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segunda-feira, 10 de abril de 2023

Um debate espontâneo no programa Latitudes, do Antagonista e revista Crusoé - Visão Holística, Paulo Roberto de Almeida



O Brasil tem futuro? Um debate no programa Latitudes

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com; pralmeida@me.com)

Notas sobre um comentário feito no programa Latitudes 19.

  

No dia 1º de abril – e não era mentira – foi veiculado o programa Latitudes 19, gravado alguns dias antes, com os jornalistas Rogério Ortega e Duda Teixeira, como registrado nesta minha ficha de trabalho: 

4347. “Faz sentido o Brasil se aproximar de China e Rússia?”, Programa Latitudes n. 19, 1 abril 2023, 1h de conversa com os jornalistas Rogério Ortega e Duda Teixeira sobre as posições adotadas pela diplomacia petista em relação aos grandes temas da política internacional, como a invasão da Ucrânia e a retórica belicista da China (link: https://www.youtube.com/watch?v=3S2n8_pCtrw); divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/faz-sentido-o-brasil-se-aproximar-de.html). Relação de Publicados n. 1501.

 

Nos muitos comentários – a maior parte elogiosos – a essa entrevista, deparei-me com um longo comentário, abaixo transcrito, de autor desconhecido, que só fui ler na madrugada desta segunda-feira 10 de abril. Transcrevo a seguir, e depois formulo alguns poucos comentários pessoais, não sobre todos os pontos, pois o texto é realmente abrangente e instigante, mas sobre alguns deles, a começar, ou a terminar, pela pergunta do final do comentário: “Será que existirá Brasil daqui 200 anos?”

Esclareço desde já que não disponho de NENHUMA informação sobre esse autor, resguardado atrás desse nome provocador, “Visão Holístca”; digo apenas que o quadro que enfeita sua página no Facebook é de um pintor suíço, cuja enorme tela, uma vista de uma das majestosas montanhas suíças dos Alpes, creio já ter visto no museu de Berna, mas cujo nome me escapa; sua página não contém absolutamente nada, a não ser uma ilustração inicial que contém as seguintes palavras: “Só observando e opinando sobre coisas do mundo... Não pertenço a bolhas de realidade!!”

Vamos ao texto, portanto, antes de meus comentários: 

 



Visão Holística

há 1 dia (dia 8/04/2023)

 

“O período glorioso das nações latinas europeias acabou com a ascensão das nações anglo-saxãs, a revolução industrial foi o golpe de misericórdia. O Brasil teve a sua formação e evolução sob o guarda-chuva das nações latinas europeias (principalmente Portugal, mas também Espanha). Apesar de ser um gigante, sempre foi um gigante aquém do seu potencial (pelo menos, o Brasil se percebe assim). Desde o império, como se vê pelo comentário do embaixador, o Brasil esteve submetido à influência e vontade das nações anglo-saxãs, assim como Portugal, Espanha e Itália. Assim, o Brasil sempre se reconheceu como país ocidental, mas um país com papel menor, um primo pobre que é deixado meio de lado, esnobado pelos demais. O Brasil olha para os Estados Unidos com admiração e ressentimento ao mesmo tempo, por isso fica nessa posição meio ambígua em relação a ele. Na primeira metade do século XX, o Brasil tentou uma aproximação com os países fascistas, mas mudou de ideia ao ter navios brasileiros bombardeados. Acabou como país aliado, não por convicção democrática, mas por força dos acontecimentos. Depois da guerra, fez um longo debate se deveria se posicionar com país ocidental nas relações internacionais ou simplesmente com país neutro, optou pela neutralidade e se afastou dos grandes acontecimentos do século (durante a Guerra Fria sofreu as consequências da escolha pela neutralidade). Agora, no século XXI, permanece neutro numa situação análoga aquela do século XX, coloca-se novamente diante do Brasil a mesma necessidade de posicionamento e, mais uma vez, o Brasil busca aliança com regimes autoritários, tentando encontrar espaço para exibir sua suposta grandeza e obter reconhecimento. Provavelmente, mais uma vez, se alinhará ao Ocidente não por convicção, mas por força dos acontecimentos. Por que o Brasil tem que agir assim? Será que o Brasil acha que pode se colocar a altura dos Estados Unidos ou enfrentá-lo? Nem a Europa e Japão conseguiram, ambos aceitaram a posição que lhes restaram na história como aliados na defensa da liberdade e democracia, deixando aos Estados Unidos a parte suja do processo. No final, o que se conclui de tudo isso é que nossa atitude faz com que exista certa desconfiança em relação a nós, sem que isso nos traga qualquer benefício verdadeiro (o Brasil não consegue acordos de transferência de tecnologia com facilidade, por exemplo). O Brasil não é um país de muita confiança para o Ocidente, porque se apresenta como esse negócio meio estranho que não tem convicção, meio amoral e que vive com um pé em cada barco (sempre!). Será que existirá Brasil daqui 200 anos?

 

Retomo (PRA):

Permito-me, em primeiro lugar, agradecer ao distinto e misterioso comentarista a excelência de seus argumentos expostos no texto acima e postados na URL do programa. Digo que concordo com a maioria deles, em especial este aqui: “Na primeira metade do século XX, o Brasil tentou uma aproximação com os países fascistas, mas mudou de ideia ao ter navios brasileiros bombardeados. Acabou como país aliado, não por convicção democrática, mas por força dos acontecimentos.” Ou seja, o Estado Novo estaria muito bem com as ditaduras, se elas não ameaçassem o Brasil, como o fizeram, e talvez por isso acabamos nos “rendendo” à realidade: o peso dos EUA era bem maior e mais prometedor, mas sobretudo a partir da ação decisiva de Oswaldo Aranha (ex-embaixador em Washington, 1934-1937), como tive a oportunidade de expor em minhas introduções tópicas a várias partes desta obra que editei quando era diretor do IPRI-Funag, no Itamaraty: Sérgio Eduardo Moreira Lima; Paulo Roberto de Almeida; Rogério de Souza Farias (orgs.): Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro, Brasília, Funag, 2017, 2 volumes; disponíveis na Biblioteca digital da Funag: volume 1, 568 p.; ISBN: 978-85-7631-696-1; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=913; volume 2, 356 p.; ISBN: 978-85-7631-697-8; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=914.

Não sei se o Brasil pode ser chamado de “país neutro”, dependendo do que esse termo signifique ou represente para o comentarista. Tentamos nos inserir dentro da ordem internacional, em alguns momentos de maneira alinhada, em outros, os mais frequentes, em busca de uma autonomia difícil, pois que somos dependentes de capitais e investimentos estrangeiros, e também há que contar com nosso tradicional anticomunismo e o ainda mais renitente conservadorismo oligárquico. Nos poucos momentos em que fomos “desalinhados”, a coisa não andou bem: sofremos retaliações, até golpe de Estado, ou então perdemos oportunidade de obter vantagens na cooperação de mais alto nível, justamente por essa busca de autonomia que levou ao cerceamento de nosso acesso a tecnologias sensíveis, o que dependia de nossa aceitação da OCDE e das regras da interdependência econômica e política, o que nunca quisemos fazer. 

Na verdade, a Europa e o Japão só se alinharam porque foram vencidos na guerra e ocupados militarmente (aliás, a metade mais infeliz pela União Soviética, o que demorou mais 40 anos). Nós não fomos levados a isso, nem precisávamos, mas faltou visão de futuro a nossas elites medíocres e protecionistas (como sempre fomos). Agora, quanto à sua pergunta – “Será que existirá Brasil daqui 200 anos?” –, respondo que sim, mas com muito atraso ainda, sobretudo do ponto de vista social, pois que o escravismo e a miopia das elites impedem ou dificultam um avanço mais decisivo em direção do progresso econômico e social. Fico com a estrofe de Mário de Andrade, num poema curioso, de 1924, “O poeta come amendoim”, no qual ele afirma isto: “Progredir, progredimos um tiquinho / Que o progresso também é uma fatalidade”. Eis aí, temos pelo menos a fatalidade de progredir, mas dificilmente vamos ser inovadores se não qualificarmos educacionalmente a população mais pobre (claro, os ricos já estão integrados à modernidade).

Gostaria de continuar o debate, mas ele já está longo. Fica para outra vez.

 

Foi isso o que respondi ao Holístico interlocutor. Estou aberto ao debate...

 

PS.: O quadro se chama “Der Wanderer über dem Nebelmeer”, e o pintor é Caspar David Friedrich, sendo que a tela faz parte do acervo do Hamburger Kunsthalle, em Hamburgo.

 

==========

 

Aproveito para responder aqui, antes que se percam, duas perguntas do Chat, que foram feitas durante a emissão, e que eu não respondi por não ter tido acesso no momento, por não saber, e talvez também porque não houve tempo aos jornalistas de selecionarem algumas. Respondo agora, in fine, a estas perguntas mais desafiadoras:  


Denis Santossobre a guerra, pq ninguém fala q a culpa é da OTAN, pq pós seg guerra houve acordo de não expansão para o Leste.

PRA: Nunca houve acordo formal, apenas conversas entre dirigentes europeus e russos. Não foi a OTAN que se expandiu. Foram os países que pediram, desesperadamente, para ingressar na OTAN, pois já tinham sido invadidos e dominados pelo Império soviético. Ninguém entrou forçado, todos quiseram entrar, pois não gostavam do abraço do urso russo.

 

4C RIPPortugal foi neutro durante as grandes guerras, certo?

PRA: Não! Portugal foi neutro apenas na 2ª Guerra; na primeira foi participante e até enviou soldados nas frentes de combate do norte da França. Um eminente historiador, Jaime Cortesão, que depois fugiu da ditadura do Estado Novo de Salazar (que começou entre 1928 e 1932), esteve lutando em 1917, e foi gravemente ferido por gás alemão, se recuperou e voltou a brilhar em Portugal. Foi preso e se refugiou no Brasil, onde fez brilhante carreira de historiador, pesquisador e professor do Instituto Rio Branco no RJ. Foi autor de obra brilhante, como “Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madri” (1953).


 Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4359: 10 abril 2023.

segunda-feira, 3 de abril de 2023

The Real Story - Who will run the world in 20 years? - BBC Sounds

The Real Story - Who will run the world in 20 years?

BBC Sounds

“Muito boa análise da situação em que se encontram as relações entre as grandes potências. Os argumentos dos participantes me pareceram informativos, objetivos, ponderados e isentos de propaganda ostensiva, com exceção do chinês que representa uma entidade vinculada ao seu país. A BBC deu um exemplo do tipo de jornalismo que deu origem ao seu prestígio. 
Martin Wolf, referindo-se à invasão da Ucrânia mencionou a "estupidez humana", semelhante ao que ocorreu com a Primeira Guerra Mundial, dando também o exemplo de que a China, um país de 1.4 bilhão de habitantes, não tem necessidade de anexar os 22 milhões de taiwaneses. Simples e óbvio, mas nem por isso consensual. 
Uma analogia com a Segunda Guerra Mundial também é possível, pois ela foi desencadeada pelos três países do Eixo como uma guerra de conquista territorial que encontrou resistência das outras grandes potências. Até os slogans  se repetem: "Contemporaries and historians alike have explained the imperialism of interwar Japan, Italy, and Germany through the paradigm of a ‘NEW WORLD ORDER’ ("The fascist new-old order", Reto Hofmann, Cambridge University Press). Jubne 2017)”
Tomas Guggenheim 



The Real Story - Who will run the world in 20 years? - BBC Sounds


Who will run the world in 20 years?

At the end of a friendly meeting in Moscow, President Xi of China told President Putin of Russia that they are driving changes in the world the likes of which have not been seen for a century. Meanwhile this week President Biden kicked off a Summit for Democracy with $690m funding pledge to democracies all over the world and the European Commission president, Ursula von der Leyen, called on Europe to reassess its diplomatic and economic relations with China before a visit to Beijing next week. So what changes are President Xi talking about? Who will be running the world in 20 years time? Is conflict between rival powers inevitable? And is the model of western liberal democracy in decline? Owen Bennett-Jones is joined by: Evelyn Farkas - an American national security advisor, author, and foreign policy analyst. She is the current Executive Director of the McCain Institute, a nonprofit organisation focused on democracy, human rights, and leadership. Evelyn served as Deputy Assistant Secretary of Defense for Russia, Ukraine, and Eurasia under President Obama Martin Wolf - chief economics commentator at the Financial Times and author of The Crisis of Democratic Capitalism Professor Steve Tsang - political scientist and historian and Director of the China Institute at the SOAS University of London Also featuring: Henry Wang - founder and director of the Centre for China and Globalisation, a think tank with links to the Chinese Communist Party Nathalie Tocci - director of the Istituto Affari Internazionali and an honorary professor at the University of Tübingen Photo: Russia's Putin holds talks with China's Xi in the Kremlin in Moscow on March 21, 2023 / Credit: Reuters Produced by Rumella Dasgupta and Pandita Lorenz 


sábado, 8 de outubro de 2022

Um debate sobre as relações, sempre contraditórias, entre capitalismo e democracia - Tomas Guggenheim, Paulo Roberto de Almeida

 Parti da seguinte argumentação do colega e amigo Tomas Guggenheim, sobre a base de um artigo do Fareed Zakaria sobre as frustrações pelo fato de a China não se ter democratizado a partir de sua caminhada para a economia de mercado: 

Em 8 de out. de 2022, à(s) 10:41, Tomas Guggenheim escreveu:

Muito ilustrativo. Na fase de otimismo após o fim do império soviético, difundiu-se a versão de que a China se tornaria uma democracia com o avanço do seu setor privado e isso justificou até aprovar a classificação do país como "economia de mercado" na OMC, como se estivessem apenas adiantando uma realidade que se imporia "inevitavelmente".
Mas todos os líderes políticos, todos os interessados em política, história e até a torcida do Flamengo sabiam que o capitalismo é essencial para a preservação da democracia, mas a recíproca nunca foi verdadeira, ainda mais quando o capitalismo de estado domina os setores estratégicos da economia.
Não havia ilusão, apenas uma expectativa, que foi preservada nas manifestações dos dirigentes, grande mídia, lideres de opinião, etc porque crescia exponencialmente a terceirização, o off-shoring e a ânsia irrefreável de ter acesso ao mercado interno chinês - e são raros os que criticam um consenso que reflete interesses econômicos (e políticos) tão amplos, quase universais, se incluirmos os interesses por exportação de commodities e financiamentos dos países em desenvolvimento.
Agora, com os efeitos da COVID sobre as "cadeias de valor", a política crescentemente agressiva de Xi e a caracterização da China como uma ameaça (econômica, tecnológica e militar) aos Estados Unidos, tornou-se corrente reconhecer publicamente os riscos e inconvenientes de uma dependência excessiva daquele país e o discurso dominante mudou em consequência. 
 

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Comentário PRA: 

Os paradoxos da economia de mercado e as ambiguidades das relações entre capitalismo e democracia podem desafiar os argumentos dos melhores analistas. 

Nenhum é absolutamente condicional do outro, mas é um fato que economias não capitalistas e sistemas estatizados são pouco propensos à uma democracia de mercado, e portanto mais propensos a sistemas autoritários, quando não ditatoriais.
Em primeiro lugar é preciso distinguir entre economias de mercado e capitalismo, que é apenas uma de suas muitas formas, nem sempre a mais frequente. Capitalismo é apenas um forma de organizar a produção em massa, mas economias de mercado podem ter diversas outras formas. 
Vamos ver concretamente as coisas e nem preciso me referir ao livreto do Friedman de 1962, Capitalism and Freedom, no qual ele coloca que o capitalismo é uma condição necessária, mas não suficiente para uma democracia. Tem muitos senões entre um e outro.
A China é bem mais uma economia de mercado hoje do que jamais foi no passado, mas NUNCA foi uma democracia. Saiu de um império centralizado (com economia de mercado), para o caos da República, e depois mergulhou na guerra civil e no maoismo demencial, que nem criou um socialismo puro no modelo do Gosplan soviético. Pode-se dizer que os 70 anos de leninismo na Rússia realmente abalaram as bases da sociedade russa, fazendo a ficar muito pior do que sob o despotismo czarista, que estava industrializando a Rússia com base em fundamentos de mercado. Houve uma destruição de instituições de mercado, numa nação que tampouco tinha sido democrática, salvo aquilo que Weber chamou de “democracia de fachada” entre março e outubro de 1917.
Mas a China só teve uns 30 anos de maoismo demencial, que apenas desmantelou o que havia de economia natural e de mercado no país, mas conseguiu manter um sistema de governança leninista muito mais eficiente do que  o bolchevismo, pois que baseado num novo tipo de mandarinato, o do PCC. 
Em 2001, a China foi admitida no Gatt-OMC, mas tinha um prazo de 15 anos para provar que poderia ser uma economia de mercado, o que ela EFETIVAMENTE É, mas sob o controle do mesmo partido leninista-mandarinesco.
Em 2002, o G7 de Kananaskis reconheceu a Rússia (pós-leninista) como economia de mercado, apenas por razões políticas, sendo que a Rússia era muito menos de mercado do que a China leninista-capitalista. A Rússia só ingressou na OMC em 2015, e a China, que deveria ser admitida como economia de mercado em 2016 jamais o foi, apenas por causa de seu regime político, não pela falta de capitalismo.
Sintetizando: a China é um capitalismo com características chinesas – isto é, despotismo oriental, que atualmente é o partido leninista-meritocrático – e a Rússia é um crony-capitalism e uma cleptocracia. 
Independentemente dessas considerações baseadas em exemplos práticos, não cabe a acadêmicos teorizarem sobre aquelas relações apenas com base em suposições. Eu, por exemplo, considero o Brasil um país quase fascista no controle estatal não só da economia de mercado mas sobre a vida das pessoas. 
Mas, o Brasil vai ter um governo fascista se o Bozo ganhar? Não acredito nisso. Apenas terá um governo de direita, ou de extrema-direita, como muitos outros países, que são democracias de mercado.
Apenas acho que a nossa democracia é de baixíssima qualidade e nosso capitalismo é altamente controlado pelo Estado.
Ambiguidades e paradoxos, como disse ao início.
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Paulo R. de Almeida

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Integrar para Crescer: Desafios e Propostas - CINDES (1/09, 17h30)

Integrar para Crescer: Desafios e Propostas

CINDES

Thursday, 01 September, 17:30 - 19:00 (GMT-03)

Nem todos os países que se abriram ao comércio se desenvolveram, mas todos os países que se desenvolveram o fizeram com uma significativa integração comercial ao resto do mundo.
As transformações climáticas e tecnológicas e novas incertezas geopolíticas fazem da reinserção internacional da economia brasileira, especialmente em sua dimensão comercial, um desafio prioritário de política pública.

Essas constatações estão na base do diagnóstico e das propostas formuladas pelo Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (CINDES) e reunidas no documento “Integrar para Crescer: uma proposta de liberalização comercial”, elaborado para subsidiar discussões do período pré-eleitoral à posse do novo governo. 

Neste webinar, o documento será apresentado e submetido aos comentários de dois economistas e um diplomata com experiência e conhecimento no tema.

Realização: Fundação FHC, CINDES e CEBRI. 

Inscrever-se: https://rd.fundacaofhc.org.br/integrar-para-crescer-desafios-e-propostas

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Um debate sobre a política externa do lulopetismo diplomático - Juarez Q. Campos e Paulo Roberto de Almeida

Leio e releio, tanto a postagem de Juarez Q. Campos quanto os comentários dos leitores, e encontro a sociedade tão dividida em matéria de política externa, quanto em política doméstica de maneira geral, ou seja, existem os esquerdistas satisfeitos com a gestão Lula-Amorim-Samuel-MAG na política externa, quanto os opositores, que acham que eles fizeram uma política externa equivocada, tingida do mesmo antiamericanismo típico dos anos 1960 que atinge a esquerda latino-americana de maneira geral. Essa PEI (política externa independente, que Amorim tentava emular, pois que admitido na carreira diplomática em sua curta vigência, nos primeiros anos dos anos 1960) trouxe de fato prestígio ao Brasil, ao projetar o país no mundo, como nunca antes, com o pirotécnico Lula viajando de um lado a outro, em todos os continentes e em contato com gregos e goianos, ou seja, amigos e inimigos do chamado Ocidente, mas minha questão básica é esta: ainda que ela tenha elevado o padrão de respeito pelo Brasil na comunidade internacional, gostaria de saber em que medida ela conseguiu melhorar, DE FATO, o padrão de VIDA dos brasileiros no próprio país. A questão é esta: a "PEI" de Lula e Amorim tornou o Brasil e os brasileiros mais ricos e mais avançados culturalmente, cientificamente, materialmente? Esta é a prova do pudim. 

Da postagem de Juarez Q. Campos: 

Favoritos 22 h 22 h

"Sempre achei o Celso Amorim fraco e o circo mambembe que fez com o Samuel Pinheiro Guimarães produziu dentre outras pérolas um dos momentos mais vexaminosos da política externa que pagou o mico de colocar Lula, nosso Babalu, para "mediar" o conflito entre o Iran e as potências nucleares.

Com razão, um diplomata israelense declarou há algum tempo que "o Brasil é um gigante econômico e cultural, mas continua a ser um anão diplomático"

Claro que em terra de cego quem tem um olho é rei, os caolhos petistas brilham quando comparados com os anaeróbios Ernesto Araújo e Dudu Bolsonaro, nosso "quase" embaixador em Washington. 

Mas vamos lá, Celso Amorim que tem sido o conselheiro do Lula para as questões de política externa se reuniu com um grupo de diplomatas europeus para apresentar o que seriam as linhas gerais da política externa de um futuro governo petista.

Uma das questões debatidas foi o conflito Rússia-Ucrânia, lembrando que o Lulão em entrevista para a revista Time mandou a pérola, "que o líder ucraniano era tão responsável pela situação quanto Vladimir Putin".

Na reunião, Amorim sugeriu que um papel mediador do conflito poderia ser realizado pela a China do mesmo Xi que anunciou uma "parceria sem limites" com a Rússia. É só imaginar o Biden e o Macron pedindo ao imperador chinês para arbitrar a guerra.

Os desafios da política externa serão imensos, vai ter que surfar entre o mundo dividido por uma guerra comercial entre USA e China, um conflito militar entre a OTAN e a Rússia e uma América Latina que afunda na irrelevância e no atraso. E recuperar quatro anos de trevas bolsonaristas.

Celsinho já foi chanceler, acabou de escrever um livro encalhado, já teve um filho e poderia se dedicar a plantar uma árvore. A fila tem que andar.

A natureza agradeceria, o país também."

Comentários: 

Ser Leo

Era um ministro israelense da direita irritado com a aproximação do Brasil com os árabes e palestinos. Muito mais gente conhece o Amorim do que esse israelense despeitado, cujo nome não ficará na Hiatoria.
O acordo tentado com o Irã teria impedido o país de acumular urânio utilizável para bombas, mas Hillary Clinton estava maianinteressada em atrair China e Rússia para sanções aos iranianos, o que foi obtido, gerou um acordo e hoje temos o Irã com urânio suficiente para fazer umas bombinhas.
Raras vezes o Brasil foi tão respeitado e tão solicitado a fazer parte de articulações internacionais como na gestão Amorim, de quem discordo em muitos pontos e a quem respeito muito pela alta qualidade de seu conhecimento diplomático.

Emiliano Aquino
Achei ótimo seu texto, bem humorado. Ri, como se deve. Mas acho que não é tolice dizer que o patrão econômico da Rússia nuclear deve ser chamado para uma saída diplomática que interrompa a destruição e o massacre. Fora disso, seria a desejável, mas absolutamente improvável, revolução proletária contra os dois lados beligerantes. Ah, considerando que por trás da Rússia tem a China, não é tolice também indicar - o que é público - que por trás de Zelensky estão os EUA, agora secundados pela UE. E sim, Zelensky também é responsável por essa guerra.

Domingos Miranda
O Brasil pode ser um anão da diplomacia mas é melhor que ser a bactéria do Oriente Médio que só infecta as relações entre os países.

Marco Magalhaes
Por "coincidência" um discurso afinado com o de López Obrador no México, o de Cristina na Argentina, o de Maduro na Venezuela, o de Díaz-Canel em Cuba etc. Acho mais benéfica para o país a política pragmática defendida por Sérgio Amaral.

Cavalcante Washington

O viralatismo apátrida geralmente costuma ficar passando recibo mesmo quando aqueles que pensam de forma altiva e soberana desferem elegante e inteligentemente algumas classudas 'cotoveladas nas gengivas' dos decadentes que ainda vêem-se como donos do mundo. Israel nada mais é do que um enclave, cão-de-guarda ou ponta-de-lança dos EUA no Oriente Médio. É até patética essa exaltação ao anglo-sionismo dos wasp... Pra bons entendedores, dá nojo 🤐.
Talvez estejas entre aqueles que certamente prefiram certa 'diplomacia' daqueles 'capachos de fino embuste' que se submetiam a revistas humilhantes tirando os sapatos em aeroportos de sua madrasta pátria e que posavam para as fotografias como os 'sorridentes poodles do Clinton' - que quase montou na cacunda dum embasbacadíssimo FHC - lembras não 🤬🤮?!
Na boa, hoje tiraste o dia pra aporrinhar.

sábado, 21 de maio de 2022

Guerra na Ucrânia: debate no Mackenzie - Rubens Barbosa, Paulo Roberto de Almeida, Juliano Ferreira

https://www.mackenzie.br/noticias/artigo/n/a/i/guerra-na-ucrania-nao-vejo-perspectivas-de-paz-avaliam-especialistas 

Guerra na Ucrânia: “não vejo perspectivas de paz”, avalia especialista

Em debate na Universidade Mackenzie, autoridades rememoram história e avaliam impactos do conflito

Mackenzie, 16.05.202219h32 


Guerra da Ucrânia e implicações para o Brasil foi o tema da palestra de encerramento, na noite de 13 de maio, promovida pelo Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), em parceria com a Empresa Junior Mackenzie de Consultoria, por meio do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica (CMLE), para a XX Semana do CCSA. O debate contou com a participação do diplomata e professor, Paulo Roberto Almeida; do economista e antigo mackenzista Juliano Ferreira; do embaixador Rubens Barbosa; e moderação do professor coordenador do CMLE, Vladimir Fernandes Maciel.

Para um auditório Ruy Barbosa lotado, no campus Higienópolis (SP), Maciel destacou que, para além da importância e urgência do tema, a oportunidade de realização do debate com figuras tão importantes tinha muitos significados. “Em primeiro lugar por ser uma sessão comemorativa ao aniversário de seis anos do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica, que celebramos no encerramento da XX Semana do CCSA e que ocorre no aniversário de 70 anos da UPM”, afirma.

Sanções

O professor e diplomata Almeida, que participou de forma on-line do evento, de Brasília (DF), tratou a respeito das sanções econômicas que acometem a área do conflito entre Rússia e Ucrânia e a posição do Brasil neste quadro. “Podemos dizer que um dos maiores cerceamentos à liberdade econômica é justamente a guerra. Desde a Liga das Nações, tenta-se interromper o uso da força militar entre os países, utilizando as sanções econômicas, que são outra maneira de cercear a liberdade, uma arma às vezes tida como mais forte que a guerra”, diz.

Para Almeida, a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) foi uma das maiores mudanças geopolíticas do século XX, mas foi positiva, “pois era um dos impérios mais opressores da humanidade”, coloca ele.

O diplomata lembra que, apesar da guerra ser uma situação em que todas as nações perdem em vários sentidos, a inflação de combustíveis e de outras commodities, por conta dela beneficiam, em partes, a própria Rússia, pela dominação na área de exportação de combustíveis, em especial petróleo e gás.

“A China ainda tem muitos interesses não declarados e isso pode mudar todo o quadro, este é um país que não fez sanções à Rússia. Num futuro próximo, vejo a Ucrânia talvez como membro da União Europeia (UE), mas não necessariamente da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)”, reflete ele.

Almeida realça, acima de tudo, que o Brasil de hoje parece “ter se esquecido de tudo que defende dentro do direito internacional. Esquecemos que, além da expansão da OTAN, umas das justificativas da guerra pela Rússia, há a decisão das nações. E o Brasil sempre viu a igualdade soberana dos Estados, ou seja, há liberdade de decisão e responsabilidade por isso”.

Atualmente, de acordo com ele, mais de 35 países declararam sanções à Rússia, mas elas não estão funcionando com a pressão que deveriam porque muitos países ainda dependem do que aquele país produz (leia o artigo na íntegra produzido pelo especialista).

leia o artigo na íntegra produzido pelo especialista


As implicações econômicas

Já o economista Juliano Ferreira, macro estrategista da filial brasileira da corretora inglesa BGC Partners, conta que os impactos, nos modelos econômicos simulados, de guerras de cerca de cinco anos têm consequências fortes mesmo em nações não envolvidas diretamente no conflito. “Para dizer o mínimo, há queda do Produto Interno Bruto (PIB) das nações, queda de consumo e de salário”.

Globalmente falando, Ferreira avalia que por Rússia e Ucrânia corresponderem, juntas, a cerca de 2% do PIB mundial, o impacto direto é baixo, mas os indiretos são mais fortes. “A zona do euro começa a se recuperar mais devagar, em especial depois da covid-19. Há menos exportação para os países da região em conflito e um choque negativo de termos de troca para a Europa, pelo encarecimento dos produtos provenientes da Rússia”, diz.

Dessa forma, avalia o economista, as sanções não afetam tanto a Rússia por conta da exportação de petróleo e gás natural, pois ela segue recebendo em dólares.

“O problema imediato se dá mais na Europa, que precisa gastar mais para comprar energia russa. Só para se ter uma ideia, entre petróleo e gás, a Alemanha, por exemplo, importa algo em torno de 17% de sua matriz energética da Rússia”, avalia ele.

No Brasil, por sermos grande produtores de commodities, não deveremos ter insegurança alimentar, de acordo com Ferreira, mas haverá subida de juros e queda do crédito, inclusive o internacional. “Todo mundo crescerá mais devagar”.

Para o nosso país, os choques são positivos, de início, por conta da subida de preço das exportações. “Apesar disso, a inflação de alimentação e combustível, por mais que traga algum ganho de receita fiscal, traz também a provável necessidade de subsídios, que são riscos para crescimento”, enfatiza o economista.

Ferreira ainda pontua duas consequências de longo prazo de todo esse movimento da guerra: a possibilidade de haver um movimento de desglobalização e regionalização de cadeias de suprimentos; e a possibilidade das commodoties poderem voltar a ser a moeda de troca do mundo no lugar do dólar, o que mexeria bastante no cenário internacional.


Conflito com mais de 30 anos

O embaixador Rubens Barbosa trouxe uma recapitulação histórica para que os presentes entendessem o desencadear do conflito entre Rússia e Ucrânia, demonstrando que são mais de três décadas de movimento que culminam nessa guerra. “A ação da Rússia é uma verdadeira marcha da insensatez que pode desencadear até um confronto nuclear com efeitos extraterritoriais. É algo que não interessa a ninguém e todos seguem persistindo no esforço militar”, assinala.

As narrativas, segundo Barbosa, são as mais diversas, a da Rússia é de defesa de seu interesse, "questão de segurança nacional", pois o país já foi atacado antes por este corredor geográfico, por Hitler e até Napoleão. “Com vistas a deter a expansão da OTAN, a Rússia quer desmilitarizar a Ucrânia”, afirma.

A do lado ocidental, coloca ele, é contrária, dizendo ser uma ação expansionista da Rússia rumo aos países bálticos. “Baseada no autoritarismo do presidente Putin, com vistas à criação do império soviético”, adiciona.

O objetivo declarado é impedir a entrada da Ucrânia na OTAN e a expansão da Organização de forma geral. Segundo Barbosa, Trump (EUA) deixou a OTAN mais fraca, mas o presidente Biden a fortaleceu. “A ação de Putin, na verdade, tem fortalecido a OTAN em vez de diminuir sua expansão, os investimentos nela têm aumentado”, destaca o embaixador, trazendo um ponto de atenção: o forte rearmamento da Alemanha, inclusive fornecendo armas a outros países.

Barbosa lembra que a ação da Rússia é totalmente contrária às declarações de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) e que, mesmo com os interesses do país, essa agressão não se justifica com a violência que foi feita.

Recapitulando os fatos, Barbosa lembra que, com a dissolução da URSS, houve conversas em 1991 entre James Baker, secretário de Estado dos EUA na época; representante da Alemanha; e o presidente russo Gorbatchov, garantindo que não haveria expansão da OTAN em direção à Rússia.

Em 1994, na crise dos balcãs, os EUA atacaram a Iugoslávia, que saía da situação de satélite da URSS. Em 1997, há uma virada, quando a Polônia e a Tchecoslováquia pediram para entrar na OTAN. “Na época, os especialistas já diziam que a Rússia não iria permitir essa expansão e que seria um erro de política internacional se os EUA apoiassem esse movimento”, rememora Barbosa.

Em 2002, os EUA publicam a estratégia de segurança nacional onde consta a expansão da OTAN. Em 2007, na conferência de Munique, Putin reage, condenando o unilateralismo dos EUA nas grades decisões globais. A seguir, com anúncio da Geórgia querendo entrar na OTAN, a Rússia invadiu dois territórios de lá e permanece até hoje na região.

Além disso, em fevereiro de 2014, com apoio dos EUA, o presidente ucraniano de origem russa, Viktor Yanukovitch, é deposto, aumentando as tensões. A Rússia anexa, a seguir, a Crimeia, que era da Ucrânia, e decide proteger a população russa que vive naquele país. Em 2021, houve treinamento militar dos EUA à Ucrânia, com pedido formal desta última para entrar na União Europeia e na OTAN.

“Esses fatos mostram essa marcha da insensatez da Rússia e do ocidente, onde ambos caminharam para algo que não é desejado por ninguém, ao custo da morte e da violência. Algo que começa com a expansão da OTAN e segue com as invasões da Rússia de forma ilegal. A guerra, enfim, se torna uma disputa de forças entre Rússia e EUA”, pontua o embaixador.

“A curto prazo, não enxergo perspectiva ou tentativas de acordo de paz entre os países para encerrar o conflito”, finaliza Barbosa.


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