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segunda-feira, 5 de outubro de 2009
1408) Democracia na Venezuela: pronta para ingressar no Mercosul?
Na verdade, se for por argumentos democráticos, a Venezuela já pode ser admitida, pois a cláusula democrático do Mercosul -- Protocolo de Ushuaia -- apenas fala de ruptura do regime democrático, não de uma ditadura constitucional como parece ser o caso atualmente naquele país.
A Venezuela, portanto, passa no teste, pois como não se cansam de repetir seus apoiadores, ela tem se submetido à prova das urnas e dos plebiscitos desde o início do governo Chávez, que pode se perpetuar legalmente no poder.
Ela não passaria no teste da OEA -- Declaração de Lima, de 2001 --, entretanto, mas parece que isso não parece inquietar os demais países membros.
A matéria abaixo, do Washington Post desta segunda-feira, 5 de outubro, mostra que tipo de democracia a Venezuela é, atualmente.
Politics and Prison in Venezuela
Student Protester's Saga Shines New Light on Chávez's Approach to Dissent
By Juan Forero
Washington Post Foreign Service
Monday, October 5, 2009
CARACAS, Venezuela -- President Hugo Chávez's government says Julio Cesar Rivas is a violent militant intent on fomenting civil war.
Rivas's supporters say the 22-year-old university student is just one of many Venezuelans jailed for challenging a populist government that they contend is increasingly intolerant of dissent.
As the Chávez government approaches 11 years in power, many of its most prominent opponents are in exile in foreign countries or under criminal investigation here.
But human rights and legal policy groups say that even more worrisome is the growing number of government foes in jail for what they allege are politically motivated reasons. There are more than 40 political prisoners in Venezuela, and 2,000 Chávez opponents are under investigation, the groups and human rights lawyers say.
"The government tries to defend itself by saying it has politicians who are prisoners," said Teodoro Petkoff, a newspaper editor critical of Chávez. "But however you label them, they are people who are prisoners for political reasons."
Chávez administration officials contend that politics is not a motivating factor in the arrests and that the prisoners, political opponents or not, violated criminal code.
The arrests come in a year in which the number of anti-government protests has grown dramatically in Caracas, the capital, and other major cities. In the first eight months of this year, 2,079 demonstrations took place, up from 1,602 in 2008, according to a recent study by Provea, a human rights organization, and Public Space, a policy group that monitors free speech issues. Nearly 500 people were hurt and 440 were detained, the study said.
Venezuela's chief prosecutor, Luisa Ortega, warned at the end of August that such demonstrations were "in effect, criminal civil rebellion." She said protesters could be charged with crimes carrying prison terms of up to 24 years.
"People who disturb order and the peace to create instability of institutions, to destabilize the government or attack the democratic system, we are going to charge and try them," she told reporters.
Soon after that, Rivas learned how swift Venezuelan justice could be.
On Sept. 7, two weeks after participating in a demonstration, Rivas was arrested at his home. The main charge against him: inciting civil war.
"I didn't commit any crime. I am a young student who is not a coup plotter," he said in an interview. "I am not a CIA agent as they say I am."
Rivas's lawyers said the evidence against him was flimsy. A video made by a state television crew shows him shaking a police barricade during the protest and then telling a reporter that "we want to go to the Congress because we have a right." The tape was repeatedly shown on state television before Rivas was arrested, his lawyers said.
Rivas also became a target of Mario Silva, host of a state television show, "The Razor," in which Chávez foes are skewered. Silva aired photographs from Rivas's Facebook page and suggested that they demonstrated his culpability in generating unrest.
Among the photos was one of Rivas wearing a gas mask, which drew howls of laughter from Silva, and others of him with well-known opposition leaders. "Look, these are his friends!" Silva said. "This is in his Facebook. How horrible."
Alfredo Romero, who works at a Caracas law firm that represents Rivas and others detained by the government, said the steps taken against Rivas were meant to send a message to others in a budding student movement.
"The government is using Julio Rivas as an example to all the students: If you're a student and you go to a mass protest, you're going to go to prison," Romero said.
But Interior and Justice Minister Tareck El Aissami said Rivas's release Monday, after 22 days in jail, debunked "countless opposition lies" alleging government repression. "Like never before, we say that our government, particularly President Hugo Chávez, respects human rights," he told state media.
Though now free, Rivas still faces charges. But Tuesday, a day after his release, he joined 50 university students on a hunger strike to protest the jailings.
Government critics singled out for prosecution have little right of redress because the Chávez administration controls the Supreme Court and the lower courts, said Carlos Ayala, a Venezuelan constitutional and human rights lawyer who is president of the Andean Commission of Jurists.
"Venezuelan justice has been subservient to political intervention," Ayala said.
Calls to Ortega, the attorney general, were not returned. But Chávez has frequently characterized criticism of Venezuela's human rights credentials -- as well as accusations that he controls the courts -- as the fabrications of CIA-supported coup plotters.
Some of those who have been prosecuted, though, say the government shows little mercy.
Five years ago, three Caracas police commissioners were convicted on charges that they ordered the killings of pro-government protesters in 2002.
"The government needed to blame someone, but it did not look for who was really responsible," said Ivan Simonovis, one of the commissioners, who is serving a 30-year term.
The Due Process of Law Foundation, a Washington group that promotes judicial reform, last year concluded after a six-month study that Venezuela had violated the police officials' rights. The foundation also raised questions about the independence of the judges.
Simonovis said the only way out now is if the opposition wins a majority in Congress next year and names what he calls independent judges to the judiciary.
"For the moment," Simonovis said, "the president controls it all, and uses it like a weapon to make criminals of the opposition."
5 comentários:
Caro Professor Paulo,
Concordo, com reservas, com o fato da Venezuela ser considerada um país a margem daquilo que pode ser considerado como democracia. Contudo, vedar a entrada dela no Mercosul, não é fechar as portas para um mercado altamente lucrativo (decorrência da doença holandesa) para os produtos brasileiros? Ressalta-se que esse meu posicionamento é proveniente, justamente, daquilo que o Mercosul é: uma união de Países com fins econômicos.
Cordial abraço,
Jefferson
Meu caro Jefferson,
Dificil responder a sua pergunta, pois o que mais caracteriza a Venezuela, atualmente, é justamente a imprevisibilidade de posições do pais, em materia de comercio, investimentos, decisoes sobre grandes projetos, etc, sobretudo em funcao de que o pais já nao conta mais com uma burocracia tecnica e impessoal que possa tomar decisoes em bases estritamente racionais, ou com um setor privado que decide quanto ao curso de seus proprios negocios, com base em criterios de mercado. Tudo é decidido em funcao da vontade do presidente, o Lider Maximo.
Portanto, nao sabemos se o comercio entre o Brasil e a Venezuela -- que aumentou muito nos ultimos anos, em favor do Brasil, posto que o Lider Maximo conseguiu desmantelar o setor produtivo privado -- vai aumentar com o ingresso da Venezuela, ou se vai manter o seu ritmo normal, ditado pelas necessidades venezuelanas.
Se, por outro lado, houver um veto a entrada da Venezuela no Mercosul, tudo pode continuar como está agora, ou diminuir, em função de "retaliação"do Lider Maximo.
Tudo é extremamente incerto, como sempre ocorre nesse tipo de situação, em que decisoes que deveriam ser tomadas em sem merito proprio passam a depender dos humores de quem manda e desmanda no país.
O Mercosul deveria visar principalmente comercio, mas veja que esses fluxos tem sido reprimidos pela ação protecionista da Argentina, contra as regras do Mercosul e da propria OMC.
Uma situacao confusa, incerta e altamente suscetivel a essas mudancas de humores politicos...
Paulo Roberto de Almeida
Olá, eu comentei no outro blog, mas estou seguindo este porque percebi que é mais atual...
abraço.
Bem, Professor, acho saudável que o Senado discuta a sério alguma coisa - é melhor que nada, não? É bom, em si, que a cláusula democrática esteja na ordem do dia. E, como o próprio Professor já apontou anteriormente, defender que o Mercosul é união aduaneira economicamente motivada é um belo exercício de retórica.
Mas que a matéria alia um inglês escorregadio a um certo onguismo que seria imperdoável, digamos, em Roraima ou em Honduras, isso alia.
(Que ONGs são essas, por sinal? Já ouvimos falar de alguma? Que aconteceu com a HRW e a Transparency International?)
Glaucia,
No que se refere ao Senado, como a qualquer outro corpo politico, creio que uma distincao importante se impoe: ele pode ate discutir seriamente uma questao desse tipo, posto que convida pessoas de posicoes diferentes para expor suas posicoes e argumentos, a favor ou contra.
Mas, isso nao faz muita diferenca para o resultado final, posto que os senadores da base governista votarao como o que o governo quer, qualquer que tenham sido os argumentos de merito expostos nos debates preliminares, ao passo que os senadores da oposicao votarao de forma diferenciada: alguns de acordo com a sua consciencia e conclusoes pessoais retiradas dos debates, outros em funcao de interesses economicos concretos derivados de suas bases de apoio e circunstancias especificas de sua relacao com o tema.
Por exemplo, suponho que os senadores da regiao Norte, indepedentemente do que pensem em relacao ao caudilho venezuelano e da situacao politica naquele pais, votarao a favor da admissao da Venezuela, admitindo-se que pretendam preservar e ate aumentar os fluxos de comercio locais e bilaterais: qualquer que seja a situacao da democracia e dos direitos humanos na Venezuela, o comercio sempre vai trazer renda e riqueza para os envolvidos no negocio, e assim esses senadores votarao de acordo com os seus bolsos (ou os de seus eleitores).
Creio que isso deva ficar claro: interesses materiais, via de regra, falam mais alto do que principios genericos de carater politico.
Quanto ao Mercosul, creio que é o que menos importa nesse exercício todo, uma vez que suas regras vem sendo desrespeitadas um pouco em todas as partes e nao será a perfuracao da TEC pela Venezuela que vai agravar essa mesma perfuracao por todos os demais membros, inclusive pelo Brasil.
Quanto a violacao de normas fundamentais de seu funcionamento, basta ver o que acontece em direcao ao Sul: se o Brasil é tolerante em relacao às inumeras infracoes cometidas pela Argentina em relacao a normas fundamentais do Mercosul, nao por que ele se opor a essa mesma violacao no caso da Venezuela. Uma colcha de retalhos continua a ser uma colcha de retalhos, em qualquer direcao que se aponte, basta acrescentar mais alguns remendos para cima, que eles vao "combinar" perfeitamente com os remendos de baixo...
Quanto as ONGs, elas continuam sim, reais e atuantes e a Human Rights Watch acaba de lancar um relatorio devastador sobre a situacao na Venezuela: bem, o caudilho no poder a acusou de trabalhar para a CIA, o que é perfeitamente normal nessas circunstancias. Todos os ditadores fazem a mesma coisa...
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