about instability,

unpredictability. We're talking about that kind of stuff, and it has

always surrounded Lithuania. We need some guarantees."

Please feel free to send the Stratfor Weekly to a friend

or colleague.

THE STRATFOR WEEKLY

02 April 2004

NATO Expansion: More Muscle for U.S. To Flex

Summary

On March 29, NATO took in seven new member states. The

enlargement ensures that the NATO of the future will work as a

reliable arm of U.S. policy.

Analysis

At a 1999 summit in Washington, D.C., the North Atlantic Treaty

Organization welcomed its first new members of the post-Cold War

era: the Czech Republic, Hungary and Poland. The expansion was

broadly hailed in Europe and the United States as a bridge-

building effort to seal the Cold War rift. Moscow did not agree,

and the expansion condemned Russian-Western relations to the deep

freeze for three years.

Once the brouhaha of the summit died away, however, there were

some uncomfortable questions that NATO's supporters had to deal

with. The alliance was formed to defend Europe from the Soviet

Union; what would it do, now that the Soviet threat no longer

existed? The answer from the new members was simple: Soviet =

Russian. The answer from the Russians was equally simple: Disband

NATO. Others felt that NATO should evolve into a political talk-

shop, a peacekeeping force, a military adjunct to the European

Union or some other nebulous confidence-building organization.

Five years later -- 15 years after the Berlin Wall fell -- it is

a different world and a different NATO. On March 29, the alliance

admitted the three remaining former Soviet satellites (Bulgaria,

Romania and Slovakia) and three former Soviet republics (Estonia,

Latvia and Lithuania), as well as a piece of the former

Yugoslavia (Slovenia).

But the expansion did more than add 50 million people and

rationalize NATO's eastern border.

For the most part, the confusion of 1999 is gone; with the 2004

expansion, NATO knows exactly what it is -- even if some members


are not happy with the outcome. NATO is an instrument for Western

(read: U.S.) influence globally. The alliance now has troops

operating in long-term missions in Afghanistan, and soon will

have troops in Iraq. Because the United States remains the pre-

eminent power in the alliance -- and in the world -- it is

Washington that calls the shots.

Core NATO members such as France and Germany certainly disagree

with this turn of events, but have lacked the influence to stop

it. That has become -- and will continue to be -- the case

because of the admittance of NATO's newest members. All of the

fresh blood can be safely grouped into the "new Europe" that U.S.

Secretary of Defense Donald Rumsfeld so charmingly coined in the

lead-up to the Iraq war. These states all share historical

experience in betrayal by France and domination by Germany and

Russia. It is only natural that such states would search further

abroad for allies to help guarantee their security. In the 1999

Kosovo war, the United States was able to use NATO to generate a

veneer of international respectability for actions that it could

not get the United Nations to sanction. From Estonia to Bulgaria,

the United States now has 10 new -- or newish -- states within

NATO that Washington can count on for support when such a state

of affairs surfaces in the future. The 2003 Iraq war is a prime

example; Bulgaria practically led the charge at the United

Nations for Washington.

Russia might not be thrilled with this development, but it is

certainly glad NATO's eyes are casting about the planet and are

not riveted solely on the East. Further smoothing Russian-NATO

relations is the fact that -- although U.S. influence over the

alliance is stronger than ever -- NATO forces in Europe are

weaker than ever and are only expected to be further downsized.

Germany, long the European bugaboo, has cut its military forces

to the point that it has next-to-zero power projection capacity,

while the United States is openly discussing pulling troops out

of bases across Europe (much to the Berlin's chagrin, we might

add).

NATO's home front is not merely secure, it is not even a front

anymore. The only spot on the European continent that requires

forces is the Balkans, and even this is child's play compared to

the tasks of NATO's past. Places such as Kosovo will be a

headache for at least a generation, but such brushfires do not

threaten NATO's core -- or even new -- members. That has changed

the very nature of NATO from a defensive (or offensive, depending

on your politics) military alliance to a tool of global

influence.

NATO's Neighbors

On the surface, Russia's strategic situation is miserable. All

its former satellites -- plus three of its former republics --

are in an alliance with a nuclear first-strike policy that was

formed to counter the Red Army. Its only reliable allies are an

incompetently led Belarus and militarily insignificant Armenia.

Russian military spending is well up from its late 1990s lows,

but failed nuclear exercises earlier this year and the 2000 Kursk

submarine sinking are real reminders that even the once-feared

Soviet nuclear arsenal is only a shadow of its former self. The

question at the top levels of the Russian government is how to

manage the military decline; they are not yet to the point of

asking how they can reverse it.


In this regard, NATO's 2004 expansion is a symptom of a much

deeper issue: Russia's endemic decline. Putin spent the bulk of

his first term simply asserting control over the levers of power.

Now, with a tame Duma and a relatively loyal government at his

beck and call, Putin is focusing Russia's energies on halting

(and hopefully reversing) Russia's not-so-slow-motion collapse.

Attempting such a Herculean task will take nothing less than 200

percent of the Russian government's time and attention, assuming

everything goes perfectly -- and in Russia things rarely proceed

perfectly.

In the meantime, Moscow simply lacks the bandwidth to seriously

address anything going on in its neighborhood, much less farther

abroad. Attempts to counter what it considers unfriendly

developments will be flimsy and fleeting. Witness the recent

violence against Serbs in Kosovo: Russia sent a few harshly

worded press releases and some humanitarian aid, and that was the

end of it. The fact that the Baltics made it into NATO with so

little Russian snarling -- or that Georgia transitioned to such

an anti-Russian government so easily -- is testament to Moscow's

distraction.

It is also a harbinger of things to come as Russia's

introspection creates opportunities for power groups far more

aggressive than NATO:

* Uzbekistan hopes to become a regional hegemon, and will

capitalize on its indirect U.S. backing to extend its influence

throughout eastern Central Asia, particularly vis-a-vis Russian

allies Kyrgyzstan and Tajikistan.

* Militant Islamist groups will deepen their influence in the

southern former Soviet Union, particularly in the Caucasus.

* China will continue quietly encouraging its citizens to

populate eastern Siberia while working to lash Kazakhstan,

traditionally Russia's playground, to it economically.

* India is planting flags in the energy-rich Caspian basin,

particularly in Kazakhstan, while its intelligence services flow

anywhere Kashmiri militants might travel.

* Turkey is deepening its political, economic and military ties

with Georgia and particularly with Azerbaijan where Turkish

military forces often patrol the Azerbaijani skies.

* Japan is looking to carve out the resources of Siberia for

itself and is steadily expanding its economic interests in the

Russian Far East.

* The European Union is pressing its economic weight across the

breadth of Russia's western periphery. As it brings the former

Soviet satellites into its own membership, Russian interests will

find them cut off from their old partners and markets.

* The United States is making inroads whenever and wherever it

can.

The question is not whether Russian influence can be rolled back

in the years ahead, or even where -- it is by how much.

NATO's Future

Diplomatically, the second post-Cold War expansion was not as

loud an affair as the first. The 1999 expansion also occurred

during the run-up to the Kosovo war. Within a two-month period

Russia saw the three most militarily powerful of its former

satellites join an opposing alliance with a nuclear first-strike

policy, while its most loyal European ally suffered a bombing


campaign, courtesy of that same alliance. Russia fought tooth and

nail in diplomatic circles to prevent the expansion, and quite

rightly felt betrayed. One of the deals made by the

administration of former U.S. President George H.W. Bush in the

last days of the Cold War was that Moscow would allow Germany to

reunite and remain completely in NATO, so long as the alliance

did not expand eastward.

Stratfor does not expect NATO's next enlargement, likely within

the next five years, to be particularly troublesome. If Russia

had a red line, it drew it at the Baltics -- three of its own

former republics -- or Kaliningrad, a Russian Baltic enclave that

NATO's new borders seal off from direct resupply. The next

enlargement is likely to take in the Balkan states of Albania,

Croatia, Macedonia and perhaps Bosnia. All fall behind NATO's new

eastern "front line" and would not threaten Russia at all.

The only expansion in the near future that might elicit a rise

would be one that included Finland -- which considered submitting

an application in the late 1990s -- but even this would not be as

traumatic to the Russians as the now-official Baltic entries.

There is even the possibility that Austria, another of Europe's

traditional neutrals, might someday join NATO. Vienna is already

more active in NATO exercises than are several full members. Any

serious discussion of a second across-the-Russian-red-line

expansion will be put off until well after 2010, although by that

point Georgia, Moldova and Ukraine could shape up as

possibilities.

NATO certainly has challenges ahead of it. The strain and

political arm-twisting that are likely to precede the expected

Iraq deployment could well reopen wounds that only recently

closed, and competing visions of what NATO should be will

certainly hound it for years. Ironically, this divergence of

perception is part of what will keep NATO powerful, present and

relevant to U.S. policymakers.

While several Western states -- and Stratfor -- no longer view

NATO as a true military alliance, that view is not shared

uniformly. It is a simple fact that many European countries feel

threatened by the political or military strength of Germany or

Russia. The age-old adage of NATO that it existed "to keep the

Americans in, the Russians out and the Germans down" was always

far more than a clever turn of phrase. Many European states still

see this as a core NATO raison d'etre. Such belief is not an

issue of wealth -- Denmark, the Netherlands and Norway are just

as pro-NATO and pro-American as Latvia, Hungary and Bulgaria --

it is an issue of place. These countries, by virtue of their

proximity to large neighbors with a past predilection for

domination, want a counterbalance.

So long as that is the case, a majority of NATO's membership will

be enthusiastic about the alliance as an alliance. Even the

dullest of U.S. administrations will be able to translate that

energy into international influence in Europe -- and beyond.

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