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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

1414) Teoria da Mais-Valia: a verdadeira paternidade

Para quem acha que Marx foi o genial inventor da teoria da mais-valia, valeria a pena ler os trabalhos do economista britanico Thomas Hodgskin (falecido em 1869), e que desde 1825 argumentava que o capital extraia valor dos trabalhadores, confiscando o excendente produzido pelos trabalhadores.
Como se vê, Marx foi um excelente adepto da teoria do "rouba mas faz (intelectual)"...

E para quem acha que Marx foi o autor de outra frase famosa: "de cada um segundo suas capacidades,a cada um segundo suas necessidades":

Sem pretender voltar a uma (aparentemente) inutil discussao sobre essa frase "marxista", e sem pretender desiludir aqueles que continuam acreditando que essa frase é puramente, unicamente de extração marxiana, gostaria de chamar a atencao para o fato de que Marx, um leitor compulsivo de livros de economistas contemporaneos e predecessores, nas suas longas jornadas na British Library, na verdade copiou essa frase do pensador britanico William Goodwin (que morreu em 1836).
De tendencia idealista anarquista, Goodwin já proclamava, desde o final do seculo XVIII, que todo governo era um mal, e que a distribuicao dos bens produzidos deveria ser feita de acordo com as necessidades de cada um.
Como se vê, Marx tambem aderia ao famoso "cut and paste" dos nossos tempos, emprestando ideias de outros filósofos sociais, sem necessariamente pagar direitos autorais por isso, ou sequer "moral rights"...
Sorry, marxianos...

13 comentários:

Glaucia disse...

Bem, professor, não disputo o mérito. Mal qual a utilidade dessas observações? Concluir que a genialidade não brota do nada feito um escorpião abiogênico? Marx fazia parte de um movimento; não, de vários movimentos. Seu post passa a impressão de que a genialidade do homem poderia ter brotado no século, X, VI ou XXII a.c. Faz sentido?

É bem pós-moderno, tipo aqueles críticos de arte que acusam o Dante de plágio. Qual a lógica?

Paulo Roberto de Almeida disse...

A utilidade é evidente? restabelecer direitos de propriedade intelectual, ou pelo menos os moral rights dos "inventores" verdadeiros das frases apropriados por Marx, sem o devido crédito.
Os nossos marxistas simplórios, que continuam a ler Marx como quem lê catecismo nas academicas decadentes, acreditam que ele foi um gênio que revolucionou a teoria econômica e as ciências sociais de modo geral, quando na verdade ele se apropriou de uma série de idéias que estavam em curso no seu tempo, rebatendo algumas, se apropriando de outras e nem sempre dando o devido crédito aos que ele lia, tomava empréstimo e deixava de registrar.
Sua grande teoria, a do valor trabalho, é um erro crasso, com a desculpa que Adam Smith e David Ricardo também acreditavam nessa bobagem.
Se o Dante cometeu plágio, deve ser registrado, o que em nada diminui a sua genialidade.
Marx também foi um gênio, mas ele errou muito mais do que acertou, embora de forma "genial". Por isso mesmo, tem tanta gente que se apoia ainda em seu pensamento, para formular condenações de ordem moral ao capitalismo.
Sua prosa foi poderosa, suas prescrições ruins, quando não catastróficas...
Freud também foi um grande embromador, mas sua capacidade de provocar danos sociais foi bem mais limitada...
Paulo Roberto de Almeida

Bola Oito disse...

Pois é professor, achei que faltou a crítica obrigatória à teoria do valor trabalho; todo ser humano com mais de dois neurônios tem a obrigação de refutar a coisa toda vez que sequer cita o termo mais-valia.

À Glaucia: explique a "genialidade que não brotou sozinha" dessa particular teoria marxista.

Ah, e acredito que sua comparação com Dante não cabe; os critérios de autoria na arte na Idade Média eram bem diferentes. Nem concordo com o professor, que afirma que isso tudo teria a ver com propriedade intelectual ou coisa parecida; me parece na verdade que ele nem tentou elaborar isso com muita exatidão.

No caso de Marx, só apenas um exemplo de falta de honestidade, mas que não é nem de longe a pior acusação intelectual que se pode fazer a Marx. Sua falsificação de fontes foi apenas detalhe dentro de uma obra que empreendeu falsificações metodológicas maiores.

José Marcos disse...

Fiquei curioso em saber como se chegou à conclusão empírica de que Marx efetivamente leu os livros de Hodgskin e Goodwin apoderando-se de suas idéias sem lhes dar crédito. Há registro de que ele estudou esses trabalhos em suas andanças pela British Library? Haverá sido uma inferência fundamentada na presença dessas obras na biblioteca britânica, associando-se ao fato de Marx tê-la freqüentado? Creio que não se pode descartar a possibilidade de uma coincidência significativa – que o psiquiatra Carl Jung denominava de sincronicidade – tão comum na história da ciência. Há diversos exemplos de cientistas que, sem terem contato com a obra de outros, produziram resultados semelhantes acerca de um determinado assunto. É comum a imprensa noticiar acusações de plágio que teria sido praticado por autores famosos. Infelizmente, Marx não pode mais se defender delas...

Vinícius Portella disse...

Eximo-me de considerações de mérito quanto à originalidade de determinada asserção e de sua função no quadro teórico traçado por Marx, como de muitos outros pontos que pudessem ser levantados com base neste "post". O fato é que, a despeito do forte componente "retórico-persuasivo" que em nada desabona esse texto, algo de muito importante é levantado e evidenciado na resposta do PRA acima: a veneração quase religiosa que Marx encontra em muitos círculos acadêmicos. Isso em nada ou pouco contribui para a compreensão racional de seu trabalho, para a apreensão de seu argumento, para a identificação de seus limites. Tal postura estendida à análise da realidade pode apresentar um sério entrave ao conhecimento ao estabelecer a priori a natureza do real observado de acordo com as concepções professadas pelo credo em questão. Também não abordarei a questão quanto o papel de nossas crenças no desenvolvimento de nossos argumentos ditos racionais, mas penso que a questão não é negá-las, senão de buscar ter uma postura crítica inclusive ante elas. Essa adoração, realmente, é muito frustrante para alguém que quer realmente estudar, conhecer, não só este, como qualquer outro teórico, identificando seus pontos fortes e falhos, tendo-os como homens comuns, não como profetas. De uma maneira geral, tais adoradores se mostram tão "críticos" a um determinado corpo de idéias, e tão subservientes a outro. Ademais, qualquer um que queira retirar das alturas seus avatares e questioná-los não encontra uma boa acolhida entre eles, para não falar em hostilidade ostensiva.
Diante disso tudo, cai bem a citação: "o gênio tem limites, a estupidez é infinita", que aqui deixo sem fonte por não me recordar da autoria, sorry.
Por fim, algo nessa discussão me lembra do poema "Os Sapos" de Manuel Bandeira...

Vinícius P. Portella

Paulo Roberto de Almeida disse...

José Marcos,
A confirmação só seria realmente possível numa consulta aos cadernos e notas de leitura de Marx, que acredito devam estar no Museu de História Social de Amsterdam. O dia em que eu puder fazer uma visita, o farei.
Talvez alguma informação existe na biografia em tres volumes de Auguste Cornu, que eu li há muitos anos atrás, na Suécia, e já não encontro em Brasilia. Se você encontrar poderá procurar.
Eu de minha parte vou procurar no Maximilien Rubel, também muito completo.
Você fala em coincidências, o que eu acho muito difícil; conhecendo os métodos de trabalho das ciências sociais, eu apostaria no empréstimo. Seria muito mais plausível.
Em todo caso, você pode sair em defesa de Marx e provar que ele "descobriu" ou "inventou" essa tese da mais-valia e a frase das capacidades-necessidades.
Eu continuo apostando no empréstimo de idéias...
Paulo Roberto de Almeida

Paulo Roberto de Almeida disse...

Vinicius,
Grato pelos seus comentários muito judiciosos, que subscrevo inteiramente. Já escrevi muito sobre isso, entre eles um texto chamado O Fetiche do Capital, e outro da série Falácias Acadêmicas.
Eles podem ser encontrados em meu site, nos links para as revistas Espaço Acadêmico e Espaço da Sophia.
Paulo Roberto de Almeida

Antônio disse...

penso ser triste este tipo de consideração de neoliberais radicais, que pretendem destituir o grandioso pensamento de alguém através de pequenas coisas... duvido deste texto, mas mesmo que seja verdade, ninguém elaborou com tanta destreza a teoria da mais-valia como marx. Seu impacto é gigantesco até hoje, muito maior do que de seus críticos.
Todos os pensadores são influenciados por uma ou outra corrente de pensamento ou ideia.
Sinto pena por isso,
Atenciosamente,

Paulo Roberto de Almeida disse...

Meu caro Antonio,
Tristeza não é algo que eu possa remediar, se é esse o seu caso. Se voce ficou triste com o tratamento dado a Marx neste espaço, saia em defesa dele.
A única coisa que eu posso lhe oferecer seria espaço para você expressar seus argumentos.
Mas, eles não poem ser simplesmente adjetivos e impressionistas: destreza, grandioso pensamento, impacto gigantesco, influencia, tudo isso precisa ser provado, não adjetivamente.
Se voce tiver argumentos suficientes em torno da teoria da mais-valia, comprovando, efetivamente, de que ela é importantissima na economia politica de nosso tempo, sinta-se a vontade para expressar o seu pensamento de forma não subjetiva e não impressionista. Com argumentos substantivos e fundamentados.
A ciência avança justamente quando se consegue provar certas afirmações.
Eu lhe trouxe apenas algumas evidências. Você pode ter outras.
Sinta-se à vontade...
Paulo Roberto de Almeida

Glaucia disse...

Bem professor, acho que fui sutil demais. A graça da coisa toda é acusar justamente Marx de não respeitar justamente a propriedade individual sobre as ideias.

A ideia do gênio individual ganhador de louros e royalties, comendo caviar no Country Club 70 anos depois de ter vendido a ideia do post-it pra 3M, faz parte de todo o edifício que o barbudo propunha destruir...

E, pra voltar no Freud, Totem e Tabu (péssima antropologia, ótima psicanálise) oferecerá grandes insights sobre o porquê de continuarmos a endeusar - e a atacar - indivíduos escolhidos como representantes do governo dos mortos sobre os vivos.

Nesse sentido, o super-Marx existe tanto quanto o super-Homero, o super-Sócrates ou o super-Jesus Cristo. Para que possamos, posmodernamente cada um na sua fé, a turnos endeusá-los e destruí-los.

Amém!

Paulo Roberto de Almeida disse...

Agradeço a todos os participantes do exchange neste post, mas nao tenho condicoes agora de comentar detalhadamente a questao. Mas, pela importancia do assunto e pelas reacoes despertadas -- so equivalente a um post sobre os royalties dos conselheiros da Petrobras -- vou voltar ao tema, exclusivamente.
Marx merece essa deferencia, ainda que seja para diminui-lo um pouco mais.
Paulo Roberto de Almeida

Vinícius Portella disse...

Creio ser bastante ilustrativo estes trechos tirados do discurso de recepção proferido por Antonio Olinto quando do ingresso de Roberto Campos na ABL:

"[...]Como definir vossa filosofia? Vejo-a como adepta do pensamento crítico.

Aponta-nos Karl Popper a necessidade – básica para quem pensa – de termos consciência das diferenças entre o pensamento crítico e o pensamento dogmático. O pensamento dogmático – dono da verdade e do futuro – já causou perseguições, torturas, assassínios. Ao contrário do estímulo à violência, o pensamento crítico está mais afeito às duras tarefas de esclarecer, mostrar defeitos, melhorar, enfim mudar sem matar. Em casos concretos, mostra Popper “a atitude dogmática” de pensadores e líderes de nosso tempo, inclusive as de Marx, Freud e Adler, diversas da posição aberta de “experimentos cruciais” de Einstein, de quem cita a frase: “Não pode haver melhor destino para uma teoria física do que abrir caminho para uma teoria mais simples, na qual sobreviva, como caso-limite.”

Daí o descobrirmos que só o pensamento crítico aprende. O dogmático recusa-se a aprender e repele o novo, principalmente se nele vê perigo para sua inamovível postura. Essa recusa vai até o momento em que a realidade derruba o dogma, tal como às vezes derruba muros. Ao invés de implantar slogans no pensamento das pessoas, o pensamento crítico, porque aprende, também ensina, e o ensino propõe, não impõe, mudanças de rumos, idéias e ações.

[...]Sois avesso ao “wishful thinking”, expressão que se poderia traduzir por “pensamento desejoso”, isto é, de se acreditar que acontecerá exatamente aquilo que está no desejo de quem pensa.[...]"

Flávio Villar Fernandes disse...

parabenizo imensamente o prof por essa descoberta: ganhou um fã. é maravilhoso, por ser proporcionalmente raro, ouvir alguém trazer alguma informação que realmente acrescenta (nesse caso, à epistemologia (ainda que apenas em seu aspecto histórico)).
discordo do Antônio pq essas "poucas coisas que ele disse" são fundamentais ao socialismo científico (marxismo)
se alguém fez antes dele e ficar provado que ele copiou, as únicas coisas que se pode constatar são: ele é, sim, menos genial (diferentemente do que o sr disse, pois CLARO que a anterioridade é um fator) e mais mau-caráter, pois roubou (emprestar é um eufemismo que chega a ser pior que a palavra direta) idéia (eis o preço do copy paste (descoberto) para um morto).
Sem uma prova substancial de que houve cópia (como o sr disse sobre o método dos cientistas sociais), não se pode SEQUER supor (é altamente anti-ético pq o cara esta morto e não pode se defender). Isso, no entanto, não modifica nada epistemologicamente: a construção desse conhecimento, pela sua descoberta, NÃO FOI DE MARX; ou seja, quem registrou, provando que teve a idéia primeiro, não foi ele. Isso é fantástico!
Quando vivo, o sujeito perde os direitos se a anterioridade (não necessariamente o copy paste) for provada. Se o copy paste for provado, tb um processo moral pode ser erguido, com toda razão, pela falta de caráter intelectual do plagiador (eis o preço de fazer um copy paste: ainda vivo ser descoberto).
Mas prof, o Antônio falou sobre a dimensão da teoria de Marx e o sr respondeu sobre apenas um aspecto dessa questão, a "economia política de nosso tempo". Sobre isso, concordo totalmente com o Antônio: o socialismo científico teve grande impacto (não só político econômico, como artístico, etc), apesar de eu discordar dele, preferindo o socialismo utópico