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domingo, 31 de março de 2024

Cuba, hoje, é uma imensa favela, um Estado falido - BBC

Cuba entra na categoria do que a Ciência Política chama de "Estados Falidos". A BBC documenta que Cuba, hoje, é uma imensa favela 

 

Qual a gravidade da crise vivida por Cuba e como ela se compara ao período após colapso da URSS

Pessoas sentadas em mureta em uma rua sem iluminação no centro de Havana

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Os apagões se tornaram algo constante em Cuba

  • Author,Ángel Bermúdez
  • BBC News Mundo
  • 30 março 2024

Para muitos cubanos, é como um déjà vu de uma experiência bastante traumática.

A ilha vive uma recessão econômica há vários anos que afeta a produção de alimentos, a disponibilidade de medicamentos, e é acompanhada por uma inflação na casa dos três dígitos.

O peso cubano está em constante desvalorização. Há apagões. A economia não tem um aliado internacional que permita um alívio financeiro. Há também protestos sociais e emigração em massa.

O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, reconheceu em sua conta no X (antigo Twitter) que “várias pessoas manifestaram insatisfação com a situação do serviço de energia elétrica e de distribuição de alimentos”, mas acusou os inimigos da Revolução de tentarem se aproveitar deste contexto para fins desestabilizadores.

“Em meio a um bloqueio que pretende nos sufocar, continuaremos trabalhando em paz para sair desta situação”, acrescentou Díaz-Canel.

 

Segundo Pavel Vidal, professor de economia da Universidade Javeriana de Cali, na Colômbia, a situação que a ilha atravessa hoje tem algumas semelhanças com os primeiros anos da década de 1990, logo após o colapso da União Soviética, que deixou Cuba sem o seu principal apoio político e econômico no exterior.

No chamado Período Especial, os cubanos viveram aquele que foi provavelmente o momento econômico mais difícil desde o triunfo da Revolução em 1959.

O jornalista Pascal Fletcher, que foi correspondente em Havana naquela época, e atualmente é analista da BBC Monitoring, relembra algumas das mudanças mais visíveis que aconteceram naquele período.

“Naquela crise econômica que o então líder cubano Fidel Castro chamou eufemisticamente de 'Período Especial em Tempos de Paz', os automóveis desapareceram das ruas e estradas da ilha, os carros de boi substituíram os tratores no campo, e os cubanos cultivaram hortas em seus quintais e telhados em um exercício 'revolucionário' de austeridade e resiliência para compensar a súbita escassez de suprimentos vitais”, explica.

Mas como estas duas crises se comparam?

Cubanos pescando no Malecón

CRÉDITO,EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Legenda da foto,

No Período Especial, o PIB caiu cerca de 35%

 

Pavel Vidal afirma que do ponto de vista macroeconômico, há alguns indicadores que caíram mais durante o Período Especial, enquanto outros são semelhantes.

Ele destaca, por exemplo, que há 30 anos o Produto Interno Bruto (PIB) despencou 35%, mas agora não retraiu tanto, visto que caiu 11% durante a pandemia de covid-19, mas depois se recuperou um pouco.

A inflação, por outro lado, é semelhante entre os dois períodos.

Já o déficit fiscal chegou a 30% naquela época e, desta vez, não subiu tanto, mas manteve-se elevado por mais tempo.

“Acho que são crises muito parecidas. Também não posso dizer que está pior, porque acredito que a economia está mais diversificada agora: há mais opções que não estavam abertas no Período Especial, quando não havia remessas, não havia turismo, e a economia estava completamente estatizada", observa.

Pobreza 'alarmante'

O especialista acredita que na situação atual, os setores da sociedade cubana que recebem remessas ou estão ligados ao setor privado emergente podem estar lidando com a crise de uma maneira melhor do que outros grupos.

“Os pensionistas e funcionários do Estado que dependem de uma renda fixa em pesos cubanos que não foi reajustada pela inflação... não há dados oficiais, mas acredito que os números da pobreza são alarmantes. Principalmente no que se refere aos aposentados, cuja situação é agravada pelo envelhecimento da população. Aí existe uma situação muito complicada”, afirma.

Rapaz passando por carro antigo azul em Havana, com prédio em ruínas ao fundo

CRÉDITO,EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Legenda da foto,

Pela primeira vez, o governo pediu ajuda oficialmente ao Programa Mundial de Alimentos da ONU

 

Estas desigualdades entre os diferentes setores da sociedade cubana são uma das razões pelas quais alguns economistas consideram que a situação atual é mais dura do que a vivida na década de 1990.

O economista Ricardo Torres, pesquisador do Centro de Estudos Latino-Americanos e Latinos da American University, nos EUA, argumenta que embora sob a perspectiva do PIB, a crise atual possa parecer “mais branda” do que a do Período Especial, é preciso levar em consideração alguns aspectos qualitativos “para compreender o fardo sobre as pessoas, e como a crise pode ser sentida”.

Deterioração contínua

Torres destaca, por exemplo, que o Período Especial foi precedido por uma fase de crescimento econômico, enquanto a atual conjuntura se dá “após quase 30 anos de crise permanente”.

“Nos anos 1990, o país apresentava um certo bem-estar que tinha sido alcançado na década de 1980, tanto em termos de consumo quanto em termos de qualidade e profundidade dos serviços sociais, de educação, de saúde, com conquistas esportivas a nível mundial. E tudo isso em uma sociedade muito mais igualitária em termos de rendimentos do que a que existe agora. Não quer dizer que não havia problemas, mas era definitivamente muito mais igualitária em termos de rendimentos”, aponta.

Isso indica que embora a partir de 1994 o PIB tenha começado a crescer novamente, houve muitas áreas da economia, da sociedade e de da população que nunca recuperaram o padrão de vida e os níveis de atividade da década de 1980.

As diferenças entre estes dois pontos de partida iniciais marcam também, na opinião dele, a capacidade do país para superar esta crise.

Pessoas passando no centro de Havana em meio a carros

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

O aumento do preço da gasolina tem causado preocupação entre os cubanos

 

“A infraestrutura de Cuba, construída depois de 1959, estava praticamente recém-construída na década de 1990. Pense nas centrais elétricas, nas estradas. Agora essa situação é muito diferente. As centrais elétricas estão há mais de 30 anos em funcionamento, talvez já excedendo os parâmetros para os quais foram concebidas. Muitas estradas, por exemplo, nunca tiveram manutenção nos últimos 30 anos”, afirma.

“Então, a infraestrutura física está em um estado muito mais lamentável agora, mais deteriorada do que nos anos 1990. Talvez a única infraestrutura que esteja relativamente melhor hoje seja a das telecomunicações, já que certamente se expandiu a disponibilidade de celulares e, inclusive, o acesso à internet."

Torres acrescenta que a ilha perdeu capacidade produtiva.

“Há muito menos usinas açucareiras, muito menos indústrias de manufatura, menos agricultura e pecuária, por exemplo. Há mais hotéis e aeroportos, e alguns deles são mais modernos do que os que existiam na década de 1980, mas o equilíbrio em termos de infraestrutura não é favorável”, destaca.

Migração em massa

O especialista afirma que nestas três décadas a ilha perdeu muito capital humano devido à emigração e ao envelhecimento da população.

“Durante o Período Especial, o atendimento hospitalar sofreu, claro, mas nada a ver com a situação que vivemos hoje. O mesmo pode ser dito da educação. Cuba estava com um sistema educacional robusto, com muito capital humano. Isso não é mais verdade. Pelo contrário, tem havido uma emigração em massa de professores bem qualificados que afeta todos os níveis”, diz ele.

Uma mulher com a bandeira cubana em Miami

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Vários cubanos-americanos em Miami apoiaram os manifestantes em Cuba com bandeiras

 

Além disso, ele afirma que a assistência material que as pessoas podem receber do Estado foi reduzida, não só em termos de medicamentos que podem estar disponíveis num hospital, por exemplo, como também de itens básicos que a população recebe por meio da libreta (caderneta de racionamento), sistema criado para controlar a distribuição destes produtos para a população.

“O que foi mantido durante o Período Especial com alguns problemas, agora praticamente não existe mais. Ou seja, os produtos fornecidos por meio da caderneta de racionamento foram reduzidos ao mínimo. Os produtos não chegam aos armazéns. E, às vezes, quando chegam, chegam com meses de atraso”, ressalta.

Na visão de Torres, todos estes problemas são agravados pelo fato de que o aumento da desigualdade torna alguns setores da sociedade muito vulneráveis ​​à crise.

'Uma crise muito pior'

“Embora o governo não divulgue números oficiais a este respeito, sabe-se que os níveis de desigualdade já eram muito altos em 2019. Isso significa que um grupo importante da população chega a esta crise atual com o padrão de vida bastante deteriorado, com carências importantes em termos de moradia, de acesso a serviços sociais. Então, eles chegam com muita desvantagem, e esta crise os atinge duramente. E eles não têm nenhum tipo de recurso ou reserva para enfrentar essa situação”, explica.

Assim como o Período Especial, cujo gatilho foi a queda da União Soviética e do bloco comunista — que levou Cuba a perder a maior parte do seu mercado externo, assim como subsídios importantes —, a crise atual também foi alimentada por fatores externos.

Entre eles, os especialistas citam o colapso da economia da Venezuela — que durante o governo de Hugo Chávez se tornou o principal parceiro comercial de Havana —, a reimposição de sanções pelos EUA durante o governo de Donald Trump, a pandemia de covid-19 e, inclusive, a invasão russa da Ucrânia (que influenciou o aumento dos preços dos fertilizantes e dos alimentos no mundo).

Homem atrás de balcão de mercearia com legumes à mostra

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

A situação geral do abastecimento na ilha costuma ser considerada um assunto sensível — e um segredo estratégico

 

A estes elementos, devemos acrescentar o que os economistas consideram erros nas políticas internas, como a recente “reforma monetária” (uma tentativa fracassada de unificar o câmbio); um conjunto de reformas econômicas parciais e incompletas, como a iniciativa do ex-presidente Raúl Castro de entregar em usufruto as terras improdutivas para os agricultores, destaca Pavel Vidal.

“O usufruto não dá ao agricultor a segurança que ele precisa, porque ele não tem a propriedade da terra. Há milhões de limitações para, por exemplo, erguer construções nessas terras e, além disso, a compra forçada por parte do Estado de uma parte importante da produção a preços ridículos torna a atividade agropecuária financeiramente inviável”, explica.

Agricultor em Cuba

CRÉDITO,GETTY IMAGES

A soma de todos esses elementos faz com que a crise atual seja “muito pior” do que a do Período Especial, segundo Emilio Morales, presidente do Havana Consulting Group e vice-presidente do centro de estudos Cuba Siglo 21.

“É uma crise muito pior, mais profunda. Mais de 30 anos se passaram desde o Período Especial. Aquela foi uma crise mais econômica do que política e social, e para sair dela, o governo teve que fazer alguns ajustes, como permitir o envio de remessas, o investimento estrangeiro e o turismo. Abrir-se de forma muito limitada ao setor privado naquela época. Todas estas medidas existem, estão implementadas há 30 anos, e o país está caindo aos pedaços”, diz ele à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.

Uma crise multissistêmica

“Trinta anos depois, se tornou uma crise multissistêmica. É uma crise política, social, sanitária e econômica. E todos estes fatores juntos geraram esta tempestade que neste momento se vê nesta explosão social que está acontecendo em diferentes locais do país”, acrescenta, fazendo referência aos protestos que ocorreram na ilha no dia 17 de março.

Torres, Vidal e Morales concordam que o problema subjacente é um modelo econômico que “não funciona”.

“A evidência histórica é esmagadora em termos de que esses modelos de economia centralmente planificadas, sobretudo no estilo soviético, não deram resultado em nenhum dos países em que foram adotados. Observe que a própria China e o Vietnã, apesar de ainda terem partidos comunistas no poder, há mais de três décadas reconheceram que este modelo não era funcional, e o abandonaram”, destaca Torres.

Pavel Vidal indica que embora sejam necessárias mudanças estruturais que não são de curto prazo, a ilha passou três décadas fazendo reformas parciais e incompletas — e o governo continua apostando em uma economia centralizada.

Uma libreta, caderneta de racionamento

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

libreta dá acesso a alimentos com preços subsidiados

 

“Continuam dizendo que a empresa estatal socialista é o principal ator da economia cubana, mas é justamente a empresa estatal socialista que não tem conseguido oferecer eletricidade nem alimentos aos cubanos”, afirma.

As autoridades cubanas, por sua vez, culpam as sanções dos EUA pelas dificuldades que a economia cubana atravessa — e acusaram o governo americano e os exilados cubanos em Miami de incitarem os protestos que ocorreram no leste do país.

Na segunda-feira (18/03), o Ministério das Relações Exteriores cubano convocou o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos em Havana, Benjamin Ziff, para uma reunião, na qual transmitiu o "firme repúdio ao comportamento intervencionista e às mensagens caluniosas do governo dos Estados Unidos e de sua embaixada em Cuba sobre assuntos internos da realidade cubana".

"Também chamou a atenção para a responsabilidade direta do governo dos Estados Unidos sobre a difícil situação econômica que Cuba atravessa atualmente e, especificamente, sobre as carências e dificuldades que a população enfrenta diariamente, com o esgotamento e insuficiência de suprimentos e serviços essenciais, sob o peso e impacto do bloqueio econômico destinado a destruir a capacidade econômica do país", indica o comunicado do ministério cubano.

Não está claro, no entanto, até que ponto o discurso oficial será persuasivo para dissipar o desconforto entre os cubanos.

“A confiança do povo cubano em seus líderes, os sucessores de Fidel, e sua fé na Revolução de 65 anos que a imprensa estatal cubana ainda elogia, estão em seu ponto mais baixo historicamente, a julgar pelas reclamações e demandas dos manifestantes que tomaram as ruas de Santiago de Cuba e de outras cidades e vilarejos do leste do país no dia 17 de março”, diz Pascal Fletcher.

'Fartos e cansados'

Ele explica que junto às demandas por “eletricidade e alimentos”, e os gritos de “liberdade” e “Pátria e Vida” — que se tornaram populares durante uma onda anterior de protestos antigoverno que se espalharam por toda a ilha em julho de 2021 —, muitos manifestantes em Santiago de Cuba também esbravejaram com funcionários do Partido Comunista que tentaram argumentar com eles: “Não queremos mais ladainha”.

“Isso indica claramente que muitos cubanos estão fartos e cansados da propensão do governo de sempre culpar o embargo econômico dos EUA por todos os males do país”, avalia Fletcher.

“Os cubanos clamam por soluções internas e mudanças por parte do seu governo interno, chega de retórica incendiária dirigida ao velho inimigo 'imperialista'", conclui.



quinta-feira, 7 de março de 2024

O que se passa atualmente em Cuba? Uma escassez generalizada nos meios de vida - Carlos Malamud (El Periódico de España)

Não sabemos se o governo brasileiro atual virá novamente em socorro do povo irmão de Cuba, como feito no passado através do programa Mais Médicos, que transferia ao governo cubano praticamente 80% dos pagamentos feitos pelos "médicos cubanos" vindos ao Brasil. (PRA)

No llegan buenas noticias de Cuba

Carlos Malamud

El Periódico de España, 06 mar 2024 

Ni política, ni económica ni simbólicamente los tiempos son los mismos que cuando vivía Fidel Castro.

 

En los últimos años, especialmente tras las movilizaciones del 11 de julio de 2021, solo llegan malas noticias de Cuba, pero las de los últimos días son dramáticas. El 1 de marzo la gasolina aumentó más de un 400% y un 25% la electricidad para los mayores consumidores. Es el preanuncio de un rebote inflacionario, un revés añadido a sumar a los interminables cortes de luz. El 13 de febrero el apagón afectó a más del 45% del país.

El gobierno también solicitó al Programa Mundial de Alimentos (PMA), de Naciones Unidas, leche en polvo para niños menores de siete años, intentando evitar un brote de desnutrición y de anemia infantiles. A lo largo de marzo faltará pan, ya que, según el ministerio de la Industria Alimentaria, hay “situaciones específicas” con “embarques planificados” desde Rusia. Si bien hay un consenso generalizado de que el abastecimiento “está dentro de la normalidad”, la idea se remata señalando que esto “no quiere decir que la normalidad sea buena”. O dicho de otro modo muchos cubanos han normalizado el sufrimiento.

La escasez afecta especialmente a quienes dependen de la libreta de abastecimiento o cartilla de racionamiento, ya que las tiendas privadas disponen de un mayor número de productos de primera necesidad, pero con precios incomparables ni al alcance de cualquiera. El salario medio oficial es de 4.560 pesos cubanos (CUP), equivalentes a 14,25 dólares en el mercado paralelo, mientras el salario mínimo es de 6,77 dólares y la pensión que cobra el 70% de los jubilados, 1.528 CUP, son 4,92 dólares.

El 2 de febrero, el presidente Miguel Díaz-Canel destituyó a Alejandro Gil, viceprimer ministro y ministro de Economía y Planificación, en el cargo desde 2018. Gil encabezó diversas reformas fallidas, incluyendo el duro plan de ajuste anunciado a fines de 2023 y finalmente postergado. Los datos oficiales lo dicen todo: contracción de casi el 2% del PIB, inflación del 30% y un déficit público del 18,5%. En definitiva, unas cifras para temblar. 

Desde la óptica del relato oficial y la defensa de la ortodoxia revolucionaria, recurrir al PMA hubiera sido impensable en vida de Fidel Castro, aunque se tratara de evitar la desnutrición infantil. Esto es hoy solo una muestra más del fracaso del proyecto socialista. Se recurre a este extremo porque la situación política, económica y social es casi terminal. Desde hace tiempo se han agotado los recursos propios, mientras los provenientes de países amigos llegan a cuentagotas.

Como tantas veces, el bloqueo (o embargo) de EEUU es omnipresente a la hora de las justificaciones, aunque internet y las redes sociales han permitido quebrar el monopolio informativo ejercido por el régimen. Si bien se han reconocido errores en política económica y monetaria, se insiste en que todo responde a las sanciones occidentales, pero esta interpretación trillada goza de credibilidad decreciente y escaso interés social. Ante tal cúmulo de desgracias el descreimiento es la respuesta mayoritaria, que en la medida de lo posible se transforma en la búsqueda de una vía de escape, preferentemente a EEUU y Europa. 

El diagnóstico es terrible. Un informe reciente de “Cuba 21”, une la inflación y el crecimiento negativo a una balanza comercial deficitaria, al desplome de las principales entradas de divisas (exportación de médicos, turismo y remesas) y al hundimiento del sector energético, comenzando por el obsoleto sistema eléctrico. Para colmo, un país teóricamente agrícola debe importar casi el 100% de la canasta familiar, según manifestó en setiembre el exministro Gil.

La infraestructura viaria y buena parte del parque de viviendas se desmorona, sin capacidad de arbitrar soluciones efectivas, salvo parchear los casos más urgentes. La salud, la educación y el abastecimiento de agua potable que fueron las joyas de la Revolución, hoy son cascarones vacíos y fuente de graves problemas. A esto se suma el aumento descontrolado de la criminalidad, ya que la apuesta por el “orden público” se centra en la represión y no en la seguridad ciudadana. Todo sirve para explicar el éxodo masivo y el incremento de la protesta social.

El régimen se enrocó en defensa del socialismo y la Revolución y no propone alternativas viables. Pero, ni política, ni económica ni simbólicamente los tiempos son los mismos que cuando vivía Fidel Castro, capaz de abroquelar a las masas en defensa de su proyecto. Su hermano Raúl, con 92 años, tampoco está en condiciones de ejercer un liderazgo activo, ni siquiera delegado, mientras la gestión de Díaz-Canel ni se caracteriza por su eficacia ni por sintonizar con las diezmadas bases revolucionarias.

En estas condiciones, y dada las grandes dificultades que viven los grupos opositores internos para conciliar sus políticas, el futuro es bastante incierto. No hay nadie capacitado para encausar el descontento social ante un gobierno visualizado como incapaz de proveer los bienes públicos demandados. El régimen, sumido en su inmovilismo, carece de las herramientas adecuadas para impulsar la tan necesaria apertura política y económica. De persistir esta sensación de bloqueo, las noticias que lleguen de Cuba serán cada vez más dramáticas.

 

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Obsolescência de uma Velha Senhora? - A OEA e a Nova Geografia Política Latino-americana (2009) - Paulo Roberto de Almeida

Obsolescência de uma Velha Senhora?

A OEA e a Nova Geografia Política Latino-americana

 

Paulo Roberto de Almeida *

Revista Interesse Nacional

(Ano 2, Número 6, julho-setembro de 2009, ISSN: 1982-8497, p. 58-69).

Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/115505816/2011_Obsolescência_de_uma_Velha_Senhora_A_OEA_e_a_Nova_Geografia_Política_Latino_americana_2009_) e no blog Diplomatizzando (27/02/2024; link: )

 


Resumo: Descrição e análise do sistema interamericano, desde suas origens à atualidade, a partir da decisão ocorrida na 39a. Assembléia da OEA no sentido de reintegrar Cuba ao sistema. A trajetória foi claramente marcada pela hegemonia dos EUA durante a maior parte da existência da organização, mas é caracterizada, na presente conjuntura latino-americana, pela crescente deterioração dos valores democráticos e do respeito aos direitos políticos dos cidadãos, em especial nos países ditos bolivarianos. 

 

 

site da Organização dos Estados Americanos anuncia, em sua página inicial de apresentação, que ela “aproxima as nações do Hemisfério Ocidental com vistas a fortalecer mutuamente os Valores Democráticos, defender interesses comuns e debater um grande número de temas regionais e mundiais” (OEA, 2006a).

A declaração é, retrospectivamente, muito curiosa, tendo em vista a resolução aprovada por consenso, ao cabo de sua 39ª Assembléia Geral – realizada em Honduras, em 2 e 3 de junho de 2009 –, em função da qual os países membros acordaram revogar a decisão de 1962, pela qual se suspendia o direito do governo cubano de integrar o sistema interamericano. O texto, aprovado sob intensa pressão de alguns governos e de movimentos políticos, contém dois pontos principais. No primeiro, puramente operacional, se lê que “a Resolução VI adotada no dia 31 de janeiro de 1962 na Oitava reunião de Consulta de Ministro de Relações Exteriores, mediante a qual se excluiu o Governo Cubano de sua participação no Sistema Interamericano, fica sem efeito na Organização dos Estados Americanos”. O segundo ponto, de caráter mais nitidamente político, estipula que “a participação de Cuba na OEA será o resultado de um processo de diálogo iniciado por solicitação do Governo de Cuba e de conformidade com as práticas, propósitos e princípios da OEA”.

O que surpreende, em primeiro lugar, é a rápida formação de um consenso em relação a uma das questões mais controversas na pauta da organização em exatos 47 anos. Sublinhe-se, circunstancialmente, que o consenso foi obtido na ausência da Secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, que havia deixado mais cedo o encontro para agregar-se à comitiva do presidente Barack Obama, em visita ao Egito e às vésperas de pronunciar importante discurso sobre as relações dos EUA com o mundo muçulmano. Como a decisão foi tomada na presença do Subsecretário para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, embaixador designado em Brasília, se subentende que a postura americana de não confrontar a unanimidade latino-americana já tinha sido passada na coluna de perdas e danos em Washington. 

Na verdade, ocorreu uma completa inversão da situação observada nas décadas de 1960 e 1970, quando Cuba se encontrava quase completamente isolada no continente: desta vez, foram os EUA a se sentirem totalmente isolados num continente quase inteiramente entregue à causa cubana. De fato, o próprio Subsecretário de Estado Shannon declarou que a resolução aprovada era “um ato de estadistas” e que os EUA não estavam interessados em “lutar velhas batalhas ou viver no passado” (OEA, 2009).

(...) 

Mas, contrariamente ao que se poderia esperar, não será a OEA a cobrar desses países – ou de Cuba, caso ela se decida por negociar sua readmissão à organização – o realinhamento em direção daqueles compromissos;  o que vai provavelmente ocorrer é que tanto ela quanto os EUA estarão sob pressão dos mesmos bolivarianos, e seus aliados úteis no continente, para que cesse o embargo contra a ilha. Como no caso da recente resolução ‘reintegradora’ de Cuba, não será o governo cubano que será pressionado a mudar seus hábitos divergentes com respeito aos instrumentos mencionados, mas serão os demais países membros que estarão sendo induzidos a se ‘aproximar’ das posições cubanas, doravante concentradas na obtenção do fim do embargo americano.

Não cabem dúvidas, tampouco, que esse objetivo será alcançado, with a little help from some friends – governos simpáticos e outros companheiros de viagem, mesmo que fosse apenas por oportunismo político e por pressão dos movimentos ‘sociais’ – e a complacência impotente do governo americano, que não desejará encontrar-se, pela primeira vez, ‘isolado da família americana’. Quando isso ocorrer, a OEA terá descido um pouco mais no sentido da sua decadência institucional e da sua perda de legitimidade política. Para todos os efeitos práticos, os bolivarianos e seus aliados, inocentes úteis ou não, estão construindo uma nova geografia política no hemisfério. Qualquer que seja o seu conteúdo substantivo e sua conformação institucional, o cenário democrático, a estabilidade macroeconômica e a condição dos direitos elementares, entre eles os relativos à livre expressão do pensamento, vão certamente se deteriorar um pouco mais no continente latino-americano, com a OEA ou sem ela. 

No que se refere à postura do Brasil, não é difícil antecipar qual será a posição do atual governo. Quando do debate em torno das prisões e condenações à morte de balseros, capturados tentando fugir da ilha, em 2003, o chanceler brasileiro declarou que o Brasil votaria “contra uma eventual resolução da Organização dos Estados Americanos (OEA) de condenação a Cuba por violações dos direitos humanos”. Ainda que lamentando “os julgamentos sumários, as condenações à morte e as prisões políticas em Cuba”, ele declarou ser “mais positivo manter o ‘engajamento construtivo’ da diplomacia brasileira com o ‘país irmão’”. Naquela ocasião, a justificativa era de ordem institucional: “O Brasil não apoiará uma resolução sobre Cuba porque considera que a OEA não tem competência para tratar desse assunto. (...) Não se pode usar justamente o foro internacional que expulsou um país para condená-lo” (Marin, 2003). Já que a OEA cancelou essa expulsão, resta saber qual será a atitude a ser doravante adotada...

 

* Paulo Roberto de Almeida é diplomata de carreira, doutor em ciências sociais e professor de Economia Política Internacional no Centro Universitário de Brasília (www.pralmeida.org).

 

 

Referências Bibliográficas: 

A principal fonte de informação sobre a OEA é a própria página da organização: http://www.oas.org

Almeida, Paulo Roberto de (2004). “OEA (Organização dos Estados Americanos)”. In: Silva, Francisco Carlos Teixeira da (org.). Enciclopédia de Guerras e Revoluções do Século XX: As Grandes Transformações do Mundo Contemporâneo, Conflitos, Cultura e Comportamento. Rio de Janeiro: Campus, p. 622-624.

Baena Soares, João Clemente (1994). Síntesis de una gestión, 1984-1994. Washington: Organización de los Estados Americanos, 1994.

________ (2006). Sem medo da diplomacia: depoimento ao Cpdoc (organizadores Maria Celina D’Araujo et alii). Rio de Janeiro: FGV.

Bandeira, L. A. Moniz (1978). Presença dos Estados Unidos no Brasil: dois séculos de História. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Marin, Denise Chrispim (2003). “Amorim: Brasil não votará contra Cuba na OEA”, O Estado de São Paulo (24.04.2003).

Naím, Moisés (2009). “El país más importante de Latinoamérica”, El País (Espanha, 31.05.2009; disponível: http://www.elpais.com/articulo/internacional/pais/importante/Latinoamerica/elpepiint/20090531elpepiint_9/Tes; acesso em maio 2009).

OEA (2001). Carta Democrática, adotada em Lima, 11.09.2001; disponível: http://www.oas.org/OASpage/port/Documents/Democractic_Charter.htm; acesso em maio 2009).

OEA (2006a). “Aspectos gerais”; disponível: http://www.oas.org/key_issues/por/KeyIssue_Detail.asp?kis_sec=20; acesso em maio 2009).

OEA (2006b). “Compromisso Democrático”; disponível: http://www.oas.org/key_issues/por/KeyIssue_Detail.asp?kis_sec=1; acesso em maio 2009).

OEA (2009). “Los Jefes de Delegación celebran en el plenário de la Asamblea General de la OEA la Resolución sobre Cuba”, 3.06.2009; disponível: http://www.oas.org/OASpage/press_releases/press_release.asp?sCodigo=AG-14-09acesso em junho 2009).

Pio Corrêa, M. (1995). O Mundo em que Vivi. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, vol. 2.


Ler a íntegra do artigo neste link: 

https://www.academia.edu/115505816/2011_Obsolescência_de_uma_Velha_Senhora_A_OEA_e_a_Nova_Geografia_Política_Latino_americana_2009_



terça-feira, 5 de setembro de 2023

Putin busca desesperadamente mercenarios para morrer na Ucrânia

 Cuba descobre rede da Rússia para aliciar seus mercenários

O Estado de S. Paulo, 5/09/2023

HAVANA - O Ministério das Relações Exteriores de Cuba acusou nesta terça-feira, 5, a Rússia de recrutar mercenários do país para lutar na guerra da Ucrânia. Em nota, a chancelaria afirmou que Moscou criou uma rede de tráfico de pessoas para incorporar cubanos que vivem na Rússia e na ilha comunista para se juntar as tropas de Vladimir Putin que ocupam o leste ucraniano. A acusação contra Moscou, um histórico aliado da ditadura castrista, vem a público em meio as tensões entre o Exército russo e o Grupo Wagner, depois do golpe frustrado dos mercenários russos contra Putin, em junho, e a morte de seu líder, Ievgeni Prighozin, no mês passado. Ainda de acordo com o governo cubano, a rede russa de tráfico de pessoas foi neutralizada e os suspeitos serão investigados. “Os inimigos de Cuba promovem informações distorcidas que procuram manchar a imagem do país e apresentá-lo como cúmplice destas ações, que rejeitamos categoricamente”, diz a nota. " Cuba não faz parte da guerra na Ucrânia. Atua e atuará com energia contra qualquer pessoa, do território nacional, que participe em qualquer forma de tráfico de pessoas para fins de recrutamento ou mercenarismo de cidadãos cubanos para uso de armas contra qualquer país.” A ditadura cubana não aponta quem estaria por trás dessa rede ou quantas pessoas teriam sido vítimas do tráfico humano. Aliada próxima do Kremlin desde a revolução de 1959, a ilha tem voos diretos para Rússia e um regime recíproco de isenção de vistos por 90 dias. 

De acordo com a Associação para Operações Turísticas da Rússia, cerca de 11 mil cubanos visitaram a Rússia no ano passado. No grupo do Facebook chamado Cubanos em Moscou, que reunia 76 mil pessoas nesta terça-feira, era possível encontrar ofertas com contratos de um ano para o exército russo, informou o The Moscou Times. Anteriormente, em junho, o Cazaquistão, uma ex-república soviética, já havia denunciado um esquema de anúncios nas redes sociais que pretendia atrair combatentes para a guerra na Ucrânia. No ano passado, jornais independentes da Rússia relataram que imigrantes da Ásia Central receberam promessas de cidadania em troca do recrutamento. 

 O ex-presidente Dmitri Medvedev, que integra o Conselho de Segurança russo anunciou que mais 230 mil combatentes teriam se alistado ao exército desde o início do ano. A campanha é divulgada nas redes e em cartazes nas ruas que promovem as Forças Armadas e prometem condições atrativas para os novos militares. Além do salário e de benefícios sociais, os recrutas podem manter os empregos civis durante o tempo de serviço e tem os empréstimos bancários congelados. Ainda como parte do esforço para ampliar a força na Ucrânia e evitar problemas como o motim do grupo Wagner, o presidente russo Vladimir Putin ordenou que os paramilitares devem jurar lealdade à bandeira russa após a morte de Prigozhin. 

 Com a guerra prolongada, além de pessoal o Kremlin também parece buscar artilharia. Depois que a Casa Branca alertou para uma troca de cartas entre Vladimir Putin e Kim Jong-un, o jornal The New York reportou que eles planejam um encontro da Rússia para discutir a troca de armas. A expectativa é de que a reunião ocorra na semana que vem/Com New York Times e AFP

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Cuba y un éxodo al que no se ve fin - Mauricio Vicent (El País)

 Comentário do amigo Tomas Guggenheim, quem me enviou este artigo: 

"Um artigo sobre a claudicante Cuba. O artigo começa relatando o grande aumento da emigração da ilha, mas esse fenômeno, que tem tem sido uma constante, pois conta com a concordância explícita do seu governo (num acordo com os Estados Unidos) e é tolerada para muito além disso. Não podendo aumentar o numerador (PIB), resta-lhe diminuir o denominador (população).
É possível que os países sul-americanos que atualmente têm maior simpatia pelos objetivos da revolução cubana se sintam motivados para tomar iniciativas que contribuam com a economia em crise daquele país."

 

Cuba y un éxodo al que no se ve fin

Mauricio Vicent 

 El País, Madri, 14.11.2022

En un año se han marchado a Estados Unidos 224.000 cubanos, el 2% de los habitantes del país y más del 4% de su población activa. Los que se van son en su mayoría jóvenes.


La Habana - Casi a diario, una nueva cifra, o una nueva tragedia, o un nuevo testimonio tremebundo ponen en evidencia la magnitud de la crisis económica, social y política que se está viviendo en Cuba y que se refleja en un éxodo migratorio sin precedentes. En octubre, barcos del servicio guardacostas norteamericano interceptaron en altamar a 1.100 balseros, más que todos los capturados durante 2021. Y cada día de septiembre, según el Departamento de Aduanas de EEUU, entraron ilegalmente por su frontera sur un promedio de 891 cubanos. Fueron 26.742 sólo ese mes, el que cierra el año fiscal 2022 en EEUU (del 1ro de octubre de 2021 hasta el 30 de septiembre último), que ha batido todos los records: 224.607 cubanos llegaron a EEUU por sus fronteras terrestres en 12 meses, sin contar los más de 10.000 que lo intentaron cruzando el estrecho de la Florida (unos 3.000 lograron tocar tierra), además de los que han emigrado a través de otros países (no hay cifras). Se trata del 2% de los habitantes del país y más del 4% de su población activa, pues “los que se van en su mayoría son jóvenes, muchos de ellos personal cualificado o profesionales, que han perdido las esperanzas en que las cosas mejoren”, indica el economista Omar Everleny.

 

Everleny es uno de los muchos analistas cubanos que desde hace tiempo advierte de que estamos ante un escenario alarmante, un verdadero drama que compromete el futuro de un país con 11.113.000 habitantes que sufre un grave problema demográfico. En 2021, por quinto año consecutivo, la población decreció (en 68.000 personas), la tasa de nacimientos ha seguido cayendo y el proceso de envejecimiento es cada vez más acelerado (el 21% de los cubanos tiene hoy más de 60 años, proporción que será casi del 30% en 2030, según proyecciones oficiales). Eso sin contabilizar esta última ola migratoria.

 

“A Cuba se les escapan a raudales sus jóvenes, es decir, su futuro. El porvenir del país se ha hipotecado peligrosamente, y esto solo puede desembocar en más inestabilidad política y social”, asegura el también economista Ricardo Torres, que desde hace un año trabaja como investigador y académico en la American University de Washington y es uno de los talentos que ha buscado, temporalmente, nuevos horizontes fuera de su país. El problema de fondo, a su juicio, “radica en que la severa crisis actual tiene que ver con los problemas estructurales que aquejan a la isla por décadas”, y debido a ello la solución es muy compleja: “la corrección de estos desequilibrios requeriría audacia, capacidad en el sector público y muchos años de trabajo duro”.

 

Un profesor de una facultad tecnológica de La Habana retrata empíricamente la situación actual: “Cada vez que paso lista hay menos alumnos. Sus compañeros me dicen: ‘Profe, ese ya se fue, no diga más su nombre’. Según mi cálculo de bodeguero, en dos años se han marchado al menos el 30% del grupo”. Una camarera de una conocida paladar de La Habana, negocio que ha de renovar el personal cada pocos meses por el mismo éxodo, cuenta de forma muy gráfica su experiencia: “en mi WhatsApp ya no me quedan casi +53 [el código de Cuba], todos son +1 [el código de EEUU]. Y yo soy la próxima”.

 

La radiografía popular de lo que está sucediendo en la isla es tremebunda: colas inmisericordes, apagones (que afectan también al suministro de agua), desabastecimiento feroz, inflación asfixiante, basura sin recoger en las calles por la falta de combustible, horas de espera para desplazarse a cualquier lugar porque el transporte público no funciona por el mismo motivo, salarios que no alcanzan, escasez de medicamentos y deterioro de los servicios de salud, aumento de las protestas en las calles y gente que se va del país porque ya no aguanta más y vende la casa con todo dentro. Lo cuentan los cubanos en la calle sin que les preguntes, algo novedoso en un país donde hasta hace no mucho cada crítica pública era medida con pesa de joyero.

 

 “El capital político acumulado se va agotando. La confianza en la capacidad del gobierno de enderezar la situación se ha desvanecido ya ante los reiterados titubeos e incoherencias. Es verdad que el margen de maniobra es reducido, pero la ineptitud demostrada con las medidas antiinflacionarias ha agotado las esperanzas”, afirma el reputado sociólogo Carlos García Pleyán, que destaca que “a diario crecen las diferencias económicas y sociales y con ellas la radicalización política. El dialogo es cada día más difícil y la angustia ante el futuro, creciente”.

 

Como economistas, Everleny y Torres evalúan variables macroeconómicas que inciden en esta crisis, la más profunda vivida en Cuba desde de la desaparición del campo socialista, en los años noventa. La mayoría de los indicadores productivos en la isla son negativos, pero quizás el ejemplo más elocuente del descalabro estatal es la zafra azucarera, que en los años ochenta llegó a ser de 8 millones de toneladas anuales. Entonces funcionaban en el país más de 150 centrales azucareros, la mitad de los cuales fueron desmantelados a principios de este siglo. La zafra pasada sólo molieron 36 centrales y la cosecha fue de 480.000 toneladas, la peor en un siglo. En esta campaña trabajarán 23 fábricas azucareras y la meta es producir 450.000 toneladas, pero será difícil lograrlo pues el plan de siembra en noviembre solo se había cumplido en un 41%, según datos oficiales.

 

Debido a la extrema falta de divisas y de liquidez, la capacidad del Estado de importar bienes y alimentos se ha reducido en más de un 50% en relación a hace 10 años, lo que ha provocado un desabastecimiento leonino, con su correspondiente traducción en colas desesperantes y un aumento de los precios del mercado negro, agravados por la llamada Tarea Ordenamiento -impulsada por el Gobierno con el objetivo de lograr la unidad monetaria- que ha disparado la inflación.

 

Factores externos como la crisis mundial actual, los efectos de la pandemia o el recrudecimiento del embargo norteamericano – que le ha costado al país más de 6.000 millones de dólares en pérdidas en los primeros 14 meses del gobierno de Biden, según las autoridades-, han contribuido a hacer más profundo el precipicio. Pero, considera Torres, “el principal problema que tiene Cuba es que su modelo económico no ha evolucionado, y eso le impide aprovechar sus recursos internos e insertarse viablemente en el mundo”. Lo ratifica Everleny, que señala que el desarrollo de las pequeñas y medianas empresas privadas, aprobadas en enero de 2021 después de diez años de espera, todavía enfrenta numerosas trabas y obstáculos aunque ya hay 5.600 autorizadas. “El sector privado es la gran reserva con que se cuenta, pero los cambios han sido demasiado lentos, para reactivar la economía hacen falta transformaciones decididas y radicales”, indica.

 

A juicio de la historiadora Alina Bárbara López, a diferencia de otras crisis, lo que marca ésta precisamente es “que la población ha perdido totalmente la esperanza, ven que el Gobierno es incapaz de introducir los cambios que el país necesita para que las cosas mejoren, y no son solo cambios económicos, sino también políticos. La gente no aguanta más, no ve futuro, es una crisis humanitaria: se van familias enteras, y gran parte son los jóvenes que más valen, los más emprendedores”.

 

En la calle no se habla de macroeconomía sino de sobrevivencia cotidiana, algo que se ha convertido en una tragedia para la mayoría. Un cardiólogo gana en Cuba aproximadamente 6.000 pesos mensuales (el salario mínimo es de 2.100 y el medio de 3.800). En los agromercados, donde rige la ley de la oferta y la demanda, los precios son astronómicos, pero dada la improductividad de las granjas estatales en estos agros es donde único puede uno surtirse de vegetales y viandas. En el barrio habanero del Vedado funciona uno de ellos. Una libra (453 gramos) de tomate cuesta ya casi 300 pesos. Una de cebolla, 280. La de frijoles negros, 120, y la de limón 200. El kilo de puerco, lleno de gordos, pasa de 800 pesos, un aguacate te sale a 50 pesos (si no es muy grande). Los precios suben cada día, y a las puertas de este agro los revendedores ofrecen el cartón de huevos a 1.600 pesos, la bolsa de pollo (4,5kg) a 2.500 y el litro de aceite vegetal a 700.

 

El dólar, que al comienzo de la tarea Ordenamiento, en enero de 2021, se cambiaba en el mercado negro a 35 o 40 pesos –la tasa oficial era en ese momento de 24 por uno-, subió a 115 en agosto de este año, y ahora se cambia a 175, aunque ha llegado a estar a 200. “El que no tiene dólares, que es la mayoría, está muy jodido”, dice un cubano de a pié, que afirma que quizá el asunto más crítico en este momento es el de los apagones. Desde hace meses en muchas zonas del interior del país los cortes del suministro eléctrico son de 12 horas diarias, o incluso más, debido al pésimo estado de las termoeléctricas por la falta de inversiones y la dejadez.