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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Cuba: da vanguarda na AL, e no mundo, para o atraso absoluto sob a ditadura castrista - Marcelo Aleixo e Gustavo Bezerra

 Reproduzo as glosas feitas sobre Cuba por Marcelo Aleixo, que agradeceu a deferência. Ele as fez com base apenas em dados factuais. Cuba tinha desigualdade de renda? Teve ditadura? Sim, como muitos outros paises na América Latina, mas estava muito à frente dis demais pauses, e não apenas devido à “dominação imperialista” americana. Muito tinha sido feito pelos próprios cubanos. O socialismo simplesmente estrangulou o desenvolvimento cubano e levou a ilha para o mais abjeto subdesenvolvimento. 

Agreguei igualmente as observações de Gustavo Bezerra, pois elas são absolutamente relevantes sobre a realidade cubana antes que o castrismo destruísse o país. PRA


GLOSAS POR MARCELO ALEIXO:

Eu citei alguns dados de Cuba antes de 1959, e de fato era um país mais industrializado do que hoje. Busquei mais informações sobre a história econômica cubana em um texto do Dr Mario Guerreiro, professor da UFRJ, para ilustrar melhor o que era Cuba antes da revolução: foi a primeira nação da América Latina (AL) que utilizou máquinas e barcos à vapor, isso em 1829, foi a terceira a ter uma ferrovia, em 1937, a primeira a usar éter medicinal em 1847. A primeira demonstração mundial de uma indústria elétrica foi em Hanana no ano de 1877, mesma cidade onde em 1900 viu o primeiro bonde elétrico e rodou o primeiro automóvel da AL. Em 1881 um cubano foi o primeiro médico do mundo a descobrir o tratamento para febre amarela, e em 1889 Cuba instalou o primeiro sistema elétrico de iluminação pública de toda AL. Havana também foi onde teve a primeirta ligação telefônica direta, sem a necessidade do apoio de uma telefonista central, isso em 1906. Um ano depois esta cidade teve o primeiro aparelho de raio-x da AL. O primeiro voo da AL foi em 19/05/1913, realizado pelos cubanos Agustin Parla e Rosillo Domingo, entre Cuba e Key West. Em 1954, Cuba tinha uma cabeça de gado por pessoa. O país ocupava a terceira posição na AL no consumo de carne per capita, perdendo apenas para Uruguai e Argentina. O Hotel Riviera em Havana foi o primeiro do mundo a ter ar-condicionado, em 1951. O Focsa em Havana foi o primeiro prédio do mundo construído em concreto armado, em 1952. Em 1958, Cuba foi o país da AL com maior número de automóveis: 160.000, ou 1 para cada 38 habitantes, e o que tinha mais eletrodomésticos. O país com o maior número de km de ferrovias por sua área territorial e o segundo no número total de aparelhos de rádio. Em 1958, apesar da sua pequena extensão e com apenas 6,5 milhões de habitantes, Cuba era a 29ª economia do mundo. A produtividade da cana de açúcar era de 55 ton/ha, mais do que o dobro da produtividade no Brasil, que era de 22 ton/ha. A produtividade no Brasil atualmente é cerca de 70 ton/ha, mais do que o dobro da produtividade de Cuba, ceca de 30 ton/ha. Em 1959 a renda per capita em Cuba era a segunda maior da AL, hoje é a segunda menor.

A ilha mostrava evolução no pensamento, na cultura e na liberdade das pessoas em relação aos outros países. Cuba foi uma das primeiras nações a se preocupar com o trato de animais, abolindo as touradas ainda no século XVIII. O primeiro país da AL a conceder o divórcio a casais em conflito, em 1918. O primeiro da AL a ganhar um campeonato mundial de xadrez foi o cubano José Raúl Capablanca, o primeiro campeão mundial de xadrez nascido em um país subdesenvolvido, sendo que ele venceu todos os campeonatos mundiais de 1921-1927. Cuba foi o segundo país no mundo a abrir uma estação de rádio e o primeiro país do mundo a transmitir um concerto de música e apresentar uma notícia pelo rádio, em 1922. Esther Perea de la Torre foi a primeira locutora de rádio do mundo, uma cubana. Em 1928 havia 61 estações de rádio em Cuba, ocupando o quarto lugar no mundo, perdendo apenas para os EUA, Canadá e União Soviética. Cuba foi o primeiro no mundo em número de estações por população e área territorial. Cuba decretou, pela primeira vez na AL, a jornada de trabalho de 8 horas, o salário mínimo e a autonomia universitária, isso em 1937. Em 1940 foi o primeiro país da AL a ter um presidente de pele negra, eleito por sufrágio universal, por maioria absoluta, isso quando a maioria da população era branca, e 68 anos antes disso ocorrer nos EUA. Em 1940 Cuba adotou a mais avançada Constituição de todas as Constituições do mundo. Foi o primeiro país da AL a conceder o direito de voto às mulheres, igualdade de direitos entre os sexos e etnias, bem como o direito das mulheres trabalharem, e foi onde surgiu o primeiro movimento feminista da AL, 36 anos antes da Espanha, esta que só concedeu às mulheres espanholas o direito de voto, a posse de seus filhos, e o poder tirar passaporte e ter o direito de abrir uma conta bancária sem autorização do marido, em 1976. Ernesto Lecuona foi um cubano que se tornou o primeiro diretor musical latino-americano de uma produção cinematográfica mundial e também o primeiro a receber indicação para o Oscar norte-americano, isso em 1942. Cuba foi o segundo país do mundo a emitir uma transmissão pela TV, em 1950. Era comum estrelas de TV de toda a América irem para havana, onde havia mais chances que em seus países para atuarem em canais de televisão. Em 1958, Cuba foi o segundo país do mundo a emitir uma transmissão de TV a cores. Em 1959, Havana era a cidade do mundo com o maior número de salas de cinema: 358, mais que Nova York e que Paris, segundo e terceiro neste ranking, respectivamente.

Em 1955 Cuba foi o segundo país na AL com a menor taxa de mortalidade infantil: 33,4 por mil nascimentos. Em 1956 a ONU reconheceu Cuba como o segundo país na AL com as menores taxas de analfabetismo, apenas 23,6%. As taxas do Haiti eram de 90%; e Espanha, El Salvador, Bolívia, Venezuela, Brasil, Peru, Guatemala e República Dominicana, 50%. Em 1957 a ONU reconheceu Cuba como o melhor país da AL em número de médicos per capita, 1 para 957 habitantes, com o maior percentual de casas com energia elétrica, depois do Uruguai; e com o maior número de calorias 2870 ingeridas per capita.

Mas, Cuba não apresentava só números e informações positivas, e tinha seus problemas como todos os países do mundo. Lá havia muita pobreza, que era dominante na área agrícola de produção do seu famoso tabaco e da cana-de-açucar. O que seria de Cuba hoje sem a revolução nós não sabemos, mas os números mostram que houve grande piora nas condições socioeconômicas da ilha.


REGISTRO DE GUSTAVO BEZERRA: 

Outros fatos geralmente esquecidos pelos adoradores da ditadura cubana: em 1958, Cuba tinha um nível de desenvolvimento comparável ao da Espanha, sua antiga metrópole, e quase igual ao da Itália. A ilha importava migrantes da Europa, ao invés de exportar refugiados, como é hoje. Em nível de desenvolvimento econômico e social, estava atrás apenas, na AL, de Uruguai e Venezuela (outro país que foi destruído pelo delírio socialista) e na frente de Coreia do Sul e Cingapura, países em que poderia ter se transformado, se não fosse o totalitarismo castrista. É importante frisar também que Cuba, de 1940 a 1952, foi uma democracia, assim como a ex-Tchecoslováquia antes do comunismo. Inclusive, o 1o governo de Fulgêncio Batista promulgou uma Constituição democrática (a de 1940) e tinha 2 ministros comunistas (antes de os comunistas se bandearem para o lado da ditadura dos Castro). Castro, aliás, enganou a todos, inclusive os EUA, que acreditaram no começo, ingenuamente, que ele era um líder democrata e até mesmo anticomunista. Tudo isso foi convenientemente "apagado" da história oficial do país pelo regime totalitário e seus propagandistas.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Cuba: a falácia do embargo como produtor da miséria da ilha: Paulo Roberto de Almeida e Marcelo Aleixo

 Uma postagem feita na minha página no Facebook sobre a penúria de Cuba em matéria petrolífera – essencial para a geração de energia e para transportes –, agora reduzida apenas a pequenos fornecimentos do México, recebeu alguns comentários nas antípodas. Um dos grandes comentários, merece ser promovido abaixo, por ser significativo dos problemas estruturais cubanos, que NÃO TÊM NADA a ver com o embargo americano.

Cumprimento seu autor, Marcelo Aleixo, que conhece o que comenta. Acrescento apenas uma coisa: dizer que Cuba é "membro da OMC desde 1995" não traduz toda a realidade. Cuba é membro original do GATT-1947, abrigou a famosa conferência da ONU sobre comércio, emprego e desenvolvimento, em 1947-48 (que criou a primeira Organização Internacional do Comércio, o terceiro pé de Bretton Woods, mas que não foi aprovada na época) e continuou no GATT nas décadas seguintes, mesmo se tornando comunista em 1961.

Ou seja, o embargo é uma piada, pois Cuba pode comerciais com TODOS os demais membros da ONU, do GATT e da OMC, que SEMPRE VOTAM CONTRA o embargo, todos eles, pois todo mundo é contra a aplicação extra-nacional e unilateral de leis inernas. Cuba é POBRE pelo socialismo, não por causa do embargo, e só sobreviveu graças ao "mensalão" soviético, e depois graças aos petrodólares chavistas.

PRA.

This year Cuba’s oil imports have collapsed.
Source: Economist



Marcelo Aleixo:
É incrível a imaginação (ou a falta dela) de alguns para tentar justificar o injustificável, e buscam com ilógica achar um culpado dos problemas cubanos. Vemos isso quando resumem os problemas de Cuba ao embargo.
Antes da revolução de 1959, Cuba era um dos países mais ricos da América latina, e quando Fidel morreu era um dos mais pobres, com uma taxa de pobreza de 90%. Antes, estava em quinto no ranking de renda per capita, terceiro na expectativa de vida, com taxa de alfabetização de 76%, a quarta mais alta da América Latina, sendo que o Brasil só foi alcançar esse índice em 1980. Cuba ocupava a 11ª posição no mundo em número de médicos per capita. Hoje a ilha tem que importar cerca de 75% da comida que sua população consome, incluindo açúcar. Com o salário médio de Cuba gasta-se mais de 70% só com alimentação. Segundo dados do IBGE, as famílias com rendimento do salário médio brasileiro gastam cerca de 20% com alimentos. Cuba tem um salário mínimo de US$9. Foi Castro que iniciou o processo para eliminar a classe média e alta da sociedade, principalmente através de duas reformas agrárias. A segunda, mais radical que a primeira, incluiu a nacionalização das empresas americanas e a erradicação da propriedade privada sobre os meios de produção.
Logo depois da revolução os americanos reconheceram Fidel Castro como o novo líder daquela ilha, tanto que o revolucionário foi recebido por Richard Nixon nos EUA, até colocou flores no túmulo de George Washington em sessão solene, com direito à foto oficial apertando a mão do vice-presidente americano. Ou seja, não houve naquele momento uma questão de defender democracia ou alguma ideologia na ilha. Porém, em fevereiro de 1960 Cuba e União Soviética assinam um acordo comercial para a URSS comprar produtos cubanos e abastecer Cuba com petróleo bruto. O governo dos EUA determinou que empresas de petróleo americanas em Cuba parassem de refinar o petróleo soviético. Cuba então nacionalizou as refinarias americanas e desapropriou todas as propriedades dos EUA dentro da ilha, sem pagar por indenizações, e passou a discriminar as importações de produtos norte-americanos, dando motivos aos EUA declararem embargos, que contou com apoio da OEA e sem oposição da OMC.
Era uma questão comercial e de geopolítica, nada a ver com ideologia. Hoje alguns dizem que o atraso da ilha é por causa do embargo, não contam a história mais completa, e omitem que a limitação de comércio da ilha é apenas parcialmente com os EUA. Os cubanos podem fazer, e de fato o fazem, comércio internacional com muitos países, além do país ser membro da OMC desde 1995. Cuba importa cerca de 6% do PIB, índice próximo do que - na história recente - o Brasil tem comprado do exterior, país este que nem tem embargo algum. E, por vezes, esses mesmos que defendem o fim dos embargos contra Cuba, também defendem o protecionismo insano brasileiro, para manter o status quo. Ora, segundo essa lógica deles, se Cuba é um país atrasado por causa das sanções, que a levaram a tão baixo comex, então o Brasil é um país atrasado por proposições como as deles mesmos, que restringem o comex brasileiro. Mas, sabemos, lógica não é o forte deles.
Como disse Diogo Costa: "Antes de 1959, o problema de Cuba era a presença de relações econômicas com os Estados Unidos. Depois o problema se tornou a ausência de relações econômicas com os Estados Unidos". A sanção americana é obscena, como o despotismo do governo cubano também é, mas o embargo não é a raiz da pobreza cubana. Os cubanos, por exemplo, já compram vários produtos dos EUA, podem comprar outros produtos americanos pelo México, como podem comprar carros do Japão, eletrodomésticos da Alemanha, brinquedos da China, ou cosméticos e até implementos agrícolas do Brasil.
Por que não compram? Porque não têm como pagar. Não é um problema contábil ou monetário, pois o governo cubano emite moeda sem lastro nem vergonha, coisa que muitos dos mesmos que defendem o protecionismo brasileiro e o fim do embargo também defendem. O que falta é oferta. Cuba oferece poucas coisas de valor para o resto do mundo. Cuba é pobre porque o trabalho dos cubanos não é produtivo. Os pequenos produtores da ilha, que supostamente se beneficiaram das reformas agrárias, não têm liberdades. O Estado cubano lhes diz o que produzir, a que preço, e eles não podem sequer matar uma vaca da propriedade. Isso daria até 25 anos de prisão se desrespeitado. Pode-se fazer uma analogia entre o que ocorre em Cuba com o que aconteceu na Europa da Inquisição: toda pessoa que discorda do estabelecido pelo governo é reprimida, a casa é tomada e outras pessoas entram. O difícil para os socinhas e comunas conceberem é que produtividade é coisa de empresário capitalista. É o capital que deixa o trabalho mais produtivo. E é pelo empreendedorismo que uma sociedade descobre e realiza o melhor emprego para o capital e o trabalho.
Mesmo quando o governo cubano permitiu um pouco de empreendedorismo, restringiu a entrada de capital. Raúl Castro fez a concessão de quase 170.000 lotes de terra não cultivada para agricultores privados. Só que faltam ferramentas e máquinas para trabalhar a terra. A importação de bens de capital é restrita pelo governo de Cuba. Faltam caminhões para transportar alimentos. Os poucos que existem estão velhos e passam grande parte do tempo sendo consertados. Em 2009, centenas de toneladas de tomate apodreceram na ilha por falta de transporte, por causa destes fatores de controles excessivos e insano planejamento central da economia.
O modelo econômico cubano reside no fato de que, apesar de funcionar sob diretrizes socialistas e autossuficientes (segundo o governo local), depende quase exclusivamente, desde 1959, do que outros governos (vários capitalistas) podem ajudar. Segundo o economista cubano Carmelo Mesa Lago, Cuba recebeu mais ajuda da União Soviética e de outros países do que qualquer outro país da América Latina: US$ 65 bilhões em 30 anos.
E se mesmo com todas essas informações alguém ainda queira insistir que atualmente os problemas de Cuba são derivados dos embargos, exclusivamente ou não, devo lembrar também que os revolucionários não só deram motivos para as sanções, como também assim queriam, conforme foi declarado por Che Guevara no discurso de Argel, após repetir diversas vezes que o objetivo era “cortar todos os laços de Cuba com o capital internacional”, considerando isso um dos principais objetivos da revolução de 1959.

sábado, 26 de outubro de 2024

Pequeno Diretório de Autodestruição: Cuba e Venezuela

 Se vcs querem saber de dois exemplos concretos, de 2 paises que foram completamente destruídos pelo socialismo, não precisa ir muito longe: basta olhar para Cuba (70 anos) e para a Venezuela (22 anos); nada a ver com bloqueio ou sanções do imperialismo americano. 

A auto-destruição é própria; daí a emigração maciça, à exaustão. 

Os paises demorarão anos para se recompor, sobretudo no capital humano.

domingo, 31 de março de 2024

Cuba, hoje, é uma imensa favela, um Estado falido - BBC

Cuba entra na categoria do que a Ciência Política chama de "Estados Falidos". A BBC documenta que Cuba, hoje, é uma imensa favela 

 

Qual a gravidade da crise vivida por Cuba e como ela se compara ao período após colapso da URSS

Pessoas sentadas em mureta em uma rua sem iluminação no centro de Havana

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Os apagões se tornaram algo constante em Cuba

  • Author,Ángel Bermúdez
  • BBC News Mundo
  • 30 março 2024

Para muitos cubanos, é como um déjà vu de uma experiência bastante traumática.

A ilha vive uma recessão econômica há vários anos que afeta a produção de alimentos, a disponibilidade de medicamentos, e é acompanhada por uma inflação na casa dos três dígitos.

O peso cubano está em constante desvalorização. Há apagões. A economia não tem um aliado internacional que permita um alívio financeiro. Há também protestos sociais e emigração em massa.

O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, reconheceu em sua conta no X (antigo Twitter) que “várias pessoas manifestaram insatisfação com a situação do serviço de energia elétrica e de distribuição de alimentos”, mas acusou os inimigos da Revolução de tentarem se aproveitar deste contexto para fins desestabilizadores.

“Em meio a um bloqueio que pretende nos sufocar, continuaremos trabalhando em paz para sair desta situação”, acrescentou Díaz-Canel.

 

Segundo Pavel Vidal, professor de economia da Universidade Javeriana de Cali, na Colômbia, a situação que a ilha atravessa hoje tem algumas semelhanças com os primeiros anos da década de 1990, logo após o colapso da União Soviética, que deixou Cuba sem o seu principal apoio político e econômico no exterior.

No chamado Período Especial, os cubanos viveram aquele que foi provavelmente o momento econômico mais difícil desde o triunfo da Revolução em 1959.

O jornalista Pascal Fletcher, que foi correspondente em Havana naquela época, e atualmente é analista da BBC Monitoring, relembra algumas das mudanças mais visíveis que aconteceram naquele período.

“Naquela crise econômica que o então líder cubano Fidel Castro chamou eufemisticamente de 'Período Especial em Tempos de Paz', os automóveis desapareceram das ruas e estradas da ilha, os carros de boi substituíram os tratores no campo, e os cubanos cultivaram hortas em seus quintais e telhados em um exercício 'revolucionário' de austeridade e resiliência para compensar a súbita escassez de suprimentos vitais”, explica.

Mas como estas duas crises se comparam?

Cubanos pescando no Malecón

CRÉDITO,EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Legenda da foto,

No Período Especial, o PIB caiu cerca de 35%

 

Pavel Vidal afirma que do ponto de vista macroeconômico, há alguns indicadores que caíram mais durante o Período Especial, enquanto outros são semelhantes.

Ele destaca, por exemplo, que há 30 anos o Produto Interno Bruto (PIB) despencou 35%, mas agora não retraiu tanto, visto que caiu 11% durante a pandemia de covid-19, mas depois se recuperou um pouco.

A inflação, por outro lado, é semelhante entre os dois períodos.

Já o déficit fiscal chegou a 30% naquela época e, desta vez, não subiu tanto, mas manteve-se elevado por mais tempo.

“Acho que são crises muito parecidas. Também não posso dizer que está pior, porque acredito que a economia está mais diversificada agora: há mais opções que não estavam abertas no Período Especial, quando não havia remessas, não havia turismo, e a economia estava completamente estatizada", observa.

Pobreza 'alarmante'

O especialista acredita que na situação atual, os setores da sociedade cubana que recebem remessas ou estão ligados ao setor privado emergente podem estar lidando com a crise de uma maneira melhor do que outros grupos.

“Os pensionistas e funcionários do Estado que dependem de uma renda fixa em pesos cubanos que não foi reajustada pela inflação... não há dados oficiais, mas acredito que os números da pobreza são alarmantes. Principalmente no que se refere aos aposentados, cuja situação é agravada pelo envelhecimento da população. Aí existe uma situação muito complicada”, afirma.

Rapaz passando por carro antigo azul em Havana, com prédio em ruínas ao fundo

CRÉDITO,EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Legenda da foto,

Pela primeira vez, o governo pediu ajuda oficialmente ao Programa Mundial de Alimentos da ONU

 

Estas desigualdades entre os diferentes setores da sociedade cubana são uma das razões pelas quais alguns economistas consideram que a situação atual é mais dura do que a vivida na década de 1990.

O economista Ricardo Torres, pesquisador do Centro de Estudos Latino-Americanos e Latinos da American University, nos EUA, argumenta que embora sob a perspectiva do PIB, a crise atual possa parecer “mais branda” do que a do Período Especial, é preciso levar em consideração alguns aspectos qualitativos “para compreender o fardo sobre as pessoas, e como a crise pode ser sentida”.

Deterioração contínua

Torres destaca, por exemplo, que o Período Especial foi precedido por uma fase de crescimento econômico, enquanto a atual conjuntura se dá “após quase 30 anos de crise permanente”.

“Nos anos 1990, o país apresentava um certo bem-estar que tinha sido alcançado na década de 1980, tanto em termos de consumo quanto em termos de qualidade e profundidade dos serviços sociais, de educação, de saúde, com conquistas esportivas a nível mundial. E tudo isso em uma sociedade muito mais igualitária em termos de rendimentos do que a que existe agora. Não quer dizer que não havia problemas, mas era definitivamente muito mais igualitária em termos de rendimentos”, aponta.

Isso indica que embora a partir de 1994 o PIB tenha começado a crescer novamente, houve muitas áreas da economia, da sociedade e de da população que nunca recuperaram o padrão de vida e os níveis de atividade da década de 1980.

As diferenças entre estes dois pontos de partida iniciais marcam também, na opinião dele, a capacidade do país para superar esta crise.

Pessoas passando no centro de Havana em meio a carros

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

O aumento do preço da gasolina tem causado preocupação entre os cubanos

 

“A infraestrutura de Cuba, construída depois de 1959, estava praticamente recém-construída na década de 1990. Pense nas centrais elétricas, nas estradas. Agora essa situação é muito diferente. As centrais elétricas estão há mais de 30 anos em funcionamento, talvez já excedendo os parâmetros para os quais foram concebidas. Muitas estradas, por exemplo, nunca tiveram manutenção nos últimos 30 anos”, afirma.

“Então, a infraestrutura física está em um estado muito mais lamentável agora, mais deteriorada do que nos anos 1990. Talvez a única infraestrutura que esteja relativamente melhor hoje seja a das telecomunicações, já que certamente se expandiu a disponibilidade de celulares e, inclusive, o acesso à internet."

Torres acrescenta que a ilha perdeu capacidade produtiva.

“Há muito menos usinas açucareiras, muito menos indústrias de manufatura, menos agricultura e pecuária, por exemplo. Há mais hotéis e aeroportos, e alguns deles são mais modernos do que os que existiam na década de 1980, mas o equilíbrio em termos de infraestrutura não é favorável”, destaca.

Migração em massa

O especialista afirma que nestas três décadas a ilha perdeu muito capital humano devido à emigração e ao envelhecimento da população.

“Durante o Período Especial, o atendimento hospitalar sofreu, claro, mas nada a ver com a situação que vivemos hoje. O mesmo pode ser dito da educação. Cuba estava com um sistema educacional robusto, com muito capital humano. Isso não é mais verdade. Pelo contrário, tem havido uma emigração em massa de professores bem qualificados que afeta todos os níveis”, diz ele.

Uma mulher com a bandeira cubana em Miami

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Vários cubanos-americanos em Miami apoiaram os manifestantes em Cuba com bandeiras

 

Além disso, ele afirma que a assistência material que as pessoas podem receber do Estado foi reduzida, não só em termos de medicamentos que podem estar disponíveis num hospital, por exemplo, como também de itens básicos que a população recebe por meio da libreta (caderneta de racionamento), sistema criado para controlar a distribuição destes produtos para a população.

“O que foi mantido durante o Período Especial com alguns problemas, agora praticamente não existe mais. Ou seja, os produtos fornecidos por meio da caderneta de racionamento foram reduzidos ao mínimo. Os produtos não chegam aos armazéns. E, às vezes, quando chegam, chegam com meses de atraso”, ressalta.

Na visão de Torres, todos estes problemas são agravados pelo fato de que o aumento da desigualdade torna alguns setores da sociedade muito vulneráveis ​​à crise.

'Uma crise muito pior'

“Embora o governo não divulgue números oficiais a este respeito, sabe-se que os níveis de desigualdade já eram muito altos em 2019. Isso significa que um grupo importante da população chega a esta crise atual com o padrão de vida bastante deteriorado, com carências importantes em termos de moradia, de acesso a serviços sociais. Então, eles chegam com muita desvantagem, e esta crise os atinge duramente. E eles não têm nenhum tipo de recurso ou reserva para enfrentar essa situação”, explica.

Assim como o Período Especial, cujo gatilho foi a queda da União Soviética e do bloco comunista — que levou Cuba a perder a maior parte do seu mercado externo, assim como subsídios importantes —, a crise atual também foi alimentada por fatores externos.

Entre eles, os especialistas citam o colapso da economia da Venezuela — que durante o governo de Hugo Chávez se tornou o principal parceiro comercial de Havana —, a reimposição de sanções pelos EUA durante o governo de Donald Trump, a pandemia de covid-19 e, inclusive, a invasão russa da Ucrânia (que influenciou o aumento dos preços dos fertilizantes e dos alimentos no mundo).

Homem atrás de balcão de mercearia com legumes à mostra

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

A situação geral do abastecimento na ilha costuma ser considerada um assunto sensível — e um segredo estratégico

 

A estes elementos, devemos acrescentar o que os economistas consideram erros nas políticas internas, como a recente “reforma monetária” (uma tentativa fracassada de unificar o câmbio); um conjunto de reformas econômicas parciais e incompletas, como a iniciativa do ex-presidente Raúl Castro de entregar em usufruto as terras improdutivas para os agricultores, destaca Pavel Vidal.

“O usufruto não dá ao agricultor a segurança que ele precisa, porque ele não tem a propriedade da terra. Há milhões de limitações para, por exemplo, erguer construções nessas terras e, além disso, a compra forçada por parte do Estado de uma parte importante da produção a preços ridículos torna a atividade agropecuária financeiramente inviável”, explica.

Agricultor em Cuba

CRÉDITO,GETTY IMAGES

A soma de todos esses elementos faz com que a crise atual seja “muito pior” do que a do Período Especial, segundo Emilio Morales, presidente do Havana Consulting Group e vice-presidente do centro de estudos Cuba Siglo 21.

“É uma crise muito pior, mais profunda. Mais de 30 anos se passaram desde o Período Especial. Aquela foi uma crise mais econômica do que política e social, e para sair dela, o governo teve que fazer alguns ajustes, como permitir o envio de remessas, o investimento estrangeiro e o turismo. Abrir-se de forma muito limitada ao setor privado naquela época. Todas estas medidas existem, estão implementadas há 30 anos, e o país está caindo aos pedaços”, diz ele à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.

Uma crise multissistêmica

“Trinta anos depois, se tornou uma crise multissistêmica. É uma crise política, social, sanitária e econômica. E todos estes fatores juntos geraram esta tempestade que neste momento se vê nesta explosão social que está acontecendo em diferentes locais do país”, acrescenta, fazendo referência aos protestos que ocorreram na ilha no dia 17 de março.

Torres, Vidal e Morales concordam que o problema subjacente é um modelo econômico que “não funciona”.

“A evidência histórica é esmagadora em termos de que esses modelos de economia centralmente planificadas, sobretudo no estilo soviético, não deram resultado em nenhum dos países em que foram adotados. Observe que a própria China e o Vietnã, apesar de ainda terem partidos comunistas no poder, há mais de três décadas reconheceram que este modelo não era funcional, e o abandonaram”, destaca Torres.

Pavel Vidal indica que embora sejam necessárias mudanças estruturais que não são de curto prazo, a ilha passou três décadas fazendo reformas parciais e incompletas — e o governo continua apostando em uma economia centralizada.

Uma libreta, caderneta de racionamento

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

libreta dá acesso a alimentos com preços subsidiados

 

“Continuam dizendo que a empresa estatal socialista é o principal ator da economia cubana, mas é justamente a empresa estatal socialista que não tem conseguido oferecer eletricidade nem alimentos aos cubanos”, afirma.

As autoridades cubanas, por sua vez, culpam as sanções dos EUA pelas dificuldades que a economia cubana atravessa — e acusaram o governo americano e os exilados cubanos em Miami de incitarem os protestos que ocorreram no leste do país.

Na segunda-feira (18/03), o Ministério das Relações Exteriores cubano convocou o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos em Havana, Benjamin Ziff, para uma reunião, na qual transmitiu o "firme repúdio ao comportamento intervencionista e às mensagens caluniosas do governo dos Estados Unidos e de sua embaixada em Cuba sobre assuntos internos da realidade cubana".

"Também chamou a atenção para a responsabilidade direta do governo dos Estados Unidos sobre a difícil situação econômica que Cuba atravessa atualmente e, especificamente, sobre as carências e dificuldades que a população enfrenta diariamente, com o esgotamento e insuficiência de suprimentos e serviços essenciais, sob o peso e impacto do bloqueio econômico destinado a destruir a capacidade econômica do país", indica o comunicado do ministério cubano.

Não está claro, no entanto, até que ponto o discurso oficial será persuasivo para dissipar o desconforto entre os cubanos.

“A confiança do povo cubano em seus líderes, os sucessores de Fidel, e sua fé na Revolução de 65 anos que a imprensa estatal cubana ainda elogia, estão em seu ponto mais baixo historicamente, a julgar pelas reclamações e demandas dos manifestantes que tomaram as ruas de Santiago de Cuba e de outras cidades e vilarejos do leste do país no dia 17 de março”, diz Pascal Fletcher.

'Fartos e cansados'

Ele explica que junto às demandas por “eletricidade e alimentos”, e os gritos de “liberdade” e “Pátria e Vida” — que se tornaram populares durante uma onda anterior de protestos antigoverno que se espalharam por toda a ilha em julho de 2021 —, muitos manifestantes em Santiago de Cuba também esbravejaram com funcionários do Partido Comunista que tentaram argumentar com eles: “Não queremos mais ladainha”.

“Isso indica claramente que muitos cubanos estão fartos e cansados da propensão do governo de sempre culpar o embargo econômico dos EUA por todos os males do país”, avalia Fletcher.

“Os cubanos clamam por soluções internas e mudanças por parte do seu governo interno, chega de retórica incendiária dirigida ao velho inimigo 'imperialista'", conclui.



quinta-feira, 7 de março de 2024

O que se passa atualmente em Cuba? Uma escassez generalizada nos meios de vida - Carlos Malamud (El Periódico de España)

Não sabemos se o governo brasileiro atual virá novamente em socorro do povo irmão de Cuba, como feito no passado através do programa Mais Médicos, que transferia ao governo cubano praticamente 80% dos pagamentos feitos pelos "médicos cubanos" vindos ao Brasil. (PRA)

No llegan buenas noticias de Cuba

Carlos Malamud

El Periódico de España, 06 mar 2024 

Ni política, ni económica ni simbólicamente los tiempos son los mismos que cuando vivía Fidel Castro.

 

En los últimos años, especialmente tras las movilizaciones del 11 de julio de 2021, solo llegan malas noticias de Cuba, pero las de los últimos días son dramáticas. El 1 de marzo la gasolina aumentó más de un 400% y un 25% la electricidad para los mayores consumidores. Es el preanuncio de un rebote inflacionario, un revés añadido a sumar a los interminables cortes de luz. El 13 de febrero el apagón afectó a más del 45% del país.

El gobierno también solicitó al Programa Mundial de Alimentos (PMA), de Naciones Unidas, leche en polvo para niños menores de siete años, intentando evitar un brote de desnutrición y de anemia infantiles. A lo largo de marzo faltará pan, ya que, según el ministerio de la Industria Alimentaria, hay “situaciones específicas” con “embarques planificados” desde Rusia. Si bien hay un consenso generalizado de que el abastecimiento “está dentro de la normalidad”, la idea se remata señalando que esto “no quiere decir que la normalidad sea buena”. O dicho de otro modo muchos cubanos han normalizado el sufrimiento.

La escasez afecta especialmente a quienes dependen de la libreta de abastecimiento o cartilla de racionamiento, ya que las tiendas privadas disponen de un mayor número de productos de primera necesidad, pero con precios incomparables ni al alcance de cualquiera. El salario medio oficial es de 4.560 pesos cubanos (CUP), equivalentes a 14,25 dólares en el mercado paralelo, mientras el salario mínimo es de 6,77 dólares y la pensión que cobra el 70% de los jubilados, 1.528 CUP, son 4,92 dólares.

El 2 de febrero, el presidente Miguel Díaz-Canel destituyó a Alejandro Gil, viceprimer ministro y ministro de Economía y Planificación, en el cargo desde 2018. Gil encabezó diversas reformas fallidas, incluyendo el duro plan de ajuste anunciado a fines de 2023 y finalmente postergado. Los datos oficiales lo dicen todo: contracción de casi el 2% del PIB, inflación del 30% y un déficit público del 18,5%. En definitiva, unas cifras para temblar. 

Desde la óptica del relato oficial y la defensa de la ortodoxia revolucionaria, recurrir al PMA hubiera sido impensable en vida de Fidel Castro, aunque se tratara de evitar la desnutrición infantil. Esto es hoy solo una muestra más del fracaso del proyecto socialista. Se recurre a este extremo porque la situación política, económica y social es casi terminal. Desde hace tiempo se han agotado los recursos propios, mientras los provenientes de países amigos llegan a cuentagotas.

Como tantas veces, el bloqueo (o embargo) de EEUU es omnipresente a la hora de las justificaciones, aunque internet y las redes sociales han permitido quebrar el monopolio informativo ejercido por el régimen. Si bien se han reconocido errores en política económica y monetaria, se insiste en que todo responde a las sanciones occidentales, pero esta interpretación trillada goza de credibilidad decreciente y escaso interés social. Ante tal cúmulo de desgracias el descreimiento es la respuesta mayoritaria, que en la medida de lo posible se transforma en la búsqueda de una vía de escape, preferentemente a EEUU y Europa. 

El diagnóstico es terrible. Un informe reciente de “Cuba 21”, une la inflación y el crecimiento negativo a una balanza comercial deficitaria, al desplome de las principales entradas de divisas (exportación de médicos, turismo y remesas) y al hundimiento del sector energético, comenzando por el obsoleto sistema eléctrico. Para colmo, un país teóricamente agrícola debe importar casi el 100% de la canasta familiar, según manifestó en setiembre el exministro Gil.

La infraestructura viaria y buena parte del parque de viviendas se desmorona, sin capacidad de arbitrar soluciones efectivas, salvo parchear los casos más urgentes. La salud, la educación y el abastecimiento de agua potable que fueron las joyas de la Revolución, hoy son cascarones vacíos y fuente de graves problemas. A esto se suma el aumento descontrolado de la criminalidad, ya que la apuesta por el “orden público” se centra en la represión y no en la seguridad ciudadana. Todo sirve para explicar el éxodo masivo y el incremento de la protesta social.

El régimen se enrocó en defensa del socialismo y la Revolución y no propone alternativas viables. Pero, ni política, ni económica ni simbólicamente los tiempos son los mismos que cuando vivía Fidel Castro, capaz de abroquelar a las masas en defensa de su proyecto. Su hermano Raúl, con 92 años, tampoco está en condiciones de ejercer un liderazgo activo, ni siquiera delegado, mientras la gestión de Díaz-Canel ni se caracteriza por su eficacia ni por sintonizar con las diezmadas bases revolucionarias.

En estas condiciones, y dada las grandes dificultades que viven los grupos opositores internos para conciliar sus políticas, el futuro es bastante incierto. No hay nadie capacitado para encausar el descontento social ante un gobierno visualizado como incapaz de proveer los bienes públicos demandados. El régimen, sumido en su inmovilismo, carece de las herramientas adecuadas para impulsar la tan necesaria apertura política y económica. De persistir esta sensación de bloqueo, las noticias que lleguen de Cuba serán cada vez más dramáticas.