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terça-feira, 13 de outubro de 2009

1422) Sobre viagens e visitas - um texto pessoal

Sobre Viagens e Visitas
Paulo Roberto de Almeida

Acabo de voltar de uma viagem que eu classificaria de acadêmica e turística, de aproximadamente dez dias na Europa, onde fiz o que mais gosto de fazer na vida: conviver com a cultura, comprar e ler bons livros, visitar museus e monumentos e espaços culturais, comer bem, conhecer novos lugares, falar com novas e diferentes pessoas, acompanhar as realidades locais pela leitura dos jornais e um pouco pela televisão, enfim, expandir meus horizontes e satisfazer minha sede de saber. A gente sempre gosta de visitar lugares que nos dão prazer, que contemplem nossas expectativas intelectuais e que representem um acréscimo de conhecimento e de contato com a diversidade. Dificilmente escolhemos lugares incômodos, sofrendo de graves problemas ou que nos choquem por algum aspecto desagradável: excesso de miséria, de violência, ausência de liberdade ou de condições dignas de vida.
Assim procurei fazer em toda a minha vida, metade da qual eu vivi no exterior, diga-se de passagem. Conheço praticamente cada canto da Europa, com duas únicas exceções: a Irlanda – por falta de oportunidade, o que lamento muito – e a Albânia – por falta de oportunidade, a despeito de ter vivido ao lado, na Iugoslávia – à qual mesmo que eu desejasse não poderia ter ido, porque lá vigorava, na época, um dos regimes stalinistas mais perversos e esquizofrênicos de que se tem notícia na história contemporânea. Hoje, com exceção de certas partes da África e da Ásia, creio que poderia viajar a quase todos os lugares do mundo, por simples curiosidade intelectual. São poucas as ditaduras comunistas remanescentes – apenas dois pontos isolados num mundo praticamente em fase de crescimento democrático – ainda que existam muitos regimes ditatoriais e vários países candidatos a autocracias detestáveis. Certos países não me atraem, justamente por essa sensação de opressão, de idiotice reinante, de repressão à informação e às liberdades mais elementares.
Da mesma forma como não gostaria de visitar certos lugares – ainda bem que são poucos – tampouco eu receberia em minha casa certos personagens detestáveis, facilmente identificáveis quando se dispõe de informações relativamente fiáveis sobre seu comportamento público e notório. Tenho certa alergia à estupidez, mas certas pessoas não têm culpa de serem estúpidas, seja porque não dispuseram da oportunidade de contar com uma boa educação, seja porque o ambiente em que viveram não contribuiu para que melhorassem a educação precária que tiveram. No mundo moderno, porém, as oportunidades para se informar abundam, se ouso dizer, e praticamente 99% de todo o conhecimento produzido pela humanidade desde dez mil anos, aproximadamente, se encontra hoje livremente disponível na internet. Ou seja, quem desejar se informar – e se formar – não pode reclamar da falta de oportunidades.
Mais do que alergia à estupidez, eu tenho verdadeira ojeriza à desonestidade intelectual, ou seja, aquelas pessoas que, conhecendo pelo menos uma parte da realidade, escolhem, por interesse próprio, por conveniência política ou por oportunismo dos mais rasteiros, defender idéias manifestamente equivocadas, apenas para satisfazer algum principio fundamentalista ao qual estão submetidas. Existem muitas pessoas desse tipo, algumas até em posição de mando em certos países. Não preciso dizer que eu nunca convidaria para a minha casa pessoas desse quilate, ou dessa falta de caráter, por exemplo. Não sei bem porque, mas nem por obrigação dita profissional eu conseguiria me relacionar com pessoas sem caráter, pessoas, por exemplo, que negam o holocausto, que incitam ao ódio, que pregam a intolerância, que disseminam cizânias e rancores. Não preciso de ninguém desse tipo em minha casa e não compreendo porque se deveria convidar alguém dessa estirpe para espalhar seu festival de bobagens e de impropriedades a partir de nossa casa.
Acredito, finalmente, que devemos ser seletivos, tanto em nossas viagens quanto em “nossas” visitas, ou melhor, nas pessoas que nos visitam. Viagens e visitas são feitas para nos enriquecer espiritualmente, independentemente dos retornos materiais que elas possam ter. Nada como preservar sua dignidade intelectual e o seu espírito sadio, do que conviver com pessoas que representam o melhor que a humanidade produziu, não com a escória da sociedade moderna.
Estas minhas considerações são eminentemente pessoais, obviamente, e não pretendem servir de lição a ninguém, tanto porque eu não tenho esse poder.

Brasília, 13 de outubro de 2009.
Paulo Roberto de Almeida

4 comentários:

Isabel disse...

Olá!
Conheço este blog praticamente desde seu início. Acho seus textos bastante interessantes, mas, entre uma visita minha e outra, há intervelos de tempo quase seculares (risos).
Admirando sua disciplina na atualização de seu blog, fiquei inspirada e resolvi criar meu próprio espaço. Obviamente, o seu está lá entre meus favoritos.
Grata,
Isabel Lopes. =)

Paulo Roberto de Almeida disse...

Grato pelos eu comentario Isabel. Voce só esqueceu de dizer qual é o seu blog.
Eu lhe desejo pleno sucesso no processo de interacao com o publico e os atos e fatos da vida politica e social.
Paulo Roberto de Almeida

Rafaelle disse...

Prezado dr. Paulo Roberto:

Gostaria apenas de cumprimentá-lo pelos textos excelentes, bem como pelas dicas valiosas àqueles que pretendem seguir a carreira diplomática. Acompanho seu blog com frequência e confesso sentir-me inspirada pelo seu conhecimento e cultura. Estou deixando uma carreira na Odontologia para correr atrás do concurso para o IrBr. Ainda que tenha um longo caminho a percorrer, é sempre motivador estar em contato com tão enriquecedoras informações...
Grata,
Rafaelle Kniess
Curitiba-PR

Paulo Henrique disse...

Caro Paulo Roberto,
Concordo com o seu comentário sobre a desonestidade intelectual. Entretanto, confesso que, pessoalmente, me sinto mais incomodado com a "preguiça" intelectual.
Não nego a existência de pessoas que realmente nasceram em situações socio-econômicas adversas e pouco propícias para um desenvolvimento intelectual de qualidade.
O que acho difícil entender é a ignorância como uma opção pessoal.
Mais do que isso, acredito ser deprimente a postura passiva e acomodada de pessoas que, quando encontram condições (principalmente financeiras) para o desenvolvimento de sua própria educação, optam por não o fazer.
Pior do que isso é se orgulhar de tal opção.